Prazer, me chamo Camila e essa é minha história.
Tenho 20 anos, sou órfã de pai e mãe e não tenho mais ninguém além da minha tia Vivian. Ela que me criou. Sempre foi a melhor pessoa que poderia ser para mim. Me deu carinho e amor. Me ensinou tudo o que sei sobre a vida, que muitas vezes pode ser difícil e amarga para algumas pessoas. Conversava comigo como uma melhor amiga.... sempre compartilhamos tudo. Foi através de minha tia que conheci vários lugares, fizemos várias viagens. Apesar de toda dificuldade da vida sempre a vi sorrindo e vive os melhores anos de minha vida feliz. Não tínhamos luxo, mas aproveitamos e apreciamos sempre a companhia uma da outra, e isso me bastava. Cresci e comigo crescia também um sonho. O de ter uma família, marido, filhos, cachorro...a verdadeira família de comercial de margarina. Sempre acreditei que encontraria alguém especial, que compartilhasse dos mesmos sonhos que eu. Quando completei 18 anos, conheci um rapaz, que parecia ser bem legal. Trocamos olhares algumas vezes até que ele se aproximou e puxou assunto. Me tratava muito bem sendo sempre gentil e isso fez com que eu acabasse me apaixonando perdidamente. Começamos a namorar e pouco tempo depois fui pedida em casamento e aceitando sem hesitar. Realmente pensei que tinha encontrado, o meu príncipe encantado. Mas eu me enganei... A cerimônia e a festa foram bonitas apesar das poucas pessoas pois não tinha família, além da minha tia, para celebrar esse momento tão esperado comigo. Mas paixão é diferente de amor. A paixão nos cega, e hoje entendo que eu fui bem atingida por esse sentimento. Já durante a pequena festa notei que meu marido estava um pouco alterado, mas o que a bebida e a felicidade não fazem em conjunto ... Assim pensei que fosse e apenas ignorei. Ansiava por desfrutar de todos aqueles sonhos.... sempre imaginei que a lua de mel seria incrível, mas doce ilusão a minha. A minha lua foi de fel e todos os meus pesadelo estava prestes a começar. Ao invés de ser a noite mais feliz, afinal eu seria despojada pela minha primeira vez, foi a noite que marcou toda uma vida de desgraça que iniciou ao seu lado. Onde estava o amor que todos esperam para o grande dia? Eu não tive nenhuma oportunidade de desfrutar desse momento. Não sei se impulsionado pelo excesso da bebida, mas meu marido se mostrou um monstro. Não tive tempo nem de tomar um banho pois me lembro com tristeza do momento que o vi, seu semblante selvagem vindo em minha direção e me atacando como um animal feroz. Meu vestido foi rasgado violentamente e eu só chorava e gritava desesperadamente. Foi então que ele me tocou pela primeira vez, mas através de um tapa*, que me fez cair. A noite que eu tanto desejei e que sonhei, na qual eu me entregaria para o amor da minha vida, foi marcada pelas torturas e violência. Eu não fui amada, fui violentada. Seus toques não eram de amor, eram de um animal querendo marcar o seu território. Eu não sangrei por ter sido penetrad@ pela primeira vez com amor, sangrei porque a violência era tanta que me deixou cicatrizes profundas no corpo e na alma. Minha mente me cobrava o quanto eu havia sido cega e não reconhecido o monstro que tinha ao meu lado. Ainda assim, torci para que ao amanhecer aquilo não passasse de um pesadelo e que ele se arrependesse do que fez, talvez acometido pelo excesso da bebida. Doce ilusão a minha.... Por que isso estava acontecendo comigo? O que foi que eu fiz para merecer isso? Em meio aos questionamentos que pairavam em minha mente, me levantei com cuidado da cama, não queria despertar a fera ao meu lado, e fui tomar um banho. Esperei que a água levasse toda a dor e aquela sujeira que sentia. Esfreguei minha pele como se pudesse arrancar tudo o que ficou impregnado na minha alma. Ao terminar e sair do banheiro percebi que meu marido já estava acordado e sentado na cama me esperando. Orei em silêncio para que o efeito da bebida tivesse passado e ele retornasse a ser a pessoa que eu conhecia antes daquela fatídica noite. Mas Deus, como eu pude ter me enganado tanto? Nenhum resquício de culpa ou remorso existia. Apesar de sóbrio, eu só percebi o mesmo animal a minha frente. Não ouve um toque de carinho, uma palavra de amor. Ele ordenou que me vestisse pois iríamos para casa. Busquei em seu olhar a esperança de que ainda existisse, mesmo que no mais profundo, aquele homem por quem me apaixonei, mas não encontrei. Seu olhar era feroz e deixava bem claro que ali começaria meu inferno. Não consegui controlar a emoção e chorei. Chorei pelos sonhos desfeitos, pela ilusão de uma vida feliz, pela pessoa horrível que ele era, e por ter me permitido