A coisa atrás do homem decidi abrir um enorme sorriso em sua boca deformada e macabra, rasgando a mandíbula daquilo num corte de orelha a orelha, onde também, uma espécie de sangue obscuro e gosmento começa a ser expurgado de dentro da entidade, um refluxo de arrotos aguados prontamente preparados pelas entranhas do monstro foram ouvidos pelo protagonista, cujo líquido escorria até o chão rachado da igreja, responsável por corroer a madeira clareada do mesmo. V se vira, e seus olhos ficam embasbacados ao perceberem a veracidade das hipóteses diante deles. As pupilas dilataram-se de uma forma anormal ao olhar “aquilo”, por completo. Elas procuravam algum esconderijo ao redor dos órgãos do protagonista, apavoradas, ingênuas na análise dos detalhes ameaçadores da criatura.
A primeira reação do homem foi começar a berrar e se contorcer por sua vida. A dificuldade era alguém escutar os prantos dele e resolver ajudá-lo. Para o pobre coitado, parecia não fazer diferença gritar ou cessar os berros, isso foi um reflexo do corpo dele a situação eminente.
V perdia as palavras quando ia tentar explicar o que diabos era aquela merda: Cabelos longos, porém, finos, grisalhos e em péssimas condições; secos, onde seu couro cabeludo era exposto, revelador de várias feridas infeccionadas, além de bolhas envoltas dum sangue de aspecto enferrujado. Bolhas, que pulsavam como batidas de um coração ainda vivo, fora de um indivíduo específico. Um rosto desfigurado, inchado em alguns lugares e magros em outros, coberto por cicatrizes de cortes, espalhadas tanto pela face, quanto pelo resto do torso. Seu tom de pele acinzentado, marcado principalmente nas mãos da “coisa”, se mantém e é visto em todo o restante da silhueta. Um nariz torto e fino, o sorriso maléfico de antes, com dentes mais amarelos que girassóis e mais serrados do que a serra de um marceneiro experiente, rasgariam carne humana com facilidade se essa fosse a vontade da criatura.
O corpo dela estava do jeito que as pessoas vêm ao mundo, nu, tendo seus seios e sua bizarra genital recheados por pelos grossos, todos à mostra. Seu porte físico encontrava-se precário, braços e pernas finos e extensos, cujo os membros inferiores se estendiam até o chão e suas longas pernas davam a ela alguns bons centímetros a mais quando comparada à um humano comum, ela era raquítica. Por fim suas enormes garras, tanto nas mãos quanto nos pés, eram terríveis só de olhar e partiriam fácil uma vaca inteira com um golpe somente.
Aquilo era uma aberração completa, a coisa mais bizarra que V já viu durante todo o percurso de sua vida, mesmo que não se lembre de nada dela. Qualquer um iria dizer a mesma coisa se acabasse por estar de frente com essa merda. O encarcerado faz a única coisa possível diante o seu alcance, caminha para trás, querendo se distanciar daquele monstro horrível, que também o segue na mesma velocidade. Ele vai indo a passos leves e trêmulos, recuando o que podia, até deparar-se com uma ruína da então parede do grande santuário divino... Fim da linha... O homem então, se joga sobre o chão de medo e se encolhe na posição fetal.
O monstro vai o seguindo, com aquele maldito sorriso amedrontador estampado perante seu deformado rosto. A criatura, ao se deparar com o corpo de seu ente, também desiste de continuar, agacha, e começa a cheirar o que seria a sua próxima presa, sem tirar, em nenhum momento, o riso da cara. A “coisa” estende as suas duas patas até o rosto de V, onde aqueles ressecados palmos, de textura nada convencional, entrassem como se espinhos no contato com a pele dele.
Ao sentir o rosto do amado, o monstro começa a acariciar o mesmo, rápidos, leves, rápidos, leves, criando um revezamento entre cada acariciada...e, a cada “carinho”, a “coisa” se enchia de prazer... ao ponto de balbuciar alguns gemidos e orgasmos usando de uma voz duplicada para intensificar tal ato. Um coral de igreja feito por uma alma só. Coral este, que escapava de sua boca horrorosa.
Enquanto o prisioneiro permanecia assustado, desesperado e jogado as traças, “aquilo” se deleitava e se deliciava com aquela situação, ao ponto da aberração, direcionar sua mão direita até as genitais e iniciar um processo de masturbação da carga de recebido do amor platônico de um casamento arruinado. Os orgasmos ficam mais evidentes e em um volume maior do que antes. O lugar é tomado por aquela voz duplicada junto de delírios por um coito proibido, menosprezado pelos que incompreendiam a vontade de uma “dama” alcançar o objetivo dado a ela, utilizando o sexo como arma imensurável.
