Eu troquei de roupas e escovei os dentes e os cabelos, arrumei minhas coisas dentro da bolsa, segundos depois de eu ter terminado Jousie entrou no quarto me chamando para tomar café com ela e o pai.
- Sabe eu to realmente muito feliz pelo papai ter voltado para passar o dia comigo, mas acho isso tão estranho... Ele nunca pensa em passar o dia comigo...
- Talvez ele tenha sentido saudades... – Defendi, mesmo sem querer e sorri para ela, ela parou e estreitou os pequenos olhos verdes.
- Por que sinto que você não está feliz com a chegada dele?
- Que isso Jousie! Estou muito feliz... Pode apostar, só estou meio sonolenta ainda, sou rabugenta pela manhã...
Ela sorriu e pareceu compreender, segurou minha mão e foi me puxando para fora do quarto, eu definitivamente teria que me cuidar com o que dizia a ela, Jousie era muito sensitiva, ela conseguia ver o que as palavras por trás da minha boca significavam realmente.
Desci as escadas para tomar café com eles, Lian e Jousie estavam em uma conversa tão animada que me senti mal por atrapalhar, os olhos azuis de Lian me olharam de forma quase constrangedora, ele não era capaz de nem mesmo esconder seu interesse, isso me dava ainda mais raiva, o descarado era tão notável que até a pequena Jousie já tinha percebido.
- Você não vai embora só por que o papai voltou né?
- Quer que eu fique?
- Claro que sim! Você prometeu me ensinar a fazer bolo de chocolate!
Lian me olhou sério.
- Bolo? Não é perigoso?
- Jousie vai só acompanhar, não chegará perto das facas e nem do forno quente... Serei cuidadosa senhor Lancaster.
Ele sorriu satisfeito e espetou uma fruta picada em sua salada mordiscando calmamente como se quisesse me seduzir.
- Melhor assim.
Desgraçado pensei, eu voaria naquele pescoço e... E... Perderia totalmente a noção naqueles olhos e naquele corpo, aff! Deus o que estava acontecendo comigo? Que poder era esse que ele tinha sobre mim? Será que eu tinha enlouquecido?
A empregada recolheu a louça e eu subi com Jousie para ajudá-la a se trocar, não queria que ela estragasse suas roupas boas na cozinha.
Quando Lian entrou na cozinha horas mais tarde o bolo já estava no forno, porém, eu e Jousie tínhamos acabado de encerrar uma guerra de farinha e estávamos horríveis.
- O que houve aqui?
Jousie riu e abraçou o pai com seus bracinhos cheios de farinha.
- Aprendi a fazer bolo, você vai ver será o melhor bolo que provará no mundo...
- Ainda que fosse de barro seria o melhor do mundo por que foi você quem fez...
Ele a beijou na testa como em uma cena de filme americano brega, oremos... Será que ele tinha visto isso em alguma cena que tinha sido gravada no cinema? Certamente! Tão clichê.
- Papai, papai... Olha o que eu aprendi...
Ela pegou um punhado de farinha na mão e eu arregalei os olhos, pulando pro lado dela desesperada...
- Jousie melhor n...
Tarde demais, ela simplesmente abriu a mãozinha e soprou a farinha no rosto do pai, Lian ficou sujo de branco feito neve.
- Jousie!...
Ouvi ele dizer, ele se levantou se limpando e então olhou para mim com raiva.
- Foi você que ensinou isso?
- Eu? Eu...
O ataque foi certeiro, logo ele pegou o saco de farinha e passou a jogar atrás de mim e Jousie, saímos correndo pelo jardim sendo perseguidas por ele que ria feito um louco, os seguranças nos olhavam sem saber o que dizer ou fazer...
Lian parecia outro, antes era apenas um personagem perfeito de filme americano, mas agora eu o via como ele era de fato, um doido, ok, ok talvez eu estivesse sendo dura demais, ele só estava tentando se divertir, eu tinha que admitir que tinha dado muita risada enquanto corria dele pelo jardim, na realidade todos riram, seguranças que ali passavam e até as empregadas correram nas janelas, ninguém conseguia reconhecer o Lian calmo, sério e cheio de frescuras naquela cena, cansamos de correr e nos jogamos na grama para descansar, eu Lian e Jousie, estávamos exaustos.
