Os três primos voltaram à sua forma humana e sentaram-se para contemplar a água na colina ao lado do lago, o lugar onde a alcateia se reunia durante a lua cheia. Horácio entretinha-se a fazer ondas e redemoinhos na superfície cristalina, enquanto os seus companheiros permaneciam inusitadamente silenciosos e taciturnos. Jacking, percebendo a preocupação dos seus primos, decidiu romper o pesado silêncio.
—Que surpresa nos tinha guardada a metade de Bennu! Nunca imaginei que tivesse um poder tão grande! —comentou, tentando distraí-los dos seus pensamentos. —É verdadeiramente incrível! —concordou Amet—. Faz anos que não me cruzo com alguém que partilhe um poder semelhante ao meu. Só tu, Jacking, embora nunca tenhas gostado muito de me acompanhar nessas tarefas. —Vamos, Amet, sabes que não gosto de lidar comO peso da sua responsabilidade, dos seus erros, de cada momento desperdiçado começou a esmagá-lo. A raiva contra si próprio crescia como uma besta incontrolável dentro de si, alimentada por séculos de remorso contido… De repente, o Alfa levantou-se de um salto, erguendo-se em toda a sua imponente estatura sob o céu noturno. A sua presença ergueu-se majestosa na Colina da Lua, onde a luz prateada do astro noturno banhava a sua figura com um brilho sobrenatural. Os seus olhos dourados brilhavam com intensidade, contrastando com a penumbra da noite. Amet, sem hesitar por um instante, levantou-se também. A brisa noturna agitava as suas vestes enquanto enfrentava a majestosa presença do seu Alfa naquele lugar sagrado para a alcateia. Nas suas veias corria o mesmo sangue sagrado, embora em menor medida, e a sua própria aura, mais subtil mas igualmente poderosa, manifestou-se sob a luz lunar. Os seus olhares cruzaram-se num duelo silencioso de vontades, enquanto os
Jacking parou bem à frente do seu gabinete, precisava pensar tudo com clareza. Não podia permitir-se distrações, por isso deveria encontrar uma forma de livrar-se da humana Isis. Recordou que a investigação que havia ordenado sobre ela já deveria ter chegado. Ao abrir a porta e entrar, os seus olhos pousaram no livro sagrado que repousava sobre a mesa. O que fazia ali? Tinha a certeza de que o havia guardado no quarto secreto. Aproximou-se lentamente, com todos os seus sentidos em alerta. Podia sentir que alguém tinha estado ali. Mas quem teria o poder de tocar no livro sagrado dos Alfas Supremos e com que intenção o teria feito? —Mat, quem achas que esteve aqui? —perguntou ao seu lobo. Então percebeu que Mat estava demasiado tranquilo. Com tudo o que havia acontecido, só o tinha sentido ao transformar-se em Alfa Supremo e durante a sua breve conversa a
"Humanos", murmurou enquanto os seus olhos percorriam o relatório repetidamente, incrédulo perante os resultados. A revelação era desconcertante: não havia nada intrinsecamente errado com a sua metade. O problema residia noutro lugar: a sua pureza tornava-a vulnerável. A sua alma imaculada e o seu corpo intocado faziam dela o recipiente perfeito, uma tela em branco pronta para ser corrompida. Era precisamente essa inocência que a transformava no alvo ideal para ser possuída pela sua inimiga. A ironia não lhe escapava: aquilo que tornava especial a sua metade era também o que a colocava em maior perigo. Uma alma pura, um corpo sem mácula, características que, noutro contexto, seriam virtudes, agora apresentavam-se como potenciais fraquezas a explorar. Dirigiu-se à clínica para consultar a bruxa Teka-her e Aha, consciente de que eles possuíam maior conh
