Capítulo 6

— Richel, o que vamos fazer? — Matthew me olhava apreensivo, eu não sabia o que fazer, não sabia o que dizer, pensava em uma maneira de nos tirar dali, mas não vinha nada na minha cabeça.

— Tem uma saída pelos fundos, ela nunca é usada, apenas para emergência, seu pai a fez justamente para casos assim. — Olhei o segurança que mantinha sua mão em seu braço ensanguentado, apenas assenti e pedi que ele fosse na frente.

Assim que saímos do escritório, as janelas foram atingidas, os vidros caindo no chão fez com que corrêssemos ainda mais. O que tudo indicava, era que os seguranças do lado de fora haviam sido abatidos, era questão de tempo para que entrassem, se nos pegassem, estaríamos perdidos.

— Eles vão conseguir entrar, acho melhor vocês irem e eu fico para tentar segurar.

— Nem pensar, vamos sair todos daqui! — Respondi olhando o segurança que pretendia se sacrificar para nos ajudar.

— Senhora, eu jurei servir a você e seu pai mesmo que isso custasse a minha vida, não tenho mais nada a perder.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele indicou ao Matthew onde estaria a tal saída, ajeitou sua arma na mão e voltou. Ao escutar a porta sendo arrombada, Matthew passou a minha frente me puxando pela mão até chegarmos a uma porta escondida atrás da grande cortina na cozinha, estava trancada para o nosso azar. Matthew chutou a porta até que ela fosse aberta, aquilo causou um barulho que certamente chamaria atenção, teríamos que correr ainda mais.

Durante o pequeno percurso pelo corredor depois daquela porta, escutamos vozes, e todas perguntavam por mim, até que um deles descobriu a porta secreta. Eu nunca havia ficado tão assustada como eu estava naquele momento.

Ao final do percurso, Matthew abriu outra porta que nos deixou dentro da garagem, mandei que ele pegasse um dos carros e eu iria com a Madson em outro. Quando ligamos os motores, o barulho dos tiros voltaram, já haviam nos encontrado e atiravam contra os carros, não podíamos perder tempo esperando que o portão fosse aberto por completo, acelerei quebrando o restante que faltava, Matthew veio logo atrás de mim.

— Richel… — Olhei Madson ao escutá-la me chamando. — Fui atingida. — Seu braço esquerdo estava sangrando muito.

— Droga, não podemos ir ao hospital agora.

— Não se preocupe comigo, se preocupe em fugir, foi só de raspão. — Respirei fundo tentando controlar minha raiva, a olhei novamente e ela estava ficando pálida.

Eu não sabia para onde ir, não sabia o que fazer, não sabia se ainda estavam atrás de nós, eu só pensava em sair dali. Entrei em uma rua um pouco mais deserta da cidade, diminui a velocidade e tirei minha camiseta, rasguei um pedaço dela e amarrei no braço da Madson para estancar o sangue. Voltei ao volante pensando no que iríamos fazer, e eu tinha apenas uma opção naquele momento.

Jason Mckane

Estava no escritório com os meninos resolvendo alguns problemas do último carregamento. As coisas tinham se complicado um pouco, um dos motoristas que trazia a carga foi revistado pela polícia, e teve de subornar o policial para poder passar com a carga, a sorte era que a quantidade de drogas era pequena, mas, mesmo assim, nunca tivemos que subornar alguém durante o carregamento para poder passar, as coisas estavam começando a sair do controle com a nova diretoria da polícia da cidade.

— Eu vou conversar com o delegado, de novo, isso já está…

— JASON! — O grito da Melissa me interrompeu, e me fez levantar com rapidez, ela nunca gritava daquele jeito.

— O que foi que aconteceu? — Perguntei ao sair do escritório, vendo Richel, Matthew e Madson entrarem na casa. — Melissa, pega o kit de primeiros socorros lá no banheiro e faz um curativo nela. — Pedi ao ver o braço ensanguentado da Madson. — Richel, o que houve?

— Eu não sei! — Estava nervosa, sua camisa estava rasgada, sua mão com sangue, e não soltava sua arma de jeito nenhum. — Um pouco depois que você saiu, conversei com a Madson e com o Matthew, foi quando escutamos barulhos de tiro vindo do lado de fora da casa. Meu segurança entrou dizendo que estavam nos atacando, mas eram muitos, nós não estávamos preparados para aquele confronto. Nós três tivemos que fugir. Eles invadiram a casa e por pouco não nos pegaram também.

— Se acalma. — A conduzi até o sofá para que sentasse, e pedi ao Ryan que pegasse um copo d’água para ela. — Quem fez isso?