V não aguenta toda aquela nojeira bem na sua frente, e vomita alguma coisa que digeria dentro de suas entranhas, algum alimento comido antes de ir parar naquela igreja. Ele não aguentava mais... Aquilo era terrível! Algo que não desejaria nem para o seu próprio inimigo!
Mesmo sem escutar os gemidos de prazer da “mulher”, podia ver aquelas garras gigantes e afiadas, cujas pontas, penetravam a vagina daquela coisa e que, por serem afiadas demais, acabaram por gerar cortes no lugar, escorrendo sangue no processo. Sabia que aquela mulher estava louca apaixonada por seu corpo e iria até o fim para possuí-lo...
Após ter vomitado o que comeu, o homem começa a chorar de desespero. “Sanidade” já não existia mais. Se pudesse, se mataria bem ali para acabar com seu sofrimento e dor.
Aquilo então, desiste de cometer nojeiras desnecessárias e, para finalizar de uma vez com a consciência do pobre coitado que ali sofria, ela aproxima sua boca da dele, e, num semblante de pura “ternura” e “alegria”, lhe entrega um beijo de língua, do qual jamais gostaria receber. Aquela língua, parecida com a duma cobra, atravessa a boca do homem, chegando até a sua garganta, engasgando-o por completo.
Para o monstro, este era o ato de maior prazer que poderia alcançar em toda sua existência. Melhor do que qualquer sexo que ela já tenha feito, ou qualquer simples masturbação em seu tempo livre, não... Aquilo... Era mágico! A maior prova de amor! Um beijo em seu “amado”! Nada de desejos carnais... Um romance. desgraçado de grotesco, e assustador para alguns, porém, delicioso, de um jeito sádico, para outros.
Para nosso protagonista você se pergunta? ... Bom... Ele cedeu, desistiu e desmaiou. Não aguentou mais nenhuma tortura psicológica que aquela vadia fez ou faria nele. Com certeza o maior trauma de sua vida, algo que ele jamais esquecerá, algo impossível de arrancar das pálpebras...
Sentindo a vida se esvair de seu corpo, prestes a perder os sentidos e morrer da forma mais desonrosa possível, a “mulher” decidi aplicar o golpe de misericórdia no homem abalado: Durante o seu beijo de língua “mágico”, ela começa a golfar diversos insetos de diferentes tipos na boca de V, que vão se espalhando pelo restante de seu corpo.
Insetos de diferentes formas e tamanhos, desde pequenas pulgas, até centopeias gigantescas, cada um com suas características. As patas, rastejavam ao redor do que seria o banquete para seus estômagos, onde aproveitavam para comer a carne de uma presa ainda viva e assustada com os predadores que lhe espreitam, analisando e “brincando” com a comida antes de atacarem. Caminhavam por orifícios inimagináveis, desde a cabeça até os buracos mais profundos e escuros de um ser humano comum... Sinto leve dó ao contar este tipo de descrição...
Os insetos, quando se sentiram cansados de apenas rastejar sem um rumo específico, resolvem sugar a energia vital do prisioneiro de dentro para fora, transmitindo a mesma para a barriga do monstro criador destas belas criaturinhas, que vai inchando ao decorrer que a energia é sugada, enchendo cada vez mais e mais, até sugar por completo qualquer recurso do corpo de V, sem sobrar nem uma gota de água sequer. O homem, esgotado e flagelado, acaba sendo deixado em um estado de desnutrição e fraqueza jamais vistas. Um zumbi que não come a muitos dias. Esquelético, vazio e gelado.
A aberração depois de seu “banquete”, pragueja uma gargalhada maquiavélica duplicada, como em um coral de igreja, (que ironia não?). Parecia um demônio... Enquanto ela ria, o corpo de V é deixado de lado, como lixo, prestes a ser despejado, do qual nem os urubus conseguiriam se alimentar daquela carniça sem energia alguma.
Os altos risos que ecoavam por aquela igreja, ou o que restou dela, (e, também, nos últimos resquícios dos quais a sanidade de V permitia raciocinar) são atrapalhados, de uma vez. Parecia um pesadelo que atormentaria até os mais fortes... Não só parecia, como era em sua essência...
O homem acorda aos berros, com os olhos bem abertos, e vê-se em um vácuo escuro, que parecia não ter um fim de verdade. Um vazio deslumbrante como a luz de uma noite sem postes, e quente como o mais frio dos corações de espíritos sem sentimentos... Um paradoxo, assim como a antítese mais ambígua que poderíamos ter... O vazio existencial...
