AdrienAs horas seguintes se passaram na maior cozinha para chefs da faculdade, equipada com toda sorte de eletrodomésticos possíveis, fornos e fogões de alta qualidade, além de enormes balcões de aço e utensílios de vários tamanhos e funções. Os alunos participantes foram separados por bancadas e todos tinham liberdade de pegar os ingredientes que quisessem. O tempo todo eu estava apreensivo, olhando disfarçadamente para uma Kelly empenhada em fazer a sua parte. Confesso que a minha preocupação não era que ela chegasse ao tal buffet e sim a minha ilha particular. Egoísmo da minha parte? É, eu sei que sim, mas não consigo evitar. O sinal tocou, avisando que o tempo dos alunos havia acabado e todos se afastam das suas bancadas como foram orientados. E agora eles são chamados um a um para apresentar os seus deliciosos projetos, enquanto os jurados e inclusive eu, anotamos em algumas fichas a pontuação de cada um deles. Meu peito inflou ao saber que a minha aluna alvo passou com mérito e
KellConfesso que estou pensando muito no conselho da minha amiga e que passei algum tempo observando alguns homens nas ruas de Paris e até mesmo na faculdade. Eu simplesmente não tive coragem de fazer uma abordagem ou de puxar um assunto ou uma conversa agradável, nada desse tipo. E agradeci aos céus a providência do professor Adrien em abrir o tal concurso. Isso tirou um pouco o meu foco em relação ao assunto "deixa rolar". A primeira fase do jogo eu tirei de letra. Aprendi com o melhor a degustar os alimentos desde cedo, a sentir e diferenciar os seus sabores e apreciar os seus aromas. Portanto, antes de sentir aquela massa adocicada e macia em minha língua, eu senti o seu aroma e já de início pude sentir o cheiro delicado da baunilha, junto ao cacau e em seguida a refrescância da hortelã, o leve amargor do açúcar mascavo e por fim o delicioso creme de avelã. Sorri satisfeita ao ver o meu nome no quadro de avisos no dia seguinte.A segunda fase não foi a mais fácil, mas também não
Kell— Acho que sim — sibilei e feito uma idiota e comecei a rir. O meu professor pareceu ainda mais confuso com a minha reação e ele finalmente me pôs de pé.— Está tudo bem? — indagou perdido em confusão.— Eu só... precisava de um pouco de açúcar — falei e percebi que estava tendo uma crise de risos, porque eu simplesmente não conseguia parar de rir. O meu professor sorriu, parecia admirado com algo.— Você fica linda assim, Kelly! — comentou me fazendo parar as risadas, mas o meu sorriso por incrível que pareça, não se apagou. _ Deveria sorrir mais, e olha se eu soubesse que te dar um banho de açúcar faria isso, eu teria derramado um pacote inteiro em cima de você _ confessou mais descontraído, divertido até. Então eu olhei para o meu vestido simples de algodão branco e depois para a xícara quebrada no chão e voltei o meu olhar para o meu professor, que engoliu o seu sorriso e que agora parecia constrangido. Sorri, porque não queria estragar isso, seja lá o que fosse.— O senhor t
KellOk, acho que estou exagerando só um pouquinho. Será que ele vai perceber? Perguntei-me quando girei o meu corpo diante do espelho, de um lado para o outro, para ver o vestido de viscose curto, de saia levemente rodada e passei a mão no decote simples em meu colo. Os cabelos quase cor de mel estão soltos, dando vida aos cachos largos nas pontas e eu aproximei um pouco o rosto do espelho, para observar a maquiagem leve que fiz. “Um jantar entre amigos.” Pensei. É claro que ele não vai notar. Sorri e depois de conferir mais uma vez o meu visual no espelho, eu saí do quarto e fui direto para a minha cozinha, que nesse momento aguardava por minha organização. Peguei uma pequena travessa de vidro embaixo do balcão e comecei a organizar alguns cupcakes de forma alinhada, e na sequência pus uma porção considerável do chantilly que preparei a algumas horas e deixei na geladeira e para finalizar, pus uma cereja no topo de cada bolinho, e voilá, estava pronto. Corri para o quarto e calcei u
