Jousie era a criança mais calma que eu já tinha conhecido tudo que eu tinha visto até agora me fazia acreditar que o problema de fato era o pai, eu não conseguia imaginar por que uma criança doce como ela teria tantos problemas com uma babá, a menina praticamente não aprontava nada, não tinha ideias absurdas, na verdade para a idade que tinha ela era muito mais adulta e organizada que eu as vezes.
- Jousie...
Chamei em dado momento enquanto alisava os cabelos das bonecas dela.
- Sim Kathy?
- Você nunca brinca de esconde- esconde, ou pega- pega com suas babás?
- Acho que não sei que brincadeiras são essas, na verdade eu basicamente não brinco com minhas babás...
- E o que vocês costumam fazer então?
- Eu fico lendo, está vendo aqueles livros ali? Eu já li todos eles umas 10 vezes...
Eu olhei para os livros de literatura um pouco avançada para a idade dela, nada de contos de fada, ou coisas de criança, Jousie lia livros que não condiziam com sua idade.
- Sabe que esses livros são adultos demais para você, não é? Como foi que conseguiu compra-los?
- Eram da mamãe, papai nunca me dá livros... Então como ficava muito entediada eu pegava os livros dela para ler...
- E seu pai não se importa?
- Ele nunca vem no meu quarto, acho que ele nem sabe que eu sei ler...
Abaixei o rosto pensando, Lian estava tão perto e tão longe da filha, tinha todo o cuidado e o zelo do mundo, como se quisesse protege-la e defende-la de tudo, mas no fundo, mal a conhecia, era como se não soubesse quem ela era.
- E as babás... Os que elas faziam para passar o tempo, se não estavam brincando com você?
- Algumas ficavam no celular, outras ficavam andando pela casa paparicando os seguranças, mas a maioria mesmo se inscrevia para ser minha babá esperando ter uma chance com o pai.
Eu arregalei os olhos...
- Não diga isso Jousie...
- É verdade Kathy! Você acha mesmo que elas vinham até aqui, enfrentavam toda a alta segurança do meu pai para ficar comigo? Elas queriam era ter uma chance de estar perto dele...
- E conseguiam? – Perguntei interessada, querendo conhecer um pouco sobre Lian.
- O que você acha? Garotas jovens, bonitas... Do tipo capa de revista, acha mesmo que seriam boas babás? É claro que o papai saia com elas!
- E o que você pensa disso?
- Eu ficava irritada! Elas estavam aqui para cuidar de mim, então quando eu descobria, dava um jeito de infernizar a vida delas...
Comecei a rir alto.
- Ah quer dizer que você sabe ser terrível quando você quer?
- Não foi com esse rostinho de anjo aqui que eu troquei cinco vezes de babá no ultimo mês, mas para ser sincera já estou me cansando disso... Assustar babás perdeu a graça, se ao menos meu pai entendesse que eu faço birra por que estou chateada com a atitude dele e não por causa delas... Elas não estão sempre culpadas, afinal quem resiste ao meu pai... Ele é um galã não é?
Aquilo era uma pergunta? Eu deveria responder? Mentalmente eu respondi que sim, mas que ao mesmo tempo isso não o dava o direito de se aproveitar de todas as babás bonitas e empregadas, porém se elas também queriam tirar uma lasquinha dele, que mal tinha nisso?
- Acho que deveria explicar isso a ele... Que você quer uma babá para ser sua babá... E não uma nova madrasta.
Ela me olhou sorrindo.
- Você resistiria ao meu papai?
Fiquei branca feito uma cerra, o que dizer agora? Isso era muito complexo, Lian era de fato atraente, o perfeito conquistador barato e sim ele sabia muito bem disso e usava tudo isso a seu favor, mas para eu me apaixonar por alguém, me entregar em fim... Eu precisava de um “toque” a mais... Algo que despertasse em mim alguma coisa diferente... Só beleza, não me chamava à atenção.
- Sim, por que não resistiria?
Ela semicerrou os olhos duvidando.
- Sério mesmo?
- Jousie, não estou aqui por causa dele... Estou aqui por sua causa, até por que foi só por que ele não estaria que eu topei vir, afinal não teria ninguém para cuidar de você... Não estou interessada no seu pai...
- Mas você o acha bonito não acha?
- Por que quer saber isso?
- Por que eu acho que ele te acha muito bonita, eu já vi o jeito que ele olha para você.
Fiquei sem graça.
- De que jeito?
- Com interesse oras! Vai dizer que você não percebeu?
Sim eu tinha percebido, suspirei.
