Sinto meu coração batendo descompassado e minha respiração se prende à garganta enquanto observo Miranda.Ela não responde de imediato. Em vez disso, seus olhos percorrem meu rosto, atentos a cada detalhe da minha expressão, saboreando meu desespero como se fosse um prêmio.Então, um sorriso pequeno, quase gentil, surge em seus lábios, como se estivesse prestes a dar uma lição a uma criança ingênua.— Porque, ao contrário de você — ela dá dois passos para trás, me analisando —, eu me importo com o Ethan. Me importo com tudo o que ele construiu, com tudo o que ele pode perder por um… capricho. Eu, sim, o amo de verdade. E o amor exige sacrifícios.As fotos continuam em suas mãos, um lembrete cruel do quanto fomos descuidados em Seattle. Do quanto estou sendo egoísta em deixá-lo arriscar tudo.— Pense bem, Mia — ela guarda as fotos na pasta com uma calma calculada. — Se você realmente o ama, como diz, vai fazer a coisa certa. Vai deixá-lo seguir em frente antes que seja tarde demais.—
“Ethan Hayes”O comportamento estranho de Mia durante a tarde inteira não sai da minha cabeça. O jeito como ela evitou meu olhar, como ignorou minhas mensagens…— Sr. Hayes? — Anna, a assistente dos acionistas, interrompe meus pensamentos. — Quer que eu prepare um resumo da reunião agora?— Não precisa — respondo, pegando o celular pela décima vez. Nenhuma resposta ainda. — Pode ir.Ela assente, já acostumada com minha indiferença, e começa a organizar os papéis em cima da mesa enquanto saio da sala de reuniões.Quando finalmente saio do elevador e me dirijo à mesa de Mia, me surpreendo ao vê-la vazia. Nem sinal dela.— Sr. Thompson — chamo, vendo-o organizar suas coisas para ir embora. — Viu a Srta. Bennett?— Ela saiu há algum tempo — ele responde, ajeitando os óculos enquanto se levanta. — Achei estranho, ela sempre espera suas reuniões acabarem. Precisa de alguma coisa?— O resumo da última reunião — disfarço. — Mas amanhã resolvemos isso. Pode ir.Volto para minha sala, afrouxand
“Mia Bennett”O milkshake de baunilha derrete intocado, formando gotas de condensação no copo, enquanto as palavras de Miranda continuam ecoando em minha mente, como se fossem uma rave feita especialmente para me torturar.— Não vai me contar o que aconteceu? — Theo pergunta pela segunda vez, desde que me trouxe aqui. Levanto os olhos para ele, tentando encontrar uma explicação que faça sentido. Desde que ele parou o carro no estacionamento, Theo não parece convencido com minha desculpa.Claro que ele não acreditou. Quem acreditaria na ideia idiota de que meus olhos estavam vermelhos e inchados por conta de uma alergia?— É complicado — finalmente respondo.— Percebi — ele dá um meio sorriso, provavelmente satisfeito por me ouvir falar. — Não é todo dia que te vejo chorando.— Obrigada — digo baixinho. — Por me trazer aqui, por não fazer milhares de perguntas…Theo me observa por um momento antes de cruzar os braços sobre a mesa e levantar uma sobrancelha.— Isso tem a ver com alguém
Após uma noite inteira sem dormir, revirando na cama enquanto a lembrança do olhar intenso de Ethan me perseguia, chegamos à garagem da Nexus.Saímos do carro e, enquanto ajeito a bolsa no ombro, vejo o carro de Theo estacionando. Assim que ele sai, me chama, e isso é suficiente para meu pai agir como o cupido que é, me deixando para trás.— Bom dia, Mia — Theo sorri ao me cumprimentar. — Como você está?— Bem — respondo, tentando soar convincente, mas é óbvio que ele não acredita. — Obrigada por ontem… de novo.— Pode contar comigo. Só não esqueça de avisar seu pai da próxima vez.Sorrio, pronta para responder, quando o som de um carro bem conhecido me faz congelar. Ethan. — Mia? — Theo me chama, e só então percebo que estou encarando fixamente o carro do CEO enquanto ele estaciona.— Eu…— Estava te chamando para irmos — ele explica.Assinto, mas meu olhar permanece preso a Ethan, que agora sai do carro e se aproxima. Theo continua falando enquanto andamos, mas suas palavras se tor
