Chiara estava deitada em sua cama, as luzes apagadas e o silêncio tomando conta do quarto. Mas a tranquilidade não alcançava seus pensamentos. Ela se lembrava de Aki dizendo estar resfriado, e a lembrança da conversa com Martina logo surgiu em sua mente. Martina tinha sugerido, com aquela voz maliciosa de sempre, que ela fosse até o apartamento dele para ver se ele precisava de alguma coisa."Afinal, homens são terríveis quando estão doentes", tinha brincado Martina, rindo. Chiara, tentando disfarçar a ideia que se formava em sua cabeça, apenas tinha sorrido.Agora, com o coração acelerado e cheia de dúvidas, Chiara olhou o relógio. Eu vou ou não vou? Pensou, já quase se convencendo de que deveria ficar onde estava. Mas algo dentro dela a fez levantar e, em um impulso, vestir uma roupa simples e confortável. Em poucos minutos, estava caminhando em direção ao apartamento de seu capitão.Ela chegou ao prédio de Aki e tocou a campainha. O silêncio do outro lado aumentava sua preocupação
Aki despertou devagar, os olhos ainda pesados de sono. A febre parecia ter diminuído, embora restasse uma leve dor de cabeça e uma tosse persistente. O quarto estava calmo, envolto na luz suave da manhã que se filtrava pelas persianas. Sentado na beira da cama, ele fechou os olhos por um momento, sentindo o corpo se recuperar aos poucos. Fragmentos da noite anterior vieram à mente, ele lembrava-se de alguém, do toque suave de uma mão e de uma voz gentil que o ajudara a se deitar.Olhou ao redor e notou, em cima do criado-mudo, um bilhete escrito à mão, com uma letra delicada e caprichada que parecia destoar de qualquer coisa que ele associaria a Dario. Confuso, ele pegou o papel e leu, os olhos percorrendo a mensagem de forma lenta, absorvendo cada palavra. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios, enquanto a gratidão e um toque de surpresa se misturavam.Chiara chegou à quadra parecendo que tinha passado a noite em claro — e, foi exatamente isso que aconteceu. As olheiras marcavam
No dia seguinte, o ginásio estava repleto de energia. Aki, agora recuperado, decidiu que descansar mais um dia seria exagero – afinal, vôlei era sua vida, e ficar longe da quadra só o deixava inquieto. Assim que entrou, a primeira coisa que viu foi Luca correndo atrás de Dario, ambos rindo como crianças em um pátio de escola.Aki encostou-se na parede por um momento, observando os dois. Seus olhos pararam em Dario, e flashes daquela noite invadiram sua mente, o cuidado, os gestos gentis, o bilhete com uma caligrafia delicada demais para um homem. Ele franziu a testa, percebendo algo que nunca tinha notado antes. Dario era muito pequeno, de traços delicados, um tanto quanto femininos demais. A ideia absurda de que talvez ele pudesse ser uma mulher passou por sua cabeça, mas Aki afastou o pensamento rapidamente. "Isso é impossível", murmurou para si mesmo antes de avançar em direção ao time.— Capitão! — Luca gritou ao vê-lo, parando no meio da quadra. — Finalmente! Eu senti sua falta,
Chiara ainda estava no vestiário, sentindo o cansaço do treino e um pouco de dor em seu tornozelo, mas nada que fosse preocupante. O som do chuveiro ecoava pelo espaço vazio, enquanto ela tirava seu uniforme rapidamente. O dia havia sido longo, e tudo que ela queria era ir para casa e finalmente relaxar.Luca, como sempre, havia sido seu apoio fiel, mantendo-se por perto enquanto os outros jogadores se trocavam e saíam. Ele tinha até brincado antes de sair, dizendo.— Vou dar um espaço para você, mas qualquer coisa, grita. Não demoro nem dois segundos para voltar.Ela riu, grata pela sua presença. Mas o que Chiara não sabia era que Luca, assim que recebeu uma mensagem de Martina, não pensou duas vezes antes de correr pelo corredor, ansioso para ver a garota que estava ocupando sua mente ultimamente. Ele saiu tão apressado que nem se deu conta de que tinha deixado Chiara sozinha.Chiara respirou fundo, aproveitando a tranquilidade do momento. O vestiário estava completamente vazio, e e
