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Gregory não é para você

Gregory rodeou minha cintura, me provocando um forte estremecimento. Me conduziu para o meio da sala e me estreitou em seus braços, me trouxe tanto para si, que senti meus seios tocando seu peito peludo. Estremeci.

Eu tentei me afastar, mas as mãos dele seguravam tão firmemente minhas costas que não consegui. Eu podia sentir o calor do corpo dele no meu e das suas mãos no tecido fino do meu vestido.

Gregory passou a me conduzir. Levou-me a me mover lentamente, em sincronia com ele. Quase uma dança sensual....

O meu coração batia com batidas incertas. Cativa nos braços dele, eu me deixei conduzir por ele. A colônia barata que ele usava, não me incomodava, pelo contrário, era uma delícia. O deixava mais másculo, sexy e combinava perfeitamente com ele.

Quando ele passou a mão pelos meus braços, estremeci, percebi pela aspereza das mãos dele, que ele fez muito trabalho braçal, ele era muito rústico.

Isso também não me afastou dele, e teve em mim, um efeito ao contrário, e me atraiu mais a ele. As pessoas ao nosso redor pareceram sumir, era só eu e ele.

Eu ergui meu rosto para fita-lo, louca para saber mais dele. Nossos olhos se encontraram por um momento, seus olhos eram tão intensos que eu engoli em seco. Seu rosto foi suavizando e ele olhou minha boca e fixou-se lá. Eu fiz o mesmo e fitei os lábios dele, meio trêmula, com a respiração curta, a boca entreaberta. Foi então que ele desceu o rosto e tomou meus lábios, que se moveram delicadamente sobre os meus. Quando senti a umidade morna da boca dele, estremeci e minhas pernas fraquejaram. Para não cair, me segurei mais nele.

Ai aquela colônia barata entrando no meu nariz e a sensação maravilhosa dos seus lábios carnudos sobre os meus. Tudo parecia combinar tanto com ele.

Na verdade, parecia tudo uma grande loucura...

Quando ele se afastou, seus olhos procuraram os meus. Ambos estávamos com as respirações irregulares, nos olhávamos como se não acreditássemos na emoção experimentada nos braços um do outro.

Gregory me sorriu com ternura, e isso me fez ficar presa em seu olhar, pálida, sem forças, ofegante e principalmente confusa. Quantas vezes os jovens que frequentavam minha casa, tentavam sem sucesso, me impressionar? Me elogiando, me convidando para sair, me chamando para dançar. Principalmente Francisco, o filho de um banqueiro e amigo de papai.

Quantas vezes ele me convidou para sair, sem sucesso?

Eu sempre tinha uma desculpa na ponta da língua. E agora estava eu ali. Nos braços de Gregory, e ele já estava virando meu mundo de cabeça para baixo.

Outra música tinha começado. Gregory falou em meu ouvido, me dando arrepios.

—Vem. Vamos a um local mais afastado, quero conversar com você.

Eu não pensei duas vezes e aceitei seu convite com um aceno de cabeça. Gregory pegou minha mão, e caminhamos para os fundos da casa.

Eu andava ao lado dele, com o coração agitado no peito e sem conseguir raciocinar direito. Eu apenas sabia que queria estar com ele e isso no momento, era o que importava.

Nos fundos da casa, já tinha dois casais de namorados se beijando, um em cada canto de uma área com churrasqueira. Gregory me puxou e me conduziu para a lateral da casa, ele parecia conhecer muito bem o lugar. Logo vi um banco, de frente a um jardim. Um lugar tranquilo, iluminado só pela luz do luar.

Ele fez um gesto com as mãos para que eu me sentasse, eu obedeci. Ele se sentou ao meu lado.

Olhou um momento para mim. Pegou minhas mãos. Eu estremeci com o calor das mãos dele sob as minhas que estavam frias.

Ele então fitou o lugar, fechou os olhos e aspirou o ar. Depois, procurou meus olhos na penumbra.

— Quando criança eu sempre visitava tio Jonas e aqui era o meu lugar preferido. —Ele disse com nostalgia. —Um refúgio para por meus pensamentos em ordem. Eles estavam sempre desordem.

Ele sorriu para mim, com o olha pensativo.

