Olivia Verssalis
— Querida, tudo isso vai passar. A dor ainda será destruidora por dias, mas vai amenizar. — Olhei para a mulher de cabelos loiros longos no meio das costas, com as suas mãos finas e macias em mim, a situação não era das melhores, mas eu não precisava mais de uma mãe, a única pessoa que eu preciso é do meu avô.
Enxunguei as minhas lágrimas com o meu pulso envolto na camisa de mangas compridas branca, neguei a ela que tentava me consolar, a medida que suas mãos tocavam a minha pele, me davam repulsa e eu não saberia dizer o porquê. — Não se preocupe comigo. — Avisei ao me afastar.
—Eu perdi o meu pai, o meu paizinho! — Olhei para a outra mulher que alarmava seu choro no canto da sala, não lhe disse nada, mas em anos nunca vi uma foto deles, uma visita, nem mesmo uma ligação, a medida que ela chorava os outros também lhe acompanhará na sala só restava a mim, o tabelião, o advogado e o tal Vance — Tenho mesmo que participar dessa leitura? — questionei, sentindo que faço parte de uma palhaçada, isso não parecia ser uma leitura de testamento.
— Sim querida, sem a sua presença não será possível a leitura. — Lewis me respondeu ainda com um ar de tristeza no olhar. — Então vamos logo a isso, Lewis. — Assentiu ao me ouvir. — Infelizmente é uma situação complicada, mas o faremos quanto mais rápido possível puder.
— E ele quem é ele? — Uma voz masculina veio ao fundo. — Sim quem é ele? — Virei-me olhando em volta, até que os dedos apontaram para o homem que esteve na sua morte no hospital. — Um amigo de extrema confiança do senhor Varsalles.
— Porque amigo aqui? É apenas pra familia. — A mulher que tentou me acaricia falou, o homem sentado parecia não se incomodar. — Pelo menos ele esteve presente no seu leito de morte, não me lembro de ver algum outro no momento da sua partida. — Respondi tomando a vez, senti os seus olhos azuis em mim. — Esta garota!— Um dos homens parecidos com o meu avô tentou vim em minha direção.
Levantei-me a espera de algo dele, mas antes que a mão chegasse a meu rosto foi parada, ainda olhando em seus olhos o desafiei. — A verdade dói não é? Vocês questionam a presença de um amigo que esteve presente no seu leito de morte, mas... não me recordo de um rosto no funeral do vovô! — Vi alguns inflarem os pulmões, até olhar para a mão do homem a minha frente, terminar num braço branco, peludo, forte com uma tatuagem terminando no ante braço.
— Não preciso que me defenda, senhor Vance! — Virei-me sem escutar a resposta, tudo que eu queria era que tudo chegasse ao fim, não me importava para onde ir depois de tudo, Lewis apenas me encarou. Não chorei uma lágrima após sentar-me queria me livrar de todos eles, ali estava a explicação do meu avô nunca ter dito sobre eles.
— Contando que todos os interessados estão presente, irei começar a leitura testamental. — Os burburinhos continuaram ao fundo, eu soube desde aquele momento que todos os Varsalles me odiavam, me odiariam por ser quem sou, por não negar a minha essência, o meu jeito que o agradava e lhe fizera ri muitas vezes.
— Bem como podem ver a presença do advogado senhor Lewis hoje aqui presente consta como testemunha, junto a todos os presentes, alguns afirmam ser filhos, noras, genros, netos... — Ergui a minha cabeça ajeitando uma mecha de cabelo para trás da orelha, procurando quem seria o neto, ou neta, mas sentado a outro lado vi apenas um rapaz, alto, loiro, magro num terno de bree negro, ele olhando sedendo para o tabelião que narrava sua fala minuciosamente, olhei para cada um a mesa, a procura de um detalhe, uma característca famíliar do meu rosto.
— ... A presença de Senhorita Olivia Varsalles, a neta reconhecida pelo senhor Varsallesl, foi exigida nesta leitura, assim como o do senhor Louis Vance, para quem não sabe ou conhece, o senhor Louis Vance é amigo do senhor Varsalles a dez anos, um homem de inteira confiança, como o mesmo relatou-me em uso de suas plenas funções mentais.