- Não, nem notei... – Menti. – Mas não importa, como eu disse estou aqui por você! Somente isso!
Eu a ajudei a organizar as bonecas novamente no lugar e a ensinei a brincar de esconde- esconde, corremos e brincamos muito, em alguns momentos os seguranças olhavam para nós desconfiados, mas depois abanavam a cabeça, certamente nunca tinham visto alguém brincando de verdade com Jousie, à noite ensinei ela a construir uma barraca com cobertas, encostamos duas cadeiras no quarto do lado da cama dela e sobre as cadeiras jogamos cobertas e lençóis, dentro arrastamos um colchão com travesseiros e para iluminar penduramos luzinhas de natal.
- Ficou tão lindo! Quero morar ai dentro pra sempre!
- Ficou perfeito! Vamos ver por dentro?
Entramos na barraca e eu me deitei no colchão, ela logo se alinhou ao meu corpo e me abraçou feito uma gatinha manhosa, estava exausta de tanto brincar, li dois capítulos de um livro para ela e logo percebi que ela estava dormindo profundamente, suspirei e a abracei de volta me entregando ao sono.
Lian abriu os olhos no quarto da suíte, olhou para o lado e viu a garota nua que dormia e roncando pesado, aquilo era tão desagradável, ele não conseguia dormir, pegou o telefone sem ver a hora e decidiu ligar para Kathy.
O telefone chamou duas vezes, eu me acordei assustada e silenciei para não acordar Jousie, me livrei do abraço dela e sai da barraquinha, isso lá era hora de ligar?
- Alô!
- Nossa... Que voz de sono hein... Sua voz é sempre tão sexy assim quando você acorda?
Bufei de raiva.
- Quando alguém me acorda depois da meia noite, sim e pode ficar bem afiada se for preciso... O que você quer há essa hora Lian?
- Saber como foi o dia... Tudo certo por ai?
- É sério? Me ligou depois da meia noite para conversar fiado e saber do meu dia? O dia foi ótimo! Eu e Jousie nos divertimos bastantes e sim, ela já está dormindo, até por que está bem tarde se você não percebeu...
Não, ele não tinha percebido, foi obrigado a sorrir, ela ficava ainda mais interessante com raiva, queria estar na frente dela e ver aquele rosto bravo... Lian tinha feito o teste e sido aprovado, porém agora estava livre, e teria o dia livre amanhã também.
- Desculpa, não percebi... Eu me liberei ainda de tarde do estúdio, não que você se interesse em saber, mas eu consegui o papel...
- Ah, parabéns pra você... Vai voltar amanhã então?
Ele olhou para a cama onde a garota nua dormia, e suspirou.
- Acha que dá conta de ficar com ela mais um dia?
Eu soltei uma risada amarga.
- Estar com Jousie não é bem um sacrifício se você não percebeu, ela é uma menina incrível... Educada, um amor de criança... Mas é claro que pra você, ela não passa de uma forma dramática para atrair a atenção das mulheres.
- Por que está dizendo isso?
- Lian, ela tem sete anos e o quarto dela ainda é um quarto de uma menina de 4, você sabia que sua filha gosta de ler? Que ela devora livros de mais de 300 paginas? E que inclusive tem todos os livros da sua ex-mulher no quarto dela? Você conhece Jousie na teoria, mas na pratica... Mal conhece sua filha! A usa para atrair mulheres, babás com grandes peitos e nenhum cérebro...
Lian abriu e fechou a boca, ficando extremamente irritado... Porém, Kathy tinha toda razão, ele era um péssimo pai e sempre colocava as prioridades dele muito a frente das dela.
- Ok, você quer dizer mais alguma coisa senhorita Rise?
- Não sei, foi você quem me ligou a meia noite para conversar fiado... Diga você...
- Ok, Boa noite então.
- Boa noite.
Ele desligou o telefone amargo, que mulher era aquela? Que ousadia, dizer que ele era dramático! Ela nem o conhecia, quem ela pensava que era para m****r nele? Quem ela pensava que era para dizer se ele conhecia ou não a filha dele? Apesar de que, de fato ele não sabia que o Jousie sabia ler ou que gostava de ler, voltou a suspirar se sentindo ainda mais culpado, ele precisava de um tempo com sua filha, ele precisava fazer isso, por ele e por ela, estava na hora de voltar para casa.
