Isis despertou naquela manhã gelada na mansão da alcateia La Maat Ra, com a inquietante sensação de que tudo o que tinha sonhado na noite anterior tinha sido mais do que um simples sonho. As imagens de lobos gigantescos e olhos dourados ainda dançavam na sua mente. Estava farta de chamar o seu lobo imaginário, Mat, mas ele não aparecia, deixando apenas o eco da sua voz no espaçoso quarto. O calor que tinha experimentado na noite anterior tinha desaparecido, mesmo assim decidiu tomar um longo banho. A água fria da antiga banheira de mármore acariciou a sua pele, proporcionando-lhe um prazer momentâneo. O contraste entre a sua temperatura corporal e a água gelada fazia-lhe lembrar como a diferença era grande. Finalmente decidiu terminar o banho, deixando para trás uma sensação de prazer que a animou. Através das enormes janelas do quarto, contem
Finalmente tinha terminado o seu cio. Tanto ele quanto o seu lobo estavam exaustos de estar fechados. Jacking ligou ao seu beta Amet para que o libertasse. Quando o viu, impressionaram-no as grandes olheiras que ele tinha. Estava preocupado com o seu irmão. O que estaria a acontecer-lhe? —O que te acontece, Amet? Por que estás tão abatido? É por causa do feitiço de submissão? Algum efeito secundário? —encheu-o de perguntas, realmente preocupado. —Não, Jacking, não é nada. Apenas um pouco de sono, mais nada —respondeu Amet com voz cansada. —Amet, sabes que a mim não me podes enganar, certo? —perguntou Jacking, olhando-o fixamente e tentando decifrar o que se passava com ele—. Conheço-te muito bem e sei que não é só isso. Quando quiseres contar-me, estarei à tua espera. Sabes que podes contar comig
Os três primos voltaram à sua forma humana e sentaram-se para contemplar a água na colina ao lado do lago, o lugar onde a alcateia se reunia durante a lua cheia. Horácio entretinha-se a fazer ondas e redemoinhos na superfície cristalina, enquanto os seus companheiros permaneciam inusitadamente silenciosos e taciturnos. Jacking, percebendo a preocupação dos seus primos, decidiu romper o pesado silêncio. —Que surpresa nos tinha guardada a metade de Bennu! Nunca imaginei que tivesse um poder tão grande! —comentou, tentando distraí-los dos seus pensamentos. —É verdadeiramente incrível! —concordou Amet—. Faz anos que não me cruzo com alguém que partilhe um poder semelhante ao meu. Só tu, Jacking, embora nunca tenhas gostado muito de me acompanhar nessas tarefas. —Vamos, Amet, sabes que não gosto de lidar com
O peso da sua responsabilidade, dos seus erros, de cada momento desperdiçado começou a esmagá-lo. A raiva contra si próprio crescia como uma besta incontrolável dentro de si, alimentada por séculos de remorso contido… De repente, o Alfa levantou-se de um salto, erguendo-se em toda a sua imponente estatura sob o céu noturno. A sua presença ergueu-se majestosa na Colina da Lua, onde a luz prateada do astro noturno banhava a sua figura com um brilho sobrenatural. Os seus olhos dourados brilhavam com intensidade, contrastando com a penumbra da noite. Amet, sem hesitar por um instante, levantou-se também. A brisa noturna agitava as suas vestes enquanto enfrentava a majestosa presença do seu Alfa naquele lugar sagrado para a alcateia. Nas suas veias corria o mesmo sangue sagrado, embora em menor medida, e a sua própria aura, mais subtil mas igualmente poderosa, manifestou-se sob a luz lunar. Os seus olhares cruzaram-se num duelo silencioso de vontades, enquanto os
Jacking parou bem à frente do seu gabinete, precisava pensar tudo com clareza. Não podia permitir-se distrações, por isso deveria encontrar uma forma de livrar-se da humana Isis. Recordou que a investigação que havia ordenado sobre ela já deveria ter chegado. Ao abrir a porta e entrar, os seus olhos pousaram no livro sagrado que repousava sobre a mesa. O que fazia ali? Tinha a certeza de que o havia guardado no quarto secreto. Aproximou-se lentamente, com todos os seus sentidos em alerta. Podia sentir que alguém tinha estado ali. Mas quem teria o poder de tocar no livro sagrado dos Alfas Supremos e com que intenção o teria feito? —Mat, quem achas que esteve aqui? —perguntou ao seu lobo. Então percebeu que Mat estava demasiado tranquilo. Com tudo o que havia acontecido, só o tinha sentido ao transformar-se em Alfa Supremo e durante a sua breve conversa a
"Humanos", murmurou enquanto os seus olhos percorriam o relatório repetidamente, incrédulo perante os resultados. A revelação era desconcertante: não havia nada intrinsecamente errado com a sua metade. O problema residia noutro lugar: a sua pureza tornava-a vulnerável. A sua alma imaculada e o seu corpo intocado faziam dela o recipiente perfeito, uma tela em branco pronta para ser corrompida. Era precisamente essa inocência que a transformava no alvo ideal para ser possuída pela sua inimiga. A ironia não lhe escapava: aquilo que tornava especial a sua metade era também o que a colocava em maior perigo. Uma alma pura, um corpo sem mácula, características que, noutro contexto, seriam virtudes, agora apresentavam-se como potenciais fraquezas a explorar. Dirigiu-se à clínica para consultar a bruxa Teka-her e Aha, consciente de que eles possuíam maior conh
Mat jazia ao lado da cama da sua lua, resistindo ao impulso de se deitar com ela. O sonho erótico tinha intensificado o seu desejo, e o perfume dela estava a deixá-lo louco. Esta nova energia preocupava-o. Não conseguia parar de se perguntar: Por que razão uma humana tinha o amuleto de Wadjet? Quem se teria apoderado desta vez da sua doce Lua? Tão inocente e pura que ela era. Acorda, Mat!, repreendeu-se a si próprio. Lembra-te de que ela pode albergar a nossa inimiga! As memórias assaltaram-no: Isfet, quanto te amei! Por que me traíste? Podíamos ter sido tão felizes… Teria colocado o mundo aos teus pés. Se querias poder, por que não o pediste? Ter-te-ia dado tudo! Um movimento inquieto na cama fê-lo ficar alerta. Isis chorava desesperadamente, imersa noutro pesadelo. Embora permanecesse à distância, observou como uma luz emanava do peito dela e a envo
Café, “Les Deux Magots”, é o lugar preferido de Angelina e de todos os artistas. Todo o grupo de amigos marcou encontro ao receber o convite para o casamento de Marrí. A primeira a chegar é Angelina, já conhecida no local. Durante anos, ela sempre se senta na última mesa, perto da janela. Aquela que tem uma vista maravilhosa. A sua beleza exótica sempre atrai admiradores, mas ela rejeita todos. É alta e esbelta. O cabelo é muito longo e negro como azeviche. A pele é acobreada e os seus olhos mudam de cor. Às vezes, são azul-céu, outras vezes, azuis quase pretos. Mas essa cor muito escura foi vista por muito poucos, pois só surge quando está muito zangada. E com os amigos, ela está sempre feliz. Saboreia o seu café quando vê Antonieta aparecer. — Angelina querida! —chama assim que entra. — Alguma vez vais mu