Início / Romance / QUANDO O AMOR CONECTA / CAPÍTULO 8 - SOL, TERRA E JIPE
CAPÍTULO 8 - SOL, TERRA E JIPE

“Cerca de 95% dos angolanos são africanos bantu, pertencentes a uma diversidade de etnias. Entre estas, a mais importante é a dos ovimbundu, que representam mais de um terço da população, seguidos dos ambundu, com cerca de um quarto, e os bakongo com mais de 10%”...

Suellen está há algum tempo sentada no saguão do aeroporto em M’Banza-Kongo. Ela lê alguns panfletos turísticos sobre Angola, enquanto aguarda o carregador trazer suas malas.

O carregador retorna, devolve o comprovante das malas e fica olhando para Suellen.

Suellen não entende e pergunta:

— Onde estão as minhas malas?

O carregador responde, com um sotaque português diferente, mas compreensível:

— Suas malas não estão no desembarque, senhora.

Suellen joga os folhetos turísticos de volta na mesinha, pega os comprovantes e caminha furiosa para o guichê da companhia aérea.

— Minhas malas deveriam estar neste aeroporto, posso saber o que aconteceu?

O atendente da companhia pega os comprovantes e digita no computador.

— Só um instante senhora, estamos verificando em nosso sistema.

Suellen tremula os dedos sobre o balcão e balança a perna. Ela está ansiosa e irritada.

Não demora muito, o atendente dá a resposta que Suellen não queria ouvir:

— Lamento senhora, mas a sua bagagem extraviou.

Suellen olha com inconformismo para o atendente.

— Você sabe há quantas horas eu estou com a mesma roupa? Como é que vou fazer sem as minhas malas?

O atendente recua um pouco e lamenta:

— Nós sentimos muito pelo transtorno, senhora. Vamos providenciar a localização da sua bagagem o mais rápido possível.

Suellen continua reclamando no balcão. O atendente recebe uma mensagem no computador e olha aliviado.

— Encontramos. Essa é a boa notícia.

Suellen olha com esperança.

— Ótimo, onde retiro minhas malas?

O atendente balança a cabeça negativamente:

— Essa é a má notícia. Infelizmente as malas da senhora foram despachadas no voo errado. Elas foram enviadas para o aeroporto de Bruxelas.

A reação de Suellen é imediata:

— Bruxelas? E agora, como é que eu vou fazer?

O atendente imprime alguns comprovantes, coloca sobre o balcão e explica:

A senhora pode preencher esses formulários para receber as malas, que elas serão entregues pela companhia no endereço indicado e sem custo. Também disponibilizamos esse voucher de trinta dólares para cobrir as despesas com o vestuário, enquanto a senhora não recebe sua bagagem.

Suellen coloca a mão na testa, indignada.

— Trinta dólares? O que eu compro com trinta dólares? Não importa, me dê esses papéis que vou preencher o endereço da empresa. Entreguem nesse local. — Suellen quer resolver de vez mais esse transtorno.

O atendente recolhe os papéis, emite um recibo e um voucher no valor de trinta dólares e entrega para Suellen.

— Lamentamos o transtorno. A previsão de devolução de sua bagagem é de até setenta e duas horas. Caso não receba nesse período, acesse um de nossos canais ou telefones e forneça o número do seu protocolo. Agradecemos sua preferência em voar pela nossa companhia.

Suellen pega os recibos, coloca dentro da bolsa e sai cambaleando pelo saguão do aeroporto de M’Banza-Kongo. Ela é forte e guerreira, mas o cansaço começa a deixá-la no limite. Ela caminha lembrando da banheira e do closet do apartamento em Fortaleza. Tomar um banho e trocar de roupa é tudo que ela quer naquele momento. Seu devaneio é interrompido pela vibração do celular. É Jason Fields enviando uma mensagem:

JF: Bom dia, senhora Suellen, fez boa viagem? Estou esperando na frente do aeroporto.

Suellen responde imediatamente.

S: Bom dia, quem é você? Como vou encontrá-lo?

JF: Eu sou o Jason. Diretor de Tecnologia do Grupo Souza. É só sair pelo saguão do aeroporto, que você vai ver meu jipe estacionado bem na frente.

S: Jipe? Está bem. Estou indo.

Suellen caminha em passos mais rápidos, balança a cabeça e comenta para si mesma:

— Um Jipe? Esse cara só pode estar de brincadeira.

Suellen sai do aeroporto de M’Banza-Kongo e fica parada, fitando o estacionamento. Ela coloca seus óculos escuros e começa a olhar devagar, à procura do jipe. De repente ela volta a cabeça e fixa a visão, tentando acreditar no que está vendo. O jipe antigo marrom claro, modelo Land Rover, possui teto de lona e grades nos faróis, além de vários adesivos de ralis realizados no deserto africano. As laterais altas com estribos para subir e as barras de proteção lembram os carros do exército. O sol forte reflete a poeira que destaca o veículo no meio dos outros carros. Suellen caminha lentamente na direção do jipe, torcendo para estar enganada. Porém, quanto mais se aproxima, vai perdendo esperança. O cartaz colado no vidro, escrito com tinta preta em cartolina branca, define seu destino: SRA. SUELLEN SOUZA - BRASIL - GRUPO SOUZA INC.

Jason Fields está sentado sobre o robusto capô do Jipe. Está tranquilo e distraído, fazendo algumas anotações no tablet. Ele sente que Suellen se aproxima, levanta seus óculos escuros e vê aquela morena alta, óculos escuros, cabelos soltos ao vento, trajando um vestido caríssimo todo amarrotado e sem bagagem. Ela caminha em sua direção. Jason acha graça da situação, fita Suellen da cabeça aos pés e joga o tablet no banco. Ele desce do capô, vai ao seu encontro e estica a mão.

