Cíntia não me deixava em paz. Ela me desafiava de uma maneira que ninguém mais conseguia. Eu tentei ignorá-la, tentei me distanciar. Mas, toda vez que ela falava, cada palavra dela tinha um peso que eu não sabia como carregar. A pergunta dela me pegou desprevenido, e eu sabia que eu tinha falado o que precisava ser dito, o que era mais fácil. Não somos amigos. Nunca fomos.Mas as palavras dela, a maneira como ela me encarou, me atingiram de uma forma que eu não esperava.“Eu não tenho culpa de você achar que nós poderíamos ficar juntos. Não tenho culpa, Henrique.”Fiquei parado, ouvindo. Aquilo foi mais do que eu podia processar naquele momento. Eu queria gritar, queria dizer tantas coisas, mas tudo que saiu foi aquele silêncio tenso entre nós. Eu não queria mais me envolver, não queria mais me confundir. Por que ela não podia simplesmente entender que não era mais sobre nós? Que não havia nada entre nós? Eu só queria que ela fosse embora.Fiquei com a mente turva, sem saber como reag
Depois de uma noite terrível, quase não dormi. Fiquei repassando o confronto que tive com o Henrique na cozinha, cada palavra, cada olhar frio que ele me lançou. Era como se eu estivesse falando com um estranho. Doía saber que ele sentia raiva de mim. Doía mais ainda saber que ele não queria interagir comigo. Durante o tempo que ficamos juntos, Henrique nunca foi grosseiro. Nunca foi rude. Ele sempre me tratou com paciência, com respeito, com um carinho silencioso que me fazia sentir segura. Ele era minha segurança. Minha compreensão. Meu porto seguro. E agora ele havia mudado completamente. Frio. Indiferente. Irritado comigo. Ele disse que fui embora. Jogou isso na minha cara como se fosse algo imperdoável. Mas ele não enxergava? Não entendia que ir embora foi a escolha mais difícil da minha vida? Deixá-lo para trás me partiu ao meio. Houve noites em que quase peguei o telefone para ligar. Dias em que tudo que eu queria era ouvir sua voz, sentir seu abraço, voltar para aqu
Henrique me confundia. Na noite anterior, ele havia deixado claro que não queria interagir comigo, que não era meu amigo, e agora, ali estava ele, me pegando no colo, me ajudando a voltar para a ilha. Aquele gesto parecia contradizer tudo o que ele tinha dito, e isso me deixou ainda mais perdida. A dor no pé me lembrava constantemente da realidade, mas a confusão na minha mente era mais forte. O que ele queria de mim? Por que esse comportamento tão contraditório? O silêncio entre nós aumentava a tensão. Ele não dizia nada, parecia estar concentrado em me carregar até o local seguro, mas seus olhos se fixavam no caminho à frente, como se quisesse se afastar da conversa, ou da complicação que tínhamos nos tornado. Eu queria perguntar, queria entender, mas, ao mesmo tempo, o peso das palavras de ontem ainda pesava em minha mente, me impedindo de abrir minha boca. Será que ele estava apenas sendo gentil por obrigação? Ou havia algo mais ali, algo que ele ainda não tinha dito? Eu não
Fiquei mais alguns minutos ali, observando Cíntia respirar suavemente. O silêncio do quarto era quase hipnotizante, e eu deveria simplesmente levantar e ir embora. Mas algo me mantinha preso àquela poltrona, como se sair dali significasse deixá-la para trás de novo.Passei as mãos pelo rosto e soltei um suspiro pesado. Eu estava me contradizendo o tempo inteiro. Disse a ela que tinha seguido em frente, que minha vida nunca esteve tão boa, mas estava ali, sentado ao lado dela, incapaz de ir embora.Olhei para o relógio no celular. Já estava ali há mais de uma hora. Sabrina provavelmente estava esperando que eu fosse encontrá-la, e o resto do grupo devia estar voltando da trilha.Levantei-me devagar, tentando não fazer barulho. Peguei uma garrafa de água que estava sobre a mesa e a deixei ao lado da cama, caso ela acordasse com sede. Antes de sair, dei mais uma olhada para ela.Talvez fosse o efeito do remédio, mas ela parecia ainda mais frágil ali deitada. O cabelo loiro bagunçado sobr
