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Meu problema não é ser rica

— Vamos entrar. Você está com frio. — Gregory me disse, gentilmente.

Eu concordei com um gesto de cabeça. Meu coração estava pesado, triste com o rumo que estava tomando meus pensamentos. Eu só conseguia ver dificuldade na minha relação com Gregory.

E o mais impressionante de tudo isso, era eu estar me sentindo assim por uma pessoa que acabei de conhecer.

Não sei por que estava me preocupando? Gregory não tinha me pedido em namoro!

Eu me levantei do banco, Gregory se colocou na minha frente e colocou a mão nos meus ombros. Eu ofeguei com seu contato. Meu semblante estava caído, pesado. Disfarcei o máximo que pude, e o encarei.

—Antes de irmos, quero que saiba que nossa conversa não acabou aqui. Sei que, se entrarmos, ficará difícil continuarmos tudo isso. Quero o seu telefone. Pode me falar, eu decoro com facilidade.

Meu estômago se contraiu com a seriedade que ele falou aquelas palavras.

—Eu não irei embora, só irei amanhã à noite. Amanhã poderemos conversar mais. —Forcei um sorriso.

Ele sorriu e elevou sua mão, tirando carinhosamente uma mecha de cabelo que tinha sido jogada pelo vento em meu rosto. Com seu gesto, meu coração se agitou no peito.

—Ótimo.

Senti outro arrepio, mas não de frio, só de pensar em passar o dia inteiro com ele.

—Vem, vamos entrar. Você está com frio.

Ele pegou minha mão e fizemos o caminho de volta. Antes de entrarmos na sala, eu me desvencilhei dele, puxando a minha mão da dele.

— Ora, Ora. Vocês sumiram. O que foi isso? Não vão me dizer que de alguma maneira se conheciam? Pois se disserem, eu não vou acreditar. —Raquel nos disse com ironia.

Gregory fitou a prima e me pegou possessivamente pela cintura, eu o encarei espantada com seu gesto.

— Não Raquel, não nos conhecíamos antes. Mas é como se eu a tivesse conhecido há muito tempo. —Ele disse todas aquelas palavras me olhando intensamente nos olhos.

Eu desviei meus olhos dos dele e encarei Raquel que me olhava séria, eu sabia da aversão que ela tinha por ele.

— Meu Deus. Eu estou impressionada. —Ela disse com ironia. — Agora nos dê licença, Gregory. Quero conversar com Sacha. Você já monopolizou muito a minha amiga.

Gregory a encarou sério e depois me deu um olhar significativo, do tipo "depois nos falamos." E se afastou de nós.

Eu ainda fitava suas costas largas quando Raquel pegou meu braço.

— Natasha. O que foi aquilo? Eu mal acreditei nos meus olhos quando vi o beijo de vocês.

Eu a encare séria. Respirei fundo.

— Eu também estou surpresa, comigo mesma. Não há uma lógica nisso tudo. Apenas sei que ele me atrai muito, em todos os sentidos e muito mais agora que conversamos.

Raquel me olhou como se eu falasse algo de outro mundo.

— Você contou a ele que você é filha de Arnold Bertolini?

— Não, ainda não contei.

Uma amiga de Raquel veio se despedir dela.

—Raquel, estava tudo ótimo. Aparece lá em casa.

—Que bom que gostou de Amanda, eu te ligo.

Quando ela se afastou, Raquel me encarou.

—Voltando ao nosso assunto. Meu primo explicou o problema dele?

Eu assenti e o procurei com o olhar, não o achando em lugar nenhum. Ainda podia sentir a colônia dele em meu vestido. Fitei Raquel que me olhava impaciente.

— Sim, ele me contou que tem dislexia.

— E você? Pretende contar para ele, que é filha de um milionário?

Eu apertei meus lábios pensando na pergunta dela.

— Você sabe que detesto ser filhinha de papai, sem uma profissão, vivendo para cima e para baixo com um chofer, com um pai que me dita regras o tempo todo. Uma vida fútil, de festas, de viagens. Então, por enquanto, o que eu menos quero é falar da minha vida. Quero que ele conheça a Natasha, não a filha de Arnold Bertolini. —Soltei o ar com angústia.

