ROCCO NARRANDO.ITÁLIA.Eu saí daquela casa com o peito apertado de frustração e humilhação.— Quem você pensa que é? Moleque mimado. — Eu praguejei.Ver Leonardo me expulsar como se eu fosse um cão sarnento só alimentou o ódio que fervia dentro de mim. Aquele plano deveria ter funcionado, era para eles estarem mortos e só então Lorenzo iria herdar a Máfia e deixar o poder em minhas mãos..Tudo estava meticulosamente planejado para eliminar Rafaella e Leonardo de uma vez por todas, mas algo deu errado. Algo que não consegui prever.De volta à minha casa, eu me viro para a única coisa que sempre me trouxe algum conforto: a garrafa de uísque. O líquido âmbar queima A minha garganta enquanto eu praguejo para mim mesmo, amaldiçoando cada detalhe que falhou daquele plano. Como as coisas saíram tão fora de controle? Eu era o mestre dos meus próprios planos, mas agora estava no fundo do poço, com nada além do meu próprio fracasso me encarando no espelho.Mas eu não sou do tipo que fica de br
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Quando eu entrei na sala de jantar e vi o Rocco próximo do Leonardo, um frio percorreu minha espinha. A sensação de que eu estava mentindo para Leonardo sobre a minha memória começava a pesar sobre mim. Só que eu não podia falar a verdade, pelo menos não agora, até conseguir provar que o Rocco era o verdadeiro culpado de todo esse inferno. Apenas falar não iria fazer Leonardo acreditar em mim; eu precisava de provas. Como obtê-las, eu ainda não sabia.— O que ele queria? — Perguntei, tentando esconder o meu nervosismo.— Você se lembra dele? — Leonardo perguntou, olhando diretamente nos meus olhos.— Ouvi você dizer, "Rocco", não é?— Não me lembro de ter falado dele com você.— Você já está indo trabalhar? — Mudei de assunto rapidamente, antes que ele pudesse fazer mais perguntas.— Sim, mas hoje não demoro muito para voltar.— Então tá.Leonardo se levantou, pegou o celular no bolso e saiu da sala, já falando ao telefone, sem se despedir de mim. Fi
ROCCO NARRANDO.ITÁLIA.— A carga vem do norte da África e fará escala na Grécia antes de chegar à Itália. A rota é arriscada, mas extremamente lucrativa.— Mas sempre há riscos. Estou contando com você para manter isso em segredo, depois de tantas coisas ruins, finalmente algo bom irá acontecer.Foi uma comemoração ouvir isso, era tudo o que eu precisava para fazer o jogo virar contra a Rafaella. Eu sabia que um dia esses pontos de escutas iriam me servir para alguma coisa. Era a brecha que eu precisava, agora era só armar tudo o que eu precisava e colocar a culpa em Rafaella. Só que eu também sabia que se a memória da Rafaella voltasse, ela iria falar da tal foto e, como o Leonardo estava com o pé atrás comigo, eu iria inventar uma viagem e ficar esperando a bomba explodir.Agora, eu só precisava de algumas informações dos meus homens que trabalham no galpão e pronto. A oportunidade perfeita!Alguns dias depois...Hoje é o dia que a carga do Leonardo irá chegar. A ansiedade se mistu
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ITÁLIA.Hoje é um dia importante, o dia no qual chegaria a minha preciosa carga. Já estava tudo certo, uma parte da minha carga estava vendida, outra parte foi trocada por drogas e uma parte ficaria comigo para futuras negociações. Nenhum dos meus homens sabia o local que chegaria, eu fiquei de avisar em cima da hora, para que não pudesse ter nenhum tipo de problema. Procurei fazer todas as minhas negociações em casa, para que aqui no galpão não pudesse correr a informação. Eu estava ansioso, nada podia dar errado. Eu estava sentado no meu escritório em casa, com um copo de whiskey na mão, só esperando o horário bater e todas as informações serem passadas. E quando o horário bateu, informei ao Ângelo e todos seguiram para a costa, iria ser jogo rápido, a carga iria chegar e depois era só jogar tudo dentro dos caminhões. Rápido e fácil. A carga estava marcada para chegar às 4:00.O relógio bateu 04:10, nenhuma ligação do Ângelo e isso me deixou irritado. O meu
