Richel Decker
Após alguns dias na casa do Jason, já mais calmos, estávamos eu, Madson e Matthew, encostados no pequeno muro nos fundos da casa, o sol da manhã já nos esquentava apesar de ser bem cedo, o ferimento de Madson estava melhor e por sorte havia realmente sido de raspão, Matt ainda questionava o porquê de ficarmos ali, cheguei a um ponto de apenas ignorar aquela pergunta antes que eu perdesse o pouco de paciência que me restava com ele.
— Jason pediu que vá ao escritório, precisa falar com você. — Ryan havia acabado de chegar para me dar o recado.
— Claro, obrigado. Eu já vou. — Agradeci.
— E como você está? Ainda sente dor? — Ele olhou Madson e lhe deu um leve sorriso, ela o correspondeu.
— Estou melhor, dói um pouco mas os remédios ajudam a disfarçar. — Ryan sorriu satisfeito com a resposta e segurou na mão dela.
— Espero que fique bem logo.
— Tire as mãos da minha irmã. — Matthew tomou a frente, empurrando Ryan.
— Só estou sendo educado, coisa que você deveria aprender. — Retrucou.
— Não chegue perto dela. — Matt colocou a mão em sua arma e senti que era o momento de interferir.
— Já chega! — Fiquei entre os dois que seguravam suas armas. — Deixem suas diferenças de lado, aqui não é hora e nem lugar! — Os afastei — Ryan, avise o Jason que já estou indo. E Matthew, vá pegar os remédios da Madson, já está na hora dela tomar.
E se foram, ambos em direções diferentes, por um momento pensei que conviver ali se tornaria uma guerra, teria que ter uma conversa séria com Matthew e com Jason para que conversasse com Ryan também.
Após o breve ocorrido, fui ao escritório como havia sido pedido, ao entrar, Jason mandou que os meninos nos deixassem a sós, e assim fizeram, me sentei e o olhei, esperando que falasse o que queria. Começou dizendo que tínhamos muito o que fazer e o que conversar, que eu deveria o colocar a par dos meus negócios e ele falar dos dele. Seria uma longa conversa.
— Mas antes de tudo isso, temos um jantar importante hoje a noite, não é nada muito formal, mas é um tanto familiar.
— Jantar? Familiar? — Estava curiosa.
— Evan Jones quer falar de negócios. — Sorri animada, Evan era um ótimo fornecedor, e até aquele momento, ele não queria nada nem comigo e nem com Jason. — Ele soube da nossa união e decidiu que seria uma boa ideia investir nisso.
— Isso é ótimo Jason, os tráficos vão crescer muito. — Ele assentiu, parecia tão ou mais animado que eu. — Mas se é de negócios, onde entra o "familiar" nisso? — Fiz aspas.
— Somos um casal recém casado Richel, explodindo de amor e alegria, Evan resolveu que deveria trazer a esposa e a filha também, e assim, termos um jantar menos formal.
— Ele acredita mesmo que isso é real?
— Ele, assim como nós, entende que nossos pais eram inimigos, e não especificamente nós dois, o que nós queremos é unicamente crescer, sem precisar chegar ao extremo como era feito antigamente. — Concordei. — Eu só preciso que você seja uma boa anfitriã para a esposa dele durante um período.
— Não vou participar da reunião?
— Vai, claro. Mas Evan disse que quer conversar um momento unicamente comigo, obviamente vou te informar sobre isso depois, mas durante esse tempo, preciso que faça o que te pedi.
— Tudo bem. — Concordei, finalizando aquele assunto.
O dia passou se arrastando, tudo que foi conversado havia sido esclarecido, Jason e eu estávamos a par de cada passo que teríamos que dar dali em diante. Ao fim da conversa subi para o quarto, precisava de um belo banho, a noite estava chegando e teria que sair tudo perfeito, Evan seria o nosso maior fornecedor e maior aliado que teríamos em solo americano, seríamos imbatíveis com ele ao nosso lado e nada poderia dar errado.
