Deitada ao lado de Ethan pela última vez antes da viagem, não consigo dormir. Apesar de estar com ele, é a distância que nos espera que me tira o sono. Em poucas horas, estarei em outro lugar, sozinha, sem ele ao meu lado. Não vou acordar com o café da manhã que ele traz na cama, nem dormir ouvindo-o trabalhar até tarde em seu notebook. Sentindo minha inquietação, Ethan se move e me puxa para mais perto. Me aconchego em seus braços, encontrando conforto no calor dele. — Tudo dará certo — sussurro. Tento acreditar nisso enquanto finalmente adormeço, segura nos braços do homem que transformou minha vida de maneiras que nunca imaginei possíveis. Quando abro os olhos novamente, o sol já está brilhando lá fora. Ethan está sentado ao meu lado, trazendo o café da manhã para mim. — Vou sentir falta disso — murmuro, controlando as lágrimas que ameaçam descer antecipadamente. Ele coloca a bandeja no meu colo e afasta uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. — Em poucos dias, estare
Harvard é exatamente como imaginei e, ao mesmo tempo, completamente diferente. O campus é exatamente como vi nas fotos: imponente, histórico, com seus prédios de tijolos vermelhos. Mas nenhuma imagem captura a energia do lugar, o burburinho constante, a sensação de pertencimento. Já faz um mês desde que cheguei aqui e ainda me pego parada no meio do pátio, absorvendo tudo com um misto de admiração e incredulidade. Realmente estou em Harvard. — Mia! Espera! Me viro rapidamente e vejo Anna correndo em minha direção, equilibrando uma pilha de livros. Anna O’Donnell, minha colega de turma e a primeira amizade que fiz aqui. Uma baixinha loira de cabelos cacheados, óculos redondos e o mesmo nível de obsessão por café que eu. — Por favor, me diga que você entendeu o caso Marbury v. Madison, porque passei a noite inteira tentando decifrar as anotações do professor Harrington e continuo perdida — ela implora assim que me alcança. — Bom dia para você também — respondo, sorrindo. — E sim,
“Ethan Hayes” O táxi para em frente ao prédio de tijolos vermelhos que já se tornou tão familiar. Pago a corrida, pego minha mala e verifico o relógio: 18:40. Bem mais cedo do que o horário em que normalmente chego às sextas-feiras. Mas hoje não é sexta-feira. Na verdade, nem é um dia qualquer. Hoje faz exatamente um ano desde a noite que mudou minha vida para sempre. A noite em que uma jovem de olhos desafiadores entrou no meu carro por engano e virou meu mundo de cabeça para baixo. Trezentos e sessenta e cinco dias que transformaram completamente quem eu sou. Subo os degraus, sentindo o peso confortável da pequena caixinha no meu bolso e da pasta com documentos que, espero, mudarão significativamente nossas vidas. Digito a senha da porta e entro silenciosamente. O apartamento está iluminado pela luz da televisão e por um abajur no canto da sala. Uma música lenta toca baixinho. Quando me aproximo da cozinha, vejo Mia. Minha perdição está de costas para a porta, dançando dis
“Três anos depois… Mia Bennett.” O momento é surreal. Três anos de estudo intenso, noites sem dormir, casos jurídicos intermináveis, saudades, choros… tudo para que esse momento chegasse. — Mia Mitchell Bennett. Enquanto atravesso o palco, olho para os rostos na plateia que tornaram tudo isso possível. Meu pai me olha, sorrindo orgulhosamente. Ao lado dele, Lauren enxuga discretamente uma lágrima. Theo e Vitória, que estão morando juntos há alguns meses, aplaudem animadamente. E Ethan sorri enquanto aplaude, me olhando como se eu fosse a única pessoa em toda a cerimônia. Aperto a mão do reitor Lewis, aceito o diploma, e é isso. Oficialmente formada em Direito por Harvard. Meu sonho foi finalmente realizado, mesmo com o adiantamento, com minha quase morte, duplamente falando. Com o diploma em mãos, relembro aquela noite nas mãos de David, em Portland. A recuperação lenta após o tiro de Miranda, as noites em que acordei gritando, revivendo o momento em que ela puxou o