O som dos tênis deslizando na quadra ecoava pelo ginásio. Chiara olhava para os próprios pés, ainda sem acreditar que estava realmente fazendo aquilo. Enquanto caminhava para iniciar seus treinos com sua melhor amiga, Martina, sua mente voou diretamente para aquele fatídico dia.Dario, sorrindo no centro da quadra, pronto para mais um treino com a sua namorada. Chiara sentada na arquibancada, como fazia de costume, acompanhando os movimentos rápidos do irmão. Martina ao seu lado mexendo no celular como sempre, planejando seu próximo rolê.Ninguém mais estava no ginásio. Era uma noite tranquila, e Dario aproveitava seu tempo de descanso antes do início da temporada. Para ele, não havia forma melhor de relaxar do que jogar uma partida com sua namorada, Elena.Tudo parecia normal até que...O impacto. O som seco de Dario caindo no chão. O grito de dor que quebrou o silêncio do ginásio.Por um segundo, Chiara congelou. Era como se o mundo tivesse parado. Seu irmão, o jogador mais ágil que
Montelago - ItáliaSetembro de 2024O sol da manhã invadia o pequeno apartamento em Montelago, mas o brilho que ele irradiava não parecia alcançar Chiara. Ela estava de pé em frente ao espelho, estudando o próprio reflexo. O corte de cabelo curto ainda era um choque, mesmo depois de alguns dias, ela ainda não tinha se acostumado com o seu novo visual.— Bom dia, Dario — murmurou para si mesma, tentando imitar o tom descontraído e confiante do irmão. A voz soava estranha, como se fosse alguém que ela não conhecia.Ela ajeitou o cabelo curto, suspirando. O visual estava perfeito. Daria para enganar qualquer um pelo menos, era isso que ela esperava.— Não fique se estressando tanto — disse Martina, entrando na sala com uma xícara de café na mão e um sorriso no rosto. — Você está parecendo ele. Agora só falta acreditar nisso.— Fácil para você falar — Chiara respondeu, passando as mãos nervosamente pelos cabelos. — Você não vai estar lá fingindo ser outra pessoa.Martina riu.— Verdade, m
O silêncio tomou conta do apartamento após a pergunta de Roberto. Chiara sentia o olhar pesado do pai sobre ela, e seu coração batia acelerado. O corpo parecia paralisado, mas sua mente trabalhava rápido, buscando uma forma de explicar tudo.Roberto deu um passo à frente, com o rosto marcado pela raiva contida. Ele passou a mão pelos cabelos grisalhos e voltou a fitar Chiara, o tom de sua voz saiu cortante.— Então, me expliquem. Que merda vocês fizeram? — repetiu, mas dessa vez a pergunta parecia mais dirigida a ela.Chiara engoliu em seco, sem saber por onde começar. O olhar de seu pai fazia com que se sentisse pequena, como se cada palavra pudesse ser um erro fatal.— Pai, calma. — Dario interveio, tentando suavizar a tensão. — Aconteceu um acidente, você sabe como essas coisas são. Eu não posso jogar por um tempo.— Um acidente? — Roberto interrompeu, o tom mais alto e incrédulo. — Isso não justifica essa loucura. — Ele virou-se para Chiara, os olhos fixos nela como lâminas. — E vo
Chiara estava sentada no sofá apenas pensando no que havia acontecido. Dario já havia ido descansar, deixando-a sozinha para esperar Martina. O toque da campainha a trouxe de volta à realidade.Ela se levantou rapidamente e abriu a porta. Lá estava Martina, com a expressão preocupada.— E aí, o que rolou? — perguntou Martina, sem rodeios, entrando no apartamento como um furacão.Chiara soltou um suspiro pesado, fechando a porta atrás de si.— Vamos para o quarto, não quero acordar o Dario — sugeriu ela, apontando para o corredor.As duas caminharam até o quarto, e assim que se sentaram na cama, Chiara começou a contar tudo. Cada palavra dita por Roberto, cada olhar cheio de julgamento. Ela tentou manter o tom neutro, mas a dor era visível. Martina ouviu em silêncio, mas suas expressões falavam por si.Quando Chiara terminou, Martina explodiu.— Eu juro, Chiara, esse homem é um desgraçado! — começou ela, jogando as mãos no ar. — Que tipo de pai faz isso? Como ele pode tratar você assim?