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Prazer, minha noiva "falsa"
Prazer, minha noiva "falsa"
Por: Joelma Dejesus
Capítulo I: Retorno a Carleon

Narrado por Eva Solis:

Era mais um dia comum de semana, trabalho e escola, e, por mais que tudo parecesse costumeiro, as folhas de outono cruzando o chão cinza de pedras nova-iorquino, as misturas de aromas de café, flores e cigarros, não consegui ignorar como meu coração batia pesado enquanto seguia o caminho habitual para a escola de Isabela.

A rotina matinal era uma espécie de rito, um momento de tentativa de conexão com minha filha de três anos, mas a comunicação, como sempre, se limitava a sorrisos e palavras sem muito sentido. Apesar disso, a sua companhia me deixava muito feliz.

— Olá, querida, como está o dia hoje? — perguntei a Isabela, tentando capturar a sua atenção, com um tom animado, mas o sorriso, como sempre, não veio de volta, e seus olhos buscavam por todos os lados, como se procurassem uma fuga dos meus.

Seus olhos são grandes e curiosos, mas ela não me responde. O que me fez apenas sorri, tentando manter o clima leve. O silêncio de Isabela, porém, era uma constante que eu não conseguia ignorar, mesmo sabendo que ela sempre seria assim. Ainda assim, eu não me conformava com as teorias dos médicos.

Depois de deixar minha filha na escola, era o momento de seguir para a empresa de perfumes onde trabalho como recepcionista: a Salus Perfumaria. Não é uma empresa de grande porte, mas está em crescimento. A sala de recepção, como sempre, está cheia do aroma suave e sofisticado dos perfumes, uma atmosfera que eu já conheço perfeitamente. Entre o cheiro das essências e o som das conversas ao fundo, sempre busco me concentrar nas tarefas do dia.

Foi somente ao final do expediente que a realidade bateu forte. Quando Fátima, minha amiga mais próxima, ligou para o telefone da recepção, não pude deixar de notar sua voz preocupada assim que atendi a chamada.

— Eva, você pegou a Isa na escola e não me disse nada? — perguntou-me com voz chateada. Eu ainda ia demorar um pouco para sair, pois a senhora Ine ainda estava em reunião na sua sala. Isso me fez sorrir vagamente; será que Fátima estava brincando comigo, tentando me trolar com outra piada?

Apenas ergui uma sobrancelha, notando a seriedade de Fátima do outro lado da linha.

— O que aconteceu? — perguntei, pensando em como levar adiante a situação, era óbvio que ambas estavam tentando me assustar.

— Isabela não está na escola — anunciou Fátima, com um sussurro angustiado.

O que parecia ser uma brincadeira me fez congelar. Se fosse uma piada, seria de muito mau gosto. Afinal, o tom de Fátima era tão verdadeiro que minhas pernas começaram a fraquejar. Sem pensar, desliguei a chamada e iniciei outra imediatamente, ligando para a escola, mas a resposta foi a mesma: não havia sinal de Isabela desde o início do dia.

O pânico instalou-se rapidamente em mim. Passei dois dias em um estado de frenesi, vasculhando cada canto da cidade, contatando amigos, vizinhos, qualquer pessoa que pudesse ter visto algo. Minha mente estava numa tempestade de desespero e incerteza. A busca era exaustiva e a sensação de impotência quase me fez desistir, mas eu nunca conseguiria.

Isabela é minha filha, verdadeira e legítima.

Foi quando a polícia me chamou para uma conversa. As imagens das câmeras de segurança mostravam-me saindo da escola com Isabela, vestindo as mesmas roupas que usava pela manhã, ou, se não fossem idênticas, eram muito parecidas.

Entrei em choque, cheia de incertezas naquele momento. A insegurança de haver algo de errado comigo fez-me negar com veemência qualquer envolvimento no desaparecimento da minha filha. A dúvida e o medo de ser acusada pesavam sobre mim como uma nuvem escura, sequer confiava no que os meus olhos viram naquelas filmagens.

