Narração de Camila...
Eu sentia medo de tudo e de todos. Foram longos anos presa dentro daquela casa isolada de tudo. Quando recebi alta, saímos do hospital, eu fiquei em pânico e agarrei nos braços da minha tia! Eu só queria chegar na casa dela logo, me trancar no quarto e não sair por nada! Meu coração batia totalmente acelerado enquanto saíamos do hospital, e quando eu percebia olhares de alguns homens no corredor eu congelava e minha tia me puxava me fazendo voltar a andar. Entramos no carro dela e tinha uma menina que aparentava ter mais ou menos uns sete anos de idade. Ela era loira e segurava o pescoço de um cachorro grande que olhava pela janela. - Camila essa é a Júlia, uma amiguinha minha, é a filha de um vizinho nosso. Como moramos em uma fazenda... Ela não tem muitos amigos e Júlia gosta de me fazer companhia. - Olhei Aquela menina e ela abriu um sorriso gentil para mim enquanto acariciava seu cachorro. - Oi! Tia Vivian me disse que você vai morar com ela! Eu pedi para me trazer! - Ela era pura e me fez lembrar da minha infância. - Oi Júlia. - Foi a única coisa que eu consegui responder. Eu não tinha costume de conversar com crianças. Voltei a olhar para frente e senti aquele cachorro grande entrar no meio da minha tia e eu. - Volta Marrom! - Ouvi aquela menininha repreender aquele cachorro. Fazia sentido dela o chamar daquele jeito, ele era marrom. Aquele cachorro voltou como um bom cão obediente, mas antes respingou sua baba em meu braço. Minha tia riu e começou a dirigir, durante a viagem minha tia colocou uma música no carro e ouvi ela e Júlia cantarem em coro. Eu já fui assim... Já fui feliz e tinha costume de gargalhar e cantar músicas em coro com minha tia quando inventavámos de viajar. Mas eu estava morta por dentro. A antiga Camila não existia mais, em mim só havia carcaças e sobras de muita covardia e nada me dava gosto de cantar. Eu sentia falta daquela alegria que elas carregavam. Até mesmo o cachorro marrom uivou como se estivesse se divertindo. Finalmente chegamos na fazenda e olhei para aquela casa antiga com suas madeiras já gastas pelo tempo. A última vez que eu havia visto aquela casa, as madeiras eram brancas e agora estavam tomadas pela umidades e mofo do lado de fora. Ouvi a porta do carro bater e Júlia correu junto com aquele cachorro grande até o outro lado onde havia uma casa bonita e eu senti o cheiro de churrasco de domingo. Saí do carro e pisei na grama seca, minha tia saiu do carro velho e me olhou animada se aproximando de mim e afagou meu ombro olhando para a casa. - Seja bem-vinda de volta Camila. - Minha tia tinha um bom coração. E apesar dela não ser tão mais velha, ainda assim ela me tratava como uma mãe. Sorri para ela e entramos na casa. O chão rangia conforme nós pisávamos. Eu olhei a escada e nas minhas lembranças ela parecia ser maior, talvez seja loucura da minha cabeça... Subi as escadas vagarosamente tocando no corrimão de madeira antiga cheia de buracos de cupins. Segui para o corredor do meu antigo quarto e não demorei até chegar lá. Abri a porta e percebi que a cama havia mudado de lugar assim como o antigo guarda-roupas de madeira. Suspirei ao sentir o cheiro do meu quarto, lembranças boas... Muito boas... Infância e alegria. Como aquele quarto poderia permanecer com um leve cheiro da minha infância e do meu passado feliz? Entrei no quarto e sentei na cama aliviada. Sentia que aquele quarto era o meu refúgio e minha proteção. Eu não pisaria fora daquela casa mesmo! Ouvi um grito de uma criança no quintal e me assustei. Olhei pela janela e era Júlia correndo do cachorro Marrom. Ela gargalhava e aquele cachorro gigante latia e se divertia com ela. Sorri mesmo sendo um pouco, mas parei de sorrir quando olhei um homem aparecer com uma camisa xadrez comprida e corria atrás do cachorro. Ele era muito grande, tinha cabelos grandes e barba grande. Ele alcançou Júlia e a levantou no colo gargalhando, fechei a cortina na mesma hora. Meu coração estava disparado e eu não conseguia engolir nem a minha própria saliva. O medo voltou a tomar conta do meu corpo, eu não deveria ter olhado pela janela.Narração de Camila...Não se preocupe Camila! Ele se chama Fernando. É o pai da Júlia! Ele me paga quando fico com ela... Fernando é um homem gentil e tem algumas empresas na cidade e está quase sempre fora. A Júlia gosta de ficar comigo quando ele precisa fazer uma viagem a trabalho. - Entendi. Mas ele está muito próximo do nosso quintal. - Senti meu corpo adormecer pelo medo.