Na sala da Presidência do centro empresarial Souza, Jorge Mascarenhas olha o litoral cearense por uma das janelas. Ele está sozinho, falando ao telefone com Arnold. Jorge está aos berros:
J: Como assim, ela ainda não está na empresa? Ela não foi direto de M’Banza Kongo?
A: Infelizmente o Senhor Jason tinha alguns compromissos em N’Zeto e era a única opção disponível. Não podíamos prever a tragédia que iria acontecer com o senhor Morrison.
J: Tudo bem Arnold, sabe de uma coisa? Pouco me importa onde ela se meteu. O que importa é que não podemos cometer falhas. Se preocupe em não deixar nenhum rastro da documentação nos arquivos e computadores da empresa. Assim que ela começar as tratativas com os russos, eu quero que você me diga exatamente tudo o que está acontecendo nas reuniões
O Jipe de Jason corta a estrada e se aproxima do acesso para Luanda. Ao longe Suellen observa as torres residenciais do bairro Miramar, o mais nobre da cidade. As janelas prateadas das torres residenciais espelham o sol forte, contrastando com os bairros pobres que preenchem o resto da capital. Do outro lado, a faixa litorânea mostra o mar infinito que marca todo horizonte e se confunde com o azul do céu. No centro empresarial de Luanda, as torres empresariais enfileiradas à beira mar parecem olhar para o infinito, como se pensassem sobre o futuro de Angola. O Jipe entra na cidade. O trânsito é caótico. A Land Rover empoeirada de Jason contrasta, nas avenidas da parte nobre da capital, com os variados modelos de luxo e SUV importados. Os últimos modelos de BMW, Porsche, Range Rover, Audi e Mercedes Benz desfilam por aquele trânsito confuso. Suellen se admira com a qualidade e o bom gosto dos automóveis:— Quant
Na costa brasileira do oceano atlântico, o fim de tarde em Fortaleza se desenha no litoral. O crepúsculo reflete nas janelas do centro empresarial Souza e os raios de sol, que ainda resistem, iluminam a lanchonete gourmet, no lobby do edifício. Edilene Fortuna e Roberto Kernel terminaram a visita pela empresa. O material sobre o Grupo Souza foi coletado e agora a matéria está pronta para ser concluída. Eles descansam e trocam algumas ideias, enquanto tomam um café.Edilene agradece a cooperação.— Roberto, você foi muito prestativo. Seu conhecimento sobre sistemas e conceitos de tecnologia me impressionou. Fico agradecida pelo tempo e a sua atenção comigo. A matéria ficará ótima. Estou ansiosa para ver o portal do grupo Souza viralizando nas redes sociais.— Esteja à vontade, Edilene. Sempre que precisar de algo aqui na empresa, pode contar c
O elevador se abre no hall do apartamento de cobertura. O edifício Miramar Residence Garden tem vinte e dois andares e comporta um apartamento por andar. Na sala ampla não há paredes e as janelas de vidro dão vista para a baía de Luanda e o oceano Atlântico. A mobília e a decoração impecáveis lembram os requintados apartamentos de Paris ou Nova York. A cozinha e a sala de jantar são de última geração. Uma vultuosa porta divide o ambiente entre os quartos e o living do apartamento. Suellen e Jason olham e ficam fascinados com o requinte e o luxo do lugar.Suellen não deixa de observar:— Nossa, é enorme, parece o apartamento do papai e da mamãe.Jason concorda e consente:— Sim, com certeza dá para viver com a família toda em um apartamento como este.Jason retira as malas do elevador e as coloca no me
