Netfis tinha ouvido muitas histórias que acreditava serem lendas sobre a grande alcateia La Maat Ra. Mas nunca imaginou que o seu parceiro destinado fosse dela. Por isso, presta atenção ao que a sua metade está a dizer, enquanto o observa atentamente. Até agora, pôde perceber que para Bennu era difícil expressar-se fluentemente. Não era algo que a preocupasse porque ela era completamente o oposto. —Minha rainha, sei que não fazes ideia do quão poderosos somos. Mas em breve poderei mostrar-te —diz Ben, deleitando-se ao observá-la com os seus próprios olhos—. Somos semideuses. —¿Semideuses? —pergunta Netfis, realmente surpreendida agora—. ¿O que queres dizer? Ben olha para ela com grande prazer, reparando em todos os traços da linda jovem que tem a sorte de ser sua metade. Pois lembrava-se claramente da loba Lía, que muito lhe agradava, mas nunca teve tempo de admirar à vontade a humana. Por isso quer que ela o admire, porque não lhe escapou como a sua loba repetiu várias vezes qu
Passou o dia inteiro na companhia da ama de Jacking, que lhe contou sobre a infância dele e muitas outras coisas. Foram ao jardim apanhar flores. Realmente é muito bonito. Tem algumas flores que nunca tinha visto antes. Mas são maravilhosas. Depois estiveram na biblioteca, que é imensa. Escolheu um livro sobre a vida da deusa Ísis, do Egipto. Acabou por adormecer enquanto o lia. Despertou ao ouvir leves batidas na porta. Era a ama, avisando que o jantar estava pronto. Desceu rapidamente pensando encontrar Jacking, mas ele ainda não tinha regressado. Jantou e viu como, pouco a pouco, as sombras cobriam todo o lugar. Ficou o máximo de tempo possível com a ama, mas esta começou a cabecear de sono, e percebeu que estava muito cansada. Despediu-se dela e subiu para o seu quarto. Eram oito da noite, e Jacking ainda não tinha regressado. Entrou na banheira para relaxar. Com certeza o trabalho o tinha acumulado, depois de ter passado doze dias a cuidar dela, disse para si mesma. Vestiu
Saem da alcateia Lua Nova ao entardecer, correm sem falar, o mais rápido que conseguem. Mat está desesperado por chegar, e Ben sente o mesmo, para poder regressar o quanto antes. Param por um instante, perto do limite da alcateia. Algo chama a atenção de Ben: uns montículos estranhos, que se repetem num padrão. — Jacking, não sentes algo estranho no ar? — Comenta Bennu. — Sim, já tinha notado isso há alguns dias. Os pelos da minha nuca não param de se eriçar —responde, percebendo que, por estar tão concentrado em Ísis, descuidou dos sinais de perigo. — Faz-me lembrar o ataque à nossa alcateia, na nossa terra, quando éramos crianças —diz Bennu, fazendo com que o lobo Ben corra mais rápido atrás de Mat. — Contigo também? Achava que era impressão minha —responde Jacking, fazendo Mat correr a toda velocidade. — Temos que investigar tudo isso quando terminarmos com o compromisso. — Jacking —ouve a voz de Mat na sua mente— Alguém está a usar magia ancestral na nossa alcateia, e nã
Embora Mat e Jacking sejam uma unidade, não têm o mesmo tempo de vida. Pois as almas dos lobos concedidas pela mãe Lua muitas vezes vêm de outras vidas, e no caso de Mat, ele tem uma longa história antes de habitar o corpo do seu humano. História que Jacking desconhece. — Principalmente com a nossa irmã, que era mais fraca e frágil. Ela sempre a colocava num desses ossos —continua a contar Mat. — Esta humana, a cada dia surpreende-me mais —expressa Jacking, preocupado. — Jacking —chama Mat, ao vê-lo aproximar-se de Ísis tentando tocá-la—, não a toques, deixa-a. Dentro dessa proteção, conseguiremos transferi-la junto com toda a alcateia. — Tens a certeza? —pergunta Jacking. — Sim, foi assim que os nossos pais nos transferiram do Egito —lembra Mat novamente.
