Miranda Newman
Maldito Stan. Maldito britânico. Eu não acredito que eu estou mesmo aqui na Agência ás cinco da manhã.Bocejo cansada por ter dormido tão pouco.Adentro o centro de treinamento e encontro o Sr. Super agente Green deitado lendo um livro na maior tranquilidade. Deixo minha bolsa de treino cair do meu ombro com um baque. Ele sequer se move.Vou até ele e me inclino em sua direção. Ele continua lendo sem me dar atenção.- Hey parceiro eu tô pronta para o treinamento - digo olhando em seus olhos. Ele finalmente desvia o olhar do livro e me encara.- Bom dia agente Newman - diz polidamente. Ele realmente é um cara muito sério.- E então o que vamos fazer hoje? - olho ao meu redor. Apesar de ser cedo eu não ia deixar que meu mau humor afetasse meu treinamento. Eu gostava de treinar, esgotar toda a minha energia batendo em algo soava muito bem pra mim. Comecei a tentar imaginar que exercício ele iria pedir... Abdominal? Boxe? Corrida? Eu estava mais do que pronta. Olhei para meu parceiro com expectativa esperando sua instrução, ele me encarou por um momento antes de responder.- Nada. -Espera eu ouvi direito?- Como assim nada? - Pergunto confusa enfatizando bem a última palavra. Ele apenas deu um meio sorriso e apontou para fora da área de treinamento. Eu fui na frente e ele logo atrás de mim, no jardim da Agência eu encontrei dois tapetes retangulares estendidos no chão ao ar livre. No início eu não entendi até que uma expressão de completa descrença cruzou meu rosto quando eu finalmente percebi a situação.- Você só pode estar de brincadeira. - declarei sem acreditar - YOGA? -***Stan em uma guilhotina.... Hmmm.Stan com múltiplas facadas... Bom.Stan empurrado de uma ponte... Maravilhoso!Penso em várias possíveis mortes para Stan enquanto estou meditando, não me culpe, estou só seguindo ordens, Dominic que me disse para ter pensamentos felizes.Sinto os olhos dele em mim e tento parecer o mais relaxada possível ao invés de maluca homicida.- Pensamentos felizes, não incluem morte alheia... - escuto sua voz tranquila do meu lado.Okay, não me saí tão bem assim em fingir tranquilidade.Faço cara de inocente.- E torturamento... Pode? - pergunto docemente piscando os olhos degavar.Dominic suspira resignado enquanto balança a cabeça em negação. Okay, acho que isso foi um não.Ao final do treino, se é que podemos chamar essa baboseira de treino, nos dirigimos á sala de Stan para sabermos mais sobre a missão.Stan está novamente alisando sua semi-careca enquanto analisa uma pilha de documentos á sua frente. Green b**e á porta todo educadinho, eu apenas espero. Stan nos olha.- Por que demoraram? Newman estava fazendo corpo mole? -- A ideia do Yoga foi sua? - o acuso. Stan ri alto e vejo um brilho de maldade em seu olhar. Esse baixinho careca sugeriu Yoga com toda a certeza.- Não, mas que ideia brilhante! - Diz cínico tirando o seu da reta. Ele sinaliza para entrarmos e sentarmos em duas poltronas á sua frente.- Muito bem, apresento á vocês o caso Pavlov - diz ele imediatamente adotando uma postura séria enquanto nos entregava duas pastas - Victor Pavlov é nosso alvo principal, ele é originalmente da Rússia mas está no país há duas décadas e temos suspeita que ele é a mente brilhante por trás dos crimes da cidade de Helena, Montana -Leio o arquivo e vejo as fotos, Victor aparentava ser um senhor já de idade com a aparência frágil. Um daqueles velhinhos bondosos que alimentam os pombos ou sei lá o quê. No arquivo não constava mulher nem filhos, porém vejo uma foto dele com uma garota loira de aparência angelical.- Quem é essa? - externizo minhas dúvidas. Stan imediatamente indica a próxima página do arquivo onde encontro a ficha da tal garota. Ele logo muda o tom de voz para cansado como se passasse muito tempo analisando essa mesma página.- Yekaterina Pavlov, sobrinha e única família restante de Victor. Não sabemos até que ponto ela está envolvida ou se é completamente alheia á situação -- Qual o método vamos utilizar na missão? - pergunta Dominic muito objetivo.- Infiltração. Vocês irão se disfarçar de recém-casados e serão os novos vizinhos de Victor. Quero que reúnam provas, descubram até que ponto a Srta. Pavlov sabe e como esse desgraçado agiu durante tanto tempo sem ser percebido. -Assinto no automático até que suas palavras penetram mais fundo na minha consciência... Recém o quê?