Assim que a Cintia subiu pro quarto, esperei alguns minuto e bati na porta. — Entra — Cíntia respondeu do outro lado. Empurrei a porta devagar, encontrando-a sentada na cama, vestindo uma camisola de seda. Seus cabelos ainda estavam úmidos do banho, e o tecido fino delineava suas curvas de um jeito que me fez prender a respiração por um instante. Mas eu logo me repreendi mentalmente. Não era o momento para isso. Ela ergueu os olhos para mim, a expressão neutra, mas o brilho no olhar denunciava que sua mente estava longe de estar tranquila. Eu sabia que, se não dissesse algo rápido, o silêncio entre nós tomaria proporções incômodas. Então, me obriguei a falar: — Você está bem? Ainda sentindo alguma dor no pé? Cíntia soltou um suspiro leve, como se minha pergunta fosse previsível. — Ainda dói um pouco, mas nada insuportável. O médico me deu um remédio forte, então estou bem melhor. Ela me observou por um momento, e eu senti como se estivesse sob análise. Havia algo nos o
O sol estava quente, e a brisa salgada que vinha do mar tornava o clima mais agradável. Aproveitei para vestir um biquíni e me deitar na espreguiçadeira, deixando minha pele absorver um pouco da luz dourada da manhã. Apesar de já estar bronzeada, sentia falta daquela sensação de calor na pele. Carol se aproximou e se sentou ao meu lado, ajustando os óculos escuros no rosto. — Você nem entrou na piscina, não foi ao mar… Essa viagem só serviu pra te machucar — comentou, cruzando as pernas e me observando com uma expressão de leve culpa. Soltei um riso leve, girando o rosto em sua direção. — Sobre praias e piscinas, estou ótima. Eu estava na Tailândia, não tenho do que reclamar. Estou feliz mesmo é de reencontrar todos vocês. Ela sorriu com a minha resposta. — Esqueci desse detalhe — disse, inclinando-se para trás na cadeira. — Mas seria bom aproveitar as águas de Ilhabela também. Meus olhos vagaram até a piscina, onde Ana e Felipe brincavam na água. — Sem dúvidas. Mas qu
Acordei com a luz suave do sol entrando pela janela, meu corpo relaxado e quente, envolto pelo lençol macio. A sensação era boa, mas algo não parecia certo. Quando abri os olhos, percebi que a cama estava vazia. Henrique não estava ali. Sentei-me na beirada da cama, o peito apertado, a mente ainda meio embaçada. A noite anterior havia sido… indescritível. Ele devia ter descido para a cozinha ou algo assim. Levantei-me devagar, ainda sentindo seu cheiro em minha pele, como se os beijos e os toques dele estivessem impregnados em mim. Caminhei até o banheiro, tentando afastar a sensação de vazio, mas ela persistia, a ideia de que ele não estava ali ao meu lado. O banho quente não apagava a memória da nossa noite. Ao contrário, me fazia reviver cada detalhe, cada sensação, e isso me deixava feliz, mas também cheia de incertezas. A nossa conexão parecia estar mais forte, mais intensa. Mas, ao mesmo tempo, eu não sabia se estava preparada para enfrentar o que isso significava. Depois
Fazia quase um mês desde a noite em que fiquei com a Cíntia. A noite em que tudo poderia ter mudado entre nós. Naquela noite depois que a Cintia adormeceu , meu pai ligou e pediu pra que eu voltasse pra BH com urgência para resolver alguns imprevistos que tinham surgido. A forma como Cíntia se entregou a mim… como nos encaixamos tão perfeitamente, como se o tempo não tivesse passado. Foi intenso, foi visceral. Foi tudo o que eu passei anos tentando esquecer. Eu pensei em acordá-la antes de partir, dizer que precisava ir, mas que aquilo não precisava terminar ali. Eu queria dizer isso. Queria que ela soubesse que, para mim, não tinha sido apenas mais uma noite. Mas aí veio o outro pensamento, aquele que sempre me perseguia quando se tratava de Cíntia: nós não tínhamos nada. Ela não morava ali. Nem em lugar nenhum. Ela não tinha um destino fixo, não tinha raízes, não ficava. Ela iria embora também, em algum momento. E então, talvez pela primeira vez, eu fiz o que ela fez c