Patrícia narrandoVoltei para casa da minha avó. As coisas estavam do mesmo jeito, mesmo depois de tanto tempo, eu continuava sendo a mesma pivetona, sempre envolvida em problemas.Após voltar, comecei a me sentir muito mal. Pensei que era apenas um mal-estar repentino, mas não... Fui ao médico e recebi o diagnóstico de câncer.Chorei, chorei muito. Não conseguia entender, por que isso estava acontecendo comigo?Fui para a igreja. Chorei tanto, e o pastor me falou palavras que não saíam da minha mente."Arrependa-se, filha, enquanto é tempo. As coisas não podem mudar, mas podem melhorar. Deus pode te perdoar."Eu sei que errei muito nessa vida. Fiz coisas terríveis por dinheiro, matei pessoas, cometi muitos erros. Inclusive, prejudiquei a esposa de Rangel.Não quero me fazer de santa arrependida, mas desejo corrigir as coisas. Estou sofrendo, e outras pessoas também por minha culpa. Não posso deixar isso acontecer. Eu sabia que iria morrer em breve, e queria encontrar paz.Não contei
Rangel narrandoBati na porta da coroa, já fazia um tempo que não a visitava, não queria que ela me visse nesse estado.— Mãe! — gritei ao chegar.— Rafael! Que saudades. — ela me abraçou. — Eu devia te dar uns tapas, rapaz, faz tempo que não aparece… Quase fui naquele lugar onde você faz aquelas coisas.— Não, mãe, de jeito nenhum. Não quero você se metendo na biqueira. Desculpa, estava passando por problemas.Entrei e senti o cheiro da comida da minha mãe, uma saudade imensa daquilo...— É pela sua mulher, não é?Eu fiquei sabendo de tudo... inclusive de que você mandou fazer coisas horríveis com um homem, Rafael eu não te criei pra isso!— Mó x9 do cacete eu ia ter piedade? Meu cu. — falei revoltado.— Você me respeita. — me deu um tapa e eu sorri.— Já tava até com saudades desses tapas.Ela me olhou com reprovação e foi para a cozinha enquanto eu fiquei no WhatsApp. Várias novinhas brotavam no chat, mas a que eu queria não. Porra! Eu posso ser de todas, mas meu coração é só dela,
Após ter falado com Rangel pelo celular, meu mundo desabou ainda mais. Queria chorar muito, não queria estar presa ali. Quem desejaria, não é mesmo? Ninguém foi feito para ficar preso, nem mesmo o pior dos bandidos merece ficar à mercê de uma prisão.— A bonitinha quer água e comida? — Um dos vapores sujos chegou sorrindo com uma marmita e água em mãos.— Não quero nada que venha de vocês! — Falei decidida.Estava morrendo de fome e sede, admito. Mas meu orgulho falava mais alto que tudo, ninguém mandou ser leonina.— Acho bom você colaborar comigo, porra! Só estou bonzinho contigo porque o chefe precisa de você por enquanto, mas depois quero ver não passar a pica em tu. — Sorriu de lado.Que nojo desse cara! Uma pessoa até simpática, mas se torna feia por dentro e por fora com suas atitudes.— Quero ver! Seu idiota estúpido. — Falei desafiadora.— Vagabunda, não me provoca, porque o chefe não está aqui e posso muito bem fazer o que quiser.— Tenta, pra tu ver se não dou um jeito de c
Larissa narrandoMas mais um dia aqui…Mais um dia nesse inferno!Eu queria poder voltar à minha vida, à minha "casa", rever minhas amigas, rever Rangel... Sei que vacilei e, ultimamente, presa aqui, só penso nisso.Fiquei com Marcelo mesmo não estando mais com Rangel, mas mesmo assim me senti culpada, especialmente quando soube da verdade.— Aí está uma companhia para você! — Um dos caras arremessou uma garota no chão perto de mim.Ela parecia ainda adormecida. Com toda dificuldade, fui até ela; meu corpo doía muito, minha cabeça também, estava sem dignidade alguma.Virei o rosto da menina e pude ver. Meu Deus, era Alana… Aquela garota que conheci em uma festa, mulher de Willian, dono do Mandela.Quer dizer que tudo isso é um enorme plano. Raptar as mulheres dos chefes, para em troca pedir os morros.— Alana? — Toquei delicadamente seu rosto. — Acorde. — Joguei um pouco de água que havia ali em seu rosto.Ela abriu os olhos lentamente e me olhou atordoada.— Onde estou? Aqueles homen
