A travessia pela Zona da Escuridão Profunda era lenta. Bram carregava Meine nos ombros e guiava o grupo iluminando o caminho com a tocha. Após o explorador e em fila seguiam Vitina, Roddie e finalmente Dru na retaguarda com outra tocha.
Durante a travessia, Dru colocou Bram a par de todos os acontecimentos. O explorador de Kathumaram ficou alarmado ao saber que os homens modernos haviam confiscado os presentes dele.
- Mas porque estes homens confiscaram as capas de viagens e os outros apetrechos?
- Eu acho que é para estudar a composição. Talvez, pretendam reproduzi-los para uso militar, pelo menos é o palpite de Meine.
- Que mundo estranho é o seu! Os homens modernos não têm invenções mais sofisticadas? E as máquinas que voam pelo céu? As naves que cruzam o espaço? Mesmo assim, eles precisam roubar antiguidades?
- Dito assim soa engraçado! - sorriu Dru, mas Bram não achou graça alguma.
- É claro que todas estas invenções modernas exis
Após a caminhada áspera, o grupo deixou a Zona da Escuridão Profunda. Ao cruzarem a última borda, uma fenda cavernosa demarcava o fim do território. Então, os fugitivos avançaram pela fenda escura e úmida e após percorrerem um longo túnel subterrâneo, chegaram à fronteira das Terras Gélidas. Finalmente do lado de fora da cavidade foi possível contemplar a luz do dia. A temperatura baixa fazia com que Dru já batesse os dentes de frio. Bram nem deu atenção e anunciou: - Chegamos bem a tempo de prosseguirmos antes de a neve cair! - Mas aonde vamos achar abrigo? Está muito frio! - Se ainda tivessem as capas de viagem, não sofreriam com a temperatura. - Eu sei disso! Mas acontece que não temos mais as malditas capas de viagem. E precisamos rápido achar um abrigo, senão vamos morrer congelados! Como que sentindo o desespero na voz da jovem, Bram declarou: - Hoje não haverá tempo de morrer. Lá vem a nossa ajuda: batedores se aproximam
Dru Ruver dormia profundamente quando um grito aterrador reverberou com intensidade. O grupo de viajantes acordou em sobressalto e a jovem correu para socorrer Meine que gritava e se debatia contra um inimigo invisível. Bram tentou conter Meine: segurou-lhe os braços imobilizando seus movimentos abruptos. - Calma! Calma! Está tudo bem! – Dru falava sem parar tentando reconfortá-lo. Mas nem a contenção de Bram e nem as frases encorajadoras da jovem pareciam surtir efeito. Logo, dois batedores entraram na antessala para verificar o que estava acontecendo. Um deles começou a conversar com Bram, que pôs-se em pé e acompanhou o batedor. Antes de sair o explorador de Kathumaram disse: - Meine precisa de medicação. O batedor vai fornecer algumas ervas e algas para o preparo. Fique aqui, vigiando-o! - Combinado! - respondeu Dru por impulso. Meine disferia golpes pelo ar, como se tentasse livrar-se de algo ou alguém. A jovem permaneceu a
Na manhã seguinte Roddie acordou meio zonzo e totalmente alienado dos acontecimentos. O trio se reuniu para o desjejum enquanto Dru informava Vitina e Roddie sobre os fatos: - Nós chegamos aqui ontem à tarde! - Eu não me lembro de dar um passo sequer para fora da clareira! - disse o rapaz. - E os pesadelos? Você teve algum? - quis saber Vitina. - Muitos pesadelos! Eu tentava acordar e não conseguia... Foi quando Bram, após checar as condições do cartógrafo em tom grave informou: - Meine ainda não recobrou a consciência. - Isto é muito ruim?- especulou Vitina. - Se a inconsciência dele se prolongar, eu temo que não haja mais nada a fazer. - Como assim?- inquiriu Roddie. - Se ele não conseguir acordar, ele vai dormir para sempre? - especulou Dru. - Essa é uma questão muito mais complexa – ressaltou Bram - Se a inconsciência persistir a mente dele ficará presa na Zona da Escuridão Profunda pela eter
Roddie, Vitina e Dru não pouparam esforços: durante toda a tarde empregaram diversas táticas para acordar Meine. O trio tentou de tudo: conversar, chacoalhar, gritar, mas nada parecia funcionar. Foi quando Roddie teve uma ideia brilhante: - Vamos colocá-lo em pé! As garotas o ajudaram. Foi então que Roddie e Bram passaram a arrastar o cartógrafo de um lado para o outro, no intuito de fazê-lo andar. Após alguns minutos, o corpo de Meine começou a reagir com movimentos voluntários. Bram solicitou a um batedor mais uma porção de ervas e algas e deu instruções para Dru preparar uma xícara fumegante da solução. Enquanto o forçavam a andar, Vitina se aproximou do cartógrafo, abrindo-lhe a boca e forçando-o a beber alguns goles da solução. O cartógrafo tomou a solução e durante duas horas foi forçado a andar. Após tantos movimentos, ele balbuciou algo em um som inteligível. O grupo comemorou e Bram sugeriu: - Água! Ele deve beber muit