Caminha até ao centro da sua alcateia. Todos os membros responderam ao seu chamado sem hesitar. Estão assustados por não saberem o que está a acontecer, ainda mais ao vê-lo transformado no Alfa Supremo. Embora não haja muito tempo para agir, sente-se na obrigação de explicar o que está a tentar fazer e porquê. — Queridos irmãos. Não tenham medo. Estamos apenas a tomar uma medida preventiva contra um inimigo muito poderoso —diz com voz de Alfa—. Confiam no vosso Alfa? — Sim, meu Alfa, confiamos em ti! —respondem todos. — Ótimo, agora vão sentir uma forte corrente atravessar os vossos corpos. Não resistam, não vos farei mal. Depois desapareceremos, e encontramo-nos numa nova dimensão. Ninguém poderá sair do perímetro que protegerá a nossa alcateia, ou ficar&
Fecha os olhos, concentrando-se, e finca o bastão na terra. Sente como absorve a energia necessária que viaja até aos seus chifres. Abre os olhos e, através do Alfa Amat, conecta-se com todos os membros da sua alcateia, estendendo o vínculo a cada um deles. Pronuncia as palavras sagradas. Convoca todos os deuses e antepassados. Volta a ouvir o rugido da terra, os trovões e relâmpagos. Finaliza o feitiço adicionando outro, para apenas transportar as pessoas e fazer desaparecer o povoado da alcateia Lua Nova, evitando assim que seja saqueado. Mais uma vez as cores envolvem-nos, até que chegam à claridade. Estão na praça do seu povoado. Ao recuperar os sentidos, observa todos os membros da alcateia ajoelhados diante dele em completa submissão. — Horácio, leva-os à clínica para que sejam libertados do feitiço. Depois, acomoda-os a todos &mda
O Alfa da alcateia Lua Nova, Amat Samateuy, tem mais de setecentos anos. É descendente de uma alcateia que existiu na Baixa Núbia. A sua mãe era filha do Alfa Harsu Samateuy, da alcateia Luz Nascente na selva de Irati, Navarra, Espanha. Tinha um irmão mais novo, e a sua alcateia era considerada uma das mais fortes do país. Viviam em completa harmonia, ou assim pensavam. Ninguém poderia imaginar que o seu irmão se apaixonaria pela sua esposa e trairia todos ao aliar-se ao clã dos vampiros, que só procuravam eliminá-los. Atacaram numa noite, matando muitos membros da alcateia, incluindo os seus pais. Amat, a sua esposa e os seus filhos tinham-se atrasado para o jantar familiar porque a sua filha mais nova estava doente. Um amigo fiel do seu pai avisou-os. A muito custo, e com a ajuda de alguns amigos, Amat conseguiu salvar uma parte dos seus homens leais e a sua família.
Embora pudesse notar que estava irritado, Amat tentou comportar-se com a maior educação e cordialidade. Explicou-lhe que a sua filha era a metade do Celta Bennu, da alcateia La Maat Ra. O alfa Nicolás virou-se para a sua filha e dirigiu-lhe palavras furiosas. — Vais casar-te com um Celta? Um fraco Celta!? Rejeitas-me a mim, um Alfa Dominante, por um Celta? —perguntou muito irritado. — Eu não tenho de te rejeitar porque nunca fomos nada! E para que saibas, o meu Celta é único no mundo! E tem muito mais poder do que tu! —respondeu-lhe furiosa Netfis, saindo da sala, a caminho do seu quarto. Depois que ela se retirou, o alfa Amat tentou de tudo para acalmá-lo, embora pudesse notar que era um caso perdido. Continuou a tentar para evitar criar mais um inimigo. — Vá lá, Nicolás —disse-lhe—. Não fiques assim. Havíamos