Seu tom desdenhoso já me irrita levemente, mas eu mantenho a pose, mesmo com uma pontada de medo pelos seus visíveis mais de um metro e noventa.
— Você deve ser Elijah. — Levanto a mão para cumprimentá-lo, mas ele apenas cruza os braços.
— E você é a tal Delyon, você ao menos sabe o que está fazendo aqui, realmente? Quando meu pai disse que tinha contratado outra babá, não achei que ele estivesse falando de uma adolescente. — Eu recolho minha mão e respiro fundo enquanto reprimo um xingamento.
— Primeiramente, sim, eu sei o que estou fazendo aqui. E em segundo lugar, não gosto do seu tom, se você acha que pode me tratar dessa forma, não espere que eu seja gentil. — Mesmo não tendo uma visão clara dos seus olhos, sinto que ele está olhando no fundo dos meus.
— Hayden…
Briana puxa meu braço, para que eu me afaste um pouco. Provavelmente um lembrete educado para que eu saiba meu lugar, mas Elijah poderia ser o rei da Inglaterra, não vou deixar ninguém falar comigo desse jeito.
— Vamos ver quanto tempo você vai durar aqui. — E com isso, ele fecha a porta na nossa cara. Solto um suspiro que nem sabia que estava segurando e coloco uma mão na testa, me sentindo um pouco tonta.
— Me desculpa por isso, Hayden. Você está bem, querida? — Ela me apoia e coloca uma mão na minha testa, como que conferido minha temperatura. Ela me lembra minha mãe.
— Estou bem, acho melhor eu ir tomar um banho e tentar dormir um pouco.
— Parece uma boa ideia. — Ela me leva até a porta do meu quarto com cuidado, como se estivesse com medo de que eu pudesse cair em algum momento.
— Obrigada pelo tour, Briana. — Ela sorri e acena com a cabeça.
— Tente descansar um pouco, se você sentir fome pode pegar o que quiser na cozinha.
— Certo, obrigada, Briana. — E com outro sorriso educado ela sai do quarto me deixando sozinha.
Eu me jogo na cama e olho para o teto por um segundo antes de me sentar novamente e olhar em volta, finalmente me dando conta do quão lindo é esse quarto, mas as duas portas no canto me chamam a atenção imediatamente, quase tanto quanto as belas portas de vidro que levam até a varanda. Tons pastéis, um tapete felpudo, uma escrivaninha e uma penteadeira com espelho e luzes, todos eles foram gentis em preparar esse lugar assim. Mas o que o Eli disse “Quando meu pai disse que tinha contratado outra babá…” realmente me incomodou. Quantas outras vieram antes de mim? Por que deixaram o emprego? Por que Dimitri não mencionou nada disso antes? Ele definitivamente deveria tê-lo feito!
Me levanto, vou até uma porta no canto do quarto e me deparo com um banheiro enorme. Meu apartamento antigo caberia dentro desse quarto, tenho certeza que minha cozinha era menor que esse banheiro!
Ando até a banheira e a ligo em uma água quente, certamente preciso de um longo banho de banheira para relaxar os músculos depois de uma longa viagem e do breve encontro com um certo ex-fuzileiro naval. A deixo enchendo e saio do banheiro para abrir a porta que tem ao lado dessa. Meu queixo cai quando eu entro em um closet chiquérrimo, nem nos meus melhores sonhos eu teria algo assim! Passo a mão pelos móveis de madeira clara e olho em volta mais uma vez antes de voltar para o quarto, afinal deixei a torneira da banheira ligada, não quero que transborde.
Tiro a roupa e coloco meu celular para tocar minha playlist favorita enquanto espero que a banheira chega a um bom nível de água, o que não demora muito inclusive. Jogo alguns sais de banho que encontrei no armário embaixo da pia e logo estou submersa na água morna.
— Graças a Deus… — Sussurro sentindo os nós nos meus ombros diminuírem um pouco a tensão.
Respiro fundo o cheiro de lavanda liberado pelos sais e deito minha cabeça na beirada da banheira. Tenho que pensar num jeito de me comunicar com o Eli, mas como ele claramente não parece muito disposto a uma conversa franca e direta, talvez eu deva colocá-lo contra a parede e ser dura sobre como serão as coisas daqui para frente. É um tiro no escuro, mas definitivamente, ser gentil seria mil vezes mais fácil se ele não tivesse agido daquele jeito logo na primeira vez que nos vimos!
Meu celular toca um som irritante, porém familiar, que anuncia que alguém está me ligando. Estico um braço para fora da banheira e o alcanço com um pouco de dificuldade.
— Alô?
— Oi, filha, pelo horário, acredito que você já tenha chegado na casa do tal Allen.