Kell — Não sou irreverente, senhorita Ferraço — rebateu alisando o desenho na frente da camisa, puxando o ar como se estivesse orgulhoso da sua escolha. — Não gostou da minha camisa?— Na verdade, eu adorei! — confessei segurando mais uma gargalhada.— Ah, vai, é estilosa, Kelly. Admite.— Muito estilosa — concordei e mais risadas foram inevitáveis. Ele se sentou de frente para mim e cruzou os dedos debaixo do seu queixo, me olhando com admiração. — O que foi? — questionei meio sem graça e ele deu de ombros.— Adoro vê-la sorri! — confessou com um tom baixinho, me deixando um pouco encabulada e depois disso veio o silêncio. Adrien limpou sua garganta e se levantou para ir à cozinha. Ele trouxe dois pratos, alguns talheres e uma garrafa de vinho pela metade. Provavelmente a que me serviu mais cedo.— Melhor comermos enquanto está quente — sugeriu. Eu apenas concordei, abrindo um sorriso tímido.***— Então, o seu pai é um chef?— Uhum, um dos melhores que eu já conheci.— Não pode diz
Adrien — Acho que eu vou estrangular uma certa caçula que está bem minha frente — rosnei entre dentes para a minha irmã, que escancarou um largo e iluminado sorriso.— Sério Adrien, uma aluna? — perguntou irônica, soltando uma risadinha escrota e com seus olhos claros acusando-me deliberadamente. Eu fiz um gesto com as minhas mãos, abrindo e fechando os dedos, insinuando o que pretendia fazer e ela gritou, correndo pelo apartamento e se trancou em seu quarto.— Não vai escapar, Anne Lamartine. Uma hora você vai terá que sair do seu quarto e eu vou pegar você e vou afogá-la em sua tigela de leite, com aqueles malditos cereais coloridos! — ralhei contra a madeira pintada de rosa e ela riu alto lá dentro, me fazendo rir também. Anne abriu uma brecha na porta e me olhou através dela.— Ela é linda! Falou pra ela sobre o seu problema de psicose? — Brincou.— Vai te foder, Anne! — rebati e ela gargalhou. Em seguida saiu do quarto e se escorou na parede de frente para mim.— É sério, o que
Adrien — Pronto para a batalha, campeão? — Prado, um dos chefs convidados e grande amigo perguntou, dando algumas tapinhas em meu ombro, me fazendo despertar. O que eu agradeço do fundo da minha alma. Puxei uma respiração pesada e abri um sorriso do tipo extrovertido, acenando um sim para ele. — Temos muito o que fazer, não é? — falei o que veio a minha mente. O homem sorriu, alheio ao meu tormento pessoal. — Temos, e confesso que estou empolgado com tudo isso. — Finalmente o barco atracou no píer e os alunos se animaram, querendo se espalhar pelos quatro cantos da ilha. _ Atenção moçada, vocês terão quinze dias para explorar esse paraíso inteiro. Mas nesse instante, eu quero que entrem no casarão, escolham os seus quartos, se acomodem e depois fiquem à vontade para conhecer a ilha — pedi antes de descermos. Os alunos se empolgaram e procuraram a entrada da enorme casa, que mais parecia uma grande pousada de luxo e eu segui direto para as escadas, a procura do quarto principal, on
KellDepois de arrumar a minha bagunça na cozinha, tomei um banho relaxante de banheira e voltei para o quarto. Daqui era possível ouvir as risadinhas da Anne. Sorri do seu riso contagiante. Gostei dela, não sei o porquê, mas eu gostei. Me joguei em cima da cama, sentindo o meu corpo relaxar e só então notei o meu celular piscando. Eu o peguei e abri a tela, encontrando uma mensagem de um número desconhecido. Rapidamente me sentei no colchão e abri a mensagem que me fez suspirar.Boa noite, Kelly, tenha bons sonhos! Bons sonhos, a quanto tempo não tenho um? Lembrar que a poucos dias sonhei com o meu professor me beijando e saber que isso quase aconteceu a poucas horas, me fez sorri por dentro. Então voltei a deitar-me em meu travesseiro e quando fechei os meus olhos me peguei sorrindo outra vez.***Abrir os olhos e vi que tudo estava diferente foi um grande susto. Não sei explicar, depois de alguns anos, eu dormi uma noite inteira. Não tive sonhos, como o meu professor havia me des