Um vento frio e cortante nos atingia fortemente, fazendo o cabelo dourado de John voar para seu rosto. Eu ainda estava em seu colo, e ele parecia procurar um lugar no chão para me deitar. Fechei os olhos quando percebi o que tudo aquilo significava. Era esse lugar que havia despertado minhas memórias quando cheguei ao castelo. Era a esse lugar que o príncipe Matthew havia se referido como perigoso quando dissera que eu precisava lembrar-me do meu passado. Apesar de ter tido aqueles flashes de memórias, eu ainda não me recordava do que havia acontecido — pelo menos não completamente e com detalhes —, mas não estava certa de que queria mesmo saber.
Meu sangue gelou quando ouvi galhos se quebrarem. Eu olhei para Jonathan, mas ele estava ocupado procurando a fonte do som. A floresta era cheia de animais selvagens e perigosos, e muitos deles saíam para caçar à noite. E, pior que isso: havia bárbaros que aproveitavam a falta de segurança do castelo para esconderem-se entre as árvores e tentarem saquear o lugar. Eu não duvidaria se um homem surgisse dos arbustos com uma espada na mão e tentasse nos matar, porque ele certamente reconheceria Jonathan como o príncipe herdeiro. O pior de tudo era que, se algo acontecesse conosco, a culpa seria toda minha.
O ar da sala pareceu ficar enquanto o rei me encarava por longos segundos, parecendo fazer um imenso esforço para controlar a raiva. Eu tentei manter a compostura e não fraquejar, embora fosse imensamente impossível. Quando ele finalmente desviou os olhos dos meus, foi para fixar em um ponto abaixo de meu pescoço. Eu suspirei levemente, aliviada, mas depois percebi que não havia me livrado da situação. Apenas entrado em outra ainda pior.Os olhos dourados do rei lentamente cresceram até ficarem de um tamanho humanamente impossível, preenchidos d
Cinco dias se passaram e, durante todos eles, eu não parei de me fazer perguntas um único segundo. Como Matthew sabia de tudo o que havia me contado? Quem apagou minhas memórias? Por que o rei me chamara de bruxa, e como ele e meu pai se encaixavam em tudo isso? E, o mais importante, quem matou meus pais biológicos?Obviamente, quando perguntei essas coisas para Matthew, ele não respondeu. A nenhuma delas. "
Jonathan e eu não conversamos sobre o que houve na torre, mas ambos sabíamos que algo mudou lá. Ele ainda estava proibido de me ver, porém isso não impediu que continuasse me fazendo visitas e me levando para conhecer o imenso castelo. Em segredo, é claro. Pouco a pouco, voltamos a nos falar e o príncipe parecia mais aberto e feliz do que já o tinha visto. Acho que amigos fazem isso com você. Durante alguns dias, tudo pareceu voltar a como era quando cheguei. Ou quase tudo.
Tudo em meu corpo doía. Da cabeça aos pés, cada osso, cada músculo e cada nervo pareciam estar em fogo, e a dor lancinante me deixava paralisada. Tive forças para abrir os olhos e piscar algumas vezes, ajustando minha visão aos poucos. Encarei algo vermelho à minha frente e demorei alguns segundos para perceber que era a parte da cortina da minha cama de dossel que escondia o teto. Eu estava em meu quarto. Como havia chegado ali? Ou será que nunca havia saído? Tentei mexer a cabeça, mas só o que consegui fazer foi movê-la para o lado alguns cent
Eu permaneci na frente do quarto de Jonathan durante mais de dez minutos. Não conseguia criar coragem o suficiente para bater na porta, então apenas a encarava. Isso é ridículo, disse para mim mesma. Você tem mais coragem do que isso, Catherine Fairway. E, se tiver que ir embora, então irá, sem reclamar. Acontecerá o que for melhor para ambos. Ainda assim, continuei parada.
— Você está brilhando — Matthew disse, assim que eu entrei em meu quarto após o jantar, algumas horas depois do acontecido na biblioteca. Eu me assustei. Não havia notado sua presença, um corpo esguio deitado na cama, a luz fraca da lua refletindo em seu cabelo negro e deixando-o azul. Seus olhos o faziam parecer um gato, as fendas finas rodeadas por uma íris amarelo-esverdeada brilhante.
— Tem certeza de que quer fazer isso? — Jonathan perguntou, segurando meu braço quando paramos em frente ao quarto da condessa. Depois do que Íris me contou, eu a confortei quanto à decepção amorosa e pedi milhares de desculpas por ter se botado em risco em meu nome. A criada, como sempre, riu de meu desespero e disse que ficaria bem. Eu acreditei, porque nunca tinha conhecido alguém tão forte quanto aquela garota e estava admirada com sua capacidade de superar as dificuldades. “Eu não estava tão apaixonada, na verdade” dissera ela.