Meu rosto de voltou para o lado de Jousie e encontrou sem querer o olhar dele que estava repousado sobre mim é claro, não era um olhar sedutor, ou provocativo, era um olhar estranho, curioso como se ele mesmo não soubesse o certo o que tinha acabado de acontecer ali, eu o vi ficar sério e até sem graça ao perceber que eu tinha notado seus olhos em mim, sentou-se na grama olhando para o lado, meu telefone começou a tocar em seguida, droga... Droga, mil vezes droga, era Carlos, e agora eu deveria atender ou não?
Carlos era filho de Alberto da editora para qual eu escrevia, era meu melhor amigo, além dele só havia Mag, ele sempre esteve comigo, desde o inicio de minha carreira, era ele quem preparava minhas capas e preparava as melhores propagandas de lançamento e trailer books, se eu não atendesse ele poderia ficar chateado.
- Não vai atender Kathy?
Perguntou Jousie cortando o som do telefone que me perturbava, Lian me olhava sério.
- Eu...
- Pode atender, não está em um regime fechado senhorita Rise.
Eu me levantei e sai para o lado para atender Carlos ainda sem graça.
- Oi...
- Oi meu amor, que demora... Não me diga que estava dormindo?
- Eu, não eu só... Estava um pouco ocupada.
- Com o roteiro? Oh por favor, me diga que ele está quase pronto? Estou muito ansioso para ler isso e meu pai então, está quase surtando.
- Não, eu... Eu estou cuidando da filha de uma amiga.
- Filha?
- É, é uma amiga que fiz recentemente a filha dela é... Minha fã...
Lian me olhou balançando a cabeça ouvindo minha mentira deslavada, Jousie olhou para o pai confusa.
- Fã? Que bacana, por que não nos disse, poderíamos ter organizado um dia para divulgar no site da editora, “Um dia com a escritora”, ou melhor, “Um dia com Katherine Rise” seria ótimo para sua imagem.
- Então, é... Ela é bem tímida, acho que ela não gostaria dessa exposição.
- Hum... E você volta quando dessa sua aventura?
- Hoje, hoje à noite eu acho...
- Posso ir na sua casa amanhã então? Há muito o que discutirmos sobre o lançamento do seu ultimo livro, e tem vários presentes que chegaram para você aqui na editora que papai quer que eu leve...
- Tudo bem, pode ser sim...
- Ótimo, nos vemos amanhã então... Eu amo você Kathy.
Eu apenas sorri como se ele pudesse me ver, mas ele não podia era uma ligação normal... Eu não era como Carlos, eu não conseguia dizer “eu te amo” assim, era algo que fugia de mim, era forte demais, era... Intimo...
Jousie me olhou com seus olhinhos brilhantes.
- Era seu namorado Kathy?
- É... Então...
Lian interferiu se levantando um pouco nervoso.
- Isso não é da sua conta mocinha!
Eu olhei para Jousie que pareceu ficar triste, Lian continuou.
- É nítido que a senhorita Rise têm compromissos, talvez ela devesse ir...
- Não...- Disse Jousie fazendo beiço. – Você disse que ela podia ficar papai, Kathy diga a ele que você pode ficar!
- Jousie...
- Não Kathy, você tem um compromisso, precisa ir, Jousie tem que começar a aceitar as coisas, vou m****r Max preparar o carro...
Jousie correu e me abraçou as pernas.
- Não, eu quero que a Kathy fique...
- Jousie chega! – Lian berrou, o homem doce de minutos atrás tinha se transformado em um carrasco novamente, meu coração se apertou por Jousie, eu queria enfrentá-lo e dizer que ficaria, mas aquela era a casa dele, e aquela era a filha dele, quem eu era para me intrometer?
Lian pegou o braço da filha fazendo ela me soltar, a segurou pelos ombros e olhou sério para ela.
- Vá para o seu quarto mocinha, agora...
