Bennu sorri ao vê-la toda confusa. Ele não gosta de mentir na sua primeira conversa com a sua alma gémea, mas também não pode ir contra as ordens do seu Alfa. Por isso respira fundo enquanto avança devagar aproximando-se dela, ao mesmo tempo que diz:
— Com o tempo vais perceber que a minha alcateia é diferente. A La Maat Ra é a alcateia mais poderosa e diferente de todas — diz com orgulho. A história que o Alfa Supremo inventou para esconder a sua Lua pode não ser exatamente verdade, mas ninguém imagina o quão diferentes eles são de todos os outros lobos do mundo. — Não entendo — repete ela, abanando a cabeça negativamente. — O que é que não entendes? — pergunta-lhe Bennu, tentando explicar tudo da forma mais simples possível, sem a enganar. Por sua vez, Neftis n&atO meu nome é Neftis, mas no mundo dos humanos chamo-me Marrí. Foi assim que me fiz chamar enquanto vivia em França. Tenho vinte e três anos, sou alta, de cabelos negros ondulados. Os meus olhos são pretos. O meu corpo é atlético, porque pratico muito desporto e dança. É a única forma que encontrei de manter a minha loba, Lía, tranquila e em forma. Adoro desenhar roupa! E sou muito boa nisso, uma herança da minha avó espanhola. Faz mais de quatro anos que o meu pai me fez voltar. Tive de deixar tudo e regressar. A minha alcateia precisava de mim, segundo ele. Mas eu sei que ele fez isso para me proteger. Os seus inimigos ainda nos procuram. Por isso, quando tinha cinco anos, abandonámos tudo e, depois de andarmos de um lado para o outro a escondêmo-nos, encontrámos o Alfa Supremo, que nos convidou a viver nesta ilha que, por sinal, eu adoro. Aqui
À noite, depois do desfile, encontrava-me com toda a família num restaurante a jantar, quando vi aparecer muito sorridente o Alfa Nicolás. O meu pai levantou-se e convidou-o a sentar-se na nossa mesa. Ele aceitou, exatamente à minha frente, e não desviava o olhar do meu corpo. Quando pudemos, o meu irmão e eu inventámos uma desculpa para nos retirarmos. Tenho a sorte de ter um irmão que me adora; só precisei de lhe dizer pelo link que me tirasse dali, e ele fê-lo. No dia seguinte, voltei a vê-lo junto ao meu pai. Parecia que queria impressioná-lo, e conhecendo o meu pai, não duvido que o tenha conseguido. Pois, depois de o festival ter terminado, o meu pai não tem parado de insistir que devo casar-me, que, se não encontrar a minha metade, ele me arranjará um parceiro. Eu deixei claro que
Levanto-me sentindo que a minha vida está a acabar, amanhã será a festa. À noite, com certeza os convidados chegarão. Passei toda a semana a fazer os vestidos para a minha mãe e para mim. Decidi assim para me manter ocupada com algo. Mas a minha loba está muito triste. Ela sabe que, no final, se o meu pai me pressionar pelo bem da alcateia, eu vou acabar por aceitar. Não saí do meu quarto durante todo o dia. Lía está muito inquieta. Mais tarde vou correr pela floresta para acalmá-la. Ouço o meu irmão a chamar-me; espreito a cabeça para saber o que ele quer. —Héctor, o que queres? —pergunto desde a porta do meu quarto. —Desce para a sala, o Alfa Supremo está a aproximar-se —informa-me e fico cheia de curiosidade; isso nunca aconteceu desde que vivemos aqui, apesar de sermos vizinhos. —O quê? Quem? —pergunto acreditando que percebi mal; nunca conheci o Alfa Supremo. —O Alfa Supremo, despacha-te Net, acabou de chegar —responde o meu irmão com urgência na voz. Entro no meu qua
Bennu caminha de mãos dadas com Netfis, que sorri feliz. De vez em quando, ela olha para ele e aperta a sua mão, como se tivesse medo que ele desaparecesse de novo. Não pode acreditar que ele tenha aparecido no momento certo para livrá-la do suplício de suportar o Alfa Nicolás. —Não consigo acreditar que estive prestes a perder a minha metade —fala Bennu mentalmente com o seu lobo Ben, que também está muito feliz por terem chegado a tempo para reclamar a sua metade—. Mas graças a Deus que chegámos a tempo. —Eu disse-te, quando a encontrámos, que era a nossa metade —reprova Ben. —Desculpa, Ben —concorda Bennu e muda de assunto—. Não é verdade que a nossa metade é muito linda, Ben? Agora que a conseguimos ver bem, é realmente maravilhosa. Apesar de serem duas entidades num só corpo, complementam-se muito bem. O homem e o lobo estão muito felizes por finalmente estarem completos. O encontro com a sua metade enche-os de felicidade. Netfis caminha ao seu lado sem parar de sorrir e
