Adrien — Acho que eu vou estrangular uma certa caçula que está bem minha frente — rosnei entre dentes para a minha irmã, que escancarou um largo e iluminado sorriso.— Sério Adrien, uma aluna? — perguntou irônica, soltando uma risadinha escrota e com seus olhos claros acusando-me deliberadamente. Eu fiz um gesto com as minhas mãos, abrindo e fechando os dedos, insinuando o que pretendia fazer e ela gritou, correndo pelo apartamento e se trancou em seu quarto.— Não vai escapar, Anne Lamartine. Uma hora você vai terá que sair do seu quarto e eu vou pegar você e vou afogá-la em sua tigela de leite, com aqueles malditos cereais coloridos! — ralhei contra a madeira pintada de rosa e ela riu alto lá dentro, me fazendo rir também. Anne abriu uma brecha na porta e me olhou através dela.— Ela é linda! Falou pra ela sobre o seu problema de psicose? — Brincou.— Vai te foder, Anne! — rebati e ela gargalhou. Em seguida saiu do quarto e se escorou na parede de frente para mim.— É sério, o que
Adrien — Pronto para a batalha, campeão? — Prado, um dos chefs convidados e grande amigo perguntou, dando algumas tapinhas em meu ombro, me fazendo despertar. O que eu agradeço do fundo da minha alma. Puxei uma respiração pesada e abri um sorriso do tipo extrovertido, acenando um sim para ele. — Temos muito o que fazer, não é? — falei o que veio a minha mente. O homem sorriu, alheio ao meu tormento pessoal. — Temos, e confesso que estou empolgado com tudo isso. — Finalmente o barco atracou no píer e os alunos se animaram, querendo se espalhar pelos quatro cantos da ilha. _ Atenção moçada, vocês terão quinze dias para explorar esse paraíso inteiro. Mas nesse instante, eu quero que entrem no casarão, escolham os seus quartos, se acomodem e depois fiquem à vontade para conhecer a ilha — pedi antes de descermos. Os alunos se empolgaram e procuraram a entrada da enorme casa, que mais parecia uma grande pousada de luxo e eu segui direto para as escadas, a procura do quarto principal, on
KellDepois de arrumar a minha bagunça na cozinha, tomei um banho relaxante de banheira e voltei para o quarto. Daqui era possível ouvir as risadinhas da Anne. Sorri do seu riso contagiante. Gostei dela, não sei o porquê, mas eu gostei. Me joguei em cima da cama, sentindo o meu corpo relaxar e só então notei o meu celular piscando. Eu o peguei e abri a tela, encontrando uma mensagem de um número desconhecido. Rapidamente me sentei no colchão e abri a mensagem que me fez suspirar.Boa noite, Kelly, tenha bons sonhos! Bons sonhos, a quanto tempo não tenho um? Lembrar que a poucos dias sonhei com o meu professor me beijando e saber que isso quase aconteceu a poucas horas, me fez sorri por dentro. Então voltei a deitar-me em meu travesseiro e quando fechei os meus olhos me peguei sorrindo outra vez.***Abrir os olhos e vi que tudo estava diferente foi um grande susto. Não sei explicar, depois de alguns anos, eu dormi uma noite inteira. Não tive sonhos, como o meu professor havia me des
Kell— Parabéns a equipe verde! — O chef Luigi Prado disse com um tom sério, depois de saborear cada prato que estava disposto sobre a mesa. — Infelizmente a equipe vermelha precisa aprender um pouco mais sobre humildade e ouvir mais os seus companheiros. Não foi dessa vez. — Ouvir isso me deixou triste. Eu nunca perdi uma competição antes e isso me deixou ainda mais competitiva e determinada.— Eu disse que não era bom com equipes! — Juan resmungou baixinho ao meu lado. Eu bufei irritada, mas entendi que isso era mais um aprendizado para mim.***Trancada outra vez em meu quarto, o sono não veio. Fazia horas que estava deitada nesse divã, olhando para o mar tranquilo, refletindo a luz do luar e o balançar das copas das árvores, que pareciam brincar com o vento. Lá embaixo a quietude e o silêncio me diziam que todos já haviam se recolhido, então resolvi sair do meu esconderijo e fui lá fora apreciar a brisa fria da noite. Caminhei pelo comprido corredor tentando não fazer barulho e o
