“Ethan Hayes”Não faço ideia de quando me tornei esse tipo de pessoa.O tipo que sobrecarrega uma funcionária com trabalho desnecessário apenas porque não suporta a ideia de vê-la saindo com outro cara. O tipo que age como um adolescente quando deveria se comportar como o homem que sou.Mas aqui estou eu, esperando Mia revisar documentos que nem precisavam ser revisados hoje, apenas para tentar sabotar seu encontro.Que porra eu estava pensando quando decidi desafiá-la? Depois daquela provocação, era óbvio que Mia aceitaria, nem que fosse apenas para me tirar do sério.E conseguiu.Mas o que eu esperava? Não fui eu quem decidiu me afastar? Então, por que o pensamento de outro homem tirando aquele vestido me incomoda tanto?— Então é por isso que não atendeu minhas ligações? — A voz de Lauren me surpreende.Pisco algumas vezes, me dando conta de que estava longe demais, e olho em direção à porta. Lauren está parada, com os braços cruzados, me encarando da maneira que ela sabe que eu od
“Mia Bennett”Não sei quanto tempo permaneço imóvel encarando a tela do computador sem realmente vê-la. Balanço a cabeça, tentando afastar os pensamentos, e começo a guardar os documentos na gaveta. Mas as palavras dele continuam ecoando na minha mente.Reviro os olhos, mordendo o lábio pela centésima vez desde que ele saiu. O gosto do batom começa a desaparecer, e só então percebo o quanto estou irritada. Irritada com o trabalho de última hora, com a confissão inesperada, com a maneira como ele tentou parecer altruísta.— Você não vai bagunçar minha mente, Ethan — resmungo.Pego o celular e digito rapidamente:“Me desculpe pelo atraso. Estou descendo em cinco minutos.”A resposta vem quase imediatamente:“Sem problemas. Já estou na garagem :)”O emoji sorridente me faz sentir ainda mais culpada por estar assim. Theo não merece isso. Ele tem sido nada além de gentil desde que nos conhecemos.Me levanto de repente, empurrando a cadeira para trás com mais força do que o necessário, e ca
“Ethan Hayes”O whisky queima minha garganta enquanto James conta alguma história sobre seu último encontro. Estamos sentados na varanda de sua casa, como fazemos há anos quando precisamos conversar, mas minha mente está em outro lugar.Está nela.— Ethan? — A voz de James me traz de volta. — Cara, você nem riu da parte em que derrubei o vinho no meu… — Ele para, me observando com aquele sorriso irritante que conheço tão bem. — Ah, claro. É a tal azarada, não é?— Não começa. — Viro o restante da bebida.— Quanto tempo faz que te conheço? Treze anos? — Ele pega o whisky na mesa ao lado, nos servindo outra dose. — Nunca te vi assim por uma mulher. Na verdade, nunca te vi assim por nada.— Talvez eu esteja ficando velho — murmuro, girando o copo na mão enquanto olho para o céu.— Estou começando a concordar com você. Talvez o maior galinha de Chicago esteja realmente considerando algo sério — debocha, e eu apenas balanço a cabeça, exausto demais para reagir.— Que diferença faz? — pergu
“Mia Bennett”Meu coração dispara quando Ethan fecha a porta atrás de mim. Eu deveria estar irritada. Deveria xingá-lo por me puxar desse jeito, por agir como se tivesse algum direito sobre mim após ter escolhido se afastar.Mas a verdade? A verdade é que passei a noite inteira desejando que fosse ele ao meu lado. E agora que ele está aqui, simplesmente não consigo me afastar.— Resolver o quê, Ethan? — pergunto, levantando o queixo enquanto puxo meu braço. — Que você estava certo? Que eu só virei o rosto porque, mesmo passando a noite inteira com uma pessoa maravilhosa, tudo o que fiz foi me odiar por ainda pensar em você?— Mia… — Ele tenta se aproximar, mas para quando dou um passo para trás.— Não, Ethan. Você não tem esse direito! — exclamo, balanço a cabeça. — Também não tem o direito de decidir que mereço mais, por que como posso merecer mais quando é exatamente você que eu quero?— Com todos os defeitos que tenho? — Ele força uma risada baixa, amarga. — Você só pode estar louc