Na manhã seguinte, o Dr. Filipe Meine finalmente recobrou a consciência. Ele estava fraco e abatido, contudo havia despertado do pesadelo que o assombrava nos últimos dias. Bram o aconselhou a se concentrar na sua recuperação física e principalmente psicológica e disse: - É prudente concentrar-se no momento atual, isto o ajudará a desvencilhar-se das sombras. Você passou muito tempo inconsciente e é raro recuperar-se. Você sente alguma dor? - Eu me sinto exausto e meu corpo está bem dolorido, por vezes, me sinto um pouco confuso tentando entender o que realmente aconteceu. - É compreensível. No entanto, mantenha sua atenção para os fatos presentes, esqueça explicações e guarde as perguntas para depois do café-da-manhã. - Ótimo, porque estou faminto! O casal Kupis permaneceu adormecido durante algumas horas sobre a generosa saliência do rochedo. Foi quando um vento gelado e uivante vindo do noroeste despertou Ada. Assim que ela a
O casal Kupis se arrastou pela passagem - o túnel era apertado e úmido - entre as montanhas e tinha um odor fétido. A circunferência estreita permitia apenas ao casal engatinhar pela passagem. O labirinto era composto por uma trilha principal e outras passagens e conforme adentraram pela passagem, o casal pode ouvir estranhos ruídos que pareciam soar de outras galerias. Atenta Ada cochichou: - Devemos estar numa espécie de toca. Há passagens menores e laterais, talvez, sejam rotas de fuga. - Você está certa, vamos o mais rápido possível. Porque não desejo descobrir que tipo de criatura vive neste lugar! Ada se arrastou com mais velocidade e Oscar a seguia de perto. A passagem após alguns metros começava a inclinar-se: - Bom sinal, estamos subindo! - declarou Ada. De repente uma sombra sorrateira passou em uma fração de segundos por uma abertura lateral. Oscar Kupis ainda tentou definir ou imaginar detalhes sobre a criatura. Ele estava totalmen
No meio da noite dois batedores das Terras Gélidas se aproximaram da biga e sorrateiramente observaram se os viajantes estavam adormecidos. Um deles cutucou Bram com veemência, chamando-o várias vezes. Pressentindo o perigo e a estranha investigação, Meine fingiu estar dormindo assim como seus companheiros de viagem e observou o movimento dos batedores com os olhos semi cerrados. No acampamento o comandante da expedição dava ordens de modo frenético e logo os batedores se retiraram. O cartógrafo achou todo aquele movimento muito estranho e se esforçou para acordar os companheiros. Meine chacoalhou Bram, Dru, Vitina e Roddie, mas eles não acordaram de nenhum modo e o cartógrafo frustrado não pode relatar a situação. Em poucos minutos a caravana e os habitantes das Terras Gélidas desmontaram o acampamento e escapuliram em disparada. A única coisa deixada para trás foi a biga de viagem e seus ocupantes. Lá dentro a única testemunha do abandono e desolaçã
A missão de resgate partiu, munidos de suprimentos e velozes corsárias, um grupo formado por dez experientes exploradores de Kathumaram responderam de imediato ao chamado de Bram. Durante a espera o grupo permaneceu dentro da biga para manter-se aquecido. Por sorte, os viajantes humanos ainda tinham em suas mochilas três latas de sopa, barras de cereais e muitos biscoitos. Bram queria abster-se de sua cota, mas o grupo insistiu: “se você não comer, nós não comemos”. O explorador ainda quis argumentar “Minha fisiologia permite-me recusar a oferta”. Contudo os viajantes humanos foram categóricos cada um afirmou a seu modo “se não fosse por você, ninguém aqui estaria vivo”. Mas foi Meine quem tocou os brios do explorador afirmando: - Estamos todos juntos nesta aventura e temos repartido a responsabilidade e o afeto. Um dia, talvez, alguém conheça a nossa história. Hoje devemos permanecer vivos para celebrar juntos a esperança! No entardecer do terc