Fernando
Hoje era o dia de me despedir da minha Ledinha, ela sairia de viagem e eu não poderia deixar de leva-la à rodoviária. Por isso, no dia anterior, antes de sair, coloquei um aviso na porta do consultório, que chegaria um pouco mais tarde hoje. Os meus poucos clientes conquistados nesses cinco dias de abertura, já estavam atendidos como devido, então não tinha com o que me preocupar por ora.
Porém, mesmo assim, acordei mais cedo que o normal, no intuito de preparar um belo café da manhã de surpresa para nossa convidada mais que especial. Leda merecia o mundo todo só pra ela, mas como eu não tinha esse poder ainda, o menor gesto de amor retribuído a ela, já era válido.
Tomei um banho, me vesti
Cecília Já estava no meu terceiro dia com Aurora, dessa vez sem Leda e agora um pouco menos desconfortável com minha própria situação, mas ainda assim, muitas vezes nervosas com certos gestos da própria bebezinha. Com ela no colo, observamos o carro de Fernando seguir viagem em direção a rodoviária e acenamos alegres pra ele. Voltei a entrar pra dentro da casa com ela e respirei fundo olhando nos olhos daquela que tão inocentemente me assustava. — Oi minha fofinha, então, o que quer fazer hoje só com a tia Cecí? — Aurora olhava pra mim extremamente sorridente e eu me sentia estranhamente feliz com aquilo. Não completa, é claro, afinal minha filha ainda não estava comigo. Mas feliz por ter a oportunidade de ter Aurora em minha vida por agora. — Ah sim, parquinho seria uma ótima ideia. Eu ia adorar! Vamos trocar você, levar uns brinquedinhos e nos divertir muito. — Eu continuava conversando com ela
FernandoMais uma vez, ela havia corrido dele e Aurora. Como Leda poderia dizer para eu confiar nela, se era pior que bicho do mato? Ri com a comparação e caminhei até o berço da minha filha. Ela havia acordado e eu estava doido para abraça-la depois de um dia exaustivo.Claro que justo no dia que eu resolvia chegar atrasado, era o dia que receberia dois novos clientes de uma vez não é mesmo? Quando cheguei na clínica havia um papel colado por cima do meu aviso com um telefone, e assim que abri a porta, avistei outro. Telefonei para ambos e fui até suas respectivas residências. Afinal, não os faria se deslocar novamente, já que o erro havia sido meu. Atendi uma calopsita e um cãozinho filhote que havia ingerido algo indevido, típico para sua idade.Quando voltei dos dois atendimentos, recebi mais um novo cliente a procu
Cecília Acordei, mas continuei deitada. Ainda me sentia envergonhada pelo ocorrido na noite passada. Eu pegara no sono em meio ao serviço. O que Fernando devia estar pensando de mim agora? Eu deveria estar muito bem acordada, tomando conta de sua filha. Mas não, eu tinha que ter passado essa vergonha no meu primeiro dia sozinha com ela né? Bufei irritada comigo mesma e levantei logo, afinal, chegar atrasada estava longe de ser uma opção naquele momento. Fui pra cozinha começar a preparar as coisas e me deparei com Bia. — Uau, que bicho te mordeu? Levantando cedo hein, quem diria. — Impliquei e ela fez uma careta. — Pensei em ir com você até a casa do Fernando e acompanhar ele até a clínica para poder ver os filhotinhos antes de entrar na lanchonete. — Ela deu de ombros. — Ah, nem me fale em Fernando. Não sei como vou ter coragem de olha-lo hoje. — Tapei o rosto enquanto ria de vergonha.