Durante aquele momento de relaxamento, voltei a pensar na minha filha, e não pude evitar de pensar no que meu pai disse, senti um leve medo me consumir novamente pensando que ele poderia ter falado a verdade e que eu jamais voltaria a ver a Alice novamente. Fui interrompida pela voz da Madson que entrou no quarto procurando por mim, me enrolei na toalha após desligar o chuveiro e fui ao seu encontro, disse apenas que Jason havia pedido que não demorasse, Evan ligou avisando que iria mais cedo e teríamos que nos apressar. Agradeci e fui logo me arrumar.
Sai do quarto após terminar de me trocar, e enquanto ia descendo escutava vozes no andar de baixo, Jason recepcionava nossos convidados com cordialidade. Ao chegar na companhia deles, Evan me cumprimentou, e como resposta lhe dei um sorriso, Olivia, sua esposa, nos foi apresentada, e sua filha também. Ao ver a menina senti um leve arrepio, me lembrei de Alice, mas não quis demonstrar minha reação.
Jason e eu os acompanhamos até a sala de estar, ainda era cedo para o jantar, Evan pediu que tivessem a tal conversa particular, e como me foi pedido, fui uma boa anfitriã com a Olivia. Conversamos um pouco sobre tudo, perguntou sobre minha vida, e eu fui muito breve, não disse detalhes, muito menos sobre minha filha, perguntei também sobre ela, e sua vida não parecia muito animada, pelo que percebi, a filha era seu único consolo.— Mas e vocês, estão na boca da mídia, em todo lugar não tem outro assunto.
— Jason e eu conversamos sobre isso, o assunto está tomando proporções muito grandes, e não podemos ficar expostos dessa forma.
— Realmente, pra nós vocês são os maiores traficantes do país, mas para o resto, são os maiores investidores da maior empresa dos Estados Unidos. É uma boa fachada, mas chama muita atenção.
— Eu sei, por isso já estamos tomando precauções, logo vão esquecer desse casamento.
Era hora do jantar, Jason e Evan já tinham terminado a conversa, não nego que havia ficado muito curiosa, mas não perguntei o que era. Sentamos a mesa, e voltamos a conversar, Evan falava pouco dos negócios, mas não deixava de tocar no assunto, paralelamente, Olivia me dizia que ele só pensava no trabalho, não era como antes quando a filha tinha chegado.
— Vocês pretendem ter filhos? — Quase me engasguei ao escutar a pergunta do Evan, Jason não foi muito diferente. — Falei algo de errado?
— Não, claro que não, mas nem sequer pensamos nisso, acabamos de nos casar. — Jason respondeu e eu apenas concordei.
— Um filho é sinônimo de felicidade, sabiam? — Olivia olhou a filha sorrindo. — Quando tiverem os seus, vão entender o que estou falando.
Engoli seco escutando as palavras dela, me segurei o máximo que podia para não desabar ali mesmo. Jason ao notar meu estado, tratou logo de mudar de assunto, voltou a falar de negócios, e então fiquei quieta durante o restante do jantar.
Após algum tempo, Evan pediu que fossemos conversar, Jason e eu pedimos licença a Olívia, disse que logo voltaríamos e ela concordou, parecia já estar acostumada com aquilo.Durante a conversa, tentava prestar o máximo de atenção, mas não conseguia, apenas concordava com o que era dito, não tinha o que argumentar, tudo que era falado me parecia perfeito e muito vantajoso. Jason como sempre, notou como eu estava e logo finalizou aquela reunião. Saímos então do escritório, voltamos a sala e Evan disse que já teriam que ir embora, disse também que voltava em breve para assinarmos alguns papéis, teria que viajar durante um período, mas que faria de tudo para não demorar muito.— Não vai se despedir Lice? — Ao escutar Olivia chamar sua filha por aquele nome, senti meu coração acelerar como não sentia a muito tempo. Ela se aproximou de mim e estendeu a mão, com um sorriso no rosto que fez meus olhos marejarem. A cumprimentei com rapidez, e me despedi dos outros, pedi licença e subi para meu quarto.