“Poucos meses depois… Ethan Hayes.” Ajusto a gravata de James pela terceira vez em quinze minutos. Nunca vi meu melhor amigo assim, tão nervoso. — Pelo amor de Deus, James. Fica parado — ordeno, dando um último puxão no tecido. — Se continuar se mexendo, vai parecer que uma criança fez esse nó. — Não estou me mexendo — ele rebate, apenas para imediatamente tocar o colarinho e entortar a porra da gravata de novo. Alec solta uma risada do outro lado da sala, terminando seu próprio nó. — Nunca pensei que veria o dia em que James Bennett, o advogado mais frio de Chicago, estaria suando como um réu no tribunal — comenta, servindo-se de um dedo de whisky. — Vá se foder, Alec — James responde no automático, verificando o relógio pela sétima vez. Alec ri de novo, balançando a cabeça. Pelo menos a presença dele mantém James distraído do nervosismo. — Alguém falou com a Lauren? — James pergunta, servindo-se de uma dose de uísque. — Ela não respondeu às minhas mensagens. — Ta
“Lauren Hayes” O caminho até o altar parece interminável. Cada passo ao lado do meu pai é uma eternidade, como se o tempo tivesse decidido esticar-se só para me torturar. Sinto o peso de todos os olhares sobre mim, duzentos e catorze pares de olhos seguindo cada movimento. Mas é apenas um olhar que realmente importa. James está parado sob o gazebo, entre meu irmão e Alec, mais bonito do que jamais o vi. Quando nossos olhares se encontram, o mundo ao redor parece desaparecer. Sempre achei essa descrição exagerada em livros e filmes, mas neste momento, entendo perfeitamente. Meu pai aperta levemente meu braço, trazendo-me de volta ao momento presente. — Tudo bem? — sussurra, notando minha hesitação momentânea. Assinto, incapaz de falar. Se soubesse que, além do nervosismo típico de qualquer noiva, estou carregando um segredo que, em poucos minutos, transformará este dia em algo ainda mais memorável… Oito semanas. Descobri há quatro dias, após sentir enjoos que tentei atribu
“Mia Bennett” A recepção segue animada no jardim, agora iluminado por centenas de pequenas luzes distribuídas entre as árvores. O efeito é mágico, como se estrelas tivessem sido capturadas e trazidas para mais perto da terra. Sentada em uma das mesas para descansar dos saltos, observo meu pai e Lauren dançando no centro da pista, presos em seu próprio mundo. — Continua processando a bomba que Lauren soltou? — Ethan pergunta, sentando-se no lugar vazio ao meu lado. Seu paletó foi descartado horas atrás, a gravata está frouxa, e ele nunca me pareceu mais atraente. — Sim! — respondo, sorrindo. — Você sabia? — Nem fazia ideia — ele diz, sincero. — Lauren, a pessoa que não consegue guardar um segredo para salvar a própria vida, conseguiu esconder isso de todos. Estou impressionado. — Vou ter um irmãozinho ou irmãzinha depois de vinte e dois anos sendo filha única. Isso é esquisito, não é? — Não mais esquisito do que eu me tornar tio por parte do meu melhor amigo, que agora também é
“Algumas semanas depois… Mia Bennett.”Milão é, sem dúvidas, uma cidade encantadora.A arquitetura histórica contrasta com a modernidade das lojas de luxo.Foi exatamente essa mistura de tradição e inovação que me fascinou nos últimos dois dias, enquanto Ethan participava de algumas reuniões.Hoje, como combinado, iríamos enfim explorar Milão juntos. No entanto, aqui estou eu, sentada na varanda do hotel, admirando a vista da cidade sob a luz da manhã enquanto espero Ethan voltar de algum lugar.Como se ouvisse minhas reclamações mentais, meu celular vibra com uma mensagem dele.“Desculpe por sair tão cedo, meu amor. Precisei finalizar algumas coisas. Que tal um café da manhã para compensar? Me encontre no Caffè Cova às 10h. Avise quando chegar lá. Te amo.”— Bem, então vamos lá — murmuro, bloqueando o aparelho antes de me levantar da poltrona.Como já estou arrumada desde que acordei, pego minha bolsa e saio do quarto, ansiosa por finalmente ter um tempo com meu namorado nessa cidade