***No dia seguinte, quando passo pelo corredor escuto os cochichos novamente.Um dos agentes mais medíocres e idiotas assobia para minha bunda quando eu passo.Paraliso no meu caminho. Viro lentamente e caminho com meus saltos agulha até a frente do idiota que assobiou.Ele abre um enorme sorriso debochado.Cruzo meus braços e o encaro em silêncio com a cara mais entediada que posso reunir.- Veio aproveitar e passar seu dia comigo? – ele pergunta.Continuo em silêncio.- Se você quiser a gente pode sair daqui e arranjar alguma missão pra você estragar – ele alfineta depois de não conseguir nada da primeira vez.O escritório está em silêncio esperando e respirando nosso embate. Bando de urubu.Adam está em um canto com os braços cruzados e uma expressão divertida no rosto.- Leon Morgan - Eu chamo o idiota que arregala os olhos - Eu não sei que tipo de problema de confiança seu pai gerou em você, ou se isso vem de uma relação frustrada com alguma mulher, mas saiba que eu tive treze missões de alto risco, e em todas tive sucesso. Você só faz trabalho burocrático por que falhou nas oito que tentou. - Nesse ponto posso ver Leon em choque. Ele não contava que eu soubesse tanto dele. Ninguém nunca espera nada de mim e é sempre aí que eles erram.- Não importa o quanto você tente me diminuir ou me objetificar por que nada vai mudar o fato de que eu sou uma agente de verdade enquanto você faz o trabalho do assistente. Volta pro seu trabalhinho medíocre escrevendo sobre minhas missões que isso é o mais perto que você vai chegar de mim. -Seus olhos se arregalam de choque e seu rosto se avermelha de raiva.Leon tem o rosto paralisado em uma expressão meio chocada e meio furiosa.- Você é uma cadela infeliz, Miranda – ele cospe.- Você não imagina do que essa cadela infeliz é capaz. Aqui, vou te dar um pequeno conselho e aproveita que é de graça: Conheça cada pessoa que você tenha o mínimo contato na vida, talvez isso te ajude com alguma missão, isso é, se te derem outra chance...– falo me afastando.- E se eu fosse você mudava sua senha do computador, não sei se é de bom tom Stan descobrir o que você tem no histórico de pesquisa – finalizo em um blefe, mas como um patinho, ele cai se desesperando e abrindo o computador com pressa.Talvez minha reputação já não fosse a mesma com o fracasso da operação Monroe, mas eu iria atropelar quem ousasse me diminuir por isso. Ah, isso eu faria com prazer.- Isso não foi um pouco desnecessário? – pergunta Adam entrando na minha sala.- Claro, por que o escritório inteiro estava ávido para me defender, né? – pergunto sarcástica.Adam abaixa a cabeça. Adam é meu amigo, então tento dizer a seguinte frase o mais gentil que consigo.- Acorda Adam, mulher que não se posiciona não tem lugar nesse mundo. Aqueles que dizem que a gente conquista espaço tá errado, isso é baboseira. A gente não conquista... A gente invade, toma e domina. Por quê só desse jeito funciona, só tem essa opção – falo a verdade.Adam me lança um olhar penetrante.- E agora o que você vai fazer? – ele pergunta.- Vou concluir essa missão com o máximo de destreza que essa agência já viu... – falo convencida.Adam arqueia uma sobrancelha.- E? – ele incita.Bufo derrotada.- E ficar longe de confusão – afirmo baixinho.- Correto minha pequena farsante – ele fala e sai da minha sala.Enquanto ia pra casa pensava na missão que estava prestes a enfrentar.Eu não era uma garota romântica, mas não esperava que meu casamento fosse ser assim, ainda que falso para a agência, para o resto do mundo seria bem real... Com papel assinado, cerimônia e tudo. Não podíamos correr o risco de sermos investigados e não encontrarem nada.Eu li o arquivo de Pavlov, o cara tinha que ser muito inteligente para ter se mantido fora do nosso radar durante todos esses anos. E teria se mantido muito mais se não tivéssemos recebido uma denúncia anônima de um cara que não estava muito satisfeito com o tratamento que recebia dele. Depois quando tentamos descobrir mais sobre esse cara ele tinha sumido da face da terra, como se nunca tivesse existido. Provavelmente foi pego e morto.O que me