4º Capítulo

Terminei de escrever a ultima cena do terceiro capitulo de meu primeiro roteiro, eu precisava entregar aquele trabalho para Alberto ainda na semana que vêm, todos na editora esperavam por isso, poderiam ter contratado alguém para escrever, mas eu queria fazer isso, adaptar meu próprio livro dando ênfase às partes que eu julgava serem importantes, isso tornaria ele mais fiel ao livro e deixaria os leitores muito mais animados.

Larguei o notebook de lado e vi um número bloqueado me ligando, Mag se aproximou.

- Não vai atender?

- Não sei, é um número bloqueado, muito estranho...

- Bloqueado tipo desconhecido?

- Não, desconhecido é quando eu não reconheço o número, mas bloqueado indica que a pessoa não quer se identificar.

- Bizarro, vai atender ou não estou curiosa...

Olhei para ela e depois para o celular, eu não era o tipo de mulher que fugia de uma ligação, seja lá quem fosse eu também estava curiosa para saber.

- Alô?

- Senhorita Rise?

A voz rouca e aveludada penetrou nos meus ouvidos me fazendo estremecer, reconheci de imediato, mas me fiz de idiota.

- Sim, quem é?

- Lian Lancaster, eu a conheci no shopping mais cedo, estou ligando por causa de Jousie.

Ajeitei-me no sofá ficando interessada e fiz um sinal para Mag que sentou ao meu lado.

- Algum problema com Jousie? Ela está bem?

Mag se ajeitou ao meu lado grudando o ouvido ao lado do telefone sem acreditar que era ele.

- Não, ela está bem na verdade... Sou eu quem preciso de ajuda, hã será que poderia vir até minha casa?

- Até sua casa? Passam das dez da noite...

- Eu sei, acredite eu não ligaria se não estivesse desesperado.

Suspirei, isso era sem dúvidas estranho.

- Ok, me mande seu endereço.

- Não, eu mando alguém buscá-la.

- O quê?

- Não posso arriscar, desculpa... Enviarei alguém dentro de 20 minutos.

- Certo então, meu endereço é...

- Eu já tenho, não se preocupe.

- Têm?

- Sim, em 20 minutos meu motorista estará aí, fique pronta! Até daqui a pouco Katherine.

Dito isso ele desligou antes mesmo que eu pudesse dizer tchau, soltei o telefone atônita e olhei para Mag.

- Você ouviu o que eu ouvi?

- Qual das partes? A parte em quê você vai pra casa de um desconhecido às 10 horas da noite sem saber o real motivo, ou a parte do “não posso arriscar” com relação ao endereço dele, ele deve ser doido Kathy!

- Que bom que não sou a única que penso assim, e agora?

- Agora você pega seu spray de pimenta e vai na fé por quê você não têm muita opção.

Pisquei algumas vezes.

- Acha mesmo que devo levar o spray?

- Com certeza, eu levaria... Nunca se sabe, esses famosos aí são bonitinhos e fofos na tv, na vida real são bem surtados.

Assenti com a cabeça, peguei minha bolsa e pus o spray de pimenta dentro, todo cuidado era pouco.

Lian não mentiu, exatamente 20 minutos depois o interfone da cobertura tocou, Kathy mesmo que atendeu, mas o homem disse que não subiria apenas esperaria por ela no andar de baixo, Kathy suspirou e abraçou Mag.

- Se eu não voltar em duas horas ligue para a polícia...

- E eu vou dizer o que a eles? Que você foi ver um maluco por livre e espontânea pressão?

- É uma ideia...

Peguei a bolsa e saí apressada, tomei o elevador e desci, um carro luxuoso me esperava em frente ao prédio, me aproximei com cuidado, o homem me olhou sério.

- Katherine Rise?

- Isso.

- Sou Joseph, motorista do senhor Lian.

Olhei em volta e vi dois seguranças enormes.

- E eles são o quê?

- Desculpe, são as normas, aliás, devo pedir para que me entregue seu celular e me deixe vendar seus olhos.

Eu comecei a rir alto, mas ele não, pelo visto não tinha sido uma piada.

- Ficou louco né?

- Não senhorita, são as regras, sinto muito...

Dei meia volta voltando para o prédio.

- Pois então diga ao doido do seu patrão para enfiar as regras dele naquele lugar! Afinal quem precisa de mim é ele...

O homem se jogou no chão implorando para que eu ficasse.

- Por favor, por favor, e, por favor, senhorita venha comigo eu posso te garantir que sou honesto eu sei que isso é loucura, mas acredite estou apenas cumprindo regras o senhor Lian não quer que ninguém saiba seu endereço então ele mantém regras rígidas sobre isso.

