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A primeira noite na casa

— É sua primeira vez, não é? — Uma mulher, mais velha do que eu, perguntou reparando na minha total falta de jeito, ela está nua e vestindo um sutiã brilhante enquanto eu estou assustada com a desinibição dessas mulheres, que se trocam na frente de todas.

— Sim. — assenti olhando pra qualquer canto.

Eu estou amargamente arrependida de ter aceitado isso. Esse mundo não é pra mim.

Sou a garota que prefere ficar na frente da TV assistindo filmes e séries com meus amigos, usando um pijama folgado e nada atraente. Eu nunca fui a que quer ir a uma festa da universidade, não bebo álcool nem uso drogas, perdi minha virgindade com meu melhor amigo nerd e as maiores relações que tive foi com meu namoradinho antissocial que faz intercâmbio em Paris. Ele nem sonha com isso.

— Okay. Ouvi dizer que você vai cantar. Ótimo. Você canta e a gente dança. — terminou de se vesti. — Veste esse maiô de couro, calça essa bota de veludo e bota essa máscara e luvas pretas, que só vai cobrir seus olhos. Eu usei nos meus primeiros dias. Dá confiança. Ninguém vai saber quem é você. Solta seus cabelos e coloca um batom vermelho. Você é linda. Todos vão adorar. — ela apertou minha bochecha.

— Obrigada. — segurei as coisas que ela jogou em meus braços.

Ninguém pode mesmo me reconhecer. Ninguém pode saber que eu vou fazer isso.

Depois de vestir me olhei em frente ao espelho. Com a máscara eu estou irreconhecível. Nunca usei uma roupa tão curta, nem tão justa. Eu nem sabia que tinha todo esse corpo que agora vejo no espelho.

— Você está linda. — Uma das meninas me elogiou.

— Obrigada. — fiquei envergonhada.

Todas as garotas estão paradas me olhando. Será que eu estou chamando tanta atenção assim? Porque elas estão usando roupas parecidas com a minha!

— A boate está cheia. — Uma mulher entrou no camarim toda animada e me entregou um microfone. — Você fica atrás daquele painel branco.

— Ok. — Seguro o microfone tremendo muito.

— Qual a música que você vai cantar?

Pensei rápido.

— Here, da Alessia Cara.

Depois que eles ajeitaram tudo, fui dando passos mínimos até o lugar que ela havia me orientado, era como se minhas pernas estivessem travando. Nunca fiquei tão nervosa. Meu coração está pra saltar da boca e o frio da barriga prestes a me mandar para o banheiro.

Tudo ficou escuro.

Queria sair correndo. 

 

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