Cecília Algumas semanas se passaram desde aquela intensa primeira troca de olhares que eu e Fernando trocamos. Faíscas vinham aumentando nesses dias e era totalmente perceptível o que aquilo me causava. Mas eu não vou negar que estava adorando aquele joguinho. Nosso dialogo continuava sucinto, mas de certo modo, não fazia a menor diferença já que nossos olhares diziam muito mais que mil palavras. Outra coisa que eu vinha percebendo era a falta de semelhança de Aurora com Fernando, e até mesmo com Patrícia, sua falecida esposa. Caminhando pela sala enquanto embalava Aurora em sua soneca da tarde naquele dia, vislumbrei algumas fotos de família que Fernando havia exposto recentemente pela sala. Ambos eram morenos. Ele de olhos azuis
Fernando Cecília se despediu e saiu com pressa sem me dar a chance de responder, já estava tão acostumado com aquilo que apenas dei de ombros e coloquei minha filha de volta na cadeirinha para ir cortar e amassar o mamão pra ela. Coloquei o potinho com uma colherzinha em formato de bichinho na frente de Aurora para que ela comesse, ou melhor, brincasse com o mamão sozinha, pois ela sequer comeu alguma coisa enquanto eu começava a preparar o meu jantar. Me sobressaltei com uma espécie de gargalhada, ouço dizer, um pouco macabra, que ouvi vindo lá de fora, mas não me importei em conferir, até que em um momento, escutei um homem se alterar e pareceu ser bem perto à minha porta. Olhei por entre a cortina da janela da cozinha e o meu sangue ferveu quando assimilei aquela cena em poucos segundos. Não por ser quem era, ficaria assim com qualquer pessoa é claro, mas pareceu que meu corpo inteiro reagira pior po
Cecília Enquanto Fernando falava com minha amiga ao telefone no outro cômodo, peguei Aurora no colo para brincar um pouquinho com ela. Tal foi minha surpresa, quando me virei e me deparei com Nando me observando silenciosamente recostado na porta que dividia a cozinha do corredor da escada. Um pouco sem graça, tentei entregar a bebezinha a ele e percebi seus olhos marejados. Me preocupei achando que era algo com Bia, então perguntei. — Aconteceu alguma coisa com Bianca? — Pigarreei e olhei para baixo. — Você me parece um pouco... triste. — Ah não, não. Está tudo certo com ela. — Ele levou uma das mãos aos olhos, me dando a certeza de que ele havia chorado em algum momento. — Eu ofereci que ela viesse me auxiliar na clínica enquanto não acha outro emprego melhor. — Ele disse vindo em minha direção pra pegar a filha. — Vamos deixar a tia Cecí a vontade agora não é meu amor? O último quarto no final do corredor, tem
Fernando Eu não sabia o que era certo naquele momento e eu não queria errar com aquela mulher. Deixei Cecília no quarto de hóspedes com pesar, pois o que eu mais queria era tê-la em meus braços ali mesmo, naquele corredor. Caminhei lentamente até a porta do meu quarto, prorrogando a cada passo aquela distancia nada bem vinda. Por fim, sem ter mais pra onde ir, cheguei à porta do meu quarto, e antes de entrar, dei uma última olhada em direção ao quarto daquela que eu mais desejava nos últimos tempos. A peguei me observando do corredor e quando ela se deu conta disso, entrou apressada de volta para o seu quarto. Aquilo tinha sido o meu passe livre para o meu maior desejo. Pro inferno os bons modos. Retomei todo o trajeto que acabara de fazer a passos largos, e de volta ao quarto de Cecí, bati à sua porta. Ela abriu vagarosamente quase sem acreditar no que encontraria do outro lado e sem muitas delongas, e
CecíliaCansada de tentar explicar, resolvi fazer o que Fernando me pedira. Deixamos Leda com Aurora em casa e voltamos para o departamento de polícia local para prestar queixa contra Leonardo.Como já era esperado, demoraram horas a fio para nos atender, quando souberam de quem se tratava. Nos passaram de um setor a outro como bolinha de ping pong no intuito de nos cansar. E cansou.Na terceira hora já corrida no banco de espera para entrar na sala do diretor, Fernando se alterou e eu tive que o lembrar de onde estávamos, mas até que não foi de todo ruim, pois apenas meia hora depois o chefe da polícia nos recebeu. Prestei a minha queixa sob o olhar despreocupada do homem a minha frente.Era um fato que ele não estava sequer se dando ao trabalho de fingir receber a ocorrência. Fernando educadamente se despediu dele com um aperto d