O prisioneiro até tenta enxergar algum ponto de referência ao seu redor, mas não existe nada por ali, apenas a profunda e silenciosa escuridão. O lugar é tão vazio, que nem possui um piso decente. Sendo assim, o corpo de V, simplesmente, está levitando naquele “lugar” melancólico, não conseguindo se mover para nenhuma direção, paralisado. Parecia que uma força o impedia de seguir em frente. Ele se debatia, a fim de ver se conseguia alguma resposta, porém não adianta.
Sem muitas opções ao seu favor ele faz a única coisa ao seu alcance, gritar por alguém e por socorro:
— Olá! Tem alguém aqui?! Alô! Por favor! Alguém me ajuda, por favor!
V começa a derramar lágrimas de seus olhos, vendo que já não aguentava mais um segundo daquele “pesadelo”.
Pobre coitado. Não sabia nem como, ou porque, havia parado naquela droga de prisão. Estava cansado de ter tantas dúvidas. Chegou a conseguir algumas preciosidades. Contudo elas iam e vinham em sua cabeça, sobrecarregada de cargas nada boas.
As perguntas se restringiam apenas a prisão, onde N respondeu algumas delas... Bem... Isso até esse pesadelo ter começado a se materializar. Era difícil entender o que aconteceu com sua vida anterior. A amnésia que o afetou foi muito forte, e o fez esquecer de tudo... Por isso ele chora. Um choro que não é apenas por tristeza, não, nada disso. Aquilo é a mais pura representação do que sua alma sofria naquele momento. Um trauma que não pode ser apagado... Outros no meio de vários já esquecidos... Ele apenas queria sair dali e viver a sua vida pacata e sem graça de forma normal. Fingir que nada aconteceu e seguir adiante.
Com esses pensamentos, V se lembra das palavras de N antes de desmaiar e se ver naquela igreja infernal e diz com voz de choro:
— Desculpa N... O medo paralisou o meu corpo e não pude fazer nada. Não sabia o que eu iria esperar depois que as luzes se apagaram... Aquela coisa estava apaixonada por mim? Só de pensar nessa hipótese meu estômago já começa a se revirar... Aquilo era um demônio! a noiva se transformou naquela coisa? Por que?
Com mais esses questionamentos sobre a mesa imaginária de V, luzes começaram a ser acessas, fazendo um caminho em direção ao homem que grita de desespero:
— Ei! Espera! Fica longe de mim! Me deixa sair! ME DEIXA SAIR!
As luzes se aproximam cada vez mais de V... Porém, elas param de segui-lo no momento em que a última luz é ligada, bem na frente do corpo que ficava suspenso no ar.
No final desse caminho o prisioneiro consegue enxergar, bem ao longe, uma sombra escura, que caminhava, com passos lerdos, também em direção a ele. V grita com aquela silhueta perguntando:
— Por que está vindo em minha direção?! O que é você?! Por que eu estou preso aqui?! ME RESPONDA!
A sombra ignora as perguntas do homem, e continua andando em seus passos pequenos e tranquilos sobre a trilha de luz.
A entidade, assim como as luzes, diminui o seu passo e, tendo ela em sua frente, V observa as características físicas da silhueta com muito mais clareza. Tratava-se da figura de uma mulher. Tinha a altura de um adulto normal, um corpo magro, mas nada exagerado, cabelos longos que chegavam ao final de suas costas e, por fim, o corpo possuía um contorno de seios, leves e pequenos. Pouco agressivos se comparados ao da mulher da igreja.
