O pôr do sol pinta o céu de Chicago em tons de laranja e rosa quando Ethan estaciona na garagem do nosso prédio. Meu corpo está agradavelmente cansado após um dia de atividades que, há um mês, teriam sido impossíveis. Passeio no parque, almoço prolongado no meu restaurante favorito, até mesmo uma breve visita a uma exposição de arte. Pequenos prazeres que agora significam muito mais. — Obrigada pelo dia — digo, quando ele abre a porta do carro para mim. — Foi um dos melhores aniversários da minha vida. — O dia ainda não acabou, perdição — ele responde, me oferecendo a mão para ajudar a sair do carro. — É mesmo? — pergunto, entrelaçando nossos dedos enquanto caminhamos em direção ao elevador. — Não me diga que tem mais surpresas. Meu coração não aguenta. — Pensei em sair para jantar fora esta noite. O que acha? — Ou podemos pedir o jantar, assistir a um filme agarradinhos no sofá… — sugiro, entrando no elevador. — A conclusão perfeita para um dia perfeito. Me inclin
“Ethan Hayes”Observo Mia do outro lado da sala, rindo enquanto Vitória narra, com gestos exagerados, como ela e Theo acabaram se aproximando durante as visitas ao hospital.Há algo na forma como seus olhos brilham, no jeito que joga a cabeça para trás quando ri sem reservas, que ainda me deixa completamente rendido.— Você está com aquela cara de novo — Lauren comenta, surgindo ao meu lado com uma taça de champanhe.— Que cara?— A cara de homem completamente apaixonado. É meio nauseante, para ser honesta — provoca, mas sei que é puro hábito.— Olha quem fala… Você deveria se olhar no espelho e dizer “James” — rebato. — Vai ver que ficará com a mesma cara.Ela revira os olhos, mas o rubor em suas bochechas entrega tudo.— Pelo menos a Mia não ficou brava por termos escondido isso dela — desconversa, desviando o olhar para minha mulher.Sorrio. Lauren tem razão, claro. Ver a surpresa no rosto de Mia quando encontrou a festa que preparamos fez valer a pena cada mentira do bem. Não há c
“Mia Bennett” O jantar foi perfeito, assim como a festa em si: pratos do meu restaurante favorito, um vinho delicioso e, especialmente, a companhia das pessoas mais importantes da minha vida. Lauren volta à mesa, carregando o bolo que meu pai escolheu, agora iluminado pelas velas acesas. Todos começam a cantar "Parabéns", e, por um instante, me pego quase constrangida por ser o centro das atenções. Mas, quando olho para Ethan, que está ao meu lado, me observando como se eu fosse a coisa mais preciosa do universo, percebo que sou digna de todo esse amor. — Faça um pedido — Vitória incentiva quando a canção termina. Fecho os olhos, pensando no que pedir. Um ano atrás, meus desejos teriam sido sobre Harvard, sucesso profissional, independência. Mas agora, após quase perder minha vida… Inspiro profundamente e sopro as velas, todas de uma vez. Os aplausos ecoam ao meu redor, seguidos imediatamente por Lauren, que anuncia que vai servir o bolo. — Aposto que dessa vez sei o
“Alguns meses depois… Mia Bennett.” O outono chegou bem mais rápido do que eu gostaria. Quatro meses desde o meu aniversário. Quatro meses de preparação para Harvard. Quatro meses de pequenas e grandes mudanças. Minha recuperação física foi declarada completa há pouco mais de dois meses, quando o Dr. Ramirez finalmente assinou minha alta médica definitiva. — Extraordinário! — ele disse, avaliando a cicatriz fina nas minhas costas. — Raramente vejo uma recuperação tão completa em casos como o seu. Mas a verdadeira recuperação aconteceu antes, nos pequenos momentos. Na primeira vez que corri no parque sem sentir falta de ar. Na primeira noite que dormi sem acordar em pânico, com o coração disparado pelos pesadelos com Miranda. Na primeira vez que passei um dia inteiro sem lembrar do sequestro. Minha cicatriz continua aqui, claro. Uma linha rosada e irregular de alguns centímetros abaixo do meu ombro esquerdo, marcando o lugar onde o projétil entrou. Ethan a beija todas as noi