Ao fechar a porta, fui ao closet e peguei uma caixa que havia guardado lá, dentro haviam algumas fotos de quando eu era pequena, da minha mãe e também do dia que Alice nasceu. Antes que eu pudesse pegar alguma, escutei batidas na porta, mas não respondi, mesmo assim Jason a abriu e entrou, ficando encostado na parede ali mesmo.
— O que aconteceu? — Cruzou os braços me olhando — Se lembrou da sua filha, eu sei, mas ficou pior quando escutou o nome da filha do Evan.
— Olivia a chamou de Lice, é um apelido para Alice. — Peguei uma foto de quando minha filha nasceu e mostrei a ele. — Alice é o nome da minha filha.
Jason segurou aquela foto por algum tempo e suspirou.
— Tão pequena, e muito bonita, se parece com você. — Ele deu um leve sorriso. — Mas não pode ficar abalada sempre que vê uma criança, precisa ser forte, você vai encontrar sua filha logo.
Escutava as palavras dele mas não conseguia responder, tinha em minhas mãos uma foto minha de quando eu era bem pequena, me lembrei da menina, e senti novamente meu coração acelerar como nunca havia feito antes. Olhei Jason por alguns segundos, ele me olhava sem entender minha reação, as lágrimas já caiam pelo meu rosto, ele ficou ainda mais preocupado.
— A menina, Jason... — Mostrei a ele a foto que segurava. — Ela é idêntica a mim quando eu tinha quatro anos.
— Richel, não está pensando que...
— Olivia me contou que está próximo dela fazer cinco anos, ela é idêntica a mim quando eu tinha essa idade, o sorriso dela é idêntico ao meu, olha... — Peguei a foto de quando Alice nasceu. — Minha filha já nasceu bem cabeluda, e é a mesma cor de cabelo da menina, Jason olha a boquinha dela, é ela! — Ele me olhava sem saber o que me dizer. — São idênticas.
Jason McKaneEu olhava a Richel sem saber o que dizer a ela, realmente, a menina e ela eram muito parecidas, mas não achava que aquilo poderia ser real, talvez ela estivesse tão obcecada e desesperada pra encontrar a filha que poderia estar vendo coisas onde não tinha. Tentei acalmá-la, guardei as fotos e pedi que ela fosse descansar, não retruquei, não fui contra suas palavras, não iria adiantar de nada contrariá-la naquele momento.Sai do quarto dela e fui para o meu, Melissa ainda estava acordada, olhava alguma coisa no computador, não perguntei, estava cansado demais e com a cabeça cheia de coisas, depois do último acontecimento então.— E então, como foi? — Pergu
Richel Decker— Vocês vão aproveitar a festa enquanto Madson e eu buscamos outra solução, não tem como darmos continuidade dessa forma, é muito arriscado.— Então, vamos aproveitar. — Olhei Jason que tinha um sorriso no rosto, após escutar Christian. Tudo o que ele mais gostava depois do tráfico, eram as festas.Começamos então a circular pelo salão, Jason e eu recebíamos cumprimentos de pessoas que nem conhecíamos, mas segundo Scott, eram loucos para nos conhecer. Matthew e Melissa também andavam pelo salão e observavam os convidados, em busca de poder identificar quem era segurança e quem não era, os garotos também faziam a mesma coisa, puxavam conversa com outras moças para
— Bryan, que surpresa, achei que não viria. — Me virei o olhando, ele não tinha uma expressão muito animadora.— Vim fazer uma surpresa para o meu padrinho, mas parece que cheguei em uma má hora, ele está bêbado, a festa está um caos, brigas, tiros, coisas quebradas, a polícia em breve vai chegar aqui, porque com certeza alguém chamou. — Ele foi caminhando em direção a mim, eu sentia meu coração acelerar a cada passo, parecia que iria sair pela boca. Eu estava perdida. — Mas, o que veio fazer aqui em cima? Não deveria estar lá embaixo com os outros convidados?— Não sou curiosa como os outros, e eu... Estou procurando a Madson, ela disse que iria ao banheiro mas já faz muito tempo, não está lá embaixo então resolvi procurar aqui em cima.
