“Ethan Hayes”Observo Mia do outro lado da sala, rindo enquanto Vitória narra, com gestos exagerados, como ela e Theo acabaram se aproximando durante as visitas ao hospital.Há algo na forma como seus olhos brilham, no jeito que joga a cabeça para trás quando ri sem reservas, que ainda me deixa completamente rendido.— Você está com aquela cara de novo — Lauren comenta, surgindo ao meu lado com uma taça de champanhe.— Que cara?— A cara de homem completamente apaixonado. É meio nauseante, para ser honesta — provoca, mas sei que é puro hábito.— Olha quem fala… Você deveria se olhar no espelho e dizer “James” — rebato. — Vai ver que ficará com a mesma cara.Ela revira os olhos, mas o rubor em suas bochechas entrega tudo.— Pelo menos a Mia não ficou brava por termos escondido isso dela — desconversa, desviando o olhar para minha mulher.Sorrio. Lauren tem razão, claro. Ver a surpresa no rosto de Mia quando encontrou a festa que preparamos fez valer a pena cada mentira do bem. Não há c
“Mia Bennett” O jantar foi perfeito, assim como a festa em si: pratos do meu restaurante favorito, um vinho delicioso e, especialmente, a companhia das pessoas mais importantes da minha vida. Lauren volta à mesa, carregando o bolo que meu pai escolheu, agora iluminado pelas velas acesas. Todos começam a cantar "Parabéns", e, por um instante, me pego quase constrangida por ser o centro das atenções. Mas, quando olho para Ethan, que está ao meu lado, me observando como se eu fosse a coisa mais preciosa do universo, percebo que sou digna de todo esse amor. — Faça um pedido — Vitória incentiva quando a canção termina. Fecho os olhos, pensando no que pedir. Um ano atrás, meus desejos teriam sido sobre Harvard, sucesso profissional, independência. Mas agora, após quase perder minha vida… Inspiro profundamente e sopro as velas, todas de uma vez. Os aplausos ecoam ao meu redor, seguidos imediatamente por Lauren, que anuncia que vai servir o bolo. — Aposto que dessa vez sei o
“Alguns meses depois… Mia Bennett.” O outono chegou bem mais rápido do que eu gostaria. Quatro meses desde o meu aniversário. Quatro meses de preparação para Harvard. Quatro meses de pequenas e grandes mudanças. Minha recuperação física foi declarada completa há pouco mais de dois meses, quando o Dr. Ramirez finalmente assinou minha alta médica definitiva. — Extraordinário! — ele disse, avaliando a cicatriz fina nas minhas costas. — Raramente vejo uma recuperação tão completa em casos como o seu. Mas a verdadeira recuperação aconteceu antes, nos pequenos momentos. Na primeira vez que corri no parque sem sentir falta de ar. Na primeira noite que dormi sem acordar em pânico, com o coração disparado pelos pesadelos com Miranda. Na primeira vez que passei um dia inteiro sem lembrar do sequestro. Minha cicatriz continua aqui, claro. Uma linha rosada e irregular de alguns centímetros abaixo do meu ombro esquerdo, marcando o lugar onde o projétil entrou. Ethan a beija todas as noi
Deitada ao lado de Ethan pela última vez antes da viagem, não consigo dormir. Apesar de estar com ele, é a distância que nos espera que me tira o sono. Em poucas horas, estarei em outro lugar, sozinha, sem ele ao meu lado. Não vou acordar com o café da manhã que ele traz na cama, nem dormir ouvindo-o trabalhar até tarde em seu notebook. Sentindo minha inquietação, Ethan se move e me puxa para mais perto. Me aconchego em seus braços, encontrando conforto no calor dele. — Tudo dará certo — sussurro. Tento acreditar nisso enquanto finalmente adormeço, segura nos braços do homem que transformou minha vida de maneiras que nunca imaginei possíveis. Quando abro os olhos novamente, o sol já está brilhando lá fora. Ethan está sentado ao meu lado, trazendo o café da manhã para mim. — Vou sentir falta disso — murmuro, controlando as lágrimas que ameaçam descer antecipadamente. Ele coloca a bandeja no meu colo e afasta uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. — Em poucos dias, estare
