Narrado por Dona Bete Eu já tinha visto mais pessoas morrerem do que gostaria, mas ali, diante de mim, não era apenas uma jovem com um passado obscuro. Era uma menina, uma mulher com sonhos, com dores, e agora, à beira da morte, esperando pelo seu primeiro filho. E fora da sala, o homem que foi considerado responsável pela destruição de sua família, mas que, contra todas as probabilidades, o destino conseguiu reunir com ela.A situação de Mallory me angustiava de uma forma que eu não conseguia explicar. Eu sabia que era uma corrida contra o tempo, mas quando entrei na sala de cirurgia, uma sensação estranha me preencheu. Ela estava pálida, sua respiração fraca, e os batimentos cardíacos fracos o suficiente para fazer meu coração apertar. O monitor que acompanhava sua condição mostrava uma linha quase reta. Aquilo não era bom. Nada parecia bom.Os médicos estavam todos concentrados, seus rostos tensos, mãos ágeis tentando, a todo custo, manter a vida dela ali. Mas eu sabia que o tempo
Narrado por Dante O tempo parecia correr contra mim, como se as horas se estivessem derretendo diante dos meus olhos. Já fazia quatro longas horas que eu estava sentado naquela cadeira, aguardando, ansioso, e sem saber o que fazer. A sala de espera estava silenciosa, exceto pelo som do meu próprio coração, que batia forte, como se sentisse a gravidade da situação. Cada segundo que passava era um lembrete do quanto minha vida poderia mudar em um piscar de olhos.Ninguém me dizia nada. Nenhuma palavra, nenhum diagnóstico. Eu estava ali, impotente, esperando por respostas, ansioso, tentando lidar com a crescente sensação de desespero.Foi quando a porta da sala de visitas se abriu, e meu pai entrou, seguido de Vicenzo, meu braço direito. O alívio por ver algum rosto familiar foi imediato, mas, ao mesmo tempo, a tensão no ar aumentou. O que estava acontecendo? Por que ninguém me informava nada sobre Mallory e o bebê? Eu precisava de respostas, e ninguém parecia estar disposto a me dar al
Narrado por Mallory Acordei lentamente, como se o mundo ao meu redor ainda estivesse envolto em uma névoa densa e opressora. O cheiro de antisséptico preenchia o ar, e o som monótono dos monitores invadia meus ouvidos. Eu não conseguia focar em nada. Era como se eu tivesse sido arrancada de um pesadelo apenas para ser jogada em outro, onde cada segundo parecia um tormento. Algo estava errado. Eu sentia isso.A dor estava lá. Profunda, insuportável. Mas não era apenas física; era algo que ia além. Um vazio tomava conta de mim, enraizado no peito. Minha mente buscava respostas, mas parecia incapaz de encontrar qualquer clareza. O que aconteceu? Por que eu me sinto assim?Minha mão tremeu quando tentei movê-la. Meu corpo estava entorpecido, mas consegui erguer os dedos, como se aquilo fosse uma pequena vitória. Foi então que lembrei. Fragmentos de memória começaram a me atingir como um soco no estômago: o sangue, o desespero, a dor insuportável. Um pânico se instalou em cada célula do
Narrado por Dante Após algumas horas, Mallory finalmente abriu os olhos. Mas havia algo diferente neles agora, algo que me deixou inquieto. Não era apenas a dor ou o cansaço da cirurgia. Era um olhar que eu conhecia muito bem, um olhar que me fazia lembrar de tempos sombrios, de quando ela me culpava pela morte de sua família. Era um misto de determinação cruel e fúria contida, como uma tempestade prestes a explodir.Antes que eu pudesse dizer algo, ouvimos uma batida na porta.— Entre. — Falei, tentando manter a compostura.Meu pai apareceu, cruzando o espaço com sua habitual postura imponente.— Você está acordada, como se sente? — Ele perguntou, sua voz carregada de preocupação, mas também de cautela.Mallory inclinou a cabeça levemente, um sorriso frio se formando em seus lábios.— Como eu me sinto? Hmm… pronta para queimar o mundo todo, se for preciso. — Sua voz era gélida, carregada de um veneno que parecia capaz de atravessar a alma. — Antes de eu fechar os olhos, você mencion