Do outro lado do oceano atlântico, na sala da presidência do Grupo Souza, o celular de Jorge Mascarenhas toca. É Arnold novamente:A: Senhor Jorge, peço que me perdoe por incomodá-lo à esta hora. Mas é uma situação urgente. Acabei de receber uma notícia desagradável.J: Meu Deus, Arnold! Você só me traz notícia ruim?A: Até tenho uma boa notícia. A senhora Suellen já chegou. Passou pela empresa no final da tarde, apanhou a bagagem e rumou para o apartamento. Amanhã ela estará aqui, logo na primeira hora, para assumir os assuntos e presidir a reunião com os assessores do senhor Dimitri Linev.J: Ótimo. Não se esqueça que eu quero saber tudo que está acontecendo aí. Eu sempre tenho que estar um passo à frente da Suellen.A: Fique tranq
Um novo dia em Luanda é anunciado pela manhã ensolarada. O mar se espreguiça roçando a areia da baía de Luanda, refletindo os raios de sol. Como todos os dias, o movimento do porto é confuso, com o embarque e desembarque de mercadorias, e no calçadão da orla da baía de Luanda as pessoas se movimentam para lá e para cá, se exercitando ou indo trabalhar. A Mercedes Bens preta, exclusiva da presidência da sucursal do Grupo Souza, está estacionada na porta do Edifício Miramar Residence Garden. Não demora muito, a porta automática do edifício se abre e através dela surge Suellen Souza, imponente e poderosa. Os óculos escuros Raysan, o modelito preto Jean Verseni e o salto alto não deixam nenhuma lembrança da mulher descontraidamente vestida e apaixonada da noite anterior. O motorista abre a porta traseira e Suellen toma seu lugar rumo à
A sala de reuniões está pronta e os apetrechos de informática já foram montados pelos operadores. As secretárias conferem os últimos detalhes. Em sua sala, Suellen Souza está com os relatórios e planilhas na mão, ensaiando algumas palavras e se preparando para presidir sua primeira reunião como presidente da sucursal do Grupo Souza em Angola. Ela pensa tocar o interfone, mas Arnold aparece para lhe chamar.— Boa tarde senhora Suellen. Está tudo pronto na sala de reuniões. Os representantes do senhor Dimitri Linev devem chegar a qualquer momento.— Estou pronta, podemos ir. Arnold, deixe que eu conduza os trabalhos, pois quero debater com os russos sobre alguns custos e fornecedores apontados no relatório. Depois da reunião, quero aproveitar e conhecer os outros departamentos da empresa.— Pois não, senhora Suellen. Os gerentes já fora
O representante russo sai do púlpito e senta-se ao lado de seu colega. Eles ficam estáticos, olhando fixamente para a presidente da sucursal, esperando seu pronunciamento. Suellen está confusa e na defensiva. Ela dirige a palavra ao seu diretor financeiro.— Senhor Walter Monedo, sobre as questões atinentes ao custo e rejeição do aço brasileiro, o senhor tem alguma consideração?Walter Monedo também está confuso. Ele revira alguns balanços, começa e explanar sobre a questão do aço brasileiro:— Senhora Suellen, eu tenho os pareceres das consultorias quanto ao custo, que é perfeitamente dentro do preço de mercado. Todavia, quanto às implicações técnicas eu não saberia precisar corretamente o que está inviabilizando o uso do aço brasileiro no projeto.Brum! O estalo do microfone l
O final do expediente se aproxima e Suellen Souza retorna para a sala da presidência. O elevador para no décimo nono andar e abre suas portas. Ela sai cansada, por conta da reunião tensa e da tarde agitada. A secretária caminha na direção de Suellen, com um envelope na mão.— Com licença, senhora Suellen. O senhor Jason Field me pediu que te entregue este envelope.Suellen recobra o ânimo— Obrigada, Luana. Você sabe se o senhor Jason Fields ainda está na empresa?— Acredito que ele já tenha ido embora, senhora. O senhor Jason passou por aqui acompanhado daqueles dois senhores russos, que estavam na reunião, e pediu somente que lhe entregasse este envelope.Suellen pega o envelope, agradece e segue para sua sala. Ela se acomoda em sua mesa e abre a missiva. O conteúdo do envelope surpreende e a alegra de vez, fazendo-a esquecer toda a te