— Nós já chegamos aqui faz dias e Shu ainda não saiu daquele quarto. — Kirê reclamou, vendo Otohime lhes servir a cerveja que trouxeram do templo, receita da divindade do sake. — O que houve com ele?
— Recobrar as memórias não é um processo simples: é normal que fique adormecido por dias. — A princesa tartaruga respondeu, enchendo a última taça em forma de concha, passando para Yurei. — O melhor que fazemos é esperar.
— Humpf. — Ele bufou, preocupado. — E você? — Olhou pra raposa branca no colo do fantasma com um olhar de repreensão. — Vai ficar com essa cara de cachorro que caiu do caminhão por quanto tempo? O que te deu?
— Ara, ara, não
— KITSUNE!Todos ouviram o grito desesperado que veio do pequeno cômodo de memórias da familiar do Deus Dragão: ela foi a primeira a correr pra lá, depois seguida pelo rei demônio.— Majestade. — Ela chamou, tentando pegar suas mãos, que ele abanava no ar, desnorteado.— Kitsune! Kitsune. Kitsune... — Ele esbarrou no incensário, espalhando o pó queimado pelo tatame. — Kitsune!...— Eu estou aqui. — Kitsune se pôs na sua forma pura prontamente, se abaixando sobre um joelho e o envolvendo nos braços. — Eu estou aqui... — Os olhos castanho claros viravam pra todas as direções, mas ele não parecia ver nada. &mda
Shu ficou descansando no palácio submerso por mais uns dias, até se recuperar completamente. Kitsune dificilmente saía do seu lado, se comportando como um cãozinho de colo, abanando as nove caudas aos seus pés o tempo todo, por isso foi um pouco difícil arrumar um tempo a sós com Yurei e Otohime, para lhes perguntar sobre como o rei demônio conseguiu sua atual reputação. Como um velho amigo bem entendido dos seus sinais, o Deus Dragão logo entendeu e chamou Kitsune para uma caçada no mar. A princípio ele não queria aceitar, mas assim que ficou estabelecida a regra, quem pegasse o maior peixe ganhava, então o rei raposa aceitou: ele tinha um espírito competitivo, tanto que não teve vergonha de se colocar em sua forma bestial de uma gigantesca raposa branca de nove caudas colossais, mergulhando pra fora da bolha do palácio junto c
Shu teve um ano pra aproveitar seu templo reformado e novinho em folha, todo mobiliado ao bom gosto além da compreensão do Deus da Beleza, antes de começar a programar viagem para o reino demoníaco, aonde foi sua cerimônia de casamento. Claro, esta também foi preparada e pensada nos mínimos detalhes por Kirê a pedido de Kitsune, que ajoelhou aos pés dele implorando pra que fizesse do seu casamento com o amor da sua vida e morte o mais memorável possível. Nenhum Deus resiste a uma oração de joelhos, muito menos a divindade da beleza resistiria a um pedido para decorar um casamento: sua mão nem precisou coçar para que desse conta ele mesmo de todos os mínimos detalhes, desde cada prato e docinho que seria servido aos convidados até os os bordados em dourado das elegantes vestes em vermelho vivo dos noivos. E falando em convidados, sim, ho
— Está tudo bem, Tenshi, eu posso ir sozinho.— Está escuro, Alteza, e o caminho é acidentado.— Tudo bem, tudo bem. — Shu abanou a mão, num sinal de dispensa enquanto descia da carruagem. — Não quero ocupar mais do seu tempo, sei que você é um oficial muito requisitado.— Fui eu quem pediu pra vir, Alteza. — Tenshi soltou-lhe a mão direita assim que o Deus chegou no chão em segurança. Aquelas carruagens reais eram altas demais para um Deus com tão baixa estatura. — Eu insisto em acompanhá-Lo até o templo.— Já disse que não precisa. — Shu sorriu-lhe, aquele Seu belo sorriso de rosto inteiro
Tanto Tenshi quanto a raposa arregalaram os olhos: o oficial celeste impressionado pela possibilidade nunca ter lhe cruzado a cabeça, e o animal com os olhinhos negros brilhando, refletindo perfeitamente o Deus que voltava pra mesa, pondo duas tigelas do ensopado sobre ela e um prato raso no chão, só com a carne.— Né, Tenshi... — Ele se sentou. — ...o meu tempo já passou... as pessoas não bebem mais por alegria e nem acreditam na boa sorte, além do mais, despreocupação não é uma palavra que combine com esse mundo. — Olhou pela janela sem persianas ali ao lado: o céu estava limpo, e o sol brilhava intensamente. — Eu fico pensando... se eu deveria agradecer à raposa por ter alongado meus dias protegendo o templo, ou se eu devo lhe pedir desculpas. Graças a um presente do Deus da Fortuna, deixado sobre o portal do seu templo no outro dia, Shu foi capaz de descer o morro pra fazer compras no centro comercial da cidade.— Shu, você também precisa comprar comida. — Kitsune alertou, percebendo que já estavam há muito tempo numa casa de vinhos.— Tudo bem, tudo bem. — Shu abanou a mão pra ele, ainda distraído com o rótulo da garrafa que estava segurando. — Cerveja também alimenta."Mas nós não compramos cerveja", pensou, olhando para a sacola com um licor de ameixa que estava segurando.— Oh, esse deve ser bom, é importado de Portugal... Kitsune? — Shu olhou pros lados. — U&eacutFlores pro Altar
Na semana que se seguiu, Kitsune ficou mais recluso. "Ele é introvertido, parece", Shu pensava, vendo-o sair todas as manhãs em sua forma animal e voltar com uns gravetinhos na boca pra depois ficar sentado nos degraus do templo os raspando com uma faca. Ficava concentrado nisso até uma hora antes do meio dia, quando saia de novo como raposa pra floresta e voltava com algum tatu ou outro animal pequeno para fazer o almoço.— Né, Konkon... você não precisa comer, precisa? — Perguntou uma vez, tentando abrir uma garrafa de vinho enquanto ele punha a mesa.— Não. — Ele respondeu, simples. — Mas você precisa. — Pegou a garrafa da sua mão, abrindo-a ele mesmo com facilidade. — Se não se cuidar pode perder esse corpo, Shu: deuses costumam ser des
— Neeeeeeeeee... Kitsuneeeeeeee!...O Deus do Sake estava bêbado: grande novidade. Mas também, depois de secar toda a garrafa de licor de ameixa com Kitsune, não se podia esperar menos.— Diga.— O Tenshi está bravo comigo, agora! — Reclamou, fazendo cara de choro. — De quê adianta recuperar meus poderes se meus amigos ficarem bravos comigo?— Está realmente preocupado com isso?— Estou! Estou! — Ele bateu a mão na mesa fracamente. — Não quero que ninguém fique bravo comigo! E ele está bravo comigo!— Eu não estou brav