— Sim, já cheguei, acabei de entrar na banheira. — Ela faz um som surpreso.
— Você tem uma banheira?! — Eu rio.
— Tenho, e um closet. — Minha mãe suspira um “uau” prolongado do outro lado da linha. — O quarto é maravilhoso e meus colegas de trabalho são muito legais.
— Ah minha filha, que bom! Mas e o seu paciente, já conheceu ele? Como ele é? — Ela parece bem ansiosa, com certeza mais que eu.
— Calma mãe, eu vou contar tudo mas… não são onze da manhã aí? Você não deveria estar ajudando a Ayla com o almoço?
— Eu tinha que ligar para você! Além do mais, ainda é cedo. — Balanço meus dedos na água agora morna. — Então, me diz como é aí. É bonito?
— Sim. É tudo tão chique na casa, e as paisagens lá fora são incríveis. Mas como vou aproveitar essa noite para descansar, amanhã eu vejo melhor o lado de fora desse lugar quando eu sair do horário de trabalho.
— Ah, sim, você já vai começar amanhã de manhã, certo? — Penso sobre o que a Briana disse sobre o Eli sair às cinco para fazer a caminhada, pode ser uma boa maneira de fazer contato.
— Sim, bem cedinho inclusive, acho melhor eu desligar.
— Eu entendo meu amor, tenha um bom descanso e quando tiver um tempinho livre me ligue para contar as novidades, e caso eu esteja no escritório, ligue para a sua irmã.
— Claro, mãe, deixa comigo. — Eu tenho que perguntar, eu preciso saber. — Mãe…
— Se for sobre Jackson, ele não entrou em contato novamente. — Eu respiro fundo, aliviada. Eu e minha mãe sempre tivemos essa conexão, mesmo longe podemos adivinhar o que estamos pensando.
— Que bom, fico mais tranquila.
— Hayden, você está em outro país, um novo emprego, pessoas novas, novas oportunidades, você tem que aproveitar sua vida a partir de agora e curtir o que Harlley tem a oferecer. Inclusive, sempre que puder, vá a outros lugares. Visite Londres, aproveite o Reino Unido ao máximo. — Eu sorrio.
— Vou manter isso em mente. — Respiro fundo. — E mãe, antes que eu desligue, conseguiu m****r o resto das minhas coisas?
— Sim, vai chegar aí para você amanhã ou depois.
— Obrigada, mãe.
— De nada, meu amor, nós nos falamos depois.
— Tchau.
Desligo o celular e coloco música de novo, mas só fico mais alguns poucos minutos na banheira e a água fica fria. Eu saio da banheira, visto um roupão bem quentinho e saio do banheiro em seguida. Vou até a as portas da varanda e fico maravilhada com a vista do jardim, dos outros prédios pequenos dessa enorme propriedade, a quadra de tênis, a piscina e todo o resto, as belas montanhas azuladas no horizonte e o céu esbranquiçado de nuvens de chuva.
— Eu posso me acostumar com isso.
Falo com um sorriso e olho em volta, o quarto do Eli tem varanda também, mas não está interligada a do meu quarto. Quer dizer, não totalmente interligada, o que separa as duas é um muro de no máximo um metro e trinta de altura. Fico tentada a bisbilhotar, mas me contenho e volto para o meu quarto.
Espero que minhas coisas cheguem o quanto antes, eu trouxe meu notebook, celular e algumas roupas, mas não sei se consigo sobreviver muito tempo sem meu cavalete, quadros e pincéis, vou precisar comprar algumas tintas novas, mas isso é o de menos. Desfaço as malas de um jeito preguiçoso e a única coisa que deixo fora do guarda roupas é meu pijama cumprido – a calça tem uma estampa de patas de urso e o bolso da minha blusa tem o rosto de um urso pardo, mas é o mais confortável que tenho.
Me jogo na cama e me afundo nesses travesseiros de penas, me aconchego debaixo dos lençóis quentes e fofos, aproveito esse colchão que provavelmente foi caríssimo e, quando estou quase pegando no sono, ouço gritos altos e graves, me levanto como um raio e corro para fora do quarto. Os gritos continuam e vêm do quarto de Elijah, eu não hesito por um segundo, abro as portas e o vejo se contorcendo na cama.
— Elijah! — Chamo por ele e me aproximo, sento na beirada da sua cama e seguro seus ombros.
— Owen, não! — Ele grita do fundo de sua garganta, como se sua vida dependesse disso.
— Elijah, está tudo bem, por favor, acorde!