Jousie me olhou com raiva e depois olhou para o pai com os olhos cheios de lágrimas.
- Você devia ter ficado lá! Não devia ter voltado, estávamos ótimas sem você!
Ela berrou e entrou correndo na casa, eu a vi desaparecer diante dos meus olhos, meu peito doía, eu queria correr atrás dela e aconchega-la em meu colo e dizer que eu ficaria, mas eu não podia, eu tinha combinado com Lian que seria apenas um dia, quanto mais tempo eu ficasse ali, mais difícil seria para mim me afastar depois, talvez assim fosse melhor, era bom cortar definitivamente as raízes, pois eu nunca mais voltaria e provavelmente não a veria mais, Lian arrumaria outra babá para ficar com ela e eu... Eu seria esquecida, logo.
Assim que ela desapareceu olhei séria para Lian.
- Ela precisa de você ao lado dela Lian, e não contra ela...
- Ela precisa entender que as pessoas se vão!
Aquilo não era sobre mim ou sobre Jousie, era sobre ele, a guerra ali era interna e estava fora do meu controle, eu concordei com a cabeça e entrei no carro que me esperava, estava na hora de voltar para casa, estava na hora de voltar para a realidade.
Cheguei em casa me sentindo destruída, me atirei no sofá e fechei os olhos, o rostinho triste de Jousie tinha ficado gravado em minha mente, eu deveria ligar para ela, suspirei, não, não e não... Eu tinha que me afastar para o meu bem e principalmente para o dela, eu não podia me tornar a babá dela e ficar perto de Lian estava fora de cogitação, se eu fizesse isso certamente acabaria atrás das grades por tentativa de homicídio, e definitivamente ser presa não estava nos meus planos futuros, Mag entrou na sala com um prato de comida nas mãos.- Por que não me disse que viria para o almoço? Teria feito comida para nós duas!- Por que eu não sabia que viria para o almoço, na verdade eu não tinha certeza de muita coisa, o Lian quase que me expulsou de lá depois que o Carlos me ligou...- Como é que é? E o que aquel
Lian entrou correndo na clinica de André, André cuidava de Jousie desde que ela era bebe e sabia de tudo que eles tinham passado juntos, encontrou Fabiana andando de um lado a outro no corredor.- Fabiana!Ela viu Lian se aproximar e juntou as mãos como se comemorasse.- Eu sinto muito senhor, eu sei que a viagem era importante... Eu não teria ligado, mas...- Esqueça isso. – Disse ele interrompendo ela. – Como está Jousie? O que houve de fato?- Eu não sei, eu... Eu cheguei no quarto dela a porta estava trancada, eu chamei e como ela não respondeu ou destrancou a porta eu desci e peguei minha chave cópia, quando entrei ela estava caída ao lado da cama, aí senhor, foi horrível... Estava tão pálida...Lian esfregou as mãos no rosto nervoso, aquilo era tudo culpa sua, eles tinham tido uma briga feia, Jousie não podia se e
- Vá logo ao assunto Lian!- Jousie está no hospital... Eu não sabia mais o que fazer ou a quem recorrer e por isso vim até aqui, você é minha única esperança.Sua mão segurou a minha e eu senti um choque elétrico percorrer meu corpo, puxei a mão de volta, “que, porcaria era aquela que tava acontecendo comigo”? - Como assim? O que houve?- Lembra que te falei da asma, bom... Ela teve uma crise ontem.- Por causa do que aconteceu quando eu fui embora?- Também, mas eu acho que... Eu fui o maior culpado.Cruzei os braços sentindo a raiva subir pelo meu corpo.- O que foi que você fez agora?Ele se afastou caminhando até a vidraça e olhando a imagem da cidade do lado de fora como se tivesse vergonha de me encarar.- Eu disse a ela que talvez eu tivesse que ir embora.- Você
