[ Ester] Patrícia saiu do banho com uma toalha enrolada no corpo, os cabelos ainda úmidos escorrendo gotas pelo chão e os olhos visivelmente vermelhos, como se tivesse chorado. Assim que me viu, parada no meio do quarto com seu celular em mãos, sua expressão mudou. Primeiro surpresa, depois uma tentativa clara de disfarçar. — Ester, o que você faz aqui? Aconteceu algo? — ela perguntou, sua voz tentando soar neutra, mas havia um tremor escondido em suas palavras. Sem responder, joguei o celular dela aos seus pés. O som seco ecoou pelo quarto. — Eu não esperava isso de você. — As palavras saíram como um veneno, frias, quase irreconhecíveis até para mim. Patrícia se abaixou, pegou o celular com cuidado e leu a mensagem. Seu rosto, já pálido, pareceu perder ainda mais cor. — O quê? Isso é alguma brincadeira de mau gosto? Eu não tenho ideia do que essa mulher está dizendo, Ester. — Sua voz tremia enquanto ela me olhava com desespero. — Eu e Lucas nos afastamos desde o dia em que
[Patricia]Coloquei a mão sobre o rosto, sentindo a ardência pulsante do tapa que havia levado de Ester. Meu rosto ainda queimava, mas era minha alma que estava verdadeiramente em chamas. Caminhei até o banheiro, e a luz fria revelou o pequeno corte na maçã do meu rosto, causado pelo anel de noivado dela. Toquei a pele delicadamente, vendo o fio de sangue seco, mais uma cicatriz para minha coleção.Olhei meu reflexo no espelho, e o que vi me fez sentir ainda pior. Meus olhos estavam vermelhos, o rosto marcado, a expressão abatida. Deixei mais uma lágrima cair, silenciosa, como se fosse a única testemunha da dor que eu sentia.Saí do banheiro, ainda atordoada com o que havia acontecido. Como as coisas chegaram a esse ponto? O que a Lara queria com aquela mensagem? Qual era o propósito de espalhar mentiras sobre mim?Nunca passou pela minha cabeça ver Miguel de outra forma além da amizade. Para mim, ele sempre foi como um irmão, alguém em quem eu confiava e respeitava. Achava-o bonito,
[Patricia]Acordei com uma dor latejante que parecia pulsar em cada centímetro do meu corpo. Meus olhos pesavam, e a claridade que entrava pela janela era cruel demais para a minha ressaca. Tentei me mexer, mas até o menor movimento trazia uma onda de desconforto. Minha cabeça martelava, minha garganta estava seca, e meu coração… bem, ele doía de uma forma que nenhum analgésico poderia aliviar.Virei o rosto devagar e foi então que vi minha mão, ainda enrolada na toalha manchada de sangue. Meu estômago revirou. O que eu tinha feito? Uma sensação de pavor percorreu minha espinha, e precisei reunir coragem para encarar o estrago. Engoli em seco, tentando lembrar dos detalhes da noite anterior, mas tudo era um borrão confuso de lágrimas, bebida e raiva.— Acho que vou precisar ir ao médico… tem muito sangue aqui. — murmurei para mim mesma, a voz rouca e fraca.Levantei da cama com dificuldade, sentindo cada parte do meu corpo protestar. No banheiro, evitei olhar diretamente no espelho de
[Patricia]O olhar de Lucas encontrou o meu e rapidamente desviou para minha mão enfaixada que estava no meu peito, e por um momento, senti como se o ar ao meu redor ficasse mais pesado. A preocupação em seu rosto era evidente, mas eu não queria lidar com isso agora.— Patrícia… — Miguel chamou, mas eu apenas engoli em seco, preparando-me para fingir que estava tudo bem.— Patrícia? O que aconteceu com a sua mão? — Miguel perguntou assim que me aproximei. Seu olhar preocupado percorreu minha figura rapidamente, parando na faixa branca que envolvia minha mão.— Ah, não foi nada… — murmurei, tentando parecer despreocupada, mas o desconforto era evidente na minha voz. Apertei os dedos enfaixados contra o corpo, como se isso pudesse esconder a dor que insistia em pulsar.Lucas, que até então permanecia em silêncio, estreitou os olhos e cruzou os braços.— E o corte no seu rosto? — perguntou, sua voz grave carregada de preocupação genuína.Instintivamente, levei a mão ao rosto, sentindo a