— Ou você está com medo que ele sabendo, se interesse pela sua fortuna, ao invés de você?

Eu me irritei.

—Não! Raquel. Que horror. Não! Eu não pensei nisso. O pouco que conversei com ele, eu vi o interesse genuíno dele por mim. Seus olhos não mentiam interesse, independente de quem eu seja.

Raquel revirou os olhos.

—Ele te contou que o pai foi um delinquente juvenil e que já foi preso?

Eu fique pálida e neguei com a cabeça.

—Não.

Meu Deus! Raquel só piorava as coisas!

—Tudo bem que isso foi antes do pai dele se casar com minha tia. Depois ele se endireitou. Mas e se seu pai resolver investigá-lo?

Eu apertei minhas mãos uma com a outra num gesto nervoso.

—Eu sei. Isso não sai da minha cabeça. Se eu e Gregory evoluímos para um namoro, meu pai lutará contra.

—Pois é.... —Raquel me disse com um brilho de vitória nos olhos por ter me feito enxergar o tamanho do abismo que tinha entre eu e Gregory. — Henry, quando viu vocês se beijarem, ficou pasmo como eu.

Por acaso eu estava preocupada com Henry para ouvir esse tipo de comentário?

Não!

Minhas preocupações agora eram outras.

Eu apertei os dedos na cabeça, eu queria sair dali e me deitar. Resolvi inventar uma dor cabeça.

— Raquel, eu estou com dor de cabeça, vou me recolher. Não vou aguentar ficar até o final da festa. Até amanhã.

Antes que ela falasse qualquer coisa eu me afastei dela, só ouvi ela dizer "direita" passei por alguns gatos pingados dançando. Uma boa parte já tinha ido embora. Subi as escadas lentamente.

Bocejei. Entrei no corredor e abri a porta do quarto. Estranhei as luzes acesas. Então vi as roupas masculinas em cima de uma cadeira. Percebi o erro, mas antes que eu saísse, Gregory apareceu saindo do banheiro, só de cueca.

Engoli em seco, imediatamente virei minhas costas para ele. A imagem dele gravada na minha mente.

Lindo, atlético, com aqueles ombros largos, os quadris estreitos. Muito diferente dos rapazes que frequentavam minha casa, que só sabiam beber e tinham aquela barriguinha saliente.

— Desculpa! Entrei no quarto errado. Na verdade achei que ocupasse o outro quarto. — Disse, sem graça.

— Tudo bem. — Ele respondeu.

— Até amanhã. —Eu disse e fui saindo.

— Não, fica. — Ele disse. —Só vou me vestir.

—Acho melhor não!

—Por favor, preciso te falar uma coisa. Me espere.

— Tá... — Eu passei a mão no cabelo num gesto nervoso.

Depois de um tempo, ouvindo ele se movimentar atrás de mim, ele me disse:

—Pronto, pode se virar.

Eu me virei devagar. Ele tinha colocado um short de dormir e uma camiseta branca. Eu ergui meus olhos e nos encaramos.

— O que você queria falar? — Perguntei.

Ele se aproximou com um andar de pantera e ficou bem pertinho de mim. A mistura de cheiro de sabonete com roupa lavada entrou nas minhas narinas, me perturbando.

—Que eu gostei de você. Sou um homem que não brinca com os sentimentos alheios. Acho que por já brincarem com os meus. —Ele disse com tristeza.

Meu coração se apertou com suas falas, mas isso logo passou, pois fui cativada por seus olhos negros que prenderam os meus. Senti-me, de repente, à beira de um penhasco, como olhar para um abismo escuro e sem fim e eu estava pronta a cair.

Esse homem era um perigo para o meu autocontrole.

—Entendo. Bem, boa noite e até amanhã! —Disse e me virando, saio rápido do quarto.

Logo que entrei no meu quarto, acendi as luzes. Fechei a porta e com o coração a milhão, encostei-me nela. Tremendo, passei a mãos nos braços e respirei fundo. Que coisa!

