O aeroporto de M’Banza-Kongo vai ficando para trás. Suellen se distrai olhando as largas avenidas da cidade. Os carros trafegam para todos os lados de forma desordenada, assim como as pessoas. Há muitos comércios ambulantes pelas calçadas. Em um terreno grande muitos garotos jogam futebol e as pessoas trajam roupas muito diferentes do que Suellen costuma ver e usar nos shoppings centers e nas rodas sociais de Fortaleza. Enquanto Suellen admira a paisagem, Jason repara na bela mulher em que sua nova chefe se traduz. Suellen se sente observada e retoma atenção ao trajeto. Jason aponta para uma antiga construção, que lembra um velho templo.
— A senhora está vendo aquela construção?
Suellen ajeita os óculos escuros e observa:
— O que era aquilo?
Jason diminui a velocidade do Jipe e começa a explicar para Suellen o que aquele local representa. Ele vai m
O solavanco do Jipe faz Suellen acordar. Ela tenta se encontrar e lembrar onde está. Olha em volta, ainda vê a mesma paisagem que, ao cair da tarde, faz com que o amarelo da savana ferva em vermelho, como se o fogo estivesse consumindo o horizonte. Ela admira aquele retrato e pergunta:— Onde estamos, Jason? Estamos chegando em Luanda?— Você dormiu bastante. Estamos chegando em N’Zeto, metade do caminho. Daqui a pouco vai anoitecer. Acho melhor pararmos em um hotel, para você tomar um bom banho e descansar. Amanhã cedo vou fazer algumas entregas e finalmente partimos a Luanda.— Estou tão cansada que não tenho como discordar de você.— Sim, você precisa descansar para finalmente chegar em Angola.Suellen se curva e olha Jason, tentando compreender:— O que você quer dizer com finalmente chegar em Angola?Jason sorri:— Voc
Jason está arrumado, passa pela recepção e chama o gerente:Carlos, estarei no restaurante aguardando a senhorita Suellen. Por favor, sirva aquele funge de peixe maravilhoso. Estou certo que ela irá gostar.— Pode deixar, senhor Jason. Vou servir um mututo de entrada e nosso delicioso funge de peixe. Para beber vamos preparar uma refrescante quissangua.— Está ótimo. Tudo típico e tradicional.Jason escolhe a mesa e se acomoda no restaurante. Enquanto espera por Suellen, faz algumas anotações no tablet.O gerente organiza os papéis na recepção quando é interrompido pela voz de Suellen.— Por favor, onde fica o restaurante do hotel?O gerente se vira. Quando fita Suellen, arregala os olhos e sua voz se aveluda com sua beleza.— Por aqui, senhorita. Me siga, por favor.Jason continua suas anotaçõ
O café da manhã está servido no restaurante. Suellen está sentada, degustando frutas típicas. O sabor do maboque e da lombula a encantam. Suco de manga, pitanga e goiaba, pães e rosquinhas completam a mesa farta.Carlos transmite o recado para Suellen:— Bom dia senhora Suellen. O senhor Jason tomou um café rápido e partiu para a entrega de suprimentos aos pescadores.Na praia, diversas caixas de suprimentos são entregues na sede da associação dos pescadores. Marlon, o presidente da associação de pesca, agradece:— Muito obrigado, senhor Jason. A pesca está quase parada, pela falta de suprimentos. Os projetos do governo estão escassos. Eles querem pagar subsídios cada vez mais baixos para nossa atividade. Os pescadores se negam a continuar, se as coisas ficarem assim.— Eu enviei aos deputados algumas propostas para cria
Do outro lado do oceano, o pátio do shopping Rio-Mar continua recebendo glamourosamente a elite fortalezense. Apesar do movimento constante, Rose sente a ausência de Suellen Souza. Sua ida para Angola deixou um vazio no centro estético Best Look. Rose lamenta com Edilene a saudade e a falta de notícias da amiga. Edilene Fortuna, cliente tradicional, está confortavelmente estirada na cadeira do centro estético, enquanto Rose aplica o tratamento de beleza facial.Rose relembra, e instiga a amiga:— Edilene querida, você acha que devo telefonar para Suellen? É um pouco invasivo, mas estou preocupada com toda essa falta de notícias. A Sra. Souza esteve aqui e disse que também não recebeu notícias da filha. Suellen não postou mais nada nas redes sociais. Sequer enviou uma mensagem.Totalmente relaxada, Edilene comenta, com a voz mole:— Não se preocupe,