- E por que eu deveria acreditar e confiar em você?

- Eu lhe deixo ficar com meu celular, deixo até o número da policia discado para você ligar caso se sinta com medo, mas, por favor, aceite usar a venda e vir comigo, não posso perder esse emprego e o patrão vai ficar muito chateado se eu não a levar até ele.

- Você sabe que o seu patrão é “maluco de pedra” por fazer isso né?

- Sim senhorita, mas acredite o salário compensa... Tenho filhos para criar.

Suspirei me sentindo tocada, pobre homem... Eu certamente me arrependeria disso, mas permiti que ele me vendasse e ficasse com meu celular, porém fui o caminho inteiro segurando a tecla verde do dele prontinha para ligar para a policia.

Assim que chegamos eu fui retirada do carro com a ajuda dos seguranças e conduzida para uma guarita de segurança, onde fui escaneada, fiquei impressionada com aquela tecnologia principalmente por quê todos os meus dados logo apareceram na tela do computador, nunca fiquei tão feliz por não possuir ficha criminal.

Depois disso fui revistada por duas seguranças mulheres, tão grandes e fortes quanto os homens, percebi que a casa era toda vigiada, havia mais câmeras ali do que em um reality show, Deus isso era muita loucura! Muita mesmo...

Fui levada para a segunda guarita e lá minhas digitais foram colhidas, eu estava prestes a sair correndo quando finalmente Joseph me olhou sorrindo.

- Tudo certo, agora podemos ir.

- É sempre assim?

- Sim, acredite o senhor Lian é muito cuidadoso.

- Quem ele pensa que é o Papa?

Joseph riu, mas logo ficou sério de novo.

- Acredite nem o papa possuí uma segurança como esta.

Eu não duvidava disso, me senti exausta só de pensar em ter que passar por isso todos os dias, pobre Jousie a vida dessa menina devia ser uma loucura, entrei em um carinho que me levou até a mansão, no caminho vi enormes cachorros sendo levados pelos seguranças em suas correntes, eu é que não arriscaria ficar entre aqueles dentes.

A porta também tinha uma segurança grande, com visor para ver quem estava na frente, câmeras laterais e frontais, fiquei apreensiva, porém logo a porta se abriu.

- Boa noite.

Eu sorri para a mulher, mas assim como todos os outros ela estava séria, será que ninguém naquela casa sorria? Suspirei triste.

- Sou Fabiana, vou levá-la até o escritório do senhor Lian.

Eu concordei com a cabeça e subi as escadas acompanhando ela.

A mansão era bela, o luxo estava presente em cada detalhe, assim como a segurança extrema, em cada canto uma câmera aquilo me deixou nervosa, do que aquele homem tinha tanto medo?

- Senhor Lancaster? A senhorita Rise está aqui!

- A deixe entrar.

Fabiana voltou ao corredor e me fez um sinal para entrar, tremi e segurei a bolsa lembrando do spray de pimenta, até o exato momento eu não sabia como eles não tinham revistado minha bolsa, tão preocupados com a segurança, mas tão descuidados com o óbvio.

Entrei no escritório e encarei o homem a minha frente, ele vestia roupas comuns, muito diferente do terno que vestirá no dia do shopping, porém ainda tinha o mesmo ar imponente e olhar gelado.

- Boa noite senhorita Rise.

Eu apenas sorri, eu poderia ficar calada, mas depois de tudo aquilo minha ansiedade falou mais alto.

- Boa noite? Só se for pra você, você me liga de um telefone bloqueado, manda seguranças na minha casa, me obriga a vir vendada para cá, aliás, nem meu celular eu pude usar... – Respirei e continuei. – Passei por um scanner e até minhas digitais foram colhidas em uma guarita, você é doido? Já te disseram para procurar um psicólogo, psiquiatra ou terapeuta?

Ele apenas sorriu animado.

- Na verdade eu frequento os três. – Ele fez uma pausa e voltou a ficar sério. – Eu sei que parece loucura, mas acredite tenho meus motivos.

- Motivos ou não vou manter minha opinião sobre você, você é louco e só não te internaram ainda por que eles têm pena da pobre Jousie.

- Jousie têm uma boa vida, mesmo em meio as minhas loucuras, posso garantir que ela é uma criança feliz.

Cruzei os braços e ergui a sobrancelha em dúvida total sobre isso, lembrei da minha infância, joelhos ralados pelos tombos de bicicleta, liberdade extrema e muitos, muitos parques de diversões lotados, acampávamos no mato e fazíamos amizade com desconhecidos, ninguém tinha morrido.

- Acho que há controvérsias, mas tudo bem... O que era tão importante? E onde está Jousie?