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Fui arrancada do sono pelo puxão brusco do cobertor, me expondo ao frio da madrugada. O meu coração disparou de susto, e antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, vi Leonardo diante de mim, com os olhos cheios de fúria.— Foi você, Rafaella! Você entregou a minha rota!— Todos tinham razão, você é uma traidora!Os meus olhos se arregalaram em choque, a mente ainda confusa pelo sono interrompido. Tentei me levantar, mas Leonardo me segurou pelo pescoço, apertando com força. O medo me paralisou.— Confessa, Rafaella!— Diga que foi você!Tentei falar, mas o aperto em minha garganta tornava impossível. Os meus olhos suplicavam por misericórdia, mas ele estava cego de fúria. Por mais que eu tentasse falar, me justificar ou me defender. Leonardo não acreditava em mim.— Você... você precisa sair daqui, Rafaella.— Saia antes que eu faça uma besteira.— Leonardo, por favor, não me mande embora. Eu não fiz nada! — Tentei me aproximar, mas ele
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ITÁLIA.Hoje foi a pior noite da minha vida. Assim que Rafaella saiu, eu me sentia como um vulcão prestes a entrar em erupção. Cada fibra do meu ser tremia de raiva e frustração. Não conseguia acreditar que tinha sido tão ingênuo ao confiar nela. Como pude ser tão cego?Destruí tudo que estava ao meu alcance no quarto dela. O som do vidro quebrando, da madeira se partindo, tudo parecia uma sinfonia de caos que ecoava a tempestade dentro de mim. Cada objeto que caía, cada peça de mobília destruída, parecia aliviar momentaneamente a dor intensa da traição. Mas a dor estava lá, queimando profundamente, uma ferida que não parava de sangrar.— Como pude acreditar nela? — Eu me perguntava repetidamente.A imagem dela, com aqueles olhos inocentes e a voz suave, estava gravada na minha mente.— Tudo o que ela queria era me destruir.Eu precisava sair de casa antes que a raiva me consumisse por completo. Peguei as chaves do carro e saí, deixando a casa em um estado caó
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.A noite foi interminável, Leonardo tinha razão em estar furioso. Mas eu não era a traidora que ele pensava. Nunca trairia alguém que me ajudou como ele. A dor de ser acusada injustamente era insuportável. Passei a noite acordada, tentando entender como isso tinha acontecido, como a informação tinha vazado. Nada fazia sentido.Quando o sol começou a nascer, me levantei da cama, exausta e abatida. Olhei no espelho e mal reconheci a mulher refletida ali. Olhos vermelhos e inchados, a expressão de alguém que tinha sido quebrada de dentro para fora. Eu precisava de um plano. Primeiro, garantir que teria um lugar para ficar. Peguei o telefone e liguei para a recepção, pagando mais algumas diárias do hotel antes que Leonardo bloqueasse o cartão. Era uma questão de tempo até ele fazer isso.Com isso resolvido, me sentei à mesa do pequeno quarto de hotel, tentando organizar os meus pensamentos. Como a informação tinha vazado? Só eu e Leonardo sabíamos da rota
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ITÁLIA.A noite no galpão foi um borrão de bebidas e pensamentos confusos. Não voltei para casa. O whisky era a única coisa que conseguia anestesiar a dor da traição. A imagem de Rafaella, seus olhos suplicantes, não saía da minha cabeça. Ela era culpada, não era? Tudo apontava para isso. Mas por que então sentia esse peso no peito, essa sensação de que algo estava fora do lugar?Os meus homens estavam ocupados tentando encontrar qualquer pista sobre o roubo, mas eu sabia que era uma busca inútil. A essa altura, a carga já devia estar bem longe, fora do nosso alcance. E o responsável, quem quer que fosse, havia planejado tudo perfeitamente.Afundei mais uma dose de whisky, sentindo o líquido queimar a garganta. Precisava encontrar o erro, a falha no plano. Algo não se encaixava. Passei a noite revirando os eventos na minha cabeça, procurando uma lógica que justificasse o que tinha acontecido. Cada vez que pensava em Rafaella, a raiva voltava com força total. C