Na sala da Presidência do centro empresarial Souza, Jorge Mascarenhas olha o litoral cearense por uma das janelas. Ele está sozinho, falando ao telefone com Arnold. Jorge está aos berros:J: Como assim, ela ainda não está na empresa? Ela não foi direto de M’Banza Kongo?A: Infelizmente o Senhor Jason tinha alguns compromissos em N’Zeto e era a única opção disponível. Não podíamos prever a tragédia que iria acontecer com o senhor Morrison.J: Tudo bem Arnold, sabe de uma coisa? Pouco me importa onde ela se meteu. O que importa é que não podemos cometer falhas. Se preocupe em não deixar nenhum rastro da documentação nos arquivos e computadores da empresa. Assim que ela começar as tratativas com os russos, eu quero que você me diga exatamente tudo o que está acontecendo nas reuniões
O Jipe de Jason corta a estrada e se aproxima do acesso para Luanda. Ao longe Suellen observa as torres residenciais do bairro Miramar, o mais nobre da cidade. As janelas prateadas das torres residenciais espelham o sol forte, contrastando com os bairros pobres que preenchem o resto da capital. Do outro lado, a faixa litorânea mostra o mar infinito que marca todo horizonte e se confunde com o azul do céu. No centro empresarial de Luanda, as torres empresariais enfileiradas à beira mar parecem olhar para o infinito, como se pensassem sobre o futuro de Angola. O Jipe entra na cidade. O trânsito é caótico. A Land Rover empoeirada de Jason contrasta, nas avenidas da parte nobre da capital, com os variados modelos de luxo e SUV importados. Os últimos modelos de BMW, Porsche, Range Rover, Audi e Mercedes Benz desfilam por aquele trânsito confuso. Suellen se admira com a qualidade e o bom gosto dos automóveis:— Quant
Na costa brasileira do oceano atlântico, o fim de tarde em Fortaleza se desenha no litoral. O crepúsculo reflete nas janelas do centro empresarial Souza e os raios de sol, que ainda resistem, iluminam a lanchonete gourmet, no lobby do edifício. Edilene Fortuna e Roberto Kernel terminaram a visita pela empresa. O material sobre o Grupo Souza foi coletado e agora a matéria está pronta para ser concluída. Eles descansam e trocam algumas ideias, enquanto tomam um café.Edilene agradece a cooperação.— Roberto, você foi muito prestativo. Seu conhecimento sobre sistemas e conceitos de tecnologia me impressionou. Fico agradecida pelo tempo e a sua atenção comigo. A matéria ficará ótima. Estou ansiosa para ver o portal do grupo Souza viralizando nas redes sociais.— Esteja à vontade, Edilene. Sempre que precisar de algo aqui na empresa, pode contar c
O elevador se abre no hall do apartamento de cobertura. O edifício Miramar Residence Garden tem vinte e dois andares e comporta um apartamento por andar. Na sala ampla não há paredes e as janelas de vidro dão vista para a baía de Luanda e o oceano Atlântico. A mobília e a decoração impecáveis lembram os requintados apartamentos de Paris ou Nova York. A cozinha e a sala de jantar são de última geração. Uma vultuosa porta divide o ambiente entre os quartos e o living do apartamento. Suellen e Jason olham e ficam fascinados com o requinte e o luxo do lugar.Suellen não deixa de observar:— Nossa, é enorme, parece o apartamento do papai e da mamãe.Jason concorda e consente:— Sim, com certeza dá para viver com a família toda em um apartamento como este.Jason retira as malas do elevador e as coloca no me