Harvard é exatamente como imaginei e, ao mesmo tempo, completamente diferente. O campus é exatamente como vi nas fotos: imponente, histórico, com seus prédios de tijolos vermelhos. Mas nenhuma imagem captura a energia do lugar, o burburinho constante, a sensação de pertencimento. Já faz um mês desde que cheguei aqui e ainda me pego parada no meio do pátio, absorvendo tudo com um misto de admiração e incredulidade. Realmente estou em Harvard. — Mia! Espera! Me viro rapidamente e vejo Anna correndo em minha direção, equilibrando uma pilha de livros. Anna O’Donnell, minha colega de turma e a primeira amizade que fiz aqui. Uma baixinha loira de cabelos cacheados, óculos redondos e o mesmo nível de obsessão por café que eu. — Por favor, me diga que você entendeu o caso Marbury v. Madison, porque passei a noite inteira tentando decifrar as anotações do professor Harrington e continuo perdida — ela implora assim que me alcança. — Bom dia para você também — respondo, sorrindo. — E sim,
“Ethan Hayes” O táxi para em frente ao prédio de tijolos vermelhos que já se tornou tão familiar. Pago a corrida, pego minha mala e verifico o relógio: 18:40. Bem mais cedo do que o horário em que normalmente chego às sextas-feiras. Mas hoje não é sexta-feira. Na verdade, nem é um dia qualquer. Hoje faz exatamente um ano desde a noite que mudou minha vida para sempre. A noite em que uma jovem de olhos desafiadores entrou no meu carro por engano e virou meu mundo de cabeça para baixo. Trezentos e sessenta e cinco dias que transformaram completamente quem eu sou. Subo os degraus, sentindo o peso confortável da pequena caixinha no meu bolso e da pasta com documentos que, espero, mudarão significativamente nossas vidas. Digito a senha da porta e entro silenciosamente. O apartamento está iluminado pela luz da televisão e por um abajur no canto da sala. Uma música lenta toca baixinho. Quando me aproximo da cozinha, vejo Mia. Minha perdição está de costas para a porta, dançando dis
“Três anos depois… Mia Bennett.” O momento é surreal. Três anos de estudo intenso, noites sem dormir, casos jurídicos intermináveis, saudades, choros… tudo para que esse momento chegasse. — Mia Mitchell Bennett. Enquanto atravesso o palco, olho para os rostos na plateia que tornaram tudo isso possível. Meu pai me olha, sorrindo orgulhosamente. Ao lado dele, Lauren enxuga discretamente uma lágrima. Theo e Vitória, que estão morando juntos há alguns meses, aplaudem animadamente. E Ethan sorri enquanto aplaude, me olhando como se eu fosse a única pessoa em toda a cerimônia. Aperto a mão do reitor Lewis, aceito o diploma, e é isso. Oficialmente formada em Direito por Harvard. Meu sonho foi finalmente realizado, mesmo com o adiantamento, com minha quase morte, duplamente falando. Com o diploma em mãos, relembro aquela noite nas mãos de David, em Portland. A recuperação lenta após o tiro de Miranda, as noites em que acordei gritando, revivendo o momento em que ela puxou o
“Poucos meses depois… Ethan Hayes.” Ajusto a gravata de James pela terceira vez em quinze minutos. Nunca vi meu melhor amigo assim, tão nervoso. — Pelo amor de Deus, James. Fica parado — ordeno, dando um último puxão no tecido. — Se continuar se mexendo, vai parecer que uma criança fez esse nó. — Não estou me mexendo — ele rebate, apenas para imediatamente tocar o colarinho e entortar a porra da gravata de novo. Alec solta uma risada do outro lado da sala, terminando seu próprio nó. — Nunca pensei que veria o dia em que James Bennett, o advogado mais frio de Chicago, estaria suando como um réu no tribunal — comenta, servindo-se de um dedo de whisky. — Vá se foder, Alec — James responde no automático, verificando o relógio pela sétima vez. Alec ri de novo, balançando a cabeça. Pelo menos a presença dele mantém James distraído do nervosismo. — Alguém falou com a Lauren? — James pergunta, servindo-se de uma dose de uísque. — Ela não respondeu às minhas mensagens. — Ta