Narrado por Mallory Acordei lentamente, como se o mundo ao meu redor ainda estivesse envolto em uma névoa densa e opressora. O cheiro de antisséptico preenchia o ar, e o som monótono dos monitores invadia meus ouvidos. Eu não conseguia focar em nada. Era como se eu tivesse sido arrancada de um pesadelo apenas para ser jogada em outro, onde cada segundo parecia um tormento. Algo estava errado. Eu sentia isso.A dor estava lá. Profunda, insuportável. Mas não era apenas física; era algo que ia além. Um vazio tomava conta de mim, enraizado no peito. Minha mente buscava respostas, mas parecia incapaz de encontrar qualquer clareza. O que aconteceu? Por que eu me sinto assim?Minha mão tremeu quando tentei movê-la. Meu corpo estava entorpecido, mas consegui erguer os dedos, como se aquilo fosse uma pequena vitória. Foi então que lembrei. Fragmentos de memória começaram a me atingir como um soco no estômago: o sangue, o desespero, a dor insuportável. Um pânico se instalou em cada célula do
Narrado por Dante Após algumas horas, Mallory finalmente abriu os olhos. Mas havia algo diferente neles agora, algo que me deixou inquieto. Não era apenas a dor ou o cansaço da cirurgia. Era um olhar que eu conhecia muito bem, um olhar que me fazia lembrar de tempos sombrios, de quando ela me culpava pela morte de sua família. Era um misto de determinação cruel e fúria contida, como uma tempestade prestes a explodir.Antes que eu pudesse dizer algo, ouvimos uma batida na porta.— Entre. — Falei, tentando manter a compostura.Meu pai apareceu, cruzando o espaço com sua habitual postura imponente.— Você está acordada, como se sente? — Ele perguntou, sua voz carregada de preocupação, mas também de cautela.Mallory inclinou a cabeça levemente, um sorriso frio se formando em seus lábios.— Como eu me sinto? Hmm… pronta para queimar o mundo todo, se for preciso. — Sua voz era gélida, carregada de um veneno que parecia capaz de atravessar a alma. — Antes de eu fechar os olhos, você mencion
Teresa Eu estava trancada na escuridão da “gaiola”, o espaço mais frio e isolado que já experimentei. Cada som, cada grito distante que ecoava pelo lugar parecia um lembrete cruel de onde eu havia chegado. As torturas eram constantes, mas nenhuma dor física se comparava à angústia de carregar o peso de ser chamada de traidora pela minha própria família.Dante. Mallory. Meu próprio marido. Todos me viam como o pior dos monstros, mas eles nunca souberam a verdade.Eu me sentei no chão gelado, puxando os joelhos contra o peito. Minha mente vagava para o passado, para o momento em que tudo começou.Eu não era a bruxa que eles pensavam. Eu era apenas uma vítima, moldada pelas circunstâncias e pela necessidade de sobreviver. Minha mãe era uma mulher da vida, e meu pai? Quem sabe. Nunca o conheci. Cresci no caos, no abandono, até o dia em que o pai de Victor me encontrou e me deu uma escolha. Ele me tirou daquele inferno e me deu um nome, uma casa, uma posição. Mas a escolha que ele oferece
Mallory Fazia um mês desde que recebi alta do hospital, mas a ferida da perda do meu filho ainda estava aberta e latejante. Não houve um único dia em que eu não pensasse nele, em tudo o que poderia ter sido. Durante esse tempo, Dante me contou que Victor estava morto, mas isso não trouxe nenhum alívio. O peso do luto e da vingança ainda pairava sobre nós.Dante, preocupado com minha recuperação e segurança, não me permitia sair de casa. Porém, mesmo sob vigilância constante, nossa casa anterior já não era mais segura. Mudamos para uma propriedade que ele mantinha em segredo, uma fortaleza discreta e bem próxima à sede da máfia. Enrico veio morar conosco por segurança, e a presença dele foi um alívio. Ele era como uma muralha que eu sabia que jamais desmoronaria.Eu podia estar limitada fisicamente, mas minha mente estava mais afiada do que nunca. Pedi a Dante computadores de alto desempenho, sistemas que hackers usariam, e mergulhei de cabeça no trabalho. Não seria apenas a “esposa”
