Aquele instante foi o começo do fim. Percebe agora, coração? Entendeu porque não era para ter esperanças?
Que droga.
Depois de presenciar aquilo, todas as suposições que pensei ser o meu lado dramático entrando em ação estavam ali, esfregadas na minha cara.
Otávio e a peituda. O beijo que mais parecia um filme de sexo explícito e o jeito como ele deixou a garota sentar no colo dele, como se fosse livre, leve e solto.
Por mais que eu corra, ele me alcança. Tem a petulância de segurar-me pelo braço. Olho para ele com tanta raiva e desprezo. Ele parece assustado, talvez não esperasse ver-me ali. Mas
Passamos a tarde ali, conversando. Léo conta-me um pouco sobre a carreira, os desafios em ser médico, os sonhos e planos. Engraçado que em nenhum momento fala sobre a família, mas como ainda falta intimidade, fico na minha. Mas para quem é do interior como eu, isso soa estranho, porque por aqui todo mundo sabe sobre a vida familiar do outro.Muito mais calma, consigo explicar porque havia deixado a universidade de lado, mas adianto que um dia quero muito ir embora daqui. Nem preciso falar a vergonha que carregarei pela cidade inteira, assim que a sacanagem do Otávio cair na boca do povo.Quando damos conta, está quase no horário dele assumir o plantão no hospital. Sinto frio, porque apesar de termos ficado no sol, hoje está um dia fresco. As roupas nem mesmo secaram completamente.
LÉOAntes de tudo, como vai? Eu me chamo Leonard Campos de Barros, mas todos me chamam de Léo. Desculpa dar o nome completo, é costume devido à profissão. Tenho 28 anos e vivo em São Paulo, cidade onde nasci.Meus pais sempre trabalharam muito para conseguirem tudo o que desejavam. Iniciaram o comércio de vinhos em uma pequena vinícola, na região de São Roque, no interior paulista. Poucos anos depois já ampliavam os negócios e exportavam alguns dos produtos para América do Norte e parte da Europa. Atualmente, compraram uma vinícola em Trento, na Itália, e começam a mandar vinhos de lá para cá, conquistando um novo público.<
Voltamos para o hospital, conversando com a mesma animação anterior. Léo e eu estamos relaxados, um diante do outro, como se já fôssemos amigos há anos. Essa sensação é maravilhosa, a de ter alguém que sabe de tudo que estou passando e dispõe-se a apoiar-me. É nesse momento que viramos a esquina, logo avistando o hospital. Mas algo faz com que eu paralise.— O que houve, mocinha? Porque parou?Ele fica olhando para mim sem entender.— Está vendo a moto? É o Otávio, ele está aqui no hospital. Meu Deus, o que esse cretino veio fazer aqui?Juro ter ouvido em seguida Léo xingar. Olho para ele, espantada com aquela reação, mas e
LÉOA água do chuveiro cai quente nas minhas costas. Faz uma semana que não falo com Lilly. Achei melhor manter-me afastado, sem me envolver nessa enrascada para a minha própria segurança.O duro é que ela parece principiante demais nessa coisa de relacionamento. Como naquele dia. Foi só o babaca aparecer e algum tempo depois, lá ia ela para o estacionamento com ele. Claro que fiquei irritadíssimo quando os vi saindo. Tantos conselhos e conversa para nada? Dava cinco minutos e saía com o pentelho.Tenho de admitir que a acho linda e gostosa pra caralho. Ela de calcinha e sutiã é… Ai, caramba! Talvez um banho frio seja a melhor opção.
LILLYEle não quer me ouvir.Solto a respiração e caminho para fora do prédio. Preciso andar, distrair o pensamento, ou tomar um banho gelado porque, apesar de tudo, aquela imagem dele de toalha não vai sair da minha cabeça tão cedo. Apesar dele tentar disfarçar, vi que se excitou quando o olhei.Milhares de coisas passam pela minha cabeça, a mente vagando do Otávio ao Léo e vice-versa. Um é o bronco cafajeste do interior, que vai te pegar de jeito, mas partir seu coração. O outro vem da cidade grande e possui um ar mais sério, sorri menos e tem certo ar romântico, mas jura evitar qualquer tipo de relacionamento. Até tenta disfarçar, mas quando olha deixa claro que aprecia o que vê. Como ser&aa
OTÁVIOMeu lugar preferido é esse bar. Aqui literalmente sou o rei. A mulherada vem até de outras cidades atrás de mim. Eu já recebi proposta de tudo quanto é tipo por aqui e mesmo que alguns digam que isso é só por causa da minha grana, garanto-me no movimento do quadril. Sempre me cuido para deixar o corpinho no ponto e meu amigo disposto a nunca negar fogo.— E aí, gatinha, tudo bem? Papai está de novo na área — falo assim que chego, abrindo meus braços e abraçando a gostosa da Fátima. Cara, eu amo esses peitos. Abraço-a e já dou uma apalpada naquela bela bunda.— Por onde andou, Tavinho?Sabe, uma das coisas que mais o
LILLYComo minha vida pode ter virado de cabeça para baixo assim, num estalar de dedos? Tinha tudo: uma família perfeita, a mãe saudável que andava e podia cuidar de si mesma, meus sonhos e planos.Otávio poderia ter sido a melhor coisa que aconteceu, se não fosse cretino. Tão imbecil… Num único momento, conseguiu ser o melhor e o pior na minha vida. Não posso negar que até descobrir a verdade ele fez-me feliz, como uma história perfeita de amor, até tudo vir à tona.E eu senti-me a mais idiota das mulheres.Mas Léo veio para mudar tudo isso. Ele é o amigo que sempre quis ter por perto. Alguém que me escuta, faz-me sorrir, que me sinta eu mesma.<
LILLYAssim que chego em casa vejo meu pai chorando, algo que não lembro de ter visto muitas vezes. Imediatamente o coração aperta e penso na minha mãe.Ela não pode ter nos deixados.— Pai, o que houve? — O tom da minha voz estava mais para desesperada do que preocupada.— Ah, Lilly… Uma coisa terrível, minha filha.— Pelo amor de Deus, o senhor está me assustando. Aconteceu alguma coisa com a mamãe?— Eu fui demitido, Lilly. Depois de tantos anos… Não sei o que fiz, mas agora pouco o doutor Richard disse que precisava me dispensar. Argumentei, mas ele não quis saber.