Sem você, eu sou apenas uma música triste.
- Leo! Leo! – acordo de supetão, assustado, e com o pescoço doendo. – Você vai se atrasar para a reunião! – Magda me chacoalha com força – O que está fazendo? O que foi? – ela pergunta, sentando-se ao meu lado no sofá, preocupada. – O que aconteceu?
- Nada. – sorrio fraquinho, tentando entender o por que de estar me sentindo desse jeito, e aceito de bom grado que minha irmã mexa nos meus cabelos. – Preciso de um banho – consigo falar.
- Okay. Vou fazer os cookies para você levar então, só espero que dê tempo de ficarem bem assados. – ela murmura em meus cabelos antes de me dar um beijo. – Dou um jeito de estarem prontos quando você for sair.
- Tudo bem. – respondo, levantando-me e subindo as esca
Com você eu caio, e é como se eu estivesse deixando todo o meu passado.- Leo? O que está fazendo dormindo aqui na sala? – mamãe me acorda pela manhã, ao chegar do trabalho. Está com uma aparência cansada, o rosto pálido e os olhos caídos, com olheiras enormes. Além de fazer pães e doces para vender aos vizinhos e conhecidos, ela ainda trabalha como faxineira num hospital aqui perto, no período noturno. Dizer que mamãe se mata por nós é apelido. Ela faz mais do que isso.- Acordei mais cedo, com fome. – minto, mas não é bem uma mentira, já que eu realmente comi mais cedo.- Xii. Será que os remédios estão tendo mais efeitos colaterais? Está na hora de trocar. – ela fala, preocupada. Para minha mãe, sempre que me sinto diferente ou meu corpo
Com você, eu sou uma linda bagunça.10 anos antes...- Leo! Pega! – vejo uma bola se aproximando de meu rosto e ergo as mãos, protegendo-me. Fecho os olhos e aguardo o impacto, que me derruba no chão.- Leo! – abro os olhos e vejo que o garotinho surgiu ao meu lado, o sorriso que até então iluminava o rosto desaparecera, ele parece preocupado. – Machucou? Sorrio mostrando os dentes, como quem diz que está tudo bem, e o garotinho se joga na grama, as pernas sobre as minhas.- Desculpa. – ele pede, olhando para o céu enquanto mexe na gravata borboleta vermelha, parecendo desconfortável.- Por quê? – olho-o de esguelha, confuso.- Porque eu te machuquei. E EU sou o mais velho, então tenho que
É como se nós estivéssemos de mãos dadasCom todos os nossos medos à margemQuando acordo, mamãe está sentada na ponta da cama, olhando para fora da janela aberta, pensativa. Vendo que estou acordado, ela olha para mim, sorrindo um sorriso nada verdadeiro. É o sorriso mais forçado que eu já vi.- Bom dia, Leo. – ela fala, dando um tapinha nos meus pés. – Como está se sentindo? – pergunta, os olhos inchados e vermelhos.- Bem. – minto, levantando-me e me sentando, mas ela parece acreditar. A verdade é que eu estou me sentindo um caco, um monte de trapos, mas não vou dizer isso. Vendo sua aparência, parece que ela envelheceu uns bons dez anos de idade em apenas uma noite, e não consigo não me sentir culpado.- Ok. Então hoje nós vamo
Não importa aonde você estáEu não vou te deixar para trás- Leo, por que não aproveita que está aqui e participa da reunião? – Dr. Soares pergunta, sorridente. Olho para mamãe em busca de qualquer sinal de orientação, torcendo para que ela diga que me quer na sala, conversando com eles, mas recebo um aceno de cabeça. Ela quer que eu saia.- Tudo bem. – murmuro, desapontado. Levanto-me da cadeira colorida e deixo a sala. Quando fecho a porta, escuto a voz abafada do médico dirigindo-se à mamãe, e sinto medo novamente. E se ele disser que sou um caso perdido? Que preciso ser internado e ficar entre quatro paredes para sempre?- Leo! – uma voz feminina e conhecida me chama, e a enfermeira cujo nome eu nunca me lembro acena para mim, convidando-me para participar da reunião. Quando me
Toda vez que você vai emboraEu perco o que eu preciso salvarEu apenas pinto de pretoÉ como começar de novo- Você foi muito corajoso lá, falando todas aquelas coisas. – tomo um susto e engasgo com o suco de laranja de forma nada encantadora, fazendo-o rir. Ele é ainda mais bonito pessoalmente, penso, embasbacado. Estava de boné durante a conversa, mas agora seus cabelos estão livres, e eles são azuis! – Desculpa, não queria assustar você. – ele põe as mãos nos bolsos do jeans, uma expressão envergonhada no rosto.- Tudo bem. – tusso com a mão em frente à boca, me recuperando do incidente vergonhoso. Como não sei o que dizer para continuar a conversa, ou mesmo se devo continuar a conversa, fico calado, encarando
Eu quero viver com vocêMesmo quando virarmos fantasmasPorque você sempre esteve lá para mimQuando eu mais precisava de vocêRespirando fundo uma última vez, tomo coragem e aperto a campainha, engolindo o arrependimento que sinto no mesmo instante. A porta demora para ser atendida, então já estou na metade do caminho para longe da casa quando ouço alguém abri-la. Olho receoso para trás, e uma sensação estranha de alívio e medo toma conta de mim.- Leo. – David parece surpreso ao me ver, talvez porque não esperasse me ver depois do que aconteceu. Não perguntei nada à mamãe ou à Magda, eu simplesmente sabia que era David comigo naquele dia, pois minha irmã mencionou algo, sem querer, cobrindo a boca em seguida. E eu sabia també
Você vai me ligar para dizer que está bem?Porque eu me preocupo com você durante a noite toda- O que é isso? – pergunto de supetão, encarando a primeira pintura que vejo. Uma mancha azulada jogada no que parece ser um chão de tijolo rosa.- Um quadro. – David responde, sorridente. Não consigo evitar um sorriso também. – Alguém deitado.- Por quê? Quero dizer, de onde veio a ideia? – pergunto, curioso.- Conhece a banda Snow Patrol? – ele questiona, colocando a travessa numa mesa e empurrando lápis e pincéis para o lado.- Sim. Chasing Cars? – sorrio, me lembrando do videoclipe da música, e de como eu costumava vê-lo quando mais novo.- É! – David exclama, parecendo surpreso. – Uau, não conheço ninguém que gosta da band
Eu sei como consertar seu coraçãoAcredite, você não está sozinhoAntes...O telefone não para de tocar, mas ninguém o atende. Magda se trancou no nosso quarto, e eu consigo ouvir seus soluços daqui. Mamãe se trancou no dela, de forma que eu estou preso, e só posso escolher entre a sala, a cozinha, o banheiro e lá fora; vou para fora. Ou melhor, cambaleio para fora, ignorando a dor.Minha ficha ainda não caiu, por isso ainda não chorei. Nem uma lágrima sequer, o que não me surpreende. Aquilo não aconteceu de verdade, aconteceu? Não pode ter acontecido. Talvez eu esteja sonhando. Belisco meu próprio braço, mordendo o lábio por conta da dor, mas não acordo. Não é um sonho? Eles realmente se foram? Eles se f