O elevador se abre no hall do apartamento de cobertura. O edifício Miramar Residence Garden tem vinte e dois andares e comporta um apartamento por andar. Na sala ampla não há paredes e as janelas de vidro dão vista para a baía de Luanda e o oceano Atlântico. A mobília e a decoração impecáveis lembram os requintados apartamentos de Paris ou Nova York. A cozinha e a sala de jantar são de última geração. Uma vultuosa porta divide o ambiente entre os quartos e o living do apartamento. Suellen e Jason olham e ficam fascinados com o requinte e o luxo do lugar.
Suellen não deixa de observar:
— Nossa, é enorme, parece o apartamento do papai e da mamãe.
Jason concorda e consente:
— Sim, com certeza dá para viver com a família toda em um apartamento como este.
Jason retira as malas do elevador e as coloca no me
Do outro lado do oceano atlântico, na sala da presidência do Grupo Souza, o celular de Jorge Mascarenhas toca. É Arnold novamente:A: Senhor Jorge, peço que me perdoe por incomodá-lo à esta hora. Mas é uma situação urgente. Acabei de receber uma notícia desagradável.J: Meu Deus, Arnold! Você só me traz notícia ruim?A: Até tenho uma boa notícia. A senhora Suellen já chegou. Passou pela empresa no final da tarde, apanhou a bagagem e rumou para o apartamento. Amanhã ela estará aqui, logo na primeira hora, para assumir os assuntos e presidir a reunião com os assessores do senhor Dimitri Linev.J: Ótimo. Não se esqueça que eu quero saber tudo que está acontecendo aí. Eu sempre tenho que estar um passo à frente da Suellen.A: Fique tranq
Um novo dia em Luanda é anunciado pela manhã ensolarada. O mar se espreguiça roçando a areia da baía de Luanda, refletindo os raios de sol. Como todos os dias, o movimento do porto é confuso, com o embarque e desembarque de mercadorias, e no calçadão da orla da baía de Luanda as pessoas se movimentam para lá e para cá, se exercitando ou indo trabalhar. A Mercedes Bens preta, exclusiva da presidência da sucursal do Grupo Souza, está estacionada na porta do Edifício Miramar Residence Garden. Não demora muito, a porta automática do edifício se abre e através dela surge Suellen Souza, imponente e poderosa. Os óculos escuros Raysan, o modelito preto Jean Verseni e o salto alto não deixam nenhuma lembrança da mulher descontraidamente vestida e apaixonada da noite anterior. O motorista abre a porta traseira e Suellen toma seu lugar rumo à
A sala de reuniões está pronta e os apetrechos de informática já foram montados pelos operadores. As secretárias conferem os últimos detalhes. Em sua sala, Suellen Souza está com os relatórios e planilhas na mão, ensaiando algumas palavras e se preparando para presidir sua primeira reunião como presidente da sucursal do Grupo Souza em Angola. Ela pensa tocar o interfone, mas Arnold aparece para lhe chamar.— Boa tarde senhora Suellen. Está tudo pronto na sala de reuniões. Os representantes do senhor Dimitri Linev devem chegar a qualquer momento.— Estou pronta, podemos ir. Arnold, deixe que eu conduza os trabalhos, pois quero debater com os russos sobre alguns custos e fornecedores apontados no relatório. Depois da reunião, quero aproveitar e conhecer os outros departamentos da empresa.— Pois não, senhora Suellen. Os gerentes já fora
O representante russo sai do púlpito e senta-se ao lado de seu colega. Eles ficam estáticos, olhando fixamente para a presidente da sucursal, esperando seu pronunciamento. Suellen está confusa e na defensiva. Ela dirige a palavra ao seu diretor financeiro.— Senhor Walter Monedo, sobre as questões atinentes ao custo e rejeição do aço brasileiro, o senhor tem alguma consideração?Walter Monedo também está confuso. Ele revira alguns balanços, começa e explanar sobre a questão do aço brasileiro:— Senhora Suellen, eu tenho os pareceres das consultorias quanto ao custo, que é perfeitamente dentro do preço de mercado. Todavia, quanto às implicações técnicas eu não saberia precisar corretamente o que está inviabilizando o uso do aço brasileiro no projeto.Brum! O estalo do microfone l