Olhei para o Louis Vance sentado do outro lado da mesa, quieto, a blusa de branca com as mangas acima dos cotovelos, dobradas encolhidas, mostrando braços fortes, grossos, o peito aberto em dois botões ou mais revelando um pouco do peito, o rosto quadrado, o queixo levemente pontudo com um buraquinho, a barba bem feita, a boca desenhada um pouco carnuda, o nariz reto, comprido, pontudo, os olhos azuis intensos, olhando apenas para o tabelião, nada parecia lhe importar mais ali.
Nenhuma encenação de amor, ou perda, olhava uma vez ou outra para o relogio, até que ao notar-me virei-me para o tabelião, não gostei dele, arrogante, prepotente, mas esteve presente pelo menos naquele momento de dor. — Para a criada Ani, deixo a minha casa na praia, como forma de agradecimento pelo seu zelo, carinho, para comigo e com a minha neta em todos estes anos, Ani obrigado. — Olhei em volta em busca de Ani, que não estava presente, mas Helary a chamava.
— Para o meu amigo, conselheiro Louis Vance deixo o meu carro, apenas comprei este carro para que quando estivesse longe não ligasse tantas vezes para você. Ele é barulhento, zombeteiro, mas não nunca deixa na mão como você, Vance. — Olhei para o homem sentado na cadeira a minha frente com um sorriso largo saudoso nos labios, girando um anel de ouro no dedo, seu sorriso era bonito.
— Bem por fim.. — O barulho aumentou a mesa, uma discurssão começou entre o homem que tentou me agredir, com a mulher que veio me acariciar. — Hum hum. — O tabelião pigarreou alto duas vezes, finalmente os fazendo calar-se. — Para a minha herdeira, Olivia Varsalles deixo todos os meus bens, entre casas, automóveis, todo o dinheiro no banco, além da presidência da Varsalles tecelaria para que usufrua de tudo futuramente.
Arqueei as sobrancelhas ao ouvir. — Não, isso foi forjado, quero uma... — Um homem que não havia falado ainda disse alto, levando consigo o garoto que também é neto.
— Como futuramente? — A mulher que me olhava perguntou curiosa. — Continuei em meus devaneios, a fortuna não me interessava, apenas esta casa e tudo que ele me ensinou na vida. — Sim, futuramente senhora Varsalles, não me deixam terminar.
O Tabelião indagou enquanto o homem a minha frente, já levantando colocou a cadeira no lugar, com um ar quem precisava fugir de tudo. — Não faço questão a herança total...
— Liv por favor. — Olhei para Lewis solicito ao pedir, calei-me de imediato, o tabelião retomou a leitura, o homem já havia saido diante dos meus olhos. — Senhor Vance, senhor Vance. — O vi parar perto da porta, nos olhou por fim a hora.
O tabelião apenas suspirou profundo. — Deixo todos os meus bens citados para a minha neta, considerando-a a minha única herdeira e familiar, com a restrição de que aceite se casar com o meu amigo Louis Vance, que mantenham o casamento pelo menos até os vinte e cinco anos da minha neta, ele deve-lhe,,,
— Nem pensar! — Rosnei junto a ele ao mesmo tempo, parou ao me olhar, fiz o mesmo com ele de pé na porta. — Não me casarei com esta garota rica e mimada! — Avisou em alto e bom tom — Não caso. — Disse junto a ele, sem dizer o que pensei dele, arrogante, prepontente, jeito de homem cafajeste que nem deve se lembrar o nome da sua vítima a noite passada.
— Senhores posso terminar? — Suspirei fundo, o homem a meu lado parecia ter um colapso. — Ele deve lhe ensinar todas as orientações que lhe passei, bases fundamentais, tudo que for necessario para que a minha neta em sete anos assuma a minha cadeira, caso ambos se neguem, a Liv retiro a sua matrícula na faculdade de ... — Bufei pra a leitura.
