Narração de Camila...
Eu corri, corri com todas as forças que ainda me restavam. Era uma madrugada chuvosa e eu corria no meio da rua, estava ofegante e assustada. Meu corpo estava em choque, eu nem conseguia sentir a dor... Mas o gosto do sangue em minha boca deixava claro que ele tinha me machucado mais uma vez e dessa vez foi bem pior. Sim... Meu marido me espancou, ele queria me matar*, meu olho esquerdo estava completamente embaçado. Eu olhava para trás e podia sentir ele se aproximando mesmo eu não o enxergando. Com certeza ele estava se divertindo com o meu desespero, ele gostava de brincar de caçar, e eu era a caça. Ele se escondia no matagal... Vi um carro na pista, corri ainda mais e entrei na frente daquele carro obrigando o motorista a parar. Era um Pálio vermelho e dentro tinha uma mulher de cabelos cacheados que me olhou assustada apertando o volante. - O que aconteceu com você? - Ignorei a pergunta daquela desconhecida e entrei no carro mesmo sem ser convidada. - Acelera! Por favor acelera! - Falei em desespero olhando para trás e chorei em pânico. Ela fez o que eu pedi e acelerou o carro, depois daquilo eu não me lembro de mais nada! Desmaiei... Acordei na manhã seguinte confusa olhando para o teto e me perguntando onde eu poderia estar. coloquei minha mão na cabeça sentindo uma enxaqueca surreal e um dos meus ouvidos estava surdo ainda. E eu sabia o motivo! Senti uma pressão em minha mão e percebi que eu estava no soro e que eu puxava o acesso. Minha ficha foi caindo e percebi que parei no hospital, eu precisava fugir daquele lugar! Ele poderia aparecer a qualquer momento! O pânico tomou conta de mim. Eu iria puxar o acesso da minha veia mas um médico HOMEM entrou no quarto dando bom dia. Recuei na mesma hora em pânico! Eu não conseguia respirar. - Vai embora! Vai embora! -Eu respirava ofegante sentindo meu corpo adormecer pelo medo e pânico. Aquele médico me olhou confuso e ele era grande e foi mais um motivo para eu querer gritar. - SAI DE PERTO DE MIM!!! - Gritei a plenos pulmões e ele saiu do quarto assustado. Uma enfermeira entrou assustada com meu grito e me olhou segurando um remédio. - Calma! Senhorita! Mantenha a calma! Qual é o seu nome ?! - A enfermeira tentava me acalmar . - Só não deixe ele entrar! E nenhum homem! Por favor nenhum homem! - Chorei em desespero. Ela parecia entender minhas súplicas e me abraçou tentando me acalmar. - Quer fazer uma denúncia? - A enfermeira perguntou. - Não. Ligue para um número por favor! - Imediatamente ela pegou um papel e uma caneta e foi anotando o número que eu falava. - É uma tia! Peça para ela me buscar! Eu me chamo Camila. - Meu corpo todo estava trêmulo. A enfermeira assentiu e saiu do quarto. Os minutos se passavam e eu tentava me manter calma. E depois horas se passaram e finalmente minha tia que me criou entrou no quarto. Quando ela me viu começou a chorar em desespero. - O que ele fez com você?! O que ele fez?! - Ela gritava em meio ao choro. Eu chorei junto. Foram dois anos de tortura e prisão dentro de casa, para ele era prazeroso me ver sentir dor. Seu olhar era sombrio como a noite ao sentir prazer no momento em que ele me enforcava em nossa cama, só parava quando eu estava quase desmaiando. Ele não queria me ver morrer, ele queria continuar a me torturar todos os dias! Mas na noite anterior ele iria me matar. Ele atirou em direção a minha cabeça, desviei a tempo e a bala pegou em minha orelha. Consegui fugir enquanto ele colocava mais munição na arma. Antes mesmo dele tentar me matar ele já havia me machucado muito. Mas agora eu estava alí com minha tia! A última vez que eu a vi foi no dia do meu casamento. Ela estava feliz e orgulhosa, eu havia me resguardado para o homem que pensei ser o amor da minha vida. Me casei virgem e encantada com o amor, mas o encanto desapareceu durante a Lua de mel. Ele não era aquela pessoa com qu eu me casei, as sessões de torturas eram prazerosas para ele. Muitos poderiam me julgar... Mas quando se mora em um lugar onde não se tem vizinhos e não se tem mais contato com amigos e nem telefone, e sempre presa dentro