- Camila... Ele não é o Marcos. - Me arrepiei ao ouvir o nome do meu marido.- Não diga o nome dele por favor. - Sussurrei.- Me desculpa Camila... Mas fica calma! Aquele homem não é ruim. - Entendi. - Falei mesmo não acreditando. Eu carregava medo e insegurança apenas... - O que são essas coisas? - Apontei para aqueles papéis acumulados em cima da mesa de centro. - Dívidas e mais dívidas... Camila a nossa loja de roupas não está indo bem. Estou com alguns aluguéis da loja atrasado, mas não se preocupe, eu vou dar um jeito! Vou soltar alguma promoção relâmpago para tentar nos levantar. Aaah eu fiz uma ligaç
Narração de Camila...Depois que comemos aquela sobremesa deliciosa eu decidi voltar para o meu quarto. Me deitei na cama e liguei uma tv antiga que tinha alí no quarto. Comecei a assistir um noticiário e meu estômago embrulhou quando o repórter começou a falar sobre o tráfico que meu marido mexia. Ele era dono de tudo e tinha bastante dinheiro, mas o vício nas drogas não o deixava trabalhar direito! E mesmo sendo a esposa dele eu não tinha direito de usufruir de nada! Nem mesmo das comidas que ele comia. Ele era um monstro e me tratava como um animal acorrentado ainda se divertia quando deixava os restos da sua comida para mim e isso quando deixava, porque na maioria das vezes nem isso. Me mantinha sempre presa! E eu não podia falar com ele se ele não permitisse. Continuei ouvindo aquela reportagem sobre a máfia suja dele e meu coração disparou quando mostrou ele sendo preso junto com seus comparças. Chorei em alívio! Torcia para ele ser morto! Ele tinha muitos inimigos! Seria um pra
Narração de Camila...Naquela noite nem mesmo minha tia conseguiu me tirar do quarto! Dormi sem jantar. No dia seguinte me levantei cedo e saí do quarto faminta. Pelo silêncio da casa era possível entender que eu era a única acordada.Fui direto para a cozinha e vi um bolo de laranja em cima da mesa, sorri animada e aproveitei para fazer um café. - Tia Vivian? - Chamei por ela quando escutei um pequeno barulho no corredor daquela casa antiga. Parei de coar o café e fui até lá já que minha tia não tinha respondido. - Tia? - Olhei o corredor silencioso e suspirei me sentindo *maluca, mas minha calmaria acabou quando vi um camundongo correndo pelo corredor seguindo em minha direção. Gritei a plenos pulmões!!! Corri para a cozinha e subi em cima da mesa em pânico! Eu sempre tive pavor de ratos! Eu queria chorar de pavor. E para o meu desespero ele correu até a cozinha e eu gritei ainda mais! - TIA VIVIIIIIIAAANNN!!! - Estava com as pernas bambas e o coração disparado olhando o rato pa
Narração de Camila...Talvez eu tivesse ficando louca quando aceitei conversar com ele. Observei ele puxar a cadeira e se sentar suspirando e colocando o boné em cima da mesa. Servi o café e o entreguei, também coloquei dois pratos em cima da mesa.- Obrigado Camila. - Forcei um sorriso. Os olhos verdes claros do Fernando chamavam tanta atenção. - De nada. - Também servi um café para mim e me sentei de frente para ele olhando apenas minha xícara. Ele pegou uma faquinha de serra que estava ao lado do bolo e cortou duas fatias, serviu uma fatia para mim e depois se serviu. Eu estava constrangida...- Agora me fale. - Fernando assoprou o café e deu um gole me analisando. - Bom... Meu passado não é nada legal, e resumindo. Esse foi o motivo! - Falei sem olhar para ele. - Você resumiu tanto que eu não consegui entender nada Camila. - Fernando se inclinou tentando encontrar com meus olhos que fitavam apenas a madeira antiga da mesa. - Eu sofri *maus tratos Fernando. Um homem me machuco