- No quarto, provavelmente dormindo a essa hora, e não ela não sabe que está aqui, e acho bom que não saiba ou ficará agitada e ansiosa.

Novamente ergui a sobrancelha, será que ele controlava até as emoções dela por medo? Deus era muita proteção.

- Lamento informar, mas toda essa sua segurança exagerada é falha... – Pus a mão na bolsa e ele deu dois passos para trás. – Me deixaram entrar um spray de pimenta.

Ele esfregou o rosto nervoso.

- Sério isso? Quem foram os seguranças que permitiram isso? Vou demiti-los agora mesmo!

- Acalme-se homem, não vou te atacar... Mas isso passou pela minha cabeça, devo confessar.

Ele voltou a ficar calmo, mas seus olhos estavam curiosos.

- Pôr?

- Passam das 10 da noite! Você é um desconhecido pra mim, se têm medo de mim com sua filha acredite é recíproco eu tenho muito mais motivos para temer você com essas suas loucuras...

- Mesmo assim aceitou vir...

- Jousie é importante, me preocupei com ela... E seu motorista foi bem convincente.

- Entendo... – Ele se aproximou calmamente, o olhar era sedutor e interessado, fui me afastando à medida que ele se aproximava. – Então devo deduzir que não veio por mim...

- É claro que não! Por que pensou isso?

Ele parou eu tinha respondido tão rápido e com tanta veemência que ele percebeu que era verdade e ergueu a sobrancelha ainda mais curioso, porém confuso, percebi que Lian Lancaster era o tipo de homem que estava acostumado a ter as mulheres aos seus pés, mas comigo ele teria uma bela surpresa.

- Por nada.

Ele se afastou rápido e voltou para a mesinha, pelo visto tinha sido um teste, agora que tinha concluído sua resposta ele se limitaria ao contato frio e direto.

- Preciso de alguém que cuide de Jousie nesse final de semana, como deve imaginar eu demiti Mia depois do incidente, não podia permitir que ela seguisse mantendo contato com minha filha após ter sido tão irresponsável e agressiva.

- Não esperava menos de você.

- Porém, não consegui outra babá e Fabiana tem o casamento do filho amanhã, será que poderia ficar com ela?

- Você estará onde?

- Em Portland, tenho um teste para um filme novo, algo que meu agente acredita ser muito importante pra minha carreira.

- Vai deixar sua filha com uma desconhecida?

Talvez ele não fosse tão cuidadoso assim.

Ele puxou uma pasta de uma gaveta e jogou sobre a mesinha, a pasta tinha uma foto minha e meu nome, arregalei os olhos.

- Pesquisei tudo sobre você, até se tinha fichas criminais, sei onde nasceu, quem são seus pais, seus históricos escolares, primeiro emprego, sei que têm cinco livros lançados e que é conhecida no ramo literário, sua editora pertence há um grande amigo meu então sim, posso chegar rapidamente até você se eu quiser, sei tudo sobre você Katherine Rise, não é perigosa!

Dei três passos até ele e peguei a pasta começando a folha-la apavorada, ele tinha pesquisado tudo, tudo mesmo... Com detalhes, ok... Ele não era tão descuidado.

- Quem é você seu doido?

- Um pai atento e muito preocupado, eu não brinco com a segurança da minha filha senhorita Rise, então acha que consegue dar conta?

- De cuidar de Jousie em um fim de semana? – Pensei por 5 segundos, eu tinha muitos compromissos, mas eu queria muito poder cuidar dela. – Sem problemas, a busco amanhã?

- A busca? Para onde?

- Minha casa oras...

- Minha filha não vai sair daqui, aqui a mantenho sob meus olhos, se aceitar terá que ficar o final de semana todo aqui, volto no domingo a noite.

Ergui a sobrancelha, a casa era desconfortável, ser vigiada 24 horas por dia me deixava nervosa, suspirei... Por Jousie valia a pena, não queria arriscar que ele a deixasse com outra irresponsável e algo acontecesse.

- Tudo bem, aceito, mas é só nesse fim de semana né? Tenho compromissos depois.

- Sim, após isso conseguirei uma nova babá realmente preparada para isso.

Ergui a sobrancelha, ele tinha acabado de dizer que eu não era preparada, comecei a pegar um ranço mortal daquele homem.

- Certo, que horas devo vir?

- Mandarei meu motorista te buscar às 7 horas da manhã, meu avião é as 08h30min, assim tenho tempo para te explicar tudo, há uma rotina que deve ser seguida.

Cruzei os braços, santa chatice... De quê planeta esse homem tinha saído? Queria ficar bem longe dele.

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