“Ethan Hayes” Assim que termino de falar, Mia fecha os olhos. Suas lágrimas começam a escorrer e meu coração aperta. Ela está chorando… por minha causa. Pelo jeito que falei. Merda. Passo a mão pelos cabelos, me sentindo o pior dos homens. Merda. Ela deve estar me comparando ao desgraçado do padrasto. — Mia… — me aproximo devagar, puxando-a para um abraço. Ela resiste no início, apoiando as mãos no meu peito como se tentasse se afastar, mas não a deixo. — Me desculpe — murmuro, pressionando meus lábios contra o topo de sua cabeça. — Mas a ideia de te perder desse jeito, sabendo que tem algo errado… Não dá para simplesmente aceitar. Acaricio seus cabelos enquanto a sinto tremer em meus braços, o que só aumenta minha aflição. — Por favor, meu amor — sussurro. — Me conta o que está acontecendo. Se você realmente quer se afastar, eu vou aceitar, mesmo que doa. Mas seja sincera comigo. Sinto suas mãos se fecharem desesperadamente em minha camisa, até os dedos tremerem. Então, ela
As batidas hesitantes na porta me tiram dos pensamentos. Respiro fundo e, quando abro a porta, é como se por um momento não fossemos nós.Diferente das outras vezes, Mia não se joga nos meus braços. Ela mantém os braços cruzados, como se quisesse se proteger.— Entra — digo, dando espaço para ela passar.Ela hesita por um momento antes de entrar, parando no meio da sala. A tensão em seus ombros, o modo como suas mãos tremem… tudo nela grita confusão.— Quer beber alguma coisa?— Não — sua voz sai baixa. — Acho melhor irmos direto ao assunto antes que alguém me veja aqui.Estreito os olhos e a encaro, tentando entender esse medo repentino. Precisando encontrar um resquício de calma para não assustá-la, caminho até o bar no canto da sala e me sirvo uma dose de whisky.Através da parede espelhada, observo Mia ainda imóvel, o olhar perdido, os dedos brincando nervosamente na barra da saia…Giro o copo nas mãos antes de levá-lo à boca, como se quisesse me preparar para a conversa que vem p
“Mia Bennett” Um misto de alívio e medo toma conta de mim assim que as palavras saem. Tentei me manter forte, resistir a cada frase da sua declaração… mas como poderia? Como ignorar o homem que amo dizendo que sou o risco que vale a pena correr? Mas agora, ao vê-lo praticamente gritar um “filha da puta”, passar as mãos pelos cabelos e marchar em direção à porta, começo a me arrepender. — Não! — seguro seu braço com força. — Por favor, não piore as coisas. — Piorar? — Ethan se vira para mim, os olhos escuros de raiva. — Você não entendeu que ela está te chantageando, Mia? — Entendi, mas… — Não tem “mas” — ele passa as mãos pelo rosto, visivelmente frustrado. — Ela não pode fazer isso. Muito menos com você. — Por favor — insisto, sentindo minhas mãos tremerem enquanto seguro sua camisa. — Se você for atrás dela agora, só vai dar mais motivos para ela continuar. Ethan fecha os olhos, puxando o ar com força. Posso sentir a tensão emanando dele, a raiva pulsando em cada fibra do
Olho para nossas mãos entrelaçadas, pensando em como chegamos até aqui. Em como minha vida mudou completamente desde que entrei no carro errado. A ideia de magoar James me incomoda, claro. Estamos desenvolvendo um relacionamento que, há poucos meses, eu acreditava ser impossível. Ele se tornou meu pai, o apoio de que nem sabia que precisava. Mas agora, a ideia de perder o homem que amo e que também me ama parece impossível. Mais do que nunca. — Você sempre soube a resposta — murmuro, apertando seus dedos. — Mesmo quando tentei me afastar, mesmo fingindo que não significava nada… você sempre soube. Ou não estaríamos aqui. — Preciso ouvir você dizer. — Quero você — sussurro, finalmente encontrando seus olhos. — Todo o pacote. O CEO arrogante, o homem carinhoso e romântico que ninguém mais conhece, o amigo do meu pai, o cara bem mais velho que não deveria me afetar tanto… — respiro fundo. — Quero tudo. Um pequeno sorriso aparece em seus lábios. — Mesmo sabendo que não vai ser fácil