chegar nessa situação sem ter percebido nada. O medo tomava conta de mim e só obedecia a suas ordens. Saímos daquele lugar que parecia ser uma cabana. Percebi que ao redor havia várias como essa, mas distantes uma da outra. Seguimos por um caminho que nem imaginava onde daria. Fizemos o trajeto todo em silêncio e eu totalmente perdida em meus pensamentos. Avistei uma casa afastada de tudo e notei que íamos em sua direção. Era uma casa simples. Ao entrar constatei que tinha somente o básico ali, uma única cama, um fogão velho, uma mesa pequena com duas cadeiras e um único sofá. O banheiro era uma pequena casinha do lado externo. Ali começariam novas páginas da minha vida. Não a tão sonhada vida feliz pois meu marido fez questão de deixar claro que seria um verdadeiro inferno. (...) 2 anos depois... Ele me fez cortar contato com a única pessoa que eu tinha na vida. Não permitiu que minha tia visitasse onde nós morávamos e nem íamos até ela. Ele sempre me acusava de algo e sempre me jogava na cara que eu não servia para nada, nem engravidar. Por mais que meu sonho fosse ter filhos eu agradecia aos céus por não ter engravidado, não suportaria ter um filho com ele e vê-lo maltratar tanto. Uma noite, depois de mais uma surra, tirei forças de onde nem sabia que tinha e finalmente fugi daquele inferno.Narração de Camila...Eu corri, corri com todas as forças que ainda me restavam. Era uma madrugada chuvosa e eu corria no meio da rua, estava ofegante e assustada. Meu corpo estava em choque, eu nem conseguia sentir a dor... Mas o gosto do sangue em minha boca deixava claro que ele tinha me machucado mais uma vez e dessa vez foi bem pior.Sim... Meu marido me espancou, ele queria me matar*, meu olho esquerdo estava completamente embaçado. Eu olhava para trás e podia sentir ele se aproximando mesmo eu não o enxergando. Com certeza ele estava se divertindo com o meu desespero, ele gostava de brincar de caçar, e eu era a caça. Ele se escondia no matagal...Vi um carro na pista, corri ainda mais e entrei na frente daquele carro obrigando o motorista a parar.Era um Pálio vermelho e dentro tinha uma mulher de cabelos cacheados que me olhou assustada apertando o volante.- O que aconteceu com você? - Ignorei a pergunta daquela desconhecida e entrei no carro mesmo sem ser convidada.- Acele
Narração de Camila...Eu sentia medo de tudo e de todos. Foram longos anos presa dentro daquela casa isolada de tudo.Quando recebi alta, saímos do hospital, eu fiquei em pânico e agarrei nos braços da minha tia! Eu só queria chegar na casa dela logo, me trancar no quarto e não sair por nada! Meu coração batia totalmente acelerado enquanto saíamos do hospital, e quando eu percebia olhares de alguns homens no corredor eu congelava e minha tia me puxava me fazendo voltar a andar.Entramos no carro dela e tinha uma menina que aparentava ter mais ou menos uns sete anos de idade. Ela era loira e segurava o pescoço de um cachorro grande que olhava pela janela. - Camila essa é a Júlia, uma amiguinha minha, é a filha de um vizinho nosso. Como moramos em uma fazenda... Ela não tem muitos amigos e Júlia gosta de me fazer companhia. - Olhei Aquela menina e ela abriu um sorriso gentil para mim enquanto acariciava seu cachorro.- Oi! Tia Vivian me disse que você vai morar com ela! Eu pedi para m
Narração de Camila...Não se preocupe Camila! Ele se chama Fernando. É o pai da Júlia! Ele me paga quando fico com ela... Fernando é um homem gentil e tem algumas empresas na cidade e está quase sempre fora. A Júlia gosta de ficar comigo quando ele precisa fazer uma viagem a trabalho. - Entendi. Mas ele está muito próximo do nosso quintal. - Senti meu corpo adormecer pelo medo.- Camila... Ele não é o Marcos. - Me arrepiei ao ouvir o nome do meu marido.- Não diga o nome dele por favor. - Sussurrei.- Me desculpa Camila... Mas fica calma! Aquele homem não é ruim. - Entendi. - Falei mesmo não acreditando. Eu carregava medo e insegurança apenas... - O que são essas coisas? - Apontei para aqueles papéis acumulados em cima da mesa de centro. - Dívidas e mais dívidas... Camila a nossa loja de roupas não está indo bem. Estou com alguns aluguéis da loja atrasado, mas não se preocupe, eu vou dar um jeito! Vou soltar alguma promoção relâmpago para tentar nos levantar. Aaah eu fiz uma ligaç