Narração de Camila...Talvez eu tivesse abusando da bondade do Fernando. Afinal pedi um emprego e agora pedi uma carona até a praia. Daqui a pouco ele vai pensar que sou uma folgada! Mas a carona seria só desta vez. Entramos no Jeep conversível vermelho sem a capota novinho. Seguimos para a praia. Era gostoso andar naquele Jeep conversível, o vento bagunçava meus cabelos pretos mas refrescava. Olhei para ele pelo canto dos olhos e ele ficava mais charmoso ainda dirigindo usando um óculos de sol. A viagem foi rápida e ele estacionou em frente a Orla do Malibu. A praia estava lotada! Estava animada em começar minhas vendas! - Obrigada mesmo Fernando! Desculpe pelo incômodo... - Que incômodo?! Estou de folga! Minha filha pegou no sono e ela é dorminhoca! - Fernando me fez rir.- O que pretende vender? - Ele olhou minha bolsa térmica.- Sanduíches naturais. - Falei animada. - Se quiser posso te fazer companhia, aproveito para tomar um banho de mar e depois voltamos. - Me animei! Menos
Narração de Camila...Voltamos para o Jeep e ele seguiu direto para casa. Eu estava aliviada em ter conseguido vender os sanduíches e agradecida pela ajuda do Fernando. Minha tia de fato não tinha mentido quando falou que ele era um bom homem, nem mesmo me senti tímida e com medo dele querer dar em cima de mim! Era respeitador. Ele estacionou ao lado das duas casas e me olhou sorrindo.- Seu sanduíche é maravilhoso. - Ele sorriu.- Obrigada! Amanhã chegarei cedo para começar o trabalho!- Ok. - Ele me olhou por um tempo, mas desviei meu olhar ao me sentir constrangida diante do olhar dele - Bom... Até amanhã! - Saí do Jeep e entrei na casa da minha tia. O ranger do chão fez ela aparecer no corredor preocupada. - Camila! Por que Fernando depositou aquela quantia na minha conta? Eu vi você voltando com ele. - Porque vou trabalhar na casa dele! E ele me adiantou um salário para diminuir as contas. - Minha tia me olhou em alívio colocando a mão no *peito mas logo sua expressão foi toma
Narração de Camila...Voltamos para a casa e decidimos deixar as compras em cima da mesa, no dia seguinte arrumaríamos tudo. Acendemos as velas pela casa, ao menos não ficaríamos no escuro! Fui direto para o meu quarto dando boa noite para minha tia. Eu precisava acordar cedo no dia seguinte para finalmente começar a Trabalhar na casa do Fernando. Infelizmente o calor era insuportável! Me levantei da cama e abri a janela decidida a sentir pelo menos o frescor da noite. E estava bem fresquinho, mas infelizmente a fresca veio com os mosquitos. Resumindo... Eu não dormi quase nada! Fiquei a noite toda sendo picada pelos mosquitos e passando raiva escutando eles voando próximo do meu ouvido. Acordei com o despertador tocando às seis da manhã. Eu praticamente tinha cochilado! Esse *malditos mosquitos! Me levantei mal-humorada pelo cansaço e me olhei no espelho. E para o meu desespero eu estava com muitas olheiras e meu rosto estava tomado pelas marcas de picadas dos mosquitos! Parecia que
Narração de Camila...Já não bastava o meu mal* humor por não ter uma noite de descanso...Aquela Kelly se sentia a própria patroa! Depois que limpei toda a área onde o cachorro ficava, ela me chamou e me levou até o banheiro dos funcionários e mandou eu lavar. Respirei fundo controlando minha raiva, enquanto eu lavava o vaso sanitário ela me observava com os braços cruzados olhando se eu limpava o banheiro direito. Olha vou te falar... Tem que ter muita paciência! Na hora do almoço aproveitei para voltar pra minha casa. Fernando estava no seu escritório em reunião e decidi não avisar sobre...E para o meu alívio já tinham religado a energia! Aproveitei para fazer um miojo (Não me julguem) Não queria perder 1 hora de almoço fazendo uma comida demorada. Depois que ficou pronto eu me esparramei no sofá. Já exausta e comi meu miojo em silêncio... Amava sentir apenas a minha companhia. Mas ouvi um ranger no segundo andar, soltei a tigela em cima da escrivaninha e subi as escadas curiosa