— ...juntamente como a sua inscrição nas aulas de pintura moderna, quanto ao Vance... — Aproximou-se de mão aberta a frente de todos. — Tudo bem, tudo bem Versallis filho da puta, eu prometi que cuidaria desta garota. — Suspirou parecendo cansado. — Eu prometi Versallis, prometi que faria qualquer coisa por você.
Mordeu o lábio ao dizer. — Eu não vou me casar com você! — Ergueu os olhos ao me ouvir. — Tudo bem, você não se casa. — Franziu o cenho ao desviar de mim ao tabelião. — Para quem irá a presidência da tecelaria caso... — O tabelião suspirou fundo, sentou-se novamente a mesa. — Caso ambos ainda assim se recuse, entrego a presidência da empresa ao meu filho Thomás Versallis, criatura ignóbil perante aos meus olhos, darei o prazo de apenas um mês para que acabe com todo o esforço de uma vida...
O olhei para o homem parado de cabeça erguida negando, fora o mesmo que tentou me bater a pouco. O seu olhar não havia remorssos, tristeza. — Ele estava louco em dizer algo do tipo a meu respeito. — Afirmou. — As propriedades deixarei em segundo plano para a minha filha Sarah Verssalis... — A mulher a meu lado sorriu mostrando satisfeita ao ouvir.
O homem a minha frente não recuou os olhos de mim, que assenti, jamais deixaria o esforço de noite do meu avô por uma atitude infantil minha. — Tudo bem, quem ficará responsável pelas propriedades dele? Da empresa e... — Ergueu a mão a minha frente. — Arrume a mala, temos que estar no Japão.
E mais uma vez a confusão tornou-se maior outra vez, todos assinaram, escutei bruburinhos de recorrer, pedir análise do testamento.
Louis Vance— Porque eu tenho que ir com você? — Virei-me o rosto e direção da garota mais confusa diante de mim, mais uma vez perguntando. — Escutou o que o tabelião disse? — Assentiu séria, o que me inconformava mais foi ter prometido a Varsalles que cuidaria dela. Ele se aproveitou de uma situação para levar a outra pior. — Sim, ouvir você pode ir, e eu fico...— Tudo bem, não fui com a sua cara, ouvindo que na sua recusa a se casar comigo, seu tio tornar-se presidente da empresa, enquanto a sua tia... é sua tia aquela mulher? — Deu de ombros. — A esta hora ambos devem estar procurando um bom assassino para lhe matar. — Olhou-me sem preocupação, sorriu ao me ouvir, não era um sorriso comum, muito bonito, apenas desviei o rosto para olhar a turma no salão.—Louco, acha que onde estamos num filme de loucos? Onde uma mata o outro por dinheiro? — Arqueei a sombrancelha, minha vontade de aplaudir Varssales apenas cresce em mim. — Tudo bem, fique e veja o que acontece,... — Dei al
Olivia VarsallesSenta ao lado de um estranho num avião é super normal, mas casar com um, e olhar para ele repetida vezes, seu futuro marido ser tão desconhecido quanto os outros em suas cadeiras, não foi o que planejei em minha vida, alguns transeuntes indo aos seus assentos, eu não deveria reclamar, em circuntância alguma, jamais, ele aceitou de bom grado em ser meu tutor, apenas deveria agradecer a ele, por proteger algo que nem mesmo é seu, mas ainda sempre estamos em conflito. — Passe querido! — Avisei quando chegou a meu lado, após deixar a sua pequena mala.Suspirou fundo ao passar por mim, sentou na sua poltrona, sentei-me em seguida. — Talvez tenhamos começado mal, seu avô me ligou antes do... — Olhou-me, eu ainda com o livro nas mãos após sentar, apenas lhe olhei. — Ocorrido, não sabia que ele estava tão ruim a este ponto...Sorri fraco, poucas vezes ocorreu em dias. — Ele nunca revelou quão mal estava, descobrir quando foi internado, mesmo com o diagnostico continuou a bebe