Foquei minha mala e minha bolsa em cima da cama. Mais calma, dei uma rápida olhada no quarto e o achei bonito. Todo em tons bege: os armários, a colcha e o carpete.

 Um tapete colorido quebrava a monotonia do quarto. Um baú de madeira maciça todo trabalhado aos pés da cama. Cortinas marrons num tom claro. O abajur combinando com as cortinas davam um charme ao quarto. Um aparador ao lado da porta, tinha uma toalha branca de renda com uma bandeja, com uma jarra de barro com água e um copo.

Minha dor de cabeça de mentira se tornou real. Com a cabeça latejando peguei uma aspirina na bolsa e tomei com um copo de água.

Com minhas roupas, caminhei até o banheiro. Os pensamentos em Gregory, em tudo que conversamos. A imagem de meu pai o conhecendo, martelando na minha mente. Senti imediatamente meu coração se apertando no peito com essa visão.

Tomei uma ducha e vesti minha camisola branca de cetim. Apaguei a luz e deitei-me na cama.

Gregory mostrou claramente, com seus gestos e atitudes, que ele tinha um real interesse por mim. Um nó se formou na minha garganta e um sentimento de perda se instalou com a possibilidade de me afastar de Gregory.

Eu ocultei dele que eu era filha de um magnata no ramo dos estaleiros. Eu não dava importância para minha condição social.

Mas e Gregory? Será que ele enxergaria esse abismo entre nós?

Até que ponto eu enfrentaria meu pai por causa de Gregory?

Meu Deus. Me ajude!

Me cobri com o edredom, ajeitando o travesseiro, me virei para o lado. Mantive os olhos fechados, tentando dormir, mas meus pensamentos voavam.

Eu não vivia infeliz com a vida que levava?

Não seria hora de dar um basta e começar a fazer minhas escolhas e viver a minha própria vida, independente das imposições de meu pai?

Gregory mexeu comigo ao ponto de despertar em mim a sede de mudanças. Meu pai acabaria me casando com algum rapaz rico, com intenção de aumentar os negócios da família e colocá-lo para tocar o estaleiro.

Nunca, Arnold me passaria à administração do estaleiro e eu seria uma dondoca do lar.

Claro que era isso que ele queria, por isso a resistência de me empregar na empresa da família! E eu trabalhasse, eu poderia me sentir autossuficiente para fazer minhas escolhas e me casar com quem eu quisesse. Mas e ele? Queria isso para mim?

Ele queria investir em um genro, não em mim. Por isso eu não conseguia meu lugar ao sol. Para ele, a felicidade de uma mulher estava em ser à sombra de seu marido.

Queria isso para a minha vida?

Não definitivamente não!

Mesmo que meu namoro com Gregory não desse certo, seria um ponto de partida para enfrentar meu pai.

Já deveria ter feito isso há muito tempo!

Mas como seria minha vida hoje, se eu tivesse lutado por minha independência? Estaria trabalhando em alguma empresa? Ou teria apenas arrumando confusão e meu pai por trás me boicotando?

 E isso, ele sabia fazer muito bem!

Ele teria feito de minha vida um inferno?

 Não duvidava nada que ele teria lutado contra e acabasse fazendo-me desistir de trabalhar, com medo de eu me ligar a alguém de classe inferior.

E tinha mais: Quando a empresa soubesse quem eu era, eles me admitiriam?

Uma dondoca? Eles não questionariam o porquê eu não trabalhava na empresa da família?

Outro fato: Eu não tinha experiência nenhuma.

Meu Deus! Eram tantos pontos negativos!

Eu precisava ponderar as coisas. Pensar em Gregory, antes mesmo de pensar em mim mesma.

Meu travesseiro estava molhado com minhas lágrimas.

Como eu invejava Raquel que podia fazer suas escolhas. Como gostaria de ter nascido em um lar comum!

Tinha tantas famílias ricas que eram mais liberais e não assim como meu pai. Que seus filhos podiam fazer suas escolhas.

O problema não era eu ser rica, meu problema se chamava Arnold Bertolini.

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