Mat jazia ao lado da cama da sua lua, resistindo ao impulso de se deitar com ela. O sonho erótico tinha intensificado o seu desejo, e o perfume dela estava a deixá-lo louco. Esta nova energia preocupava-o. Não conseguia parar de se perguntar: Por que razão uma humana tinha o amuleto de Wadjet? Quem se teria apoderado desta vez da sua doce Lua? Tão inocente e pura que ela era. Acorda, Mat!, repreendeu-se a si próprio. Lembra-te de que ela pode albergar a nossa inimiga! As memórias assaltaram-no: Isfet, quanto te amei! Por que me traíste? Podíamos ter sido tão felizes… Teria colocado o mundo aos teus pés. Se querias poder, por que não o pediste? Ter-te-ia dado tudo! Um movimento inquieto na cama fê-lo ficar alerta. Isis chorava desesperadamente, imersa noutro pesadelo. Embora permanecesse à distância, observou como uma luz emanava do peito dela e a envo
Café, “Les Deux Magots”, é o lugar preferido de Angelina e de todos os artistas. Todo o grupo de amigos marcou encontro ao receber o convite para o casamento de Marrí. A primeira a chegar é Angelina, já conhecida no local. Durante anos, ela sempre se senta na última mesa, perto da janela. Aquela que tem uma vista maravilhosa. A sua beleza exótica sempre atrai admiradores, mas ela rejeita todos. É alta e esbelta. O cabelo é muito longo e negro como azeviche. A pele é acobreada e os seus olhos mudam de cor. Às vezes, são azul-céu, outras vezes, azuis quase pretos. Mas essa cor muito escura foi vista por muito poucos, pois só surge quando está muito zangada. E com os amigos, ela está sempre feliz. Saboreia o seu café quando vê Antonieta aparecer. — Angelina querida! —chama assim que entra. — Alguma vez vais mu
Todos avançam para encontrar-se com uma mulher que parece saída de um conto de fadas moderno. A sua pele cor de canela brilha como se estivesse banhada em pó de ouro, contrastando dramaticamente com uma cascata de cabelo branco platinado que lhe desce até à cintura em ondas perfeitas. Os seus olhos, de um cinzento mercúrio pouco comum, parecem mudar de tom conforme a luz, e estão emoldurados por pestanas longuíssimas e sobrancelhas perfeitamente delineadas. Veste-se de forma elegante, com um conjunto que realça a sua figura esbelta, e desde o momento em que aparece, os seus olhos não se separam de Marcus, observando-o com uma intensidade quase predadora. — Olá, pessoal. São os amigos de Netfis? Eu também sou amiga dela. Pediu-me que vos encontrasse aqui. O avião já está pronto. Temos de sair agora, porque está a aproximar-se uma tempestade de
Depois de resolver a confusão com a metade de Bennu, dirigem-se à casa do Alfa Supremo. Enquanto avançam, analisam diversos aspetos da alcateia, especialmente o casamento da sua Celta com Netfis. — Teka, a Neitophep virá para o casamento? —pergunta o Alfa. — Sim, vem no mesmo avião que os amigos de Netfis —responde a bruxa Teka, sorrindo com alegria à menção da sua única filha—. Primeiro vão buscá-la em Roma e depois irão a Paris buscar os outros. — Há quantos anos a tua filha não vem? —continua a indagar o Alfa. — Mais de vinte anos! —responde Aha, o pai de Neiti—. Desde que ficou chateada comigo por não a deixar casar-se com aquele caçador. — Ele era a sua metade? —pergunta Jackin, olhando para o médico e antigo membro da alcateia, Ah
A sede acorda-a, por isso desce com o seu livro para beber água. Ainda não chegou ninguém. Deita-se no sofá e continua a ler. Está muito cansada. Parece que utilizar o feitiço que o seu pai lhe ensinou consome a sua energia. Não sabe quando, mas acaba por adormecer profundamente. Volta a reviver o momento em que Jacking a rejeitou; dói-lhe tanto que começa a chorar. Sente dedos conhecidos passar pela sua testa e uns braços fortes que a levantam. Tem de ser um sonho. Enterra a cabeça no peito dele, e lá está aquele cheiro agradável e doce que a tranquiliza e lhe enche de paz. Sente como ele a coloca na cama, cobre-a e se afasta. Quer chamá-lo! Gritar-lhe para que fique! Para que não a deixe! Para que a ame! Mas não consegue abrir os olhos; estão demasiado pesados. Vê-se a si mesma a tentar alcançá-lo, corre com todas as suas for