Ele segura meus pulsos com força e me joga para o lado, ele fica por cima de mim e me prende como se realmente estivesse disposto a me matar. Mas, de repente, seus olhos se fixam nos meus como se estivesse me vendo pela primeira vez e seus dedos afrouxam em volta dos meus pulsos. Então vejo pela primeira vez a lateral do seu rosto, iluminada pela luz fraca que vem da janela, tem uma longa cicatriz em sua bochecha esquerda e outra que atravessa o canto da sobrancelha do mesmo lado.
— O que você pensa que está fazendo?! — Ele fala entre os dentes, controlando a raiva.
Eu franzo o cenho, decidida a usar o que eu aprendi nas minhas aulas de defesa pessoal. Então o prendo entre minhas pernas e faço força com o quadril, inverto nossas posições e saio de cima dele o mais rápido possível, voltando a sentar na beirada da cama.
— Você estava gritando. — Mas a raiva dele não parece diminuir.
— Isso não é da sua conta! — Ele se levanta, me pega pelo braço e me arrasta para fora do quarto. — Não entre aqui de novo! — A porta bate com força e consigo ouvi-lo trancar.
— Eu só estava tentando te ajudar! — Grito na frente da porta.
— Eu não pedi a sua ajuda. — O escuto dizer e bato na porta, mas quando não recebo resposta, volto para o meu quarto.
Ah, mas isso não vai ficar assim de jeito nenhum! Eu me recuso a deixar as coisas assim, esse cara vai saber do que sou feita logo, logo. Coloco meu alarme para às quatro e quarenta e cinco, determinada a não perder essa caminhada por nada. Fora que eu também quero dar uma boa olhada no rosto dele às luz do dia. Me pergunto o que aconteceu para ele ter aquelas cicatrizes, provavelmente não são as únicas que ele tem.
Separo um moletom, uma calça legging e meu par de tênis de corrida, me sinto ansiosa de repente, amanhã vai ser um longo dia.
Acordo com o despertador tocando de um jeito estridente e irritante, eu praticamente pulo da cama e visto a roupa que deixei separada ontem, calço meu tênis, amarro meu cabelo em um rabo de cavalo e me olho no espelho.— Acho que vou tirar essas tranças… — Falo sozinha e brevemente distraída com meu próprio reflexo. — Vamos lá,Hayden. Concentração! — Dou tapinhas leves nas minhas bochechas para forçar meu cérebro a focar. — Eu não sei a rota de caminhada dele…Sento no banco da janela me sentindo frustrada, quando de repente escuto a porta ao lado abrir e então fechar em seguida. Sorrio de um jeito travesso e dou passos cuidadosos até a minha porta, o escuto andar lentamente, uma batida suave me chama atenção, talvez ele use uma muleta ou bengala.Coloco a cabeça para fora do quarto bem a tempo de v&ec
Quando eu volto a entrar na biblioteca de uma forma totalmente natural, eu evito olhar para o Elijah, tá muito difícil não rir depois das reações da Briana e do David, se eu olhar para Eli e ele estiver tão igualmente confuso, receio não conseguir me segurar.— Não lembro de ter pedido por companhia, Chicago. — Eu reviro os olhos e me sento no chão para ficar numa altura boa de comer na mesa de centro. O ignoro e começo a comer. — Saia daqui.— Não. — Sorrio sem humor e pego mais uma grande mordida do bolo incrível que a Briana fez.— Você não percebeu ainda que não é bem vinda aqui? — Eu olho para ele em desafio.— Ah, claro que sim, você já deixou isso bem claro. Mas isso não importa, eu vou continuar aqui até o prazo do contrato acabar e você vai ter que lidar com isso.— Seus lábios se comprimem de um jeito irritado. — Não precisamos ser demônios um para o outro, senhor Allen. Vamos fazer isso ser pelo menos agradável, pode ser? — O punho cerrado dele rela
Eu penso um pouco sobre como deveria respondê-lo, mas ao invés de fazer isso, eu engulo em seco e desvio o olhar me sentindo muito pressionada por seus lindos olhos cor de avelã, meio esverdeados com essa luz. — Não sei o que você quer que eu diga, não tenho nenhum outro motivo. — Ele solta uma risada, pela primeira vez o ouço rir. — Mentindo de novo. — Ele segue até às anilhas e pega algumas bem pesadas. Eu o encaro descaradamente. — Você vai treinar também ou vai só ficar olhando? — Só ficar olhando, eu sou gostosa por natureza, querido. — Os olhos dele me alcançam do outro lado da sala e eu sorrio enquanto ele me fita. — Percebi. — Mordo o lábio inferior. — Está tentando me seduzir? — Está funcionando? — Sinto muito, Chicago, mas não. — Cruzo os braços e os tornozelos após sentar em uma das máquinas. — Hayden! — Falo o repreendendo. Ele está me provocando, mas dois podem jogar esse jogo… Meu queixo cai quando