de casa... É difícil se colocar em meu lugar. Minha tia sabia que eu sofria a partir do momento em que ele não permitiu passar endereço e nem o meu contato. - Você vai morar comigo! Está tudo bem agora Camila! Esse monstro não vai mais tocar em você!Narração de Camila...Eu sentia medo de tudo e de todos. Foram longos anos presa dentro daquela casa isolada de tudo.Quando recebi alta, saímos do hospital, eu fiquei em pânico e agarrei nos braços da minha tia! Eu só queria chegar na casa dela logo, me trancar no quarto e não sair por nada! Meu coração batia totalmente acelerado enquanto saíamos do hospital, e quando eu percebia olhares de alguns homens no corredor eu congelava e minha tia me puxava me fazendo voltar a andar.Entramos no carro dela e tinha uma menina que aparentava ter mais ou menos uns sete anos de idade. Ela era loira e segurava o pescoço de um cachorro grande que olhava pela janela. - Camila essa é a Júlia, uma amiguinha minha, é a filha de um vizinho nosso. Como moramos em uma fazenda... Ela não tem muitos amigos e Júlia gosta de me fazer companhia. - Olhei Aquela menina e ela abriu um sorriso gentil para mim enquanto acariciava seu cachorro.- Oi! Tia Vivian me disse que você vai morar com ela! Eu pedi para m
Narração de Camila...Não se preocupe Camila! Ele se chama Fernando. É o pai da Júlia! Ele me paga quando fico com ela... Fernando é um homem gentil e tem algumas empresas na cidade e está quase sempre fora. A Júlia gosta de ficar comigo quando ele precisa fazer uma viagem a trabalho. - Entendi. Mas ele está muito próximo do nosso quintal. - Senti meu corpo adormecer pelo medo.- Camila... Ele não é o Marcos. - Me arrepiei ao ouvir o nome do meu marido.- Não diga o nome dele por favor. - Sussurrei.- Me desculpa Camila... Mas fica calma! Aquele homem não é ruim. - Entendi. - Falei mesmo não acreditando. Eu carregava medo e insegurança apenas... - O que são essas coisas? - Apontei para aqueles papéis acumulados em cima da mesa de centro. - Dívidas e mais dívidas... Camila a nossa loja de roupas não está indo bem. Estou com alguns aluguéis da loja atrasado, mas não se preocupe, eu vou dar um jeito! Vou soltar alguma promoção relâmpago para tentar nos levantar. Aaah eu fiz uma ligaç
Narração de Camila...Depois que comemos aquela sobremesa deliciosa eu decidi voltar para o meu quarto. Me deitei na cama e liguei uma tv antiga que tinha alí no quarto. Comecei a assistir um noticiário e meu estômago embrulhou quando o repórter começou a falar sobre o tráfico que meu marido mexia. Ele era dono de tudo e tinha bastante dinheiro, mas o vício nas drogas não o deixava trabalhar direito! E mesmo sendo a esposa dele eu não tinha direito de usufruir de nada! Nem mesmo das comidas que ele comia. Ele era um monstro e me tratava como um animal acorrentado ainda se divertia quando deixava os restos da sua comida para mim e isso quando deixava, porque na maioria das vezes nem isso. Me mantinha sempre presa! E eu não podia falar com ele se ele não permitisse. Continuei ouvindo aquela reportagem sobre a máfia suja dele e meu coração disparou quando mostrou ele sendo preso junto com seus comparças. Chorei em alívio! Torcia para ele ser morto! Ele tinha muitos inimigos! Seria um pra
Narração de Camila...Naquela noite nem mesmo minha tia conseguiu me tirar do quarto! Dormi sem jantar. No dia seguinte me levantei cedo e saí do quarto faminta. Pelo silêncio da casa era possível entender que eu era a única acordada.Fui direto para a cozinha e vi um bolo de laranja em cima da mesa, sorri animada e aproveitei para fazer um café. - Tia Vivian? - Chamei por ela quando escutei um pequeno barulho no corredor daquela casa antiga. Parei de coar o café e fui até lá já que minha tia não tinha respondido. - Tia? - Olhei o corredor silencioso e suspirei me sentindo *maluca, mas minha calmaria acabou quando vi um camundongo correndo pelo corredor seguindo em minha direção. Gritei a plenos pulmões!!! Corri para a cozinha e subi em cima da mesa em pânico! Eu sempre tive pavor de ratos! Eu queria chorar de pavor. E para o meu desespero ele correu até a cozinha e eu gritei ainda mais! - TIA VIVIIIIIIAAANNN!!! - Estava com as pernas bambas e o coração disparado olhando o rato pa
Narração de Camila...Talvez eu tivesse ficando louca quando aceitei conversar com ele. Observei ele puxar a cadeira e se sentar suspirando e colocando o boné em cima da mesa. Servi o café e o entreguei, também coloquei dois pratos em cima da mesa.- Obrigado Camila. - Forcei um sorriso. Os olhos verdes claros do Fernando chamavam tanta atenção. - De nada. - Também servi um café para mim e me sentei de frente para ele olhando apenas minha xícara. Ele pegou uma faquinha de serra que estava ao lado do bolo e cortou duas fatias, serviu uma fatia para mim e depois se serviu. Eu estava constrangida...- Agora me fale. - Fernando assoprou o café e deu um gole me analisando. - Bom... Meu passado não é nada legal, e resumindo. Esse foi o motivo! - Falei sem olhar para ele. - Você resumiu tanto que eu não consegui entender nada Camila. - Fernando se inclinou tentando encontrar com meus olhos que fitavam apenas a madeira antiga da mesa. - Eu sofri *maus tratos Fernando. Um homem me machuco
Narração de Camila...Talvez eu tivesse abusando da bondade do Fernando. Afinal pedi um emprego e agora pedi uma carona até a praia. Daqui a pouco ele vai pensar que sou uma folgada! Mas a carona seria só desta vez. Entramos no Jeep conversível vermelho sem a capota novinho. Seguimos para a praia. Era gostoso andar naquele Jeep conversível, o vento bagunçava meus cabelos pretos mas refrescava. Olhei para ele pelo canto dos olhos e ele ficava mais charmoso ainda dirigindo usando um óculos de sol. A viagem foi rápida e ele estacionou em frente a Orla do Malibu. A praia estava lotada! Estava animada em começar minhas vendas! - Obrigada mesmo Fernando! Desculpe pelo incômodo... - Que incômodo?! Estou de folga! Minha filha pegou no sono e ela é dorminhoca! - Fernando me fez rir.- O que pretende vender? - Ele olhou minha bolsa térmica.- Sanduíches naturais. - Falei animada. - Se quiser posso te fazer companhia, aproveito para tomar um banho de mar e depois voltamos. - Me animei! Menos
Narração de Camila...Voltamos para o Jeep e ele seguiu direto para casa. Eu estava aliviada em ter conseguido vender os sanduíches e agradecida pela ajuda do Fernando. Minha tia de fato não tinha mentido quando falou que ele era um bom homem, nem mesmo me senti tímida e com medo dele querer dar em cima de mim! Era respeitador. Ele estacionou ao lado das duas casas e me olhou sorrindo.- Seu sanduíche é maravilhoso. - Ele sorriu.- Obrigada! Amanhã chegarei cedo para começar o trabalho!- Ok. - Ele me olhou por um tempo, mas desviei meu olhar ao me sentir constrangida diante do olhar dele - Bom... Até amanhã! - Saí do Jeep e entrei na casa da minha tia. O ranger do chão fez ela aparecer no corredor preocupada. - Camila! Por que Fernando depositou aquela quantia na minha conta? Eu vi você voltando com ele. - Porque vou trabalhar na casa dele! E ele me adiantou um salário para diminuir as contas. - Minha tia me olhou em alívio colocando a mão no *peito mas logo sua expressão foi toma
Narração de Camila...Voltamos para a casa e decidimos deixar as compras em cima da mesa, no dia seguinte arrumaríamos tudo. Acendemos as velas pela casa, ao menos não ficaríamos no escuro! Fui direto para o meu quarto dando boa noite para minha tia. Eu precisava acordar cedo no dia seguinte para finalmente começar a Trabalhar na casa do Fernando. Infelizmente o calor era insuportável! Me levantei da cama e abri a janela decidida a sentir pelo menos o frescor da noite. E estava bem fresquinho, mas infelizmente a fresca veio com os mosquitos. Resumindo... Eu não dormi quase nada! Fiquei a noite toda sendo picada pelos mosquitos e passando raiva escutando eles voando próximo do meu ouvido. Acordei com o despertador tocando às seis da manhã. Eu praticamente tinha cochilado! Esse *malditos mosquitos! Me levantei mal-humorada pelo cansaço e me olhei no espelho. E para o meu desespero eu estava com muitas olheiras e meu rosto estava tomado pelas marcas de picadas dos mosquitos! Parecia que