Acordei de manhã me sentindo plena, apesar de termos dormido dentro de uma cabana no meio do quarto e daquele colchão não ser dos melhores a noite tinha sido boa, muito boa, abri os olhos e alisei o cabelo de Jousie, ela era ainda mais linda enquanto dormia, Deus aquela menina tinha me conquistado e roubado uma parte de mim para ela, ela tinha completado a parte de mim que eu achei que tinha sido apagada, como era possível mal conhecer uma criança e já amar tanto ela? Era como se nossas vidas tivessem sido ligadas por algum motivo, agora eu não queria mais me afastar dela, ouvi a porta do quarto abrir estranhei... Quem seria aquela hora? E por que tinha entrado sem bater?
- O que significa isso?
Jousie deu um salto se acordando e reconhecendo a voz do pai.
- Papai voltou?
Ela saltou para fora da barraca animada e pulou no colo dele, eu suspirei me lembrando da discussão da noite passada, droga!
Escorreguei para fora da barraca arrumando meu pijama extremamente curto e bem inapropriado para o momento, o olhar de Lian caiu logo sobre as minhas pernas a mostra.
- Bom dia senhorita Rise...
- Bom dia. – Eu disse amarga.
Jousie o abraçou com força pelo pescoço.
- Por que voltou tão cedo?
- Terminei o teste e me liberei, pensei em passar o dia com você... Faz tanto tempo que não passamos um tempo juntos.
- Eba!
A menina comemorou, fiquei extremamente sem graça... Será que era pelo que eu tinha dito a ele? Suspirei...
Jousie olhou para o pai e depois para mim.
- Mas Kathy não precisa ir não é?
Lian me olhou sério e provocou.
- Se ela quiser nos dar a humilde companhia dela, será bem vinda a ficar.
Eu queria era dar naquela “cara de bolacha” dele suspirei pesado e esfreguei os olhos.
- Acho que posso ficar um pouco, eu tinha reservado o dia mesmo.
- Oba!
Jousie se soltou do pai e me abraçou, ela estava realmente animada com isso, por essa reação eu até achei que valeria a pena aguentar aqueles olhos julgadores de carrasco do pai dela.
Eu troquei de roupas e escovei os dentes e os cabelos, arrumei minhas coisas dentro da bolsa, segundos depois de eu ter terminado Jousie entrou no quarto me chamando para tomar café com ela e o pai.- Sabe eu to realmente muito feliz pelo papai ter voltado para passar o dia comigo, mas acho isso tão estranho... Ele nunca pensa em passar o dia comigo...- Talvez ele tenha sentido saudades... – Defendi, mesmo sem querer e sorri para ela, ela parou e estreitou os pequenos olhos verdes.- Por que sinto que você não está feliz com a chegada dele?- Que isso Jousie! Estou muito feliz... Pode apostar, só estou meio sonolenta ainda, sou rabugenta pela manhã...Ela sorriu e pareceu compreender, segurou minha mão e foi me puxando para fora do quarto, eu definitivamente teria que me cuidar com o que dizia a ela, Jousie era muito sensitiva, ela conseguia ver o que as palavras por trás da minha
Cheguei em casa me sentindo destruída, me atirei no sofá e fechei os olhos, o rostinho triste de Jousie tinha ficado gravado em minha mente, eu deveria ligar para ela, suspirei, não, não e não... Eu tinha que me afastar para o meu bem e principalmente para o dela, eu não podia me tornar a babá dela e ficar perto de Lian estava fora de cogitação, se eu fizesse isso certamente acabaria atrás das grades por tentativa de homicídio, e definitivamente ser presa não estava nos meus planos futuros, Mag entrou na sala com um prato de comida nas mãos.- Por que não me disse que viria para o almoço? Teria feito comida para nós duas!- Por que eu não sabia que viria para o almoço, na verdade eu não tinha certeza de muita coisa, o Lian quase que me expulsou de lá depois que o Carlos me ligou...- Como é que é? E o que aquel
Lian entrou correndo na clinica de André, André cuidava de Jousie desde que ela era bebe e sabia de tudo que eles tinham passado juntos, encontrou Fabiana andando de um lado a outro no corredor.- Fabiana!Ela viu Lian se aproximar e juntou as mãos como se comemorasse.- Eu sinto muito senhor, eu sei que a viagem era importante... Eu não teria ligado, mas...- Esqueça isso. – Disse ele interrompendo ela. – Como está Jousie? O que houve de fato?- Eu não sei, eu... Eu cheguei no quarto dela a porta estava trancada, eu chamei e como ela não respondeu ou destrancou a porta eu desci e peguei minha chave cópia, quando entrei ela estava caída ao lado da cama, aí senhor, foi horrível... Estava tão pálida...Lian esfregou as mãos no rosto nervoso, aquilo era tudo culpa sua, eles tinham tido uma briga feia, Jousie não podia se e
