Maitê BellO quarto estava mergulhado em um silêncio pesado. Apenas as nossas respirações ainda descompassadas preenchiam o espaço, ecoando no vazio da madrugada. Gregório estava deitado ao meu lado, mas minha mente não conseguia parar. O calor do corpo dele contra o meu deveria ser reconfortante, mas tudo o que eu sentia era o peso de uma decisão que sabia que teria que tomar.Aquilo tinha sido um erro. Não importava quão intenso, quão inevitável tivesse parecido no momento, eu sabia que, no fundo, nada havia mudado. Ele ainda era Gregório, um homem que podia virar minha vida de cabeça para baixo com apenas uma palavra, e eu... ainda era eu, tentando desesperadamente proteger minha filha de um mundo que ela não estava pronta para enfrentar.Levantei-me lentamente, puxando o lençol para cobrir meu corpo enquanto dava alguns passos para longe da cama. Não conseguia encará-lo. Não depois do que acabara de acontecer.— Vai embora, Gregório — murmurei, sem me virar para ele. Minha voz est
Gregório SmithEu não conseguia tirar os olhos dela. Maitê estava parada no meio do quarto, com os braços cruzados e uma expressão de frustração que não escondia o cansaço. Mesmo com toda a raiva e a dor estampadas em seu rosto, ela continuava sendo a mulher mais fascinante que eu já tinha conhecido.Mas agora, ela estava tão distante. Como se houvesse um muro intransponível entre nós. E aquilo era insuportável.— Você precisa acreditar em mim, Maitê — comecei, tentando manter a calma. — Eu nunca, nunca, deixaria meu pai tocar em você ou na Ana Clara. Não sei o que ele disse, não sei o que ele fez, mas... ele não fala por mim. E não tem mais controle sobre a minha vida, a empresa ou qualquer outro fator que envolva você.Ela balançou a cabeça, a expressão endurecendo ainda mais.— Você fala isso agora, Gregório. Agora que sabe sobre ela. Mas onde você estava quando eu precisava? Quando eu estava sozinha, assustada, grávida? Você não estava lá, porque ele fez questão de garantir que eu
Gregório SmithEu sabia que não seria fácil. Convencer Maitê a voltar comigo para os Estados Unidos era uma tarefa monumental, e seu olhar relutante enquanto observava o anel em sua mão deixava isso ainda mais claro. Mas eu não estava disposto a desistir. Não agora, não depois de finalmente saber sobre minha filha e perceber o tamanho da bagunça que havia sido causada entre nós.Ela ainda parecia hesitante, como se minha presença ao lado dela fosse algo temporário, uma ilusão que poderia desaparecer a qualquer momento. Não era surpresa, claro. Eu havia aparecido de repente, abalando a estabilidade que ela lutou tanto para construir. Mas o que ela não entendia — ainda — era que minha decisão de lutar por ela e por Ana Clara não era um capricho. Era definitivo.— Mesmo assim... eu ainda... eu não posso ir, Gregório — ela disse finalmente, sua voz baixa, mas firme. — Não posso largar tudo o que construí aqui. Minha faculdade, meu trabalho, minha vida... Não posso simplesmente deixar tudo
Maitê BellQuando Gregório falou que ficaria no Brasil, eu pensei que fosse mais uma daquelas promessas que ele faria para me convencer. Algo temporário, uma ilusão que ele deixaria para trás assim que percebesse que a vida dele estava nos Estados Unidos, junto com tudo que construiu. Mas ele ficou. E não apenas ficou; ele começou a moldar a vida dele para se encaixar na minha.No início, eu lutei contra isso. Era difícil acreditar que tudo que ele estava fazendo era real, que ele estava mesmo disposto a ficar por mim e pela nossa filha. Uma parte de mim queria acreditar — queria muito. Mas a outra, a parte que ainda carregava o peso do medo e das lembranças do que seu pai havia me dito, me segurava.O anel em meu dedo, no entanto, parecia contar outra história. Ele era um lembrete constante das palavras de Gregório, do jeito como ele se declarava com tanta sinceridade que era quase impossível não acreditar. Quase.Os dias começaram a passar mais rápido do que eu esperava. Gregório ti