Kelly Ferraço— Ela não se parece com um grande queijo redondo e amarelo? — A pergunta repentina do meu professor me fez olhá-lo com curiosidade. Do que ele estava falando? Será que ele prestou atenção no que eu acabei de falar? Adrien arqueou as sobrancelhas para mim e depois apontou a imensa lua acima do mar noturno com a sua cabeça. — A lua, não parece um imenso pedaço de queijo? — repetiu sua indagação, com um imenso olhar de menino levado e continuou. — Quando eu era criança, tinha vontade de mordê-la — confessou quase sonhador e voltou a sorrir, dessa vez era um sorriso maroto e levado. — Você nunca? — Meneei a cabeça de forma negativa e inevitavelmente abri um sorriso. Devo admitir, ele é fantástico! Não sei como como consegue; em um minuto me sentia arrasada, quebrada por sentir o desejo quase que incontrolável de beijar esse homem, quando eu sei que eu não tenho esse direito, e no outro ele chegou com uma conversa mole, totalmente sem nexo e me faz rir outra vez. Respirei fu
Kell— Precisamos pedir ajuda — falei desesperada, sentindo a minha cabeça latejar. Então procurei o meu celular, que havia caído em algum lugar do carro, mas não o encontrei em nenhum lugar. A mão do Lipe segurou o meu braço me chamando a atenção.— Eu te amo! — disse quase sem forças.— Também te amo! Vai dar tudo certo, Lipe, aguenta só mais um pouco — pedi soltando um gemido de dor. Algumas pessoas começaram a se aglomerar perto do carro, algumas delas segurando o telefone no ouvido. Olhei para Lipe e forcei um sorriso para ele. — Viu, eles vão pedir ajuda. Aguenta só mais um pouco — insisti e ele fez um não para mim.— Não dá mais tempo, meu amor — disse fazendo o meu coração parar uma batida. — Me promete que... — Ele tentou dizer com dificuldade.— Não, para! — ordenei o interrompendo, sentindo as lágrimas queimar os meus olhos e a dor em minha cabeça só aumentou. — Você vai conseguir, promete Lipe. Promete que não vai desistir, promete por mim? — A dor em minha cabeça se torno
Adrien Por que eu tinha que fazer aquilo? Sério, depois daquele beijo, aquele bem doce, macio, tão quente que parecia a larva ardente de um vulcão, o meu dia se tornou um inferno. Sabe o que é ter que manter distância, quando na verdade você quer estar por perto, coladinho? Cara, eu precisava pelo menos cochichar ao pé do seu ouvido, algo que me fizesse saber que tudo ainda está bem e que ela não vai fugiria de mim mais uma vez. Mas estou aqui, em pé, bem na frente dela, na verdade na frente de todos os alunos, assistindo ao treinamento de todos eles, mas a minha concentração está bem lá... no cantinho esquerdo da imensa cozinha, onde a Kelly está bem concentrada em fazer zong zi; um prato tipicamente chinês e, diga-se de passagem, bem atrevido, como só ela sabe ser. Os ingredientes desse prato têm setenta por cento de arroz, mas é nesse ponto do arroz que está toda a ousadia da minha aluna. O arroz precisa ficar pastoso ao ponto de fazer um tipo de pastel. Juro que esto
AdrienSeguimos mata adentro e andamos por mais ou menos uns vinte minutos, até parar em um tipo de piscina natural, de águas esverdeadas, de onde saía um fino vapor. O local é rodeado por árvores, muitas delas, portanto de difícil acesso, o que nos deixará mais à vontade por um bom tempo. Kelly tirou seus óculos e apreciou a paisagem ao seu redor. Ela olhou as copas altas das árvores frondosas se balançando, algumas aves coloridas voando entre as folhagens e emitindo sons engraçados e por fim o lago, que tem as margens cheias de musgos e de cogumelos amarelos e ela quando finalmente me olhou, seu sorriso de admiração foi desaparecendo aos poucos.— Precisamos conversar. — Consegui dizer diante dos turbilhões de loucas sensações que fez o meu estômago revirar.— Não quero conversar, professor. — Kelly rebateu. Eu só consegui olhá-la, enquanto os meus pensamentos gritavam dentro de mim. “O que, como assim?”— Não, como não? — questionei-a completamente surpreso. — Kelly, aconteceu algo