Enquanto aguardava, o trio de viajantes fez uma refeição rápida para repor as forças. Aquele local dava calafrios, a escuridão rodeava a clareira e no céu sem estrelas, não parecia brilhar qualquer astro.
O grupo jamais havia estado em um lugar tão sombrio. Foi então, que decidiram acender uma tosca fogueira com gravetos secos e desligaram as lanternas para poupar a bateria. Dru arriscou alguns palpites:
- Porque este lugar é tão estranho? Será que estamos dentro de uma bolha?
À medida que o fogo diminuía, a escuridão ficava mais intensa, provocando uma sensação estranha, porque as sombras pareciam perscrutar os viajantes.
Vitina estava atenta a qualquer movimento e por instinto, decidiu alimentar o fogo:
- Vamos deixar o fogo aceso, assim Bram poderá nos encontrar com mais facilidade.
A ideia inspirou Dru e Roddie que foram caçando inúmeros gravetos ao redor. Conforme a fogueira iluminava a paisagem, o trio sentia-se mais reconfortado
Bram a tranquilizou: - Você irá sentir muito calor e até mesmo um pouco de náuseas. Mas não se preocupe, é um efeito passageiro do tônico. A jovem assentiu com um sinal afirmativo com a cabeça. Ela ainda não conseguia falar - devido ao seu estado de letargia – mas Bram compreendia com clareza a urgência da situação: aqueles três humanos estavam confusos, desorientados e tiveram parte das forças vitais sugadas pela escuridão. No entanto, o explorador sabia que faltava um viajante naquele grupo e perguntou: - Onde está o Dr. Meine? Dru Ruver sacudiu de leve os ombros e espalmou as mãos para cima, como se dissesse: “Eu não sei onde ele está”. - Mas o Dr. Meine estava com vocês? A jovem afirmou um sim com o polegar. - Ele esta aqui neste lugar? Novamente Dru fez um sinal positivo. - Onde ele está? Em que direção ele foi? A jovem esticou o braço esquerdo na direção sudoeste da clareira. Bram r
Foi quando ruídos vindos da direção sudoeste a distraíram e a silhueta do explorador de Kathumaram, definiu-se através da escuridão. Com a tocha na mão, como que abrindo um atalho seguro nas sombras, Bram se aproximou trazendo Meine nos ombros. Dru foi ao encontro dele, notando a sua fisionomia de preocupação. A jovem ajudou-lhe com Meine que foi colocado ainda inconsciente perto das tochas acesas. - Ele vai ficar bem? - perguntou Dru receosa. - Não sei dizer, não há garantia que ele consiga se recuperar. Dru engoliu em seco para absorver o choque, mas não disse nada. Então, Bram observou: - Você já parece estar recuperada. Mas vejo que seus amigos não tiveram a mesma sorte! - Eu não sei o que há com eles! Eu segui as instruções, será que fiz algo de errado? Eu dei o tônico, metade para cada... Bram fez um sinal de pare com a mão, interrompendo-a. - É certo que você não fez nada de errado. Na verdade, você não poderia ter feito
A travessia pela Zona da Escuridão Profunda era lenta. Bram carregava Meine nos ombros e guiava o grupo iluminando o caminho com a tocha. Após o explorador e em fila seguiam Vitina, Roddie e finalmente Dru na retaguarda com outra tocha. Durante a travessia, Dru colocou Bram a par de todos os acontecimentos. O explorador de Kathumaram ficou alarmado ao saber que os homens modernos haviam confiscado os presentes dele. - Mas porque estes homens confiscaram as capas de viagens e os outros apetrechos? - Eu acho que é para estudar a composição. Talvez, pretendam reproduzi-los para uso militar, pelo menos é o palpite de Meine. - Que mundo estranho é o seu! Os homens modernos não têm invenções mais sofisticadas? E as máquinas que voam pelo céu? As naves que cruzam o espaço? Mesmo assim, eles precisam roubar antiguidades? - Dito assim soa engraçado! - sorriu Dru, mas Bram não achou graça alguma. - É claro que todas estas invenções modernas exis
