Minha mão treme enquanto sinalizo para um táxi que se aproxima. Talvez seja resultado da conversa com David, ou da culpa por mentir para Ethan, mas meu coração bate forte enquanto guardo o celular e observo o carro estacionar à minha frente.Pouco depois, estou indo em direção ao apartamento de Ethan, me preparando para o que quer que seja. O motorista tenta puxar assunto, mas minha mente está longe demais para manter uma conversa.Quando ele estaciona em frente ao prédio, não saio do carro imediatamente. Apenas olho para cima e observo as luzes acesas no apartamento de Ethan, imaginando-o lá em cima, provavelmente me esperando para conversar.Talvez seja sobre Seattle, ou talvez ele tenha descoberto que menti. Mas, agora, estando aqui, sinto minha coragem se esvaindo. Não tenho condições de conversar agora. Não quando posso colocar tudo a perder.— Pode continuar a viagem, por favor? — peço ao motorista. — Me leve até o Navy Pier.O velho motorista franze as sobrancelhas, confuso, ao
O sorriso de James diminui ao notar minha expressão séria. Ele se ajeita melhor para me encarar, franzindo a testa. — O que foi, filha? As palavras parecem presas em minha garganta. Como contar que, por minha culpa, ela morreu? Como admitir que minha desobediência custou a vida dela? — É sobre a minha mãe — minha voz sai tremida. Fecho os olhos com força, tentando conter as lágrimas. — Sobre… como aconteceu. James aperta minhas mãos de leve, me dando espaço para continuar. O gesto, tão gentil, só faz minha culpa aumentar. Ele não faria isso se soubesse a verdade. — Tudo começou… — digo, focando meu olhar em nossas mãos unidas. — Com uma festa de despedida… Meus amigos estavam indo para a universidade, seria a nossa última festa juntos pelos próximos anos. Paro por um momento, tentando organizar meus pensamentos. As memórias daquela noite invadem minha mente sem permissão: a chuva forte enquanto a esperava, o som do meu celular tocando, o choro de David do outro lado da linha… —
“Ethan Hayes”Chego cedo à empresa após uma noite praticamente em claro. O sumiço de Mia, que ignorou completamente o meu convite para ir à minha casa. A mensagem curta e fria dela “amanhã conversamos”… Tudo isso contribuiu para minha insônia.O escritório ainda está praticamente vazio, o que é melhor. Preciso colocar alguns papéis em ordem antes que todos comecem a chegar. Antes que ela chegue.Abro meu notebook, mas não consigo me concentrar. Automaticamente, pego o celular pela milésima vez, mas não há nenhuma mensagem dela.Normalmente, Mia já teria mandado um “bom dia”, seguido de alguma reclamação sobre o tempo.— Afinal, o que está acontecendo com você? — murmuro, passando a mão pelos cabelos.Quando o relógio marca oito e meia, meia hora após seu horário habitual, ouço a porta se abrir. Meu corpo enrijece enquanto desvio o olhar, mas, para minha surpresa, não é Mia. É James.— Bom dia — ele me cumprimenta, parecendo exausto, como se também não tivesse dormido. — Vim avisar que
“Mia Bennett” Após a conversa com James, senti como se um peso tivesse saído dos meus ombros. Foi como se suas palavras tivessem acalmado meus pensamentos tumultuados. A tristeza pelo que aconteceu ainda está aqui, mas de alguma forma, incrivelmente mais leve. Tão leve que dormi como uma pedra e agora acordo desorientada, sem entender de imediato por que meu quarto está tão claro. Demoro alguns segundos para me situar, até que meu olhar para no relógio digital na mesa de cabeceira. — Oh, meu Deus! — murmuro ao ver que já passa das dez. — Dormi demais… Sento na cama, pego o celular rapidamente. Um sorriso surge quando vejo uma mensagem de Ethan: “Sinto sua falta…” Mordo o lábio, sentindo meu coração acelerar com suas palavras. Talvez eu devesse ter ligado ontem, nem que fosse só para saber o que ele queria ou para tranquilizá-lo. “Também sinto sua falta. Me desculpe por faltar.” Respondo à mensagem e, ainda sorrindo, me levanto para ir ao banheiro. Quinze minutos depois