Chego na cozinha determinada, Briana tira os olhos do celular e sorri para mim.— Você está muito bonita, Hayden. — Dou de ombros sorrindo inocentemente.— Obrigada, quis me arrumar um pouco para aliviar o interrogatório. — Ela ri, mas ainda parece preocupada. — Eu não vou pegar muito pesado com ele, prometo.— Estou preocupada com você, querida. Eli pode ser… amarescente as vezes.— Eu ficarei bem, afinal, a melhor maneira de tirar a amargura de alguém é um pouquinho de açúcar. — Esfrego as pontas dos meus dedos indicador e polegar como se jogasse uma pitada de pó mágico.— Acho que sim. — Fala rindo e me oferece uma colher com um molho muito apetitoso. — Experimente.Coloco a colher na boca e saboreio aquele delicioso molho de tomate, acho que vou levar Briana comigo quando meu contrato aqui acabar.— Briana… eu preciso de mais disso imediatamente! —Ela ri.— Em quinze minutos estará tudo pronto. — Minha barriga ronca com a af
Meu alarme toca às cinco mais uma vez e eu me levanto me sentindo determinada. Ouço a porta de Eli abrir e fechar, assim como ontem, mas dessa vez não espero que ele saia da casa para fingir um encontro.— Bom dia! — Falo animada e ele olha para mim sem uma expressão certa, mal parece que ele está me vendo.Ele não responde, só volta a andar dolorosamente lento, mas eu o sigo até o tal elevador de carga que o David tinha comentado.— Não preciso de companhia. — Arqueio uma sobrancelha.— De acordo com seu pai, você precisa. Mas, de acordo com você, o que você precisa é de vigilância suicida. De qualquer forma, como eu estou aqui para realizar qualquer uma das dessas funções, então acostume-se com a minha presença. — Entro com ele no elevador e ignoro o palavrão que ele sussurrou. — Eu n&
Depois do clima que ficou entre mim e Eli essa manhã, decidi por almoçar com a Briana e o David para dar um tempo para ele pensar, para nós dois pensarmos, na verdade. Mas meu plano vai por água abaixo quando estamos nós três na mesa de jantar, comendo em silêncio, enquanto o casal troca olhares e leves sussurros o tempo todo, como se estivessem tendo uma discussão telepática. É engraçado, mas também me deixa um pouco sem graça.— Okay, okay. — Digo e abaixo meu garfo de volta ao prato. — O que está havendo com vocês? — Ambos olham para mim desconfortáveis, trocam olhares mais uma vez e então David limpa a garganta para falar.— Er… bem, é que meio…— Você ainda não falou nada sobre ontem, como foi?Briana fala por cima do David e ele a repreende com um olhar, acho que ela
Passo as próximas duas horas tirando todas as caqueiras de argila e os vasos de dentro da estufa, que são praticamente caixões ambulantes para plantas mortas há alguns anos, no mínimo. Limpo tudo, tiro a poeira, junto os galhos secos e murchos em uma sacola de lixo preta e a amarro quando ela já está totalmente cheia.— Não esperava todo esse trabalho! — Resmungo e alongo o pescoço, depois a coluna.— Talvez se tivesse aceitado ajuda… — A voz de Eli vem de trás de mim, me dando um baita susto.— Você quer me matar do coração?! — Falo com uma mão no peito e outra na cabeça.— Oh, pare. Não seja dramática. — Reviro os olhos para ele, que olha em volta parecendo impressionado.— E então, tem esperança?Falo me referindo a estufa, mas ele apenas concorda com a cabeça, uma expressão totalmente nostálgica está estampada em seu rosto.Ele manca até uma parede que é metade de vidro e metade tijolos marrons avermelhados, puxa uma alavanca de metal no
A semana passou lentamente, minha rotina variando apenas um pouco no tempo em que eu passava na estufa-estúdio. Eu até consegui adicionar algumas suculentas novas que o jardineiro simpático que veio na quinta feira me arrumou, deu um ar mais vivo ao ambiente ver aquelas plantas pequenininhas e delicadas espalhadas pelas prateleiras e perto das janelas, até me inspirou um pouco.Minha relação com Eli continua meio morna desde o nosso beijo, não sei se consigo me aproximar dele de novo, parece que ele conseguiu construir mais um muro nós últimos dias – o que eu achava impossível, mas claramente não é.Na estufa, olho em volta para ver o fim do meu trabalho árduo e fico satisfeita vendo tudo em seu devido lugar, tudo organizado e harmônico. Vou até meu cavalete velho e manchado com tintas de vários tipos e cores, uma lembrança de todas as telas que p