“Ethan Hayes” Que porra eu estava pensando? Como pude sequer cogitar a ideia de me afastar dela? Logo dela, que, desde o momento em que entrou no meu carro, virou minha vida perfeitamente controlada de cabeça para baixo? A verdade é que Mia sempre teve esse poder: o de me fazer perder o controle que tanto prezo. E agora, com seus lábios nos meus e seu corpo pressionado contra o meu, percebo que lutar contra isso foi a maior estupidez que já cometi. Minhas mãos apertam sua bunda com mais força, e sinto suas unhas arranharem minha nuca em resposta. Porra, como senti falta disso. Como senti falta dela. — Você não faz ideia do quanto me irritou hoje — murmuro, deslizando minhas mãos pelas suas coxas. — A porra desse vestido… — Passou a noite toda pensando nisso? — Mia provoca. Claro que ela sabia exatamente o que estava fazendo quando escolheu esse vestido. — Em como seria ver outro cara tocando no que é meu? Óbvio. — Sussurro em seu ouvido, entrelaçando meus dedos em seus cab
“Mia Bennett”Pisco os olhos algumas vezes antes de finalmente conseguir enfrentar a claridade que entra pela cortina. Estou no meu quarto. Não, espera. Estou no quarto de hóspedes. Não foi mais um dos sonhos que costumo ter após dormir chorando. Me sento rapidamente quando sinto o toque de Ethan no meu braço, mas a confusão logo dá lugar ao susto ao ver Vitória parada na porta, a mão cobrindo a boca e os olhos arregalados. — Merda… — murmuro, puxando o lençol para me cobrir. Ethan solta um suspiro pesado, passando a mão pelos cabelos. — Vocês deram muita sorte de não ser outra pessoa — ela diz, olhando rapidamente para o corredor antes de nos encarar novamente. — E sorte de eu ter me oferecido para vir te chamar, Sr. Hayes. — Por que bateu e entrou assim? — ele pergunta, num tom baixo, mas claramente irritado. — Bati umas três vezes, ninguém respondeu, e achei que tinha acontecido alguma coisa — ela retruca, agora mais calma. — Me desculpe. — Tori, por favor — murmuro, co
Pang!Um estrondo seco ecoa pela casa, seguido pelo som inconfundível de vidro se estilhaçando.Meu corpo se encolhe instintivamente debaixo das cobertas. Não preciso olhar para o relógio ou descer as escadas para saber o que está acontecendo. Eu sei.David, meu padrasto, está bêbado de novo.— Sarah, meu amor! Você não podia ter me abandonado! — ouço-o gritar lá embaixo, seguido pelo som de mais alguma coisa se estilhaçando.Fecho os olhos e respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçam cair. Mas é inútil. Desde que minha mãe faleceu, os dias têm sido assim. A dor já era suficiente, mas a reação de David só torna tudo ainda pior.Exatamente como tem sido nas últimas semanas, os passos cambaleantes no corredor me fazem congelar. Logo, o som de seu punho batendo contra a porta ecoa pelo quarto.— Ela está morta por sua causa! — ele grita, seguido por mais um soco contra a porta. — Você matou sua mãe! — Outro soco. — Se você não fosse tão dependente, ela estaria viva!Pressi
Três semanas se passaram desde aquela noite. Não me lembro de muita coisa após o toque da campainha. Apenas dos vizinhos, do falatório ao meu redor, das sirenes… Quando realmente despertei, após algumas horas ou dias, já estava no hospital. Sobrevivi, mas com cicatrizes que não aparecem apenas no espelho. Tive alta antes de David. Voltei para casa, tentando acreditar que ele pagaria pelo que me fez. Mas não foi o que aconteceu. Ele voltou duas semanas depois, como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse quase tirado minha vida. Naquela mesma noite, o som de uma garrafa sendo aberta me trouxe de volta à realidade. David e álcool nunca foram uma boa combinação. Não esperei para ver o que aconteceria novamente. Peguei o pouco que tinha, uma mochila e minha coragem, e saí pela porta sem olhar para trás. A única pessoa que pode me ajudar agora é alguém que eu mal conhecia: James Bennett, meu pai biológico. Um homem que mal conheço, mas que parece ser minha última chance de rec