Mallory Enquanto os passos ecoavam pelo corredor, segui atrás de Teresa, com Dante ao meu lado. Não trocamos nenhuma palavra. Havia uma tensão quase palpável no ar, como a calmaria antes de uma tempestade. Quando chegamos à sala preparada para a tortura os guardas já haviam colocado Teresa em uma cadeira de aço no centro. A sala era simples, com paredes de concreto cru e uma mesa de metal à frente dela. Apenas uma lâmpada pendurada no teto iluminava o ambiente, lançando sombras que pareciam dançar de maneira ameaçadora.Em cima da mesa havia uma coleção cuidadosamente organizada de instrumentos, cada um escolhido com um propósito específico. Facas de diferentes tamanhos e formatos, tesouras de jardinagem que pareciam perigosamente afiadas, mordedores enferrujados, pregos alinhados como uma promessa cruel, pedaços de madeira que poderiam ser usados para causar dor, recipientes com água que poderiam ser usados para sufocar, e outras ferramentas sinistras que apenas intensificavam o pe
Mallory — Sabe qual foi o seu maior erro, Teresa? — Minha voz saiu baixa, mas com uma intensidade que fez o ar na sala pesar.Ela ergueu o queixo em desafio, mas seus olhos revelavam algo diferente. Medo.— Vai dizer de novo que foi trair minha família? — Ela rebateu, tentando manter a compostura, mas sua voz vacilava.Eu dei uma gargalhada fria, ecoando pelo espaço. — Ai é que você se engana, Teresa. Seu maior erro foi ter cruzado o meu caminho. Foi ter acreditado, mesmo por um segundo, que Victor te amou.Ela piscou, confusa, seu rosto perdendo um pouco da arrogância.— Ah, sim, ele te usou. Você acha que ele voltaria para te resgatar? Que você era importante para ele? Vamos esclarecer algo: Victor conseguiu exatamente o que queria. Ele queria trazer a escuridão de volta, ele queria que eu renascesse das cinzas, e ele conseguiu. Mas sabe como ele fez isso? Ele matou o meu filho.A última palavra saiu como um sussurro carregado de dor e ódio. O impacto das minhas palavras a fez empa
Dante O olhar frio e a aura sombria que Mallory exalava naquele momento eram algo que eu nunca tinha visto antes. Havia uma firmeza, quase cruel, em seus movimentos e palavras. Quando ela nos mandou sair da sala, obedecemos sem questionar, mas conectamos a câmera e o áudio para acompanhar tudo em tempo real. Não sabíamos o que esperar, mas precisávamos saber até onde ela iria.Sentado ao lado de Enrico e dos outros soldados, assisti à cena em silêncio. Minha mãe, acorrentada, dizia coisas que Mallory poderia usar contra mim, coisas que poderiam atingir diretamente seu coração. Eu sabia que isso teria consequências mais tarde, talvez não para ela, mas para nós dois. Mallory, no entanto, parecia imune. Cada palavra, cada provocação que saía da boca de Teresa não a abalava. Pelo contrário, parecia apenas reforçar sua determinação.Os gritos de minha mãe ecoavam pelo monitor, acompanhados pelas lágrimas que desciam pelo seu rosto. Mas, estranhamente, não doeu em mim. Talvez porque eu já
Dante — O que quer dizer com isso? — perguntei, tentando conter a inquietação em minha voz.Mallory virou-se para mim, sua expressão carregada de uma frieza que, mesmo agora, ainda conseguia me desconcertar. Seus olhos pareciam duas lâminas afiadas, cortando qualquer resistência que eu pudesse apresentar.— Quero dizer, Dante, que agora eu vou atrás deles. Um por um. Como uma sombra que nunca podem se livrar. — Sua voz era controlada, quase baixa, mas cheia de uma força que me fez sentir o peso de suas palavras. — O próximo a cair será Matteo. Depois, Leoni. O antigo subordinado do meu pai. E então… só então, terei minha vingança.Ela fez uma pausa, se aproximando até que estávamos frente a frente. Senti o cheiro metálico de sangue ainda impregnado nela, como se a brutalidade dos últimos dias estivesse tatuada em sua pele.— Vou deixar uma marca em todos os lugares onde passar. Uma mensagem clara. — Sua voz ficou mais dura, quase um sussurro perigoso. — Ninguém ousa pisar no meu calo