[ Ester]Evitei a todo custo pensar em Patricia, em como ela havia passado a noite ou no motivo de sua demora para chegar ao estúdio. Recusei-me a admitir que estava triste ou que sentia falta dela. Quando entrou no estúdio, fingi que não existia. Para mim, era apenas uma colega de trabalho, nada mais.Vi de relance quando passou pela minha sala em direção à sua. Estava de cabeça baixa, provavelmente envergonhada pelo que fez comigo. Talvez acreditasse que eu nunca descobriria.Afastei esses pensamentos e me concentrei na aula. Meus alunos exigiam minha total atenção, e eu não podia me deixar distrair. O tempo passou rápido, e assim que terminei minha última turma, segui para o vestiário.Assim que entrei, encontrei Patrícia sentada em um dos bancos, de olhos fechados. A mão enfaixada repousava em seu colo, e por um breve momento, meu coração apertou. A vontade de me aproximar, abraçá-la e acabar com toda essa guerra silenciosa me dominou. Mas me contive. Engoli o nó na garganta, pass
[ Patrícia]Cheguei em casa sentindo a dor latejar na minha mão, pulsando no mesmo ritmo do meu coração cansado. A dor de cabeça, que havia dado uma trégua durante o dia, voltou com força total, me fazendo fechar os olhos por alguns segundos. Suspirei, derrotada, e tomei mais um analgésico, na esperança de encontrar algum alívio. Os anteriores não tinham surtido efeito algum.O silêncio da casa parecia gritar a ausência de Ester. Cada canto me lembrava das nossas brigas constantes, do peso que pairava sobre nós.Sem fome, sem ânimo, fui direto para o quarto. Deitei na cama sem me preocupar em trocar de roupa, o corpo pesado demais para qualquer esforço. O sono veio rápido, como um refúgio temporário para a dor que não era apenas física.Horas depois, acordei com a tela do celular acesa, exibindo inúmeras mensagens da minha mãe.[Filha, aconteceu algo? Estamos preocupados. Você não atende minhas ligações.][Filha, você está bem? Liga pra mim…]Outras mensagens seguiam no mesmo tom. Sus
[ Patricia]Acordei com a cabeça latejando, uma sensação pesada e incômoda. Meus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro, e, ao abrir os olhos, percebi imediatamente que não estava em casa. A cama era diferente, os lençóis tinham um cheiro desconhecido, e meu coração acelerou em pânico.Levantei de sobressalto, olhando para meu corpo com receio. Eu vestia uma camisa masculina larga, que cobria quase todo meu corpo e um shorts. O frio percorreu minha espinha. O que eu fiz agora?Respirei fundo, tentando afastar os pensamentos caóticos. Com alguma dificuldade, me levantei e examinei o quarto com pressa. Era um ambiente simples, mas aconchegante. Atravessei o cômodo e entrei no banheiro, ligando a torneira para lavar o rosto. A água fria me trouxe um pouco de lucidez. Passei as mãos pelos cabelos, tentando alinhá-los de alguma forma, e me encarei no espelho.Saí do quarto cautelosamente, seguindo o aroma delicioso que vinha da cozinha. O cheiro de café fresco e panquecas quentes pare
[ Esterl]Cheguei cedo ao estúdio e, como de costume, organizei a recepção, conferi os cronogramas das aulas e revisei a agenda da semana. Tudo precisava estar em ordem, afinal, estávamos na reta final para a apresentação de fim de ano, e qualquer detalhe fora do lugar poderia comprometer semanas de trabalho.Eu ainda estava sentada na recepção, os olhos fixos na tela do computador, quando Patrícia chegou. De óculos escuros novamente. Suspirei discretamente. Eu a conhecia bem o suficiente para saber que isso só significava uma coisa: ressaca. Patrícia sempre aparecia assim depois de uma noite de bebedeira. Ela me cumprimentou com um aceno de cabeça, e eu retribuí no mesmo tom, sem trocar palavras. Como de costume, ela foi direto para o vestiário e demorou alguns minutos antes de seguir para a sala de aula. Desde então, não nos falamos mais.A manhã transcorreu bem, com minhas alunas dedicadas e concentradas nos ensaios. A apresentação se aproximava, e o nervosismo pairava no ar, mas e