intrigava nisso tudo era a sobrinha.Yekaterina Pavlov, 25 anos, recém formada na faculdade de medicina, notas exemplares e postura cidadã modelo. Ela era a típica boa moça. Acabou de ser pedida em casamento pelo namorado, Neal Anderson, chef de cozinha. Ela aparentava ter uma vida normal, mais que normal, uma vida perfeita. Mas eu não podia esquecer que Victor também aparentava.Eu precisava dar um jeito de descobrir o que acontecia naquela família e faria de tudo para conseguir. Meu futuro dependia disso.Miranda NewmanDurante o decorrer de duas semanas minha rotina prosseguiu quase normalmente como era antes do castigo, a única diferença era que eu tinha um britânico no meu pé em cada momento do meu dia na agência. Não que eu estivesse reclamando... Deus como era bom ter aquela visão do paraíso o tempo todo, mas eu gostaria que essa visão não estivesse com a cara tão fechada. O homem precisava urgentemente sorrir mais. Meu dia começava com o treino, onde ele insistia em me passar exercícios que trabalhavam meu auto-controle, juro que com suas lições zen ele ainda iria me pedir para sair e aplaudir o sol. Não era de todo ruim, apesar de tudo eu me divertia muito em tirar sarro da sua postura "eu sou um agente sério e responsável" e algumas vezes diverti-lo com minhas provocações. Era raro, mas as vezes eu conseguia ver um fantasma de um sorriso em seus lábios. Como no dia em que eu não parava de falar durante o Yoga. Sim, ele ainda insistia em fazer isso, alegando ser uma ótima téc
Miranda NewmanAcordo de bom humor, finalmente eu vou começar parte da minha missão hoje. Estou me preparando para tomar um banho quando ouço meu celular tocando. Pego o dito cujo em cima do criado mudo ao lado da minha cama e franzo o cenho ao ver quem é. O que Stan quer comigo essa hora da manhã? - Fala Stan - - Bom dia para você também Newman. – responde ele em tom de deboche. - Um bom dia certamente não começaria comigo ouvindo sua voz assim tão cedo - rebato revirando os olhos - Cruzes, você nem deixou eu me preparar para o susto - - Muito engraçadinha Newman, mas o assunto é sério - imediatamente paro minha provocação esperando por mais, Stan suspira do outro lado da linha, aposto que nesse exato momento ele estava repuxando o pouco de cabelo que lhe restava. - Estou te ligando para te alertar que tem muita coisa em jogo com essa missão Miranda, muita mesmo, por favor seja cuidadosa - Em outras palavras: Não estrague tudo outra vez. Adoto um tom de voz sério.- Eu sei
Miranda NewmanOlhei para Dominic, desejando acabar com aquela expressão séria no rosto dele. Será que ele não poderia ao menos dar um sorriso mínimo sobre o nosso pequeno sucesso na missão?— Tradição, huh? — provoquei, tentando quebrar o clima.— Precisamos treinar sua atenção em campo. Você nem percebeu que ela estava nos olhando — ele respondeu sério.— Provavelmente estava chocada com a grandiosidade dessa casa. Sério, precisava ser tão extravagante? — comentei, apontando para o luxo que nos cercava.Dominic deu de ombros e continuou como se não fosse nada:— Eles são ricos, Miranda. Se queremos nos aproximar, temos que ser como eles.Decidi explorar a casa, deixando para trás a sala ampla e seguindo diretamente para o segundo andar. Dominic me seguiu em silêncio. Para uma casa tão grande, eu esperava encontrar mais quartos, mas apenas dois estavam disponíveis. Abri a porta do primeiro e fiquei boquiaberta.Olhei para a suíte gigantesca, como se tivesse saído de uma revista de de
Miranda NewmanDominic continuou sendo frio e distante comigo e isso estava começando a me enervar. Fiquei confusa com sua mudança repentina de humor, mas decidi não questioná-lo naquele momento. Deus sabe o quanto eu teria que me segurar caso sua resposta fosse explosiva. Parecia que ele estava tentando manter a distância entre nós, como se estivesse lutando contra algum sentimento que surgia. A dinâmica entre nós dois era complicada, mas eu estava disposta a desvendar os mistérios que o envolviam, afinal eu teria tempo... Muito tempo.Chegamos á agência e nos acomodamos para reunir as informações para nosso chefe, Stan. Eu sabia que Dominic estava agindo de maneira estranha, mas agora não era o momento apropriado para discutir isso. Concentrei-me no relatório e nas anotações que tínhamos feito sobre Victor Pavlov e sua sobrinha Kate.Enquanto digitava os detalhes da nossa primeira interação com o alvo, meu pensamento voltou à casa luxuosa de Victor. Era um ambiente repleto de riqu