Naquele instante, meu telefone tocou e eu atendi com tremor na voz, desejando que fosse algum conhecido que tivesse encontrado Isabela. Sequer atentei-me ao numero desconhecido. — Alô?— Meus amigos e conhecidos conheciam da situação de Isabela e do meu cuidado excessivo com ela.

— Eva, é Ezra — a voz do outro lado da linha era fria e calculista.

Ezra, minha irmã, nunca foi uma figura acolhedora. Na verdade, sua presença na minha vida sempre foi marcada por rivalidade e hostilidade.

— Ezra, o que você quer? — perguntei, tentando manter a calma. Eu não queria falar com ela, não naquele momento. Aquelas pessoas haviam ficado para trás em minha vida. Desde que cheguei aqui, foi para um recomeço. Já se passavam três anos, não, quatro anos que não nos víamos.

— Não se faça de desentendida. Se você não vier a Carleon imediatamente, farei com que sua filha pague por isso. — A ameaça foi clara e cortante, fazendo-me saltar da cadeira. Como era possível?

Meu mundo girou. Carleon, o lugar de minhas lembranças mais dolorosas, estava agora de volta à minha vida de maneira aterradora. Junto com a madrasta cruel, o pai ausente, a irmã implacável e o namorado que me abandonou ao saber da gravidez — todos os fantasmas do passado estavam de volta?

Com o coração pesado e a mente cheia de medo, eu sabia que não tinha escolha. Eu não poderia arriscar a vida de Isabela. Com Fátima ao meu lado, que se ofereceu para me acompanhar, preparei-me para o retorno a Carleon, a minha situação não era boa, meu estado deplorável.

A viagem foi silenciosa, com a tensão palpável no ar. Cada quilômetro que me aproximava de Carleon parecia trazer de volta todas as dores do passado. Recordava-me das brigas com Ivone, das decepções com Ezra, da ignorância do meu pai diante dos acontecimentos e, principalmente, do abandono de Aquiles Ramão, meu ex-namorado. Cada lembrança era um golpe em meu coração, tornando o retorno ainda mais doloroso.

Quando chegamos à cidade, o sentimento de opressão tornou-se quase físico. Carleon não havia mudado muito — os mesmos edifícios antigos, as mesmas ruas que pareciam apertar as lembranças dolorosas ao meu redor. Sentia-me encolhida sob o peso de memórias tão amargas e dolorosas.

Ezra avisou-me que estava me esperando em uma casa antiga, o mesmo lugar que crescemos na infância. As lembranças dela eram frias e autoritária.

O dia em que retornei a Carleon é marcado por uma combinação de medo e nostalgia. A cidade que eu havia tentado deixar para trás agora me recebe com um abraço gelado e opressor, como se o passado nunca tivesse realmente ido embora. Cada rua, cada edifício carrega uma memória pesada, um lembrete constante das feridas que eu tentei esquecer.

Ao chegar à entrada da velha casa, senti um nó em meu estômago. A casa era a mesma, com suas paredes desgastadas e o jardim mal cuidado. Muito havia mudado desde a última vez em que eu esteve aqui, o que tornava a situação ainda mais assustadora. Ezra estava esperando na varanda, com um olhar frio e calculista, como se estivesse disposta a tudo para me matar.

Mal adentrei o mausoléu, meus olhos a procuravam por todos os lugares possíveis, mas nenhum sinal de Isabela foi percebido.

— Finalmente, Eva — cumprimentou-me Ezra com um sorriso frio. — Como você pode ver, não estou brincando. Se você não colaborar, Isabela sofrerá as consequências.

Apenas engoli em seco, sabendo que, apesar de todo o meu desejo de retornar a Nova York, eu precisava enfrentar o passado para garantir a segurança de minha filha. Com um nó na garganta, preparei-me para o confronto com os demônios de minha infância, determinada a fazer qualquer coisa para proteger a minha filha.

Meu retorno a Carleon era inevitável. Eu só não entendia por que Ezra tinha tanta pressa em me trazer de volta, já não havia me magoado, humilhado e roubado o bastante?

Nossos olhares mantiveram-se fixos e, sem suportar mais, e olhar ao redor, perguntei:

— Onde está a minha filha, Ezra? O que você quer com tudo isso?

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