Eu sorri fraco e olhei as mãos no colo. Ele me deixava totalmente sem ação. Nunca em toda a minha vida eu tinha experimentado sensações tão intensas ao lado de um homem.

Pensava sobre isso quando ele se aproximou mais de mim e passando o braço por trás das minhas costas, o apoiou no encosto do banco.

Eu ergui meu rosto, nossos olhos se encontraram. Os meus olhos verdes com certeza expressavam confusão, e isso era um contraste com os olhos negros e decididos dele.

— O que você tem, que eu não consigo parar de olhar para você? —Ele me perguntou com os olhos fixos nos meus.

Eu fiquei sem fala por um momento. De repente caí em mim e senti medo das reações que ele provocava em meu corpo, e toda aquela ambiguidade de sentimentos.

Com batidas incertas e agitada por dentro, me levantei do banco.

— Acho que foi um erro estarmos aqui.

Ele se levantou e me encarou sério.

—Não faça isso! Por favor! Só vamos conversar, não quero forçar nada. Nenhuma situação.

As palavras num tom apaziguador, me acalmaram por um instante e muito mais o apelo que eu li em seus olhos negros. Isso teve força o suficiente para eu concordar.

Não podia mentir para mim mesma: O que eu mais queria era conhecê-lo. Ele era para mim um atrativo sem fim.

O encarei séria por um momento. Mas, logo meu rosto foi suavizando. E eu não consegui deixar de passar os olhos pelo rosto decidido dele. E achei lindos seus cabelos negros com um leve toque de grisalho nas laterais.

—Quero que se sinta à vontade comigo. —Ele me disse cauteloso.

Como? Se ele despertava em mim sentimentos que eu não conseguia lidar?

Quase dei uma risada nervosa com as palavras dele. Estávamos tão perto que eu podia sentir sua colônia e o calor que emanava dele. Eu me sentia tão indefesa e totalmente à mercê de seus encantos.

Gregory me pegou pelo braço, eu estremeci.

—Sente-se, por favor. Quero muito te conhecer, e gostaria muito que me conhecesse também.

Eu me sentei. Ele, sem tirar os olhos dos meus, fez o mesmo.

Eu não estava com a mínima vontade de falar de mim, mas queria saber tudo sobre ele.

—Tudo bem. —Eu disse rouca. —Fale-me de você. —Pedi, com medo de me decepcionar. Embora algo muito forte dentro de mim me dizia que isso não aconteceria.

Ele era tão diferente dos rapazes que eu conheci, até dos que estavam na festa. Era muito claro que as roupas dele mostravam que ele era da classe operária, e a julgar pelas asperezas de suas mãos, ele já trabalhou muito duro.

Não lia bem, não escrevia bem. Qual era a história dele?

Senti as mãos de Gregory sob uma das minhas. Ele a apertou levemente entre as suas. Por um momento ficou a olhar para mim, depois desviou os olhos, calado, como se a imagem de si mesmo se passasse por sua cabeça. Ele parecia hesitar. Eu comecei a ficar nervosa com a demora dele. Era como se ele fosse me contar algo muito triste ou ruim.

Gregory então me olhou tristemente, seu semblante era tão carregado que eu percebi que o que ele iria me contar, ainda mexia muito com ele. Meu coração se apertou.

— Eu morei a vida toda em York, depois que minha mãe morreu me mudei para cá. Tive uma infância difícil, pois tenho dislexia, foi diagnosticado tardiamente, apanhei muito de meu pai que me julgava burro. Eu nunca fui bem na escola, não conseguia ler as palavras, e não entendia como meus amigos conseguiam. Quando eu já havia repetido pela quarta vez a quarta série, uma professora descobriu meu problema e explicou para minha mãe.

Eu sabia o que significava isso. Era um problema cerebral, onde a pessoa tinha problemas visuais e isso refletia na leitura, na escrita, para soletrar. Ele deveria ver tudo borrado.

—Você conhece essa deficiência?

—Sim.

Ele baixou os olhos por um momento. E quando me fitou, seu rosto estava sombrio, triste.