Passar os dias num cubiculo com uma estranha até que não era tão ruim, algumas vezes ao chegar ela não estava, outras o cheiro de comida sempre vindo a porta, como ela conseguia se virar num país desconhecido? Me perguntei algumas vezes. –– Já comeu? –– Numa noite passou por mim numa camisola comprida preta, o cheiro de creme era delicioso, desatei a minha gravata me sentido exausto. – Não! –– Olhei para o seus cabelos despenteados, não estavam feios, os cachos bem desfeitos. –– Quer que eu te sirva? –– Ergui a sobrancelha, qual seria o serviço ela estava me oferecendo. –– Não pense besteiras Vance. –– Umedeci os lábios quando notei que percebeu, ela não é mais inguênua, mas como a garotinha de Varsalles conseguiu engana-lo? Observei a maneira como ela dispos o prato, em seguida colocou a minha frente. –– Chá? Suco? –– Sentei, pelo vislumbre das suas coxas mesmo por baixo do tecido era bem interessante, não que eu pense em desrespeitar a neta do meu amigo, mas se ele me ofereceu mat
Anoitecia ao lado de fora, quando um dos assistentes de Vance chegou, nem mesmo precisei abrir a porta, ele adentrou, olhou-me por fim recuou num cumprimento. — O que tem aí? — Indaguei assim que levantou o seu toráx, olhou-me com os olhos negros redondos traços japoneses. — Um vestido, sapatos, senhor Vance precisa convencer empresários importantes!— E ele me chamou pra fazer isso? — O sorriso soou frouxo nos lábios do seu assistente. — A esposa do senhor Vance, tem que estar bem bonita! — Ergui as sobrancelhas. — Então eu não sou Kaisuoh? — O vi perder a cor habitual do rosto, ficando sem graça, num tom avermelhado foi se tomando desde as bochechas, toquei o seu ombro vendo a situação. — Pode falar, estamos somente nós dois aqui.— Kaisuon não pode! Não pode! — Revirei os olhos, peguei o vestido das suas mãos, levei ao quarto, sentei-me novamente na cadeira voltando a minha escultura de argila, até que o notei ainda de pé na mesma posição de antes. — hum o que mais? Você vai ficar
Olívia VarsallesOlhei para o céu completamente azul, suspirei fundo olhando para os tons claros de fagulhas de nuvem que se destacam no céu azul sublime, as lágrimas desciam pausadamente a cada suspirar, no meu peito jaz uma fadiga, mais uma vez olhei para a cama passei a mão no rosto voltei a olha-lo, desta vez, estando de olhos abertos pra mim. Sorri ao máximo ao vê-lo me observar, os cabelos grisalhos penteados para o lado, bem ralinhos, as rugas se grupam em seu rosto com manchinhas escuras por todos os lados, os lábios ressecados. — Mandou me... — Virei-me indo até ele, que deitado na cama com olhos verdes me observava pacientemente. — Ainda chorando querida? — Nem mesmo deixou-me completar a frase, mas neguei, caminhando até a cama, sentei a seu lado, dando um beijo em sua testa. — Não vô, apenas contemplando o céu, esta azul, bonito lá for... — Senti a sua mão acariciar seu rosto, tão fria, frágil e enrugada que não suportei mais fingir perante a sua magreza excessiv
Louis VanceApós um dia intenso de reunião e trabalho, deitei-me para um descanso na madrugada, achamos que o mundo dos negócios é melhor na Europa, mas o Japão, este sim, é o lugar dos negócios, apenas tem hora para começar, fim? Eles não conhecem. Suspirei fundo vendo quão cansado estou, o corpo dolorido, a mente cansada, ao deitar-me na espriguiçadeira, o corpo ao relaxar denunciou todo o cansaço de vez. — BIP BIP BIP. — Abri os meus olhos apenas para olhar quem ligava aquela hora, ao ver a tela sorri. — Diga Varssales como esta a vida, bancando a bab´...— Vance... — A sua voz veio fraca do outro me fazendo sentar. — O que houve Varssales esta machucado ferido ou... — Ri ao me lembrar de como ele abaixar a voz para não acordar a sua neta. — ... isso é apenas para que a sua bebezinha mimad...— Vance me deixe falar, eu não cof cof cof... — Levantei vendo que ele não estava brincando, não desta vez. — Diogénes o que você tem? Diogénes? — Perguntei alterado, a última vez