MarceloLarissa era uma mulher incrível. Ela não merecia passar por tudo isso, de jeito nenhum.Após aquele dia, ela partiu sem se despedir. Entendo, se eu estivesse sóbrio, não sei se teria me deitado com ela, sabendo que ela é inteira e unicamente de outro homem.Agora, minha função é ajudar e tirar minha loira das mãos de Italiano. Aquele desgraçado, vagabundo.Estava me preparando para a invasão hoje à noite quando uma garota esbarrou em mim.— Desculpa. — Ela falou.Estava chorando e aparentava estar muito nervosa.— Tudo bem... O que aconteceu?— Você deve saber que minha melhor amiga e a mulher do meu primo estão lá, sequestradas.— Claro, Larissa é minha amiga. Mas não se preocupe, faremos o impossível para tirá-la de lá. Ela é incrível. — Sorri.— Parece que você gosta muito dela.— Gosto sim. Mas... Estou atrasado. Em outra oportunidade, nós conversamos. Meu nome é Marcelo. — Estendi a mão para cumprimentá-la.— Meu nome é Carla. Obrigada por ajudar a salvar a minha melhor a
LarissaDepois de tantos dias aqui, eu e Alana não tínhamos mais expectativa de nada.— Preciso ver meu filho. — ela falou chorando.— Chorar não vai mais adiantar… Temos que ter fé, eles vão nos tirar daqui!Só ouvi um grande estrondo lá fora. Parecia tiros de fuzil, parecia não, era. Imaginei que podia ser Rangel vindo me salvar, agradeci a Deus mentalmente.Os tiros eram muito fortes, eu estava com medo. Abracei Alana e ficamos ali apreensivas.Ouvimos um burburinho se aproximando. Era o infeliz do Italiano e seus capangas.— Eu não vou entregar elas caralho!-ele falava.— Mas chefe, a gente está em desvantagem.— Não interessa.Ele se aproximou de mim, desamarrou minhas mãos e me pegou pelo pescoço me fazendo ficar com falta de ar.— Me solta. — falei com dificuldade.— Se eles entrarem aqui, você vai ser minha refém. — colocou a arma em minha cabeça.Um vapor segurou Alana a fazendo de refém também. Meu coração acelerava, minha respiração falhava. Eu não queria morrer, não a
LarissaFinalmente retornei à minha casa. Tudo estava exatamente como deixei. Que saudades desse morro.Após um banho revigorante, vesti-me e sentei-me na cama.— De volta ao seu lar, minha princesa — Rangel me abraçou por trás.— Ai, Rangel... esse tempo longe de ti só aumentou meu amor por você.— E eu percebi que você é a mulher da minha vida.— Rafael, precisamos conversar.— Pode falar.— Eu não consigo me perdoar. Eu te traí nesse tempo separados, Rangel, eu queria que...— Shh. Esqueça tudo. O que você e eu fizemos nesse tempo que estávamos separados não importa mais, certo? A gente já enfrentou tantas coisas, e hoje eu percebi o quanto te amo, muito! — ele me beijou.Ele tinha razão. O passado ficou para trás. Eu errei, ele errou diversas vezes, mas o amor deles prevalecia.— Sim, a partir de hoje, esqueceremos tudo.— E tem outra coisa, Larissa.— O quê?— Vou abandonar o morro.— O quê? Como assim, Rangel... esse morro é sua vida, eu não entendo sua decisão.— Minha vida não
RangelEstava radiante, minha mulher estava de volta, e tudo parecia em paz.— Tem certeza de que vai abandonar o morro, Rangel? Eu não quero isso, cara. Você sempre foi o cabeça disso tudo aqui — Júnior expressou sua preocupação.— Júnior, entenda minha escolha, você é meu irmão.Ele foi resolver alguns assuntos importantes, enquanto eu lidava com a papelada. Ser traficante vai além de vender drogas na esquina, tem uma porção de burocracias envolvidas.— Ô Biel! — Chamei meu vapor.— Sim, patrão.— Chama minha prima Carla pra mim.Demorou um pouco até Carla chegar, com a maior cara de poucos amigos.— O que foi, Rangel? Eu tava trabalhando, cara.— Relaxa, Carla. Eu só queria que você me ajudasse com uma parada.— Que parada?— O Natal está chegando, e eu queria fazer uma surpresa pra Larissa. Queria comprar um presente legal, sabe? Fazer alguma coisa, mas não sei o quê.— Ai, eu te ajudo — ela ficou animada.— Não conta nada pra ela, tá ligada?— Tá bom. Você podia comprar uma joia