Narração de Camila...Depois que comemos aquela sobremesa deliciosa eu decidi voltar para o meu quarto. Me deitei na cama e liguei uma tv antiga que tinha alí no quarto. Comecei a assistir um noticiário e meu estômago embrulhou quando o repórter começou a falar sobre o tráfico que meu marido mexia. Ele era dono de tudo e tinha bastante dinheiro, mas o vício nas drogas não o deixava trabalhar direito! E mesmo sendo a esposa dele eu não tinha direito de usufruir de nada! Nem mesmo das comidas que ele comia. Ele era um monstro e me tratava como um animal acorrentado ainda se divertia quando deixava os restos da sua comida para mim e isso quando deixava, porque na maioria das vezes nem isso. Me mantinha sempre presa! E eu não podia falar com ele se ele não permitisse. Continuei ouvindo aquela reportagem sobre a máfia suja dele e meu coração disparou quando mostrou ele sendo preso junto com seus comparças. Chorei em alívio! Torcia para ele ser morto! Ele tinha muitos inimigos! Seria um pra
Narração de Camila...Naquela noite nem mesmo minha tia conseguiu me tirar do quarto! Dormi sem jantar. No dia seguinte me levantei cedo e saí do quarto faminta. Pelo silêncio da casa era possível entender que eu era a única acordada.Fui direto para a cozinha e vi um bolo de laranja em cima da mesa, sorri animada e aproveitei para fazer um café. - Tia Vivian? - Chamei por ela quando escutei um pequeno barulho no corredor daquela casa antiga. Parei de coar o café e fui até lá já que minha tia não tinha respondido. - Tia? - Olhei o corredor silencioso e suspirei me sentindo *maluca, mas minha calmaria acabou quando vi um camundongo correndo pelo corredor seguindo em minha direção. Gritei a plenos pulmões!!! Corri para a cozinha e subi em cima da mesa em pânico! Eu sempre tive pavor de ratos! Eu queria chorar de pavor. E para o meu desespero ele correu até a cozinha e eu gritei ainda mais! - TIA VIVIIIIIIAAANNN!!! - Estava com as pernas bambas e o coração disparado olhando o rato pa
Narração de Camila...Talvez eu tivesse ficando louca quando aceitei conversar com ele. Observei ele puxar a cadeira e se sentar suspirando e colocando o boné em cima da mesa. Servi o café e o entreguei, também coloquei dois pratos em cima da mesa.- Obrigado Camila. - Forcei um sorriso. Os olhos verdes claros do Fernando chamavam tanta atenção. - De nada. - Também servi um café para mim e me sentei de frente para ele olhando apenas minha xícara. Ele pegou uma faquinha de serra que estava ao lado do bolo e cortou duas fatias, serviu uma fatia para mim e depois se serviu. Eu estava constrangida...- Agora me fale. - Fernando assoprou o café e deu um gole me analisando. - Bom... Meu passado não é nada legal, e resumindo. Esse foi o motivo! - Falei sem olhar para ele. - Você resumiu tanto que eu não consegui entender nada Camila. - Fernando se inclinou tentando encontrar com meus olhos que fitavam apenas a madeira antiga da mesa. - Eu sofri *maus tratos Fernando. Um homem me machuco
Narração de Camila...Talvez eu tivesse abusando da bondade do Fernando. Afinal pedi um emprego e agora pedi uma carona até a praia. Daqui a pouco ele vai pensar que sou uma folgada! Mas a carona seria só desta vez. Entramos no Jeep conversível vermelho sem a capota novinho. Seguimos para a praia. Era gostoso andar naquele Jeep conversível, o vento bagunçava meus cabelos pretos mas refrescava. Olhei para ele pelo canto dos olhos e ele ficava mais charmoso ainda dirigindo usando um óculos de sol. A viagem foi rápida e ele estacionou em frente a Orla do Malibu. A praia estava lotada! Estava animada em começar minhas vendas! - Obrigada mesmo Fernando! Desculpe pelo incômodo... - Que incômodo?! Estou de folga! Minha filha pegou no sono e ela é dorminhoca! - Fernando me fez rir.- O que pretende vender? - Ele olhou minha bolsa térmica.- Sanduíches naturais. - Falei animada. - Se quiser posso te fazer companhia, aproveito para tomar um banho de mar e depois voltamos. - Me animei! Menos
Narração de Camila...Voltamos para o Jeep e ele seguiu direto para casa. Eu estava aliviada em ter conseguido vender os sanduíches e agradecida pela ajuda do Fernando. Minha tia de fato não tinha mentido quando falou que ele era um bom homem, nem mesmo me senti tímida e com medo dele querer dar em cima de mim! Era respeitador. Ele estacionou ao lado das duas casas e me olhou sorrindo.- Seu sanduíche é maravilhoso. - Ele sorriu.- Obrigada! Amanhã chegarei cedo para começar o trabalho!- Ok. - Ele me olhou por um tempo, mas desviei meu olhar ao me sentir constrangida diante do olhar dele - Bom... Até amanhã! - Saí do Jeep e entrei na casa da minha tia. O ranger do chão fez ela aparecer no corredor preocupada. - Camila! Por que Fernando depositou aquela quantia na minha conta? Eu vi você voltando com ele. - Porque vou trabalhar na casa dele! E ele me adiantou um salário para diminuir as contas. - Minha tia me olhou em alívio colocando a mão no *peito mas logo sua expressão foi toma