Teresa Eu estava trancada na escuridão da “gaiola”, o espaço mais frio e isolado que já experimentei. Cada som, cada grito distante que ecoava pelo lugar parecia um lembrete cruel de onde eu havia chegado. As torturas eram constantes, mas nenhuma dor física se comparava à angústia de carregar o peso de ser chamada de traidora pela minha própria família.Dante. Mallory. Meu próprio marido. Todos me viam como o pior dos monstros, mas eles nunca souberam a verdade.Eu me sentei no chão gelado, puxando os joelhos contra o peito. Minha mente vagava para o passado, para o momento em que tudo começou.Eu não era a bruxa que eles pensavam. Eu era apenas uma vítima, moldada pelas circunstâncias e pela necessidade de sobreviver. Minha mãe era uma mulher da vida, e meu pai? Quem sabe. Nunca o conheci. Cresci no caos, no abandono, até o dia em que o pai de Victor me encontrou e me deu uma escolha. Ele me tirou daquele inferno e me deu um nome, uma casa, uma posição. Mas a escolha que ele oferece
Mallory Fazia um mês desde que recebi alta do hospital, mas a ferida da perda do meu filho ainda estava aberta e latejante. Não houve um único dia em que eu não pensasse nele, em tudo o que poderia ter sido. Durante esse tempo, Dante me contou que Victor estava morto, mas isso não trouxe nenhum alívio. O peso do luto e da vingança ainda pairava sobre nós.Dante, preocupado com minha recuperação e segurança, não me permitia sair de casa. Porém, mesmo sob vigilância constante, nossa casa anterior já não era mais segura. Mudamos para uma propriedade que ele mantinha em segredo, uma fortaleza discreta e bem próxima à sede da máfia. Enrico veio morar conosco por segurança, e a presença dele foi um alívio. Ele era como uma muralha que eu sabia que jamais desmoronaria.Eu podia estar limitada fisicamente, mas minha mente estava mais afiada do que nunca. Pedi a Dante computadores de alto desempenho, sistemas que hackers usariam, e mergulhei de cabeça no trabalho. Não seria apenas a “esposa”
Mallory Enquanto os passos ecoavam pelo corredor, segui atrás de Teresa, com Dante ao meu lado. Não trocamos nenhuma palavra. Havia uma tensão quase palpável no ar, como a calmaria antes de uma tempestade. Quando chegamos à sala preparada para a tortura os guardas já haviam colocado Teresa em uma cadeira de aço no centro. A sala era simples, com paredes de concreto cru e uma mesa de metal à frente dela. Apenas uma lâmpada pendurada no teto iluminava o ambiente, lançando sombras que pareciam dançar de maneira ameaçadora.Em cima da mesa havia uma coleção cuidadosamente organizada de instrumentos, cada um escolhido com um propósito específico. Facas de diferentes tamanhos e formatos, tesouras de jardinagem que pareciam perigosamente afiadas, mordedores enferrujados, pregos alinhados como uma promessa cruel, pedaços de madeira que poderiam ser usados para causar dor, recipientes com água que poderiam ser usados para sufocar, e outras ferramentas sinistras que apenas intensificavam o pe
Mallory — Sabe qual foi o seu maior erro, Teresa? — Minha voz saiu baixa, mas com uma intensidade que fez o ar na sala pesar.Ela ergueu o queixo em desafio, mas seus olhos revelavam algo diferente. Medo.— Vai dizer de novo que foi trair minha família? — Ela rebateu, tentando manter a compostura, mas sua voz vacilava.Eu dei uma gargalhada fria, ecoando pelo espaço. — Ai é que você se engana, Teresa. Seu maior erro foi ter cruzado o meu caminho. Foi ter acreditado, mesmo por um segundo, que Victor te amou.Ela piscou, confusa, seu rosto perdendo um pouco da arrogância.— Ah, sim, ele te usou. Você acha que ele voltaria para te resgatar? Que você era importante para ele? Vamos esclarecer algo: Victor conseguiu exatamente o que queria. Ele queria trazer a escuridão de volta, ele queria que eu renascesse das cinzas, e ele conseguiu. Mas sabe como ele fez isso? Ele matou o meu filho.A última palavra saiu como um sussurro carregado de dor e ódio. O impacto das minhas palavras a fez empa