Dominic GreenProblema. Era isso que ela era. É isso que ela sempre foi, segundo o que ouvi dos boatos na agência sobre quem seria minha nova parceira.Quando Stan me contratou, eu imaginei que trabalharia sozinho, já que minha última parceria não deu muito certo.Robert e eu nos conhecemos ainda no treinamento, nos identificamos logo de cara. Ele não se importou com meu jeito reservado, e sua personalidade extrovertida era meu oposto perfeito. Éramos uma dupla com equilíbrio... Até aquele fatídico dia.Estávamos trabalhando em uma missão perigosa há meses, tínhamos tudo planejado para pegarmos o alvo no dia seguinte. Eu o deixei em sua casa e fui para a minha, mesmo ele insistindo que eu dormisse lá por conta do horário.Não prendemos ninguém no dia seguinte, Robert não acordou no dia seguinte.Ele dorme até hoje.Entraram no seu quarto no meio da madrugada e deram uma pancada muito forte na sua cabeça enquanto ele dormia. Acharam que ele tinha morrido, mas ele sofreu um traumatismo
Miranda NewmanNo dia seguinte a nossa reunião com Stan a equipe de preparação para o casamento falso já estava nos esperando. Eles nos apresentaram ao nosso instrutor de atuação, um renomado especialista em disfarces e comportamento humano.Durante os próximos dias fomos submetidos a um intenso treinamento.Aprendemos a construir uma história de amor convincente, repleta de detalhes sobre nosso passado, nossos gostos e até mesmo as dificuldades que enfrentamos juntos. Tivemos aulas de dança para aperfeiçoar a nossa sintonia como casal e ensaiamos incansavelmente as expressões faciais e os gestos que demonstrariam um amor genuíno.Dominic pisou várias vezes no meu pé, o cara parecia uma tábua de madeira rígida, não tinha o menor ritmo para dançar.Conforme os dias passavam, algo curioso começou a acontecer. As fronteiras entre o que era real e o que era parte do disfarce começaram a se confundir.Parecia que Domic me tolerava um pouco melhor quando não estava interpretando, uma certa
Miranda NewmanQuando o dia do casamento chegou eu me perguntava se as emoções que estávamos vivendo eram apenas parte da encenação ou se havia algo mais profundo acontecendo. A conexão que desenvolvemos era real? Seria possível que, no meio dessa farsa, nós dois tivéssemos encontrado uma verdadeira parceria? Eu estava sentada em frente ao espelho, com uma pilha de maquiagem e produtos de beleza espalhados diante de mim. Me sentia nervosa e ansiosa, mas também animada pela perspectiva de me redimir nessa missão. Eu me olho no espelho, ajustando um cacho de cabelo que cai no meu rosto. Pergunto-me se Dominic está se preparando também, e se ele está tão nervoso quanto eu. Ouço uma batida na porta e, sem esperar por uma resposta, Dominic entra no quarto. Ele está vestindo um terno preto elegante e parece mais bonito do que nunca. - Você está linda - ele diz, sorrindo. Sorrio. - Oh meu Deus, Dominic Green está me elogiando? Alguém chame as autoridades o apocalipse está próximo! – d
Miranda NewmanEnquanto a música animada ecoava pelo salão de festas, eu e Dominic nos encontrávamos no meio da pista de dança, cercados por agentes e pessoas que nunca vi na vida.Enquanto dançamos, Dominic me puxa para mais perto dele.Eu posso sentir o calor do seu corpo e o cheiro do seu perfume. Nossos corpos se encaixam perfeitamente, como se fossem feitos um para o outro.- Parece que aquelas aulas valeram a pena - sussurro em seu ouvido.Sinto Dominic se retesar e penso se não empurrei o limite do coitado longe demais.- Se você me distrair assim, seus pés que vão sofrer - Ele ameaça. - Parceiro... - Ronrono - Eu sou uma distração sozinha, não preciso disso, mas se você insiste... - começo a subir minha perna pela sua em um passo de dança que exige muita flexibilidade. Dominic me encara sério. - Miranda, por favor... As pessoas estão olhando - ele alerta soando um pouco ofegante. - E daí? Não estou me casando com elas, estou me casando com você - eu comento me aproximando m