- Vá logo ao assunto Lian!- Jousie está no hospital... Eu não sabia mais o que fazer ou a quem recorrer e por isso vim até aqui, você é minha única esperança.Sua mão segurou a minha e eu senti um choque elétrico percorrer meu corpo, puxei a mão de volta, “que, porcaria era aquela que tava acontecendo comigo”? - Como assim? O que houve?- Lembra que te falei da asma, bom... Ela teve uma crise ontem.- Por causa do que aconteceu quando eu fui embora?- Também, mas eu acho que... Eu fui o maior culpado.Cruzei os braços sentindo a raiva subir pelo meu corpo.- O que foi que você fez agora?Ele se afastou caminhando até a vidraça e olhando a imagem da cidade do lado de fora como se tivesse vergonha de me encarar.- Eu disse a ela que talvez eu tivesse que ir embora.- Você
Carlos não se conformava com a atitude de Kathy, pegou suas coisas e se retirou bufando do apartamento, Mag correu até a janela para vê-lo saindo do prédio, ela o conhecia há anos, na verdade o conhecia desde que tinha começado a trabalhar para Kathy e nunca o tinha visto tão furioso, em partes ela imaginava que era por causa do que ele sentia pela amiga dela, por mais que ele negasse ou tentasse esconder estava na cara que ele era louco por Kathy e que toda essa simpatia e ajuda que ele dava nos livros, era apenas para tentar ganhar a escritora, Kathy podia até ser ingênua, mas ela, ela conhecia muito bem o universo masculino e esse ataque dele só podia significar uma coisa, ciúmes.Não demorou muito para Beto entrar em contato com Lian, parece que os problemas estavam só aumentando.- Lian? Lian onde você está?Lian bufou essa era a pergunta de um milhã
Jousie começou a abrir os olhos calmamente enquanto eu lia, senti que ela segurou minha mão com força.- Kathy, você veio!Eu abri e fechei a boca emocionada por vê-la acordada.- Minha pequenina, minha nossa não sabe como estou feliz em vê-la acordada!Eu a abracei com carinho, ela tentou corresponder, mas sua mão doeu ao sentir a agulha.- Aí, o que é isso em meu braço?- Uma agulha, ela está alimentando seu corpo com coisas boas capazes de curar todos os seus machucados internos.- Impossível, tem uma dor aqui que vai ser difícil de ser curada.- Está falando do seu pai? Não diga isso Jousie, tenho certeza que irão se acertar...- Não, não vamos ele está indo embora para Portland, nem ao menos se importa comigo.- Não Jousie, seu pai vai ficar, ele ficou tão preo
Caminhei até o café e pedi um expresso, só algo bem amargo para me fazer esquecer a ânsia de ver ele aos beijos com aquela oxigenada, e olha eu ali já colocando mais alguns apelidos na pobre mulher, definitivamente ela tinha vida meu instrumento de repulsa do dia.Liguei para Mag para dizer que estava tudo bem com Jousie e que ela já tinha acordado.- Se não sabe a pior, o Carlos saiu daqui furioso, menina, acho que deveria ligar para ele, ele tava muito irritado! Muito mesmo!- Caramba, não acredito ainda que discuti com ele por causa do Lian, porém o Carlos foi tão infantil!- Ele estava com ciúmes, né Kathy! Não acredito que ainda não tenha percebido que ele move um caminhão incendiando por você!- Para Mag, menos, não fica vendo amor onde não tem, você vê amor até em um tomate!- E que mal h&aacut
Depois que Jousie recebeu alta e voltou para casa finalmente eu pude me concentrar no roteiro audiovisual que eu estava escrevendo baseado em um dos meus romances, demorei muito tempo para conseguir me lembrar de onde eu tinha parado, mas quando finalmente consegui me concentrar tive um dos dias mais produtivos da minha vida, claro que para isso acabei não saindo para almoçar ou para lanchar ou qualquer coisa, Mag as vezes vinha bater na porta para ter certeza de que eu ainda estava viva porém eu apenas respondia de lá de dentro para não preocupa-la pois não queria me desligar da escrita, caso o fizesse poderia acabar não retornando a ela.Lian se atirou no sofá do escritório jogando uma pequena bolinha vermelha para o alto e a agarrando com a mão na tentativa de se distrair, Beto sentou-se no braço do sofá olhando para ele.- E então? Não recebo nem mesmo um agradecimento