O final do expediente se aproxima e Suellen Souza retorna para a sala da presidência. O elevador para no décimo nono andar e abre suas portas. Ela sai cansada, por conta da reunião tensa e da tarde agitada. A secretária caminha na direção de Suellen, com um envelope na mão.— Com licença, senhora Suellen. O senhor Jason Field me pediu que te entregue este envelope.Suellen recobra o ânimo— Obrigada, Luana. Você sabe se o senhor Jason Fields ainda está na empresa?— Acredito que ele já tenha ido embora, senhora. O senhor Jason passou por aqui acompanhado daqueles dois senhores russos, que estavam na reunião, e pediu somente que lhe entregasse este envelope.Suellen pega o envelope, agradece e segue para sua sala. Ela se acomoda em sua mesa e abre a missiva. O conteúdo do envelope surpreende e a alegra de vez, fazendo-a esquecer toda a te
Suellen olha o celular e percebe que a caixa de mensagens está com várias mensagens. Ela começa a verificar.De Jorge Mascarenhas: Oi docinho. Já está em casa? Eu acabei de chegar da empresa. Foi divertida a reunião com os russos? Me mande notícias.De Senhor Souza: Boa tarde filha. Espero que tudo esteja correndo bem. Mande notícias logo. Sua mãe não para de perguntar sobre você. Eu não quero que ela ligue na empresa para não incomodar seus afazeres, sei bem como é isso. Eu também estou ansioso por novidades. Um abraço carinhoso.De Edilene Fortuna: Como você está, minha Amiga? Mande notícias. A Rose começa a chorar de saudades cada vez que vou ao Best Look. Me conte novidades sobre os bonitões aí no outro lado do atlântico. Te amo, maravilhosa. De Jason Fields: Oi me
O dia amanhece na capital angolana e o sol não tem preguiça em iluminar e aquecer o povo batalhador, que acorda cedo, sai para trabalhar e logo na primeira hora do dia, busca melhorar a vida. Vendedores ambulantes das ruas e vendedores das praias começam a chegar a seus postos. Os trabalhadores das empresas entram nos ônibus lotados e apertados, enquanto outros correm atrás das lotações e dos mototáxis. É a baía de Luanda que ganha vida depois de uma noite de descanso. No porto de Luanda, enquanto carregadores e operadores de máquinas trocam o turno da madrugada, mudando o comando dos guindastes; os comandantes de navios discutem documentos com os fiscais e suas pranchetas, conferindo containers e caixotes que não param de ser carregados nos navios que entram e saem dali. O cais do porto de Luanda é um local onde se embarca e desembarca cargas para todo canto do mundo. Como todo porto, ali exis
No centro empresarial Luanda Tower a movimentação já começou. A Mercedes Bens preta, da presidência do grupo empresarial Souza, se aproxima da portaria do imponente prédio espelhado. Apressado, Arnold Capacho está descendo de seu carro e avista o veículo da presidência se aproximando. Ele se desespera. A última coisa que precisa naquele momento é dar de encontro com a presidente da empresa, na posse de uma maleta com trinta mil dólares dentro. Arnold sai em disparada, cumprimenta afobado os seguranças do edifício e passa apressadamente pelas catracas de acesso aos elevadores comuns, para evitar o encontro com Suellen. A Mercedes Bens já estacionou na portaria do edifício. O motorista circula o carro e abre a porta. A empoderada presidente da sucursal desce, trajando um modelito Pierre Zartan na cor vermelho sangue, com missangas adornando as alças, e vestindo um salto