— Mesmo com esse diagnóstico, eu sofria com a ignorância de meu pai, que constantemente me batia. Ele não aceitava o fato que eu tinha uma doença, dizia que era preguiça, vadiagem de minha parte. Com quinze anos, revoltei-me. Saí de casa e fui trabalhar em uma fazenda, mas nunca deixei de visitar minha mãe. Depois de três anos, meu pai morreu, voltei para casa e passei a morar com ela. Senti muito a morte de meu pai, eu o amava, apesar de tudo. Desde então, trabalhei em vários tipos de emprego. Abandonei a escola há muito tempo. Desisti. Dei-me conta que nunca conseguiria ter um curso superior por causa da minha deficiência.

Ele se recompôs e me encarou sério.

—Hoje leio com dificuldade, escrevo as palavras razoavelmente bem. Mas uma coisa, faço bem, toco piano. Eu escuto a música apenas uma vez e consigo reproduzi-la de ouvido. No meu último emprego como zelador de uma boate tinha um piano velho, e pude praticar bastante lá.

Quando ele terminou, eu estava emocionada. Comovida. Não estava acostumada a conhecer o lado triste da vida. Meus pais sempre me protegeram de tudo e todos. Sempre me deram de tudo, principalmente conforto. Embora eu vivesse num lar tão superficial e sem vida. Eu sabia que meus pais me amavam do jeito deles.

De repente me dei conta que eu estava, simplesmente, ao lado do homem mais interessante que eu já conheci em minha vida. Ele era um lutador. Com um passado tão triste, tão sofrido, e mesmo assim podia sentir uma grande força que emanava dele.

—Eu te assustei? Por isso que está me olhando desse jeito?

—Não. —Disse rouca. Limpei a garganta. —Sua história é comovente, e isso te faz uma pessoa incrível. Eu estou emocionada, só isso.

Uma lagrima solitária desceu do rosto dele, ele estava comovido com minhas palavras, como se vivesse muito tempo um mundo de rejeição. Eu ergui minha mão e a limpei com carinho, como se eu pudesse lhe passar algum consolo com meu gesto.

Gregory me envolveu nos braços e me puxou, fazendo-me sentar em seu colo. Seus lábios tomaram os meus, apaixonadamente. Sua língua invadindo minha boca de leve, me enlouquecendo. Eu não conseguia pensar em mais nada, tudo parou de existir naquele momento. Eu só conseguia sentir as sensações maravilhosas que ele provocava em meu corpo.

A consciência dele era muito forte, eu vibrava com o mais leve toque de suas mãos, do calor de seu corpo, de seus braços, os lábios úmidos e macios se movendo em minha boca.

Depois de um tempo, nossos lábios se afastaram, mas permanecemos abraçados, ambos ofegantes. Eu apoiei minha cabeça nos ombros dele e ficamos assim por um momento, ambos presos aos seus próprios pensamentos.

Gregory então me afastou passando o dedo no meu rosto com carinho.

—Eu nem te conheço direito para se abrir assim comigo... —Eu constatei assustada por tamanha intimidade com ele.

—Me conheceu agora...

—Por que me contou tudo isso? Por que abriu seu coração? Você mal me conhece? —Eu perguntei sem entender.

—Não sei. —Ele respondeu pensativo. — Na verdade, sei. Eu queria que soubesse, não queria que isso fosse um empecilho mais tarde. Quero jogar limpo com você.

Eu sorri com as palavras dele e baixei a cabeça por um momento.

—Tudo bem, vou dizer por que te contei. Eu sofro preconceito. —Ele suspirou. — Pronto! Falei! Raquel mesmo, ela não me vê com bons olhos. Deve ter feito minha caveira para você.

Eu ergui minha cabeça nada surpresa ao ouvir isso. O silêncio ficou entre nós.

— Fale-me sobre você. —Ele pediu.

Eu desviei meus olhos dos dele. Constatei que minha vida, mesmo fútil, em contraste com a vida dele, era uma maravilha. Me sentindo ingrata com meus pais que me davam de tudo e me tratavam bem, eu o abracei e escondi meu rosto na camisa dele.

—O que foi? Hein? —Ele me afastou e observou meu rosto molhado de lágrimas. —Eu estou bem, superei tudo isso. Só é difícil contar, mas de resto, tenho caminhado, tenho me virado bem sozinho.