Após a caminhada áspera, o grupo deixou a Zona da Escuridão Profunda. Ao cruzarem a última borda, uma fenda cavernosa demarcava o fim do território. Então, os fugitivos avançaram pela fenda escura e úmida e após percorrerem um longo túnel subterrâneo, chegaram à fronteira das Terras Gélidas. Finalmente do lado de fora da cavidade foi possível contemplar a luz do dia. A temperatura baixa fazia com que Dru já batesse os dentes de frio. Bram nem deu atenção e anunciou: - Chegamos bem a tempo de prosseguirmos antes de a neve cair! - Mas aonde vamos achar abrigo? Está muito frio! - Se ainda tivessem as capas de viagem, não sofreriam com a temperatura. - Eu sei disso! Mas acontece que não temos mais as malditas capas de viagem. E precisamos rápido achar um abrigo, senão vamos morrer congelados! Como que sentindo o desespero na voz da jovem, Bram declarou: - Hoje não haverá tempo de morrer. Lá vem a nossa ajuda: batedores se aproximam
Dru Ruver dormia profundamente quando um grito aterrador reverberou com intensidade. O grupo de viajantes acordou em sobressalto e a jovem correu para socorrer Meine que gritava e se debatia contra um inimigo invisível. Bram tentou conter Meine: segurou-lhe os braços imobilizando seus movimentos abruptos. - Calma! Calma! Está tudo bem! – Dru falava sem parar tentando reconfortá-lo. Mas nem a contenção de Bram e nem as frases encorajadoras da jovem pareciam surtir efeito. Logo, dois batedores entraram na antessala para verificar o que estava acontecendo. Um deles começou a conversar com Bram, que pôs-se em pé e acompanhou o batedor. Antes de sair o explorador de Kathumaram disse: - Meine precisa de medicação. O batedor vai fornecer algumas ervas e algas para o preparo. Fique aqui, vigiando-o! - Combinado! - respondeu Dru por impulso. Meine disferia golpes pelo ar, como se tentasse livrar-se de algo ou alguém. A jovem permaneceu a
Na manhã seguinte Roddie acordou meio zonzo e totalmente alienado dos acontecimentos. O trio se reuniu para o desjejum enquanto Dru informava Vitina e Roddie sobre os fatos: - Nós chegamos aqui ontem à tarde! - Eu não me lembro de dar um passo sequer para fora da clareira! - disse o rapaz. - E os pesadelos? Você teve algum? - quis saber Vitina. - Muitos pesadelos! Eu tentava acordar e não conseguia... Foi quando Bram, após checar as condições do cartógrafo em tom grave informou: - Meine ainda não recobrou a consciência. - Isto é muito ruim?- especulou Vitina. - Se a inconsciência dele se prolongar, eu temo que não haja mais nada a fazer. - Como assim?- inquiriu Roddie. - Se ele não conseguir acordar, ele vai dormir para sempre? - especulou Dru. - Essa é uma questão muito mais complexa – ressaltou Bram - Se a inconsciência persistir a mente dele ficará presa na Zona da Escuridão Profunda pela eter
Roddie, Vitina e Dru não pouparam esforços: durante toda a tarde empregaram diversas táticas para acordar Meine. O trio tentou de tudo: conversar, chacoalhar, gritar, mas nada parecia funcionar. Foi quando Roddie teve uma ideia brilhante: - Vamos colocá-lo em pé! As garotas o ajudaram. Foi então que Roddie e Bram passaram a arrastar o cartógrafo de um lado para o outro, no intuito de fazê-lo andar. Após alguns minutos, o corpo de Meine começou a reagir com movimentos voluntários. Bram solicitou a um batedor mais uma porção de ervas e algas e deu instruções para Dru preparar uma xícara fumegante da solução. Enquanto o forçavam a andar, Vitina se aproximou do cartógrafo, abrindo-lhe a boca e forçando-o a beber alguns goles da solução. O cartógrafo tomou a solução e durante duas horas foi forçado a andar. Após tantos movimentos, ele balbuciou algo em um som inteligível. O grupo comemorou e Bram sugeriu: - Água! Ele deve beber muit
Na manhã seguinte, o Dr. Filipe Meine finalmente recobrou a consciência. Ele estava fraco e abatido, contudo havia despertado do pesadelo que o assombrava nos últimos dias. Bram o aconselhou a se concentrar na sua recuperação física e principalmente psicológica e disse: - É prudente concentrar-se no momento atual, isto o ajudará a desvencilhar-se das sombras. Você passou muito tempo inconsciente e é raro recuperar-se. Você sente alguma dor? - Eu me sinto exausto e meu corpo está bem dolorido, por vezes, me sinto um pouco confuso tentando entender o que realmente aconteceu. - É compreensível. No entanto, mantenha sua atenção para os fatos presentes, esqueça explicações e guarde as perguntas para depois do café-da-manhã. - Ótimo, porque estou faminto! O casal Kupis permaneceu adormecido durante algumas horas sobre a generosa saliência do rochedo. Foi quando um vento gelado e uivante vindo do noroeste despertou Ada. Assim que ela a