— Eu não sei Jason, meu segurança disse que chegaram em carros pretos sem placa, todos mascarados, não disseram nada, só começaram a atirar.

— Tudo bem, agora vocês estão bem, não vai acontecer nada. — Eu via o pavor nos olhos da Richel. 

Apesar de parecer uma mulher muito forte, ela havia assumido o tráfico a poucos tempo, mesmo tendo crescido naquele meio, ela nunca tinha passado por tudo aquilo ainda, e como foi a primeira vez, estava em choque.

۝

Algum tempo depois do ocorrido, pedi que alguém fosse investigar o que tinha acontecido, pedi que fossem a casa da Richel e que procurassem alguma coisa que pudesse nos ajudar ou ver se tinham levado algo. Richel pediu que esperasse pois queria ir junto, se limpou, colocou uma camiseta emprestada da Melissa e saímos em seguida.

Durante o caminho, ela ficou quieta, pareceu mais aliviada quando escutou um dos meus seguranças dizer que já não tinha mais ninguém lá.

Chegando a casa, já havia notado que a “limpeza” tinha sido feita, sobraram apenas vidros quebrados, a porta arrombada, e a casa bagunçada.

Richel correu até o escritório procurando algo nas gavetas da mesa, suspirou aliviada ao achar um envelope preto. Pegou mais alguns outros papéis e os colocou em uma pasta, disse que era importante, se tratava do tráfico e nós precisávamos ter aquela papelada em mãos.


— Tudo de importante estava no escritório, não levaram nada.

— Eles queriam matar você, Richel. — A respondi. — Não pode deixar nada aqui, não pode nem sequer ficar aqui, vão tentar de novo.

— Eu vou pegar algumas coisas minhas e da Madson, Matthew pega as dele, vamos pra outro lugar.

— Vocês vão para minha casa! — A olhei, era uma ordem, não iria aceitar um não como resposta.

— Jason, não acho que…

— Não é uma pergunta! Já íamos comprar uma casa para vivermos juntos, agora não tem essa necessidade, vocês vão ficar na minha casa e sem discussão. — Richel não disse mais nada, apenas assentiu e olhou Matthew que estava notoriamente irritado com a ideia.

Pedi ao Ryan que pegasse o restante dos papéis que tinha no escritório, enquanto Richel e Matthew pegavam suas coisas. Andava pela casa e olhava o estrago que tinha sido feito, todas as janelas quebradas, vasos no chão, garrafas de bebidas destruídas, mas nada tinha sido levado, apenas quebraram as coisas.

Não que eu me importasse com a vida dela, mas não seria conveniente a mim que ela morresse, o tráfico seria passado novamente ao pai dela e ele iria determinar que outra pessoa tomasse conta, minha vingança não seria completa. Então, fiquei pensando em quem poderia ter sido o mandante do tal ato contra a Richel.

— Já podemos ir. — A olhei descendo as escadas com uma mala, Matthew vinha logo atrás com duas, uma sua e outra da Madson, supus.

— Ryan coloca a mala dela no carro, por favor. — Pedi, mas antes que saíssemos da casa, seu telefone tocou. Richel estranhou o número mas logo atendeu.


— O que houve? — Colocou no viva voz ao escutar a voz de quem era.

— Está tudo bem com você filha? — Era o Sebastian.

— Porque a pergunta?

— Fiquei sabendo do que aconteceu com você hoje, fiquei preocupado, por isso pedi a maldita permissão do hospital para poder te ligar.

— Como sabe do que aconteceu? Não faz muito tempo. — Richel me olhou desconfiada.

— Tenho homens por toda parte, minha querida, sei de tudo que acontece.

— Claro, e seus homens não vieram ajudar a sua filha que quase morreu.

— A função deles é me informar, apenas.

— Eu ainda estou viva, papai, para sua desgraça.

— Porque está com essa cara? — perguntei após a ligação ser finalizada.

— Porque ele ficou sabendo cedo demais do que aconteceu, porque nenhum dos homens entrou na casa para me ajudar, só os meus seguranças estavam aqui. Não acha estranho?

— Acha que o Sebastian mandou fazer isso? Não acha um pouco exagerado da sua parte? Ele é seu pai.

— Meu pai sacrificaria muita coisa pelo tráfico Jason, e tenho minhas dúvidas se ele seria ou não capaz de acabar comigo só para não deixar tudo nas nossas mãos.

Ao mesmo tempo que a raiva lhe consumia, eu via a tristeza nos olhos da Richel, só de ter a dúvida de que seu pai poderia ou não tirar a vida da própria filha em benefício ao tráfico, a deixava arrasada.

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