Eu sorri entre lágrimas.

Ele era tão surpreendente.

—Desculpe-me, eu que sou muito emotiva. É nítido que se vira sozinho.

Ele sorriu, e passou o polegar no meu rosto.

—Fale-me um pouco de você. Até agora, eu só falei de mim.

Eu respirei fundo pensando ainda se contava quem era meu pai ou não.

Meu Deus, meu pai! Ele tinha todos os predicados para que meu pai lutasse contra esse namoro.

Não queria pensar nisso. Não queria quebrar aquele momento. Com o coração apertado comecei a falar de mim:

—Eu tenho vinte dois anos. Sou formada em administração. Estou parada atualmente. —Disse "parada" com dor no coração. —Gosto muito de ler livros, principalmente os policiais e de romances. Conheci Raquel há uns três meses. —Parei pensando em Raquel. — Meu Deus, Raquel. Ela deve estar surpresa comigo. —Fiquei vermelha e sorri nervosa.

Com certeza ela me viu sair com Gregory em direção aos fundos da casa. E Henry? Eu o deixei plantando na sala.

Gregory sorriu ao ver minha reação.

— Ela vai entender que estamos nos conhecendo, e que precisávamos desse tempo para conhecer um ao outro.

— O rapaz que eu conversava então, nem sei o que ele deve estar pensando, ele deve ter presenciado nosso beijo quando dançávamos. Aliás, todos viram.

Gregory pegou meu queixo e me fitou nos olhos.

—Foi algo inevitável. E você sabe disso. Essa explosão de sentimentos, essa atração louca que temos um pelo outro.

Eu lhe dei um leve sorriso.

—Nem um pouco inseguro você é. Falando por mim?

Baixei o rosto para ele a verdade nos meus olhos.

—Eu li os sinais. Sou um homem experiente.

Aquela observação, me fez levantar o rosto e dar com a intensidade daqueles os olhos negros. Senti meu coração disparar no peito. Recebi um sorriso torto dele. O clima entre nós tinha mudado, e com medo daquela intimidade, eu saí do colo dele. E me sentei no banco.

Sorri antes de perguntar:

— Quantos anos você tem, Gregory?

Ele me encarou sério.

— Trinta e dois.

Dez anos mais velho que eu. Pensei.

—E quanto a sua profissão? Está trabalhando? — Perguntei, embora, eu soubesse a resposta pelo que Raquel tinha me falado dele.

— Estou desempregado atualmente. Saí de minha cidade, e com a venda da casa de meus pais comprei um apartamento pequeno. Quanto a minha profissão, já fiz tantas coisas. Sei um pouco de tudo, conserto encanamentos, sou um bom eletricista, já fui auxiliar de um capataz na fazenda que morei. Trabalhei como segurança, garçom.

Desviei meus olhos dos dele.

Tudo que ele falou, não era novidade, só o fato de ele ser disléxico. A aspereza em suas mãos, suas roupas surradas, e o que Raquel já havia me falado dele, batiam exatamente com que ele havia me dito.

A imagem autoritária de meu pai, surgiu na minha frente.

Meu Deus! Ele tinha todos os ingredientes para meu pai implicar com ele. Sua origem humilde, pertencer à classe operária, a deficiência na leitura, seu passado conturbado, com sua saída muito cedo de casa e desempregado.

Nossos mundos eram tão opostos e eu só conseguia ver um grande abismo entre nós, e esse abismo se chamava Arnold Bertolini.

Meu pai podia usar seus métodos baixos para me separar de Gregory. Como ele já fez muitas vezes nos negócios e na vida.

—O que foi? De repente você ficou tão calada?

Eu forcei um sorriso.

—Só estava pensando em tudo que me disse.

Então, como um raio, me veio à cena de uns dois anos atrás de uma conversa que escutei sem querer de meu pai com seus homens.

Ele tinha brigado no trânsito com um jovem que o afrontou. Ele, como retaliação, pegou o número da placa do carro e por seus meios escusos, através dela, conseguiu o endereço desse rapaz e ordenou que seus homens lhe dessem uma lição. Desde então, eu nunca mais subestimei o que Arnold poderia fazer para alcançar seus objetivos.

Senti um arrepio ao pensar nisso.

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