— Senhora Suellen Souza? Muito prazer, Jason Field.

Suellen também fita Jason de cima embaixo. Observa o estilo daquele homem, trajando botas de trilha, calça militar e camiseta justa, definindo o formato da musculatura forte e bem trabalhada. Suellen estranha o tipo físico, coisa nada usual para um executivo, mas não deixa de admirar. Além da roupa e do tipo físico fugirem do padrão executivo, sua estatura também chama atenção. Seus um metro e oitenta e quatro obrigam Suellen a olhar para cima para conseguir encará-lo, coisa que dificilmente acontece com uma mulher alta como ela. Reciprocamente ela estende a mão e devolve o cumprimento.

— Muito prazer, Suellen Souza.

Suellen se vira, aponta curiosa para o Jipe e pergunta:

— Esse é o carro da empresa?

— Não, senhora, esse é meu carro.

— O que houve com o carro da empresa? Pensei que viriam me buscar com ele.

Jason coça a cabeça e começa explicar, achando que Suellen não sabe do ocorrido.

— Pois então, senhora Suellen. O Arnold, assistente da diretoria, me ligou avisando sobre um problema que aconteceu com o Morrison, nosso diretor de marketing e me perguntou se eu poderia vir aqui no lugar dele. Como eu estava a alguns quilômetros daqui, disse que não teria problema e, por isso, aqui estou eu.

Suellen olha Jason, espantada, se lembra da notícia sobre Morrison. Aquilo não foi um sonho. Ela lamenta:

— É verdade. Meu deus, que coisa horrível. Nosso diretor de marketing foi comido por javalis. Este país é muito selvagem.

Jason olha para Suellen, dá um sorriso irônico e comenta:

— Senhora Suellen, no Brasil as pessoas são comidas por cobras. Me perdoe, mas, sinceramente, prefiro ser comido por javalis do que por cobras.

Eles seguem na direção do Jipe, Suellen, ainda espantada, retruca:

— Mas isso só acontece no Pantanal ou na Floresta Amazônica.

Jason balança a cabeça, concordando, e completa:

— Pois então, isso aconteceu em um parque nacional, onde se permite a caça de Javalis. Essas coisas não acontecem no meio da rua. Do jeito que a senhora fala, parece vamos trombar com um javali a qualquer momento.

Jason tira a lona traseira do Jipe e muda de assunto.

— A senhora não trouxe bagagem?

Suellen balança negativamente a cabeça e diz, irritada:

— A minha bagagem extraviou. Foi parar em Bruxelas.

Jason recoloca a lona e comenta sorrindo:

— Extraviou no Aeroporto de Lisboa? Pediram desculpas e deram um voucher de trinta dólares? Isso sempre acontece. E sua bagagem não vai chegar em setenta e duas horas.

Suellen se vira, com olhar assustado.

— Você fala sério?

Jason dá a volta no jipe e responde, com um olhar sínico:

— Sim senhora, vai chegar em quarenta e oito horas, eles sempre se adiantam.

Apesar da irritação, Suellen acha graça no bom humor de Jason. Ela olha para o estribo e o banco no Jipe e fica imóvel.

Jason já está sentado no banco do motorista. Ele olha para Suellen e pergunta:

— A senhora não vai entrar?

Suellen segura seu vestido na altura da cintura, tenta levantar a perna até o estribo do Jipe. Ela não consegue. Desiste e comenta:

— Com este vestido e este salto, não consigo subir em um carro tão alto.

Jason balança a cabeça, desce do jipe, dá a volta, olha para o estribo e o modelito de Suellen. Ele se agacha, oferecendo o joelho como apoio, lhe estende a mão e convida:

— Pode se apoiar no meu joelho e tomar impulso. Com esse vestido justo, a senhora nunca não vai conseguir levantar a perna.

Suellen segura na mão de Jason. Quando ela pisa em sua perna, o saltinho do sapato espeta sua coxa.

— Ai. — Jason solta um grito de dor.

— O que foi? — Suellen pergunta, assustada.

As pessoas em volta começam observar aquela cena. Jason ajoelhado ao lado do jipe, segurando a mão de Suellen, que pisa em sua coxa.

Suellen percebe que estão chamando atenção, fica com vergonha do vexame e dá um impulso único na perna de Jason, que fecha o rosto com dor. Suellen cai sobre o banco do Jipe, levantando uma nuvem de poeira.

Jason resmunga, se levanta mancando e responde:

— Está tudo bem. O sapato da senhora fez um furo na minha perna, mas isso não é nada. Nada muito dolorido.

Jason retorna, senta em seu banco, aponta para os sapatos de Suellen e observa:

— Por aqui a senhora não vai usar muito esse tipo de sapato.

Ele percebe que Suellen ainda está irritada com a poeira do jipe e continua:

— A senhora não é muito acostumada com esse tipo de passeios?

Suellen ainda afasta a poeira, tentando tenta se acomodar no banco do jipe e retruca:

— Nem um pouco. Na verdade nada acostumada. E você? Porque um diretor de tecnologia precisa de um Jipe?

— A senhora vai descobrir daqui a pouco.

Jason liga o Jipe. Eles saem do estacionamento sob o sol forte de Angola. O calor atravessa a capota de lona do jipe e a brisa entra pelas laterais do carro, envolvendo o corpo de Suellen. O choque térmico dá uma sensação gostosa de liberdade. Suellen sente uma sensação de alegria espontânea, que ela não sabe de onde vem.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo