Capítulo 02

Narração de Camila...

Eu sentia medo de tudo e de todos. Foram longos anos presa dentro daquela casa isolada de tudo.

Quando recebi alta, saímos do hospital, eu fiquei em pânico e agarrei nos braços da minha tia! Eu só queria chegar na casa dela logo, me trancar no quarto e não sair por nada!

Meu coração batia totalmente acelerado enquanto saíamos do hospital, e quando eu percebia olhares de alguns homens no corredor eu congelava e minha tia me puxava me fazendo voltar a andar.

Entramos no carro dela e tinha uma menina que aparentava ter mais ou menos uns sete anos de idade. Ela era loira e segurava o pescoço de um cachorro grande que olhava pela janela.

- Camila essa é a Júlia, uma amiguinha minha, é a filha de um vizinho nosso. Como moramos em uma fazenda... Ela não tem muitos amigos e Júlia gosta de me fazer companhia. - Olhei Aquela menina e ela abriu um sorriso gentil para mim enquanto acariciava seu cachorro.

- Oi! Tia Vivian me disse que você vai morar com ela! Eu pedi para me trazer! - Ela era pura e me fez lembrar da minha infância.

- Oi Júlia. - Foi a única coisa que eu consegui responder. Eu não tinha costume de conversar com crianças. Voltei a olhar para frente e senti aquele cachorro grande entrar no meio da minha tia e eu.

- Volta Marrom! - Ouvi aquela menininha repreender aquele cachorro. Fazia sentido dela o chamar daquele jeito, ele era marrom.

Aquele cachorro voltou como um bom cão obediente, mas antes respingou sua baba em meu braço. Minha tia riu e começou a dirigir, durante a viagem minha tia colocou uma música no carro e ouvi ela e Júlia cantarem em coro. Eu já fui assim... Já fui feliz e tinha costume de gargalhar e cantar músicas em coro com minha tia quando inventavámos de viajar.

Mas eu estava morta por dentro. A antiga Camila não existia mais, em mim só havia carcaças e sobras de muita covardia e nada me dava gosto de cantar.

Eu sentia falta daquela alegria que elas carregavam. Até mesmo o cachorro marrom uivou como se estivesse se divertindo.

Finalmente chegamos na fazenda e olhei para aquela casa antiga com suas madeiras já gastas pelo tempo. A última vez que eu havia visto aquela casa, as madeiras eram brancas e agora estavam tomadas pela umidades e mofo do lado de fora. Ouvi a porta do carro bater e Júlia correu junto com aquele cachorro grande até o outro lado onde havia uma casa bonita e eu senti o cheiro de churrasco de domingo. Saí do carro e pisei na grama seca, minha tia saiu do carro velho e me olhou animada se aproximando de mim e afagou meu ombro olhando para a casa.

- Seja bem-vinda de volta Camila. - Minha tia tinha um bom coração. E apesar dela não ser tão mais velha, ainda assim ela me tratava como uma mãe. Sorri para ela e entramos na casa.

O chão rangia conforme nós pisávamos. Eu olhei a escada e nas minhas lembranças ela parecia ser maior, talvez seja loucura da minha cabeça...

Subi as escadas vagarosamente tocando no corrimão de madeira antiga cheia de buracos de cupins.

Segui para o corredor do meu antigo quarto e não demorei até chegar lá.

Abri a porta e percebi que a cama havia mudado de lugar assim como o antigo guarda-roupas de madeira. Suspirei ao sentir o cheiro do meu quarto, lembranças boas... Muito boas...

Infância e alegria.

Como aquele quarto poderia permanecer com um leve cheiro da minha infância e do meu passado feliz?

Entrei no quarto e sentei na cama aliviada.

Sentia que aquele quarto era o meu refúgio e minha proteção. Eu não pisaria fora daquela casa mesmo!

Ouvi um grito de uma criança no quintal e me assustei. Olhei pela janela e era Júlia correndo do cachorro Marrom. Ela gargalhava e aquele cachorro gigante latia e se divertia com ela. Sorri mesmo sendo um pouco, mas parei de sorrir quando olhei um homem aparecer com uma camisa xadrez comprida e corria atrás do cachorro. Ele era muito grande, tinha cabelos grandes e barba grande. Ele alcançou Júlia e a levantou no colo gargalhando, fechei a cortina na mesma hora. Meu coração estava disparado e eu não conseguia engolir nem a minha própria saliva. O medo voltou a tomar conta do meu corpo, eu não deveria ter olhado pela janela.

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