Carlos não se conformava com a atitude de Kathy, pegou suas coisas e se retirou bufando do apartamento, Mag correu até a janela para vê-lo saindo do prédio, ela o conhecia há anos, na verdade o conhecia desde que tinha começado a trabalhar para Kathy e nunca o tinha visto tão furioso, em partes ela imaginava que era por causa do que ele sentia pela amiga dela, por mais que ele negasse ou tentasse esconder estava na cara que ele era louco por Kathy e que toda essa simpatia e ajuda que ele dava nos livros, era apenas para tentar ganhar a escritora, Kathy podia até ser ingênua, mas ela, ela conhecia muito bem o universo masculino e esse ataque dele só podia significar uma coisa, ciúmes.Não demorou muito para Beto entrar em contato com Lian, parece que os problemas estavam só aumentando.- Lian? Lian onde você está?Lian bufou essa era a pergunta de um milhã
Jousie começou a abrir os olhos calmamente enquanto eu lia, senti que ela segurou minha mão com força.- Kathy, você veio!Eu abri e fechei a boca emocionada por vê-la acordada.- Minha pequenina, minha nossa não sabe como estou feliz em vê-la acordada!Eu a abracei com carinho, ela tentou corresponder, mas sua mão doeu ao sentir a agulha.- Aí, o que é isso em meu braço?- Uma agulha, ela está alimentando seu corpo com coisas boas capazes de curar todos os seus machucados internos.- Impossível, tem uma dor aqui que vai ser difícil de ser curada.- Está falando do seu pai? Não diga isso Jousie, tenho certeza que irão se acertar...- Não, não vamos ele está indo embora para Portland, nem ao menos se importa comigo.- Não Jousie, seu pai vai ficar, ele ficou tão preo
Caminhei até o café e pedi um expresso, só algo bem amargo para me fazer esquecer a ânsia de ver ele aos beijos com aquela oxigenada, e olha eu ali já colocando mais alguns apelidos na pobre mulher, definitivamente ela tinha vida meu instrumento de repulsa do dia.Liguei para Mag para dizer que estava tudo bem com Jousie e que ela já tinha acordado.- Se não sabe a pior, o Carlos saiu daqui furioso, menina, acho que deveria ligar para ele, ele tava muito irritado! Muito mesmo!- Caramba, não acredito ainda que discuti com ele por causa do Lian, porém o Carlos foi tão infantil!- Ele estava com ciúmes, né Kathy! Não acredito que ainda não tenha percebido que ele move um caminhão incendiando por você!- Para Mag, menos, não fica vendo amor onde não tem, você vê amor até em um tomate!- E que mal h&aacut
Depois que Jousie recebeu alta e voltou para casa finalmente eu pude me concentrar no roteiro audiovisual que eu estava escrevendo baseado em um dos meus romances, demorei muito tempo para conseguir me lembrar de onde eu tinha parado, mas quando finalmente consegui me concentrar tive um dos dias mais produtivos da minha vida, claro que para isso acabei não saindo para almoçar ou para lanchar ou qualquer coisa, Mag as vezes vinha bater na porta para ter certeza de que eu ainda estava viva porém eu apenas respondia de lá de dentro para não preocupa-la pois não queria me desligar da escrita, caso o fizesse poderia acabar não retornando a ela.Lian se atirou no sofá do escritório jogando uma pequena bolinha vermelha para o alto e a agarrando com a mão na tentativa de se distrair, Beto sentou-se no braço do sofá olhando para ele.- E então? Não recebo nem mesmo um agradecimento
- Vira! Vira! Vira! – Gritou Mag enchendo mais um copo de tequila, eu me atirei para trás da cadeira e dei uma gargalhada alta já sentindo o álcool fazer efeito, Carlos balançou a cabeça e pegou a garrafa da mão de Mag.- Assim é melhor! – Ele disse empinando a garrafa e tomando vários goles.A noite estrelada e quente estava deliciosa, Mag ria de tudo e conversava assuntos variados com Carlos que estava animado com o fato de eu ter terminado o roteiro.- Precisa muito ligar para o meu pai ele vai querer ver isso para ontem! Estava muito ansioso para que você terminasse, disse que tem já duas produtoras interessada em filmar o seu livro.- Não acredito! Sério?- Sério Kathy! As pessoas na editora estão empolgadíssimas com isso, vai ser um sucesso!- Deus te ouça! – Senti um desconforto e só então lemb