Netfis tinha ouvido muitas histórias que acreditava serem lendas sobre a grande alcateia La Maat Ra. Mas nunca imaginou que o seu parceiro destinado fosse dela. Por isso, presta atenção ao que a sua metade está a dizer, enquanto o observa atentamente. Até agora, pôde perceber que para Bennu era difícil expressar-se fluentemente. Não era algo que a preocupasse porque ela era completamente o oposto. —Minha rainha, sei que não fazes ideia do quão poderosos somos. Mas em breve poderei mostrar-te —diz Ben, deleitando-se ao observá-la com os seus próprios olhos—. Somos semideuses. —¿Semideuses? —pergunta Netfis, realmente surpreendida agora—. ¿O que queres dizer? Ben olha para ela com grande prazer, reparando em todos os traços da linda jovem que tem a sorte de ser sua metade. Pois lembrava-se claramente da loba Lía, que muito lhe agradava, mas nunca teve tempo de admirar à vontade a humana. Por isso quer que ela o admire, porque não lhe escapou como a sua loba repetiu várias vezes qu
Passou o dia inteiro na companhia da ama de Jacking, que lhe contou sobre a infância dele e muitas outras coisas. Foram ao jardim apanhar flores. Realmente é muito bonito. Tem algumas flores que nunca tinha visto antes. Mas são maravilhosas. Depois estiveram na biblioteca, que é imensa. Escolheu um livro sobre a vida da deusa Ísis, do Egipto. Acabou por adormecer enquanto o lia. Despertou ao ouvir leves batidas na porta. Era a ama, avisando que o jantar estava pronto. Desceu rapidamente pensando encontrar Jacking, mas ele ainda não tinha regressado. Jantou e viu como, pouco a pouco, as sombras cobriam todo o lugar. Ficou o máximo de tempo possível com a ama, mas esta começou a cabecear de sono, e percebeu que estava muito cansada. Despediu-se dela e subiu para o seu quarto. Eram oito da noite, e Jacking ainda não tinha regressado. Entrou na banheira para relaxar. Com certeza o trabalho o tinha acumulado, depois de ter passado doze dias a cuidar dela, disse para si mesma. Vestiu
Saem da alcateia Lua Nova ao entardecer, correm sem falar, o mais rápido que conseguem. Mat está desesperado por chegar, e Ben sente o mesmo, para poder regressar o quanto antes. Param por um instante, perto do limite da alcateia. Algo chama a atenção de Ben: uns montículos estranhos, que se repetem num padrão. — Jacking, não sentes algo estranho no ar? — Comenta Bennu. — Sim, já tinha notado isso há alguns dias. Os pelos da minha nuca não param de se eriçar —responde, percebendo que, por estar tão concentrado em Ísis, descuidou dos sinais de perigo. — Faz-me lembrar o ataque à nossa alcateia, na nossa terra, quando éramos crianças —diz Bennu, fazendo com que o lobo Ben corra mais rápido atrás de Mat. — Contigo também? Achava que era impressão minha —responde Jacking, fazendo Mat correr a toda velocidade. — Temos que investigar tudo isso quando terminarmos com o compromisso. — Jacking —ouve a voz de Mat na sua mente— Alguém está a usar magia ancestral na nossa alcateia, e nã
Embora Mat e Jacking sejam uma unidade, não têm o mesmo tempo de vida. Pois as almas dos lobos concedidas pela mãe Lua muitas vezes vêm de outras vidas, e no caso de Mat, ele tem uma longa história antes de habitar o corpo do seu humano. História que Jacking desconhece. — Principalmente com a nossa irmã, que era mais fraca e frágil. Ela sempre a colocava num desses ossos —continua a contar Mat. — Esta humana, a cada dia surpreende-me mais —expressa Jacking, preocupado. — Jacking —chama Mat, ao vê-lo aproximar-se de Ísis tentando tocá-la—, não a toques, deixa-a. Dentro dessa proteção, conseguiremos transferi-la junto com toda a alcateia. — Tens a certeza? —pergunta Jacking. — Sim, foi assim que os nossos pais nos transferiram do Egito —lembra Mat novamente.