Amélia DavisGregório sempre foi meu. Sempre. Desde que éramos crianças e nossas famílias organizavam jantares luxuosos em suas mansões, era óbvio para todos que éramos o par perfeito. Crescemos juntos, frequentamos as mesmas escolas, viajamos para os mesmos lugares. Ele era o homem ideal para mim e eu era a mulher ideal para ele. Sempre soube disso.E o melhor de tudo? Gregório sabia disso também, mesmo que nunca tenha dito em palavras. Ele nunca precisou dizer. As ações dele falavam por si. Quando homens inconvenientes se aproximavam de mim, era Gregório quem os afastava. Quando a sociedade esperava que ele trouxesse uma companheira perfeita para os eventos, era a mim que ele escolhia.Claro, ele sempre teve seus momentos de "liberdade". Gregório gostava de experimentar, de sair com mulheres que não significavam nada, mas eu não me importava. Porque no final, era sempre a mim que ele voltava.Por isso, quando Maitê apareceu, aquela ninguém, eu soube imediatamente que ela era um prob
Maitê BellCheguei da faculdade mais cedo hoje. Coisa rara, considerando o tanto de trabalho que meus professores adoravam inventar. Suspirei enquanto deixava a bolsa no sofá e tirava os sapatos. Caminhei até a cozinha cumprimentando a babá de Ana Clara e avisando que poderia ir pra casa descansar. Percorri até o quando da nossa pequena, que dormia plenamente. Uma bênção, porque se a Ana Clara resolve não dormir, não há quem aguente. Já faz quatro meses que eu e Gregório estávamos juntos de novo. Quatro meses desde aquele encontro inesperado em São Paulo. No começo, confesso, foi difícil acreditar nele. Difícil não lembrar da dor dos últimos três anos, do sumiço dele, da forma como tudo tinha acabado sem explicação. Mas Gregório foi paciente.Ele trouxe provas. Mostrou a agenda, as mensagens antigas, até reportagens que falavam sobre ele na época. Não havia mentiras. Só trabalho, mais trabalho, e a saudade que ele não sabia como lidar, depois da minha fuga. Eu sabia que tinha errado,
Gregório SmithCheguei em casa um pouco mais tarde do que o planejado. O trânsito tinha sido infernal, e o cansaço do dia inteiro já pesava nos ombros. Mas, mesmo assim, eu só pensava em uma coisa: em ver Maitê e Ana Clara. Elas eram meu refúgio, minha casa.Ao abrir a porta, a cena que encontrei foi exatamente o que eu precisava. Maitê estava de pé na sala, descalça, com o cabelo preso de qualquer jeito e aquele jeito que só ela tinha, de parecer mais linda do que qualquer modelo mesmo usando uma camiseta simples. Mas o rosto dela estava sério. Demorou meio segundo pra eu perceber que alguma coisa tinha acontecido.— Olá, querida… — falei, tentando medir o terreno. Coloquei a mochila no chão e caminhei até ela. — Tudo bem?— Precisamos conversar.Essa frase nunca vinha acompanhada de boas notícias.— Claro. O que houve?Ela respirou fundo e cruzou os braços, como se tentasse se proteger de alguma coisa. Senti o estômago apertar.— A Amélia esteve aqui.Minha cabeça deu um nó.— Améli
Amélia DavisApertei o volante com tanta força que os nós dos meus dedos ficaram brancos, o couro rangendo sob a pressão. Minha respiração estava pesada, quase fora de controle, enquanto tentava conter a raiva que fervia no meu peito. A rua em que estava estacionada era insignificante, tão comum quanto tudo que Maitê representava. O nome dela já me causava náuseas. Como Gregório podia ser tão cego? Como ele podia escolher ela em vez de mim?A ironia disso tudo quase me fez rir. Claro que não ia funcionar. Claro que aquela vadia ia encontrar um jeito de virar a situação a seu favor. Gregório sempre teve uma queda por casos perdidos, e Maitê era o maior deles. Ela era comum. Desinteressante. Simples. Como ele não via isso? Eu sempre estive ao lado dele. Sempre.Eu relaxei os ombros por um momento, fechando os olhos e respirando fundo, mas o calor da indignação voltou com ainda mais força. Não importava. Não importava o quão longe ela fosse. Eu ia acabar com isso.Peguei o celular no ba