Deitada ao lado de Ethan pela última vez antes da viagem, não consigo dormir. Apesar de estar com ele, é a distância que nos espera que me tira o sono. Em poucas horas, estarei em outro lugar, sozinha, sem ele ao meu lado. Não vou acordar com o café da manhã que ele traz na cama, nem dormir ouvindo-o trabalhar até tarde em seu notebook. Sentindo minha inquietação, Ethan se move e me puxa para mais perto. Me aconchego em seus braços, encontrando conforto no calor dele. — Tudo dará certo — sussurro. Tento acreditar nisso enquanto finalmente adormeço, segura nos braços do homem que transformou minha vida de maneiras que nunca imaginei possíveis. Quando abro os olhos novamente, o sol já está brilhando lá fora. Ethan está sentado ao meu lado, trazendo o café da manhã para mim. — Vou sentir falta disso — murmuro, controlando as lágrimas que ameaçam descer antecipadamente. Ele coloca a bandeja no meu colo e afasta uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. — Em poucos dias, estare
Harvard é exatamente como imaginei e, ao mesmo tempo, completamente diferente. O campus é exatamente como vi nas fotos: imponente, histórico, com seus prédios de tijolos vermelhos. Mas nenhuma imagem captura a energia do lugar, o burburinho constante, a sensação de pertencimento. Já faz um mês desde que cheguei aqui e ainda me pego parada no meio do pátio, absorvendo tudo com um misto de admiração e incredulidade. Realmente estou em Harvard. — Mia! Espera! Me viro rapidamente e vejo Anna correndo em minha direção, equilibrando uma pilha de livros. Anna O’Donnell, minha colega de turma e a primeira amizade que fiz aqui. Uma baixinha loira de cabelos cacheados, óculos redondos e o mesmo nível de obsessão por café que eu. — Por favor, me diga que você entendeu o caso Marbury v. Madison, porque passei a noite inteira tentando decifrar as anotações do professor Harrington e continuo perdida — ela implora assim que me alcança. — Bom dia para você também — respondo, sorrindo. — E sim,
“Ethan Hayes” O táxi para em frente ao prédio de tijolos vermelhos que já se tornou tão familiar. Pago a corrida, pego minha mala e verifico o relógio: 18:40. Bem mais cedo do que o horário em que normalmente chego às sextas-feiras. Mas hoje não é sexta-feira. Na verdade, nem é um dia qualquer. Hoje faz exatamente um ano desde a noite que mudou minha vida para sempre. A noite em que uma jovem de olhos desafiadores entrou no meu carro por engano e virou meu mundo de cabeça para baixo. Trezentos e sessenta e cinco dias que transformaram completamente quem eu sou. Subo os degraus, sentindo o peso confortável da pequena caixinha no meu bolso e da pasta com documentos que, espero, mudarão significativamente nossas vidas. Digito a senha da porta e entro silenciosamente. O apartamento está iluminado pela luz da televisão e por um abajur no canto da sala. Uma música lenta toca baixinho. Quando me aproximo da cozinha, vejo Mia. Minha perdição está de costas para a porta, dançando dis
“Três anos depois… Mia Bennett.” O momento é surreal. Três anos de estudo intenso, noites sem dormir, casos jurídicos intermináveis, saudades, choros… tudo para que esse momento chegasse. — Mia Mitchell Bennett. Enquanto atravesso o palco, olho para os rostos na plateia que tornaram tudo isso possível. Meu pai me olha, sorrindo orgulhosamente. Ao lado dele, Lauren enxuga discretamente uma lágrima. Theo e Vitória, que estão morando juntos há alguns meses, aplaudem animadamente. E Ethan sorri enquanto aplaude, me olhando como se eu fosse a única pessoa em toda a cerimônia. Aperto a mão do reitor Lewis, aceito o diploma, e é isso. Oficialmente formada em Direito por Harvard. Meu sonho foi finalmente realizado, mesmo com o adiantamento, com minha quase morte, duplamente falando. Com o diploma em mãos, relembro aquela noite nas mãos de David, em Portland. A recuperação lenta após o tiro de Miranda, as noites em que acordei gritando, revivendo o momento em que ela puxou o