Jason mandou que saíssemos do escritório e que o deixássemos sozinho, Melissa e eu relutamos muito, ele parecia tão nervoso que não sabíamos o que ele poderia fazer, mas nos obrigou a sair, empurrou nós duas até o lado de fora e trancou a porta. Não tinha muito o que fazer, só investigar o que tinha acontecido, Madson não perdeu tempo, se juntou com Christian e foram para o jardim olhar nos computadores as câmeras de segurança que talvez tivessem gravado algum dos roubos, tanto o nosso quanto na festa do Scott.Enquanto isso, Melissa e eu andávamos pra cima e pra baixo na tentativa de lembrar alguma coisa suspeita nos últimos dias, se havia acontecido algo que passou despercebido, mas era difícil de lembrar, tudo parecia ter ficado em perfeita ordem, e também, estávamos tão ocupados com o plano do roubo que não focamos em outra coisa.
Decidi que não falaria nada ainda sobre minha conversa com o Nicolas, queria não ter um pingo de suspeita dele, ao mesmo tempo que pensava que meu irmão não era capaz daquilo, me lembrava que ele foi muito bem treinado pelo meu pai e era capaz de tudo. Mesmo não gostando de nada daquilo, Nicolas aprendeu a ser como meu pai, forte, inteligente, calculista, sem contar sua enorme inteligência.A folga já havia acabado, Jason queria todos de volta ao trabalho, os meninos voltaram aos seus postos, Madson e Christian voltaram as investigações, eu, Melissa, Matthew e Jason ficamos no escritório olhando alguns papéis. Ainda tinha tantas coisas para resolver, ficava me perguntando porque não tínhamos secretarias para essa função, aí me lembrei o motivo, ninguém era
Senti um cheiro forte de álcool no nariz, era bem incômodo. Aos poucos ia abrindo os olhos, ainda estava com a visão um pouco embaçada, mas vi Olivia ao meu lado segurando um algodão, a empregada com o frasco de álcool na mão, e o segurança, possivelmente foi ele que me colocou no sofá em que eu estava.— Já podem ir. — Olivia disse entregando o algodão à empregada. — Obrigado aos dois.— O que houve? — Perguntei me sentando.— Você desmaiou, não se lembra?Ao escutá-la me lembrei, Alice tinha acabado de chegar na sala, com aquela roupinha e aquele sorriso lin
— Eu… Bom, é que, eu estava saindo do banheiro e vi a porta entreaberta, o vento deve ter aberto a janela e derrubou os bonecos da penteadeira. Eu não consigo ver nada bagunçado, dizem que sou perfeccionista. — Ela me olhou um tanto confusa. — Me desculpa, não devia ter feito isso.— Não tem problema, eu te entendo, também sou perfeccionista e não consigo ver nada fora do lugar. — Suspirei aliviada ao notar que ela tinha engolido minha mentira. — Jason te ligou, na terceira chamada eu tomei a liberdade de atender, achei que era algo muito urgente.— E o que ele queria? — Perguntei descendo as escadas junto com ela.— Nada demais na verdade, só queria saber como você estava, já est&a
Jason McKaneSeria a primeira vez que Melissa iria a uma viagem de negócios sozinha, eu sabia o quão inteligente e habilidosa ela era, mas, ao mesmo tempo, me lembrava o quão séria era aquela reunião, e não sabia se ela estava preparada para aquilo.Durante o caminho de volta, voltei a pensar na Richel e no tal exame de DNA, metade de mim queria ajudá-la, a outra metade queria não correr riscos. Era difícil saber em qual parte de mim confiar.Quando cheguei em casa, ela estava silenciosa, chamei pela Richel, pela Madson e até pelo Matthew, mas não obtive resposta, estranhei, era cedo para terem ido dormir e os meninos irem pra casa.Último capítulo