O homem, perplexo, faz uma pergunta à sombra da mulher:— Quem, ou o que, é você?A mulher responde com uma voz feminina normal, levemente mais fina do que o convencional:—Nomes são fúteis quando se vive numa realidade onde as coisas deixarão de existir se medidas drásticas não forem tomadas com certa urgência.Entendendo nada do que ela quis dizer, outra pergunta é posta contra a sombra, por parte do prisioneiro, cuja disposição é motivada pela curiosidade, por consequência, ele indagou:— O que você quer dizer com esse enigma? Realidade? Existir? Medidas drásticas? Vocês falam outra língua, ou minha interpretação dos fatos é péssima?A sombra ignora mais uma vez os dizeres de sua “visita” ... Apenas complementa o que dizia antes:&m
V então diz:— Nunca falei que seria uma história feliz sobre fadas e princesas em um castelo distante.N meio zonzo por causa da náusea e do vomito, responde com a voz rouca e seca.— Caralho V! É pior do que eu pensava!N tosse um pouco por ter se engasgado com o a gosma vomitada e continua:— Tenho que te ajudar o mais rápido possível!V então diz ao amigo:— Entendeu agora o porquê de meu desespero? Enfim, não me pergunte o significado disso tudo ter acontecido, pois eu não faço ideia do objetivo disso.— Deixa eu só te perguntar mais uma coisa.— Diga.— O que o espelho significa?— Já disse, não entendi porra nenhuma do que aconteceu naquele lugar. Quando eu acordei, vi que o espelho tinha se divido ao meio sem
V pergunta a um dos guardas onde ficava o banheiro e, com um simples gesto sem dizer uma palavra sequer, o soldado aponta o dedo indicador a direção correta. Dentro do lugar, o prisioneiro lava o rosto na pia, tirando as gotas de sangue que respingaram, já seca desde o ocorrido, o que dificultava um pouco para retira-las. Aproveita também, para dar uma boa mijada e aliviar a bexiga cheia.Outros prisioneiros também estavam no banheiro. Entretanto, a presença dos nobres cavalheiros era tão inexistente, que V se sentiu isolado um silêncio absoluto, tanto que conversava sozinho sem ser julgado.Ao terminar de fazer suas necessidades básicas, o homem dirigiu-se ao refeitório a fim de “comer” e recuperar algumas energias. V pega uma das bandejas de metal e começa a esperar a sua vez de receber certa quantidade de comida.Chegada a su
Um homem acorda, inesperadamente, em um lugar do qual ele nunca havia visto ou estado antes. Um espaço nada convencional, do qual uma pessoa jamais pensaria, ou queria estar em sã consciência, onde sonhos são destruídos e esmagados. Ninguém sabe o que acontece nessa zona... Entretanto, não se importam tanto com esta informação (já que ela pode custar até a sua própria vida). Ainda abrindo seus olhos, piscando forte a fim de terminar essa ação o quanto antes, além de balançar a cabeça com a finalidade de dar uma mexida no cérebro, ele percebe onde ele se encontrava, conseguindo enxergar o seu arredor, cujo ambiente, ainda guardaria coisas que o senhor não receberia de braços abertos. Aquele cenário não lhe agrada nem um pouco... Ele grita, e clama por explicações: — Ei! Onde diabos eu estou?! Por que eu estou aqui?! Alguém me responda! Ninguém atende as suas dúvidas. Os guardas que carrega
— O amor é uma dor... Disso eu sei mesmo sem ter vivido essa sensação com este corpo... O prisioneiro comenta sobre a fala de N. — Fiquei morando dentro de um apartamento velho, bancado pelo salário que recebia quando trabalhava como caixa de mercado. E a história do contador volta ao fluxo normal, com ele ainda ambicioso em narrar seus dizeres. — Mas as contas se acumularam, e o dinheiro não estava mais rendendo tanto como eu gostaria. O emprego já não pagava o mesmo de antes, pois, o mercado estava indo à falência. Sorte pertence aos bem aventurados... Ela nunca me acompanhou muito. O síndico do lugar já se encontrava puto com a minha presença, e disse, que se eu não conseguisse pagar os boletos até o final do mês, eu seria despejado. O desespero me tomou... Poucos dias depois, o lugar onde trabalhava acabou falindo de verdade, fechando as portas de uma vez por todas... Uma súbita pausa é feita pelo “narrador” do conto... F
Seus risos logo foram cortados pelas luzes do corredor principal, cujas iluminações se apagaram uma por uma, chegando cada vez mais perto de ambos. A escuridão deixada por cada luminária em seu rastro, remetiam a uma forte tempestade de trevas, da qual engoliria o ambiente por meio de uma mandíbula de vazio. Nenhuma luz acessa, somente o eterno breu. N desesperado tenta avisar V do perigo eminente, indo aos gritos, de forma alucinada, com toda a vontade que sua voz alcançava: — V! INDEPENDENTE DO QUE ACONTECER, TOME CUIDADO E NÃO SE DEIXE LEVAR. PERMANECA FORTE ATÉ O ÚLTIMO MINUTO! V não consegue expressar nada. O assombro fez a sua boca paralisar mediante a um tormento desgostoso preso entre a ponta da língua e o céu da boca, responsável por arranhar a garganta do senhor, engolindo seco logo em seguida. A reação de seu amigo foi genuína. O mesmo ficou assustado com aquelas luzes se apa