Então, pare o tempo aqui mesmo, à luz da lua
Porque eu não quero nunca fechar meus olhos
À noite, sinto-me melhor. Felizmente, não há efeitos colaterais da medicação, então estou disposto. Falar durante a reunião ajudou, mas é claro que eu não falei sobre a minha quase-crise suicida de ontem. Só disse olá e o meu nome. É o suficiente, por ora. Se tivesse mencionado o que acontecera (ou quase acontecera), provavelmente estaria dopado agora. Ou internado. Nem mesmo sei qual deles é pior. Apesar de ter mandado parte da angústia embora, a frustração continua presente, pois não consegui despejar tudo o que precisava. No fundo me sinto até culpado: todas aquelas pessoas estavam lá por algum motivo, todas têm os seus problemas, então quem sou eu pa
Sem você, eu me sinto quebrado, como se eu fosse a metade de um todoAntes...-Vamos rapaz, acorde. - a primeira voz murmura, próxima ao meu ouvido, mas eu não consigo me mover, por mais que tente.-Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! – uma outra voz, mais fina, fala alto do outro lado, soluçando.-Pelo amor de Deus, menino, acorde! Alguém chame uma ambulância! – uma terceira pessoa fala, gritando a última frase. Acredito que a voz pertença à pessoa que mantém minha cabeça fixa no chão, para que eu não tombe para os lados.- Ai meu Deus, ai meu Deus... – a voz irritante continua a gritar.- Cale a boca! – a primeira voz repreende, e após isso, escuto uma sirene ao longe. O som fica cada
Sem você, eu não tenho mão para segurarCorro para casa assim que guardo o celular no bolso, mas não sem antes olhar para trás, procurando por Marco. Ufa, nem sinal dele. O que foi aquilo? Quando foi que ele voltou a falar comigo? É claro que eu estou chateado por ter sido desta forma, humilhando-me e falando coisas horríveis, mas pelo menos ele consegue me olhar nos olhos. E falar coisas horríveis, mas consegue. Já é um primeiro passo. Que deprimente, estou levemente feliz porque alguém foi capaz de me olhar nos olhos e proferir coisas ruins a meu respeito.Ignoro meus pensamentos sobre Marco e aumento minha velocidade, ficando cada vez mais próximo de casa. Assim que viro a esquina, vejo uma figura parada na varada, olhando ao redor e parecendo procurar algo pelas janelas.Quando me aproximo, a figura me vê e caminha em minha direção.
Sem você, me sinto rasgadoTrinta minutos depois, David ainda me desenha, e eu começo a me sentir desconfortável. Não só por ele me olhar de tempos em tempos, mas porque meu braço está formigando, e estou dolorido por ficar na mesma posição por tanto tempo.- Não se mexa! – David murmura sem nem mesmo olhar para mim, os olhos concentrados no desenho. Segundos depois, ele finalmente me encara, mas logo volta a rabiscar. Sentindo-me uma criança que acabou de levar uma bronca, fico imóvel, ignorando a dormência irritante no braço. Isso não é tão divertido quanto parecia, penso, olhando para o teto, entediado.- Vai valer a pena quando eu terminar. – David fala, com um sorrisinho nos lábios. Arregalo os olhos, percebendo que, ou ele é realmente vidente ou algo do tipo, ou eu sou realmente péss
Sem você, eu sou apenas uma música triste. - Leo! Leo! – acordo de supetão, assustado, e com o pescoço doendo. – Você vai se atrasar para a reunião! – Magda me chacoalha com força – O que está fazendo? O que foi? – ela pergunta, sentando-se ao meu lado no sofá, preocupada. – O que aconteceu?- Nada. – sorrio fraquinho, tentando entender o por que de estar me sentindo desse jeito, e aceito de bom grado que minha irmã mexa nos meus cabelos. – Preciso de um banho – consigo falar.- Okay. Vou fazer os cookies para você levar então, só espero que dê tempo de ficarem bem assados. – ela murmura em meus cabelos antes de me dar um beijo. – Dou um jeito de estarem prontos quando você for sair.- Tudo bem. – respondo, levantando-me e subindo as esca
Com você eu caio, e é como se eu estivesse deixando todo o meu passado.- Leo? O que está fazendo dormindo aqui na sala? – mamãe me acorda pela manhã, ao chegar do trabalho. Está com uma aparência cansada, o rosto pálido e os olhos caídos, com olheiras enormes. Além de fazer pães e doces para vender aos vizinhos e conhecidos, ela ainda trabalha como faxineira num hospital aqui perto, no período noturno. Dizer que mamãe se mata por nós é apelido. Ela faz mais do que isso.- Acordei mais cedo, com fome. – minto, mas não é bem uma mentira, já que eu realmente comi mais cedo.- Xii. Será que os remédios estão tendo mais efeitos colaterais? Está na hora de trocar. – ela fala, preocupada. Para minha mãe, sempre que me sinto diferente ou meu corpo
Com você, eu sou uma linda bagunça.10 anos antes...- Leo! Pega! – vejo uma bola se aproximando de meu rosto e ergo as mãos, protegendo-me. Fecho os olhos e aguardo o impacto, que me derruba no chão.- Leo! – abro os olhos e vejo que o garotinho surgiu ao meu lado, o sorriso que até então iluminava o rosto desaparecera, ele parece preocupado. – Machucou? Sorrio mostrando os dentes, como quem diz que está tudo bem, e o garotinho se joga na grama, as pernas sobre as minhas.- Desculpa. – ele pede, olhando para o céu enquanto mexe na gravata borboleta vermelha, parecendo desconfortável.- Por quê? – olho-o de esguelha, confuso.- Porque eu te machuquei. E EU sou o mais velho, então tenho que
É como se nós estivéssemos de mãos dadasCom todos os nossos medos à margemQuando acordo, mamãe está sentada na ponta da cama, olhando para fora da janela aberta, pensativa. Vendo que estou acordado, ela olha para mim, sorrindo um sorriso nada verdadeiro. É o sorriso mais forçado que eu já vi.- Bom dia, Leo. – ela fala, dando um tapinha nos meus pés. – Como está se sentindo? – pergunta, os olhos inchados e vermelhos.- Bem. – minto, levantando-me e me sentando, mas ela parece acreditar. A verdade é que eu estou me sentindo um caco, um monte de trapos, mas não vou dizer isso. Vendo sua aparência, parece que ela envelheceu uns bons dez anos de idade em apenas uma noite, e não consigo não me sentir culpado.- Ok. Então hoje nós vamo
Não importa aonde você estáEu não vou te deixar para trás- Leo, por que não aproveita que está aqui e participa da reunião? – Dr. Soares pergunta, sorridente. Olho para mamãe em busca de qualquer sinal de orientação, torcendo para que ela diga que me quer na sala, conversando com eles, mas recebo um aceno de cabeça. Ela quer que eu saia.- Tudo bem. – murmuro, desapontado. Levanto-me da cadeira colorida e deixo a sala. Quando fecho a porta, escuto a voz abafada do médico dirigindo-se à mamãe, e sinto medo novamente. E se ele disser que sou um caso perdido? Que preciso ser internado e ficar entre quatro paredes para sempre?- Leo! – uma voz feminina e conhecida me chama, e a enfermeira cujo nome eu nunca me lembro acena para mim, convidando-me para participar da reunião. Quando me