Ethan sorri enquanto me encara, claramente satisfeito com a surpresa que preparou. Abro e fecho a boca algumas vezes, ainda sem acreditar em seus planos.— Carmel? — murmuro, arregalando os olhos. — Tipo, Carmel na Califórnia?— Exatamente. — Ethan sorri ainda mais. — O que me diz?— Mas… como? E Seattle?— Seattle pode esperar. — diz, voltando a me beijar. — Você não.— Ethan…— Você merece um tempo longe de tudo. — Ele acaricia meu rosto. — Nós merecemos uma pausa… longe de tudo. Então pensei em um lugar calmo, bonito, onde você pudesse respirar.Meu coração dispara com suas palavras. Ele não só entendeu o que eu precisava, mas pensou em cada detalhe.— Ethan… isso é... incrível. — Digo, acariciando sua nuca, sorrindo e empolgada. — Você não precisava fazer isso por mim.— Eu faria isso mil vezes, perdição. Por você, por nós. Já disse, você merece o melhor.Seu olhar sério e sincero me atinge, e tudo o que posso fazer é beijá-lo de novo, para agradecer sem palavras.Quando nos separ
“Ethan Hayes”Acordo com a claridade que entra pela janela que esquecemos de fechar. Mia dorme tranquilamente ao meu lado, os cabelos castanhos espalhados pelo travesseiro. Não resisto à vontade de me virar para admirá-la.Diferente da primeira vez que amanhecemos assim, não há ninguém para abrir a porta e interromper o momento. E, diferente da segunda, não precisamos tomar café da manhã às pressas antes de voltarmos à realidade.Aqui, finalmente, posso admirar cada detalhe dela sem pressa. É incrível como ela parece ainda mais bonita assim, tão serena, tão… minha.Minha.Essa palavra, que em outros contextos poderia soar errada, é a única que faz sentido quando penso nela. Não por posse ou controle, mas porque, de alguma forma inexplicável, ela pertence a mim tanto quanto pertenço a ela.Deslizo os dedos suavemente por seu rosto, admirando cada detalhe. Seus cílios longos, o nariz levemente arrebitado, os lábios entreabertos… Como alguém pode ser tão linda até mesmo dormindo?— Você
Observo sua expressão tensa e é fácil entender o que Mia quer dizer. Provavelmente tem relação com o padrasto, com aquele encontro na cafeteria. E, embora eu esteja curioso, preocupado até, não posso deixar que isso estrague nosso momento.Coloco um dedo sobre seus lábios, impedindo que continue.— Agora não — murmuro. — Esses dias são nossos, só nossos. O que quer que seja, pode esperar até voltarmos.— Mas…— É sério — a interrompo com um beijo. — Chicago, nossos problemas, nossos impedimentos… tudo isso fica lá. Aqui é só sobre nós, ok?Ela me encara por alguns segundos antes de assentir, esboçando um pequeno sorriso.Volto a ensaboar seu corpo enquanto ela fecha os olhos. Lentamente, sinto seu corpo relaxar contra o meu, como se o peso do que ela queria dizer tivesse evaporado temporariamente.Termino de ensaboar suas costas, massageando seus ombros. Ela solta pequenos suspiros de satisfação, que me fazem sorrir.— Você é ótimo nisso — murmura, inclinando a cabeça para me dar aces
“Mia Bennett”Sinto meu coração disparar enquanto Ethan, sem pensar duas vezes, solta minha mão sem desviar o olhar do homem.— Fique aqui — ele diz, já se afastando.Engulo em seco enquanto observo a cena, e a inquietação me faz seguir os passos de Ethan. Mesmo estando a quilômetros de Chicago, a simples ideia de sermos flagrados faz meu estômago revirar.O homem, percebendo nossa aproximação, começa a andar em direção à rua enquanto mexe em sua câmera, mas Ethan o alcança rapidamente.— Com licença — diz, num tom sério. — Posso dar uma olhada nas fotos que estava tirando?Paro ao lado dele e observo o homem, que parece nervoso enquanto nos encara. Então, ele limpa a garganta e vira a câmera na nossa direção. Mas, ao contrário do que imaginamos, há apenas fotos do mar, das ondas quebrando contra as rochas, das gaivotas…— Sou fotógrafo profissional — o homem magro explica, mostrando mais algumas fotos. — Especialista em fotografia marinha.— Estou me sentindo uma idiota… — murmuro, s