[Ester]Assim que Patrícia saiu da sala, me virei e abracei Miguel, meu soluço era apenas o som ecoava naquele apartamento. — Eu acho que ela nunca vai me perdoar. Eu fui dura demais com ela. Miguel envolveu meus ombros com seus braços fortes, oferecendo o conforto silencioso que eu precisava. Meu rosto estava enterrado em seu peito, e eu sentia a batida compassada de seu coração, como se tentasse me acalmar.— Você só disse o que estava preso aí dentro, Ester — ele murmurou, afagando meus cabelos. — Não dá para guardar tudo para sempre.Afastei-me ligeiramente, secando as lágrimas teimosas que insistiam em cair.— Mas eu fui cruel, Miguel. Joguei na cara dela coisas que eu sei que doem, que fazem ela se sentir ainda pior do que já se sente. Eu sei que ela não fez nada de propósito, que não queria me afastar, mas... — minha voz falhou, e senti um nó na garganta. — Eu me senti tão deixada de lado, sabe? Como se eu não me importasse.Miguel segurou meu rosto com delicadeza, olhando no
[ Patricia]Tranquei a porta do quarto atrás de mim e deslizei até o chão, abraçando os joelhos contra o peito. O silêncio ao meu redor era pesado, quase sufocante, como se cada palavra dita por Ester ainda ecoasse nas paredes, nos cantos, dentro de mim.Fechei os olhos, tentando conter as lágrimas que ardiam, mas elas deslizavam teimosamente pelo meu rosto. A dor que eu sentia não era uma dor nova, era aquela velha conhecida, que sempre se instalava no fundo do meu peito como um visitante indesejado. Mas, dessa vez, parecia ter encontrado um novo espaço para se espalhar, crescendo como raízes que se agarravam a cada parte de mim.As palavras de Ester ainda estavam ali, rodopiando em minha mente como uma tempestade que eu não conseguia dissipar. "Você sempre quer o que não pode ter", "é sempre sobre você", "por isso Marcus fez o que fez com você". Cada frase era uma lâmina afiada, cortando pedaços de uma culpa que eu já carregava há tempo demais.Ela estava certa? Será que, no fundo,
[ Lucas]A segunda-feira começou como qualquer outra. Reuniões, contratos para assinar, mais reuniões. O ritmo era o mesmo de sempre, até o momento do almoço com Laura. A conversa fluía com a leveza habitual; ela sempre soubera como me fazer rir, e, no fundo, eu apreciava aqueles momentos, quando a vida parecia um pouco menos pesada. Mas naquele dia, algo mudou. A atmosfera entre nós parecia carregada, como se estivesse prestes a acontecer algo importante.— Lucas, você sente algo pela Patrícia? — A pergunta veio de Laura de maneira direta, e, ao mesmo tempo, desconcertante. Ela mexia no garfo, sem tirar os olhos de mim, esperando uma resposta.Senti um peso no estômago, uma sensação de desconforto que não conseguia afastar. Deslizei a cadeira para trás, tentando suavizar a tensão que se formava no ar.— Por que essa pergunta agora? — Respondi, tentando não deixar transparecer o quanto aquelas palavras me afetaram.Ela não hesitou, mantendo o olhar firme, como se soubesse algo que eu
[Patricia]Depois da briga, a comunicação com Ester se resumia ao mínimo. Nossas conversas eram quase nulas, apenas respostas ou perguntas secas sobre as aulas e apresentações. Eu tentava, com esforço, iniciar uma conversa mais leve, mas Ester parecia estar em outro lugar, distante, fechada em si mesma. Cada tentativa minha era como bater contra uma parede, e eu sabia que não estava conseguindo alcançá-la.Quando toquei no assunto da festa de noivado, ela respondeu com a frieza que eu já esperava. "Eu e a Lara estamos terminando de organizar tudo", ela disse, sem se mostrar interessada em dar mais detalhes. Mas o golpe final veio em seguida, algo que me cortou mais do que eu gostaria de admitir. "Se você não quiser ir, não tem problema", ela disse, a voz quase indiferente. "A maioria das pessoas estará em pares, e como você vai sozinha, talvez se sinta deslocada."Engoli em seco, sentindo um nó apertar na minha garganta, e meu orgulho, já tão fragilizado, parecia esfarelar. Respirei f
[ Ester] Patrícia saiu do banho com uma toalha enrolada no corpo, os cabelos ainda úmidos escorrendo gotas pelo chão e os olhos visivelmente vermelhos, como se tivesse chorado. Assim que me viu, parada no meio do quarto com seu celular em mãos, sua expressão mudou. Primeiro surpresa, depois uma tentativa clara de disfarçar. — Ester, o que você faz aqui? Aconteceu algo? — ela perguntou, sua voz tentando soar neutra, mas havia um tremor escondido em suas palavras. Sem responder, joguei o celular dela aos seus pés. O som seco ecoou pelo quarto. — Eu não esperava isso de você. — As palavras saíram como um veneno, frias, quase irreconhecíveis até para mim. Patrícia se abaixou, pegou o celular com cuidado e leu a mensagem. Seu rosto, já pálido, pareceu perder ainda mais cor. — O quê? Isso é alguma brincadeira de mau gosto? Eu não tenho ideia do que essa mulher está dizendo, Ester. — Sua voz tremia enquanto ela me olhava com desespero. — Eu e Lucas nos afastamos desde o dia em que
[Patricia]Coloquei a mão sobre o rosto, sentindo a ardência pulsante do tapa que havia levado de Ester. Meu rosto ainda queimava, mas era minha alma que estava verdadeiramente em chamas. Caminhei até o banheiro, e a luz fria revelou o pequeno corte na maçã do meu rosto, causado pelo anel de noivado dela. Toquei a pele delicadamente, vendo o fio de sangue seco, mais uma cicatriz para minha coleção.Olhei meu reflexo no espelho, e o que vi me fez sentir ainda pior. Meus olhos estavam vermelhos, o rosto marcado, a expressão abatida. Deixei mais uma lágrima cair, silenciosa, como se fosse a única testemunha da dor que eu sentia.Saí do banheiro, ainda atordoada com o que havia acontecido. Como as coisas chegaram a esse ponto? O que a Lara queria com aquela mensagem? Qual era o propósito de espalhar mentiras sobre mim?Nunca passou pela minha cabeça ver Miguel de outra forma além da amizade. Para mim, ele sempre foi como um irmão, alguém em quem eu confiava e respeitava. Achava-o bonito,
[Patricia]Acordei com uma dor latejante que parecia pulsar em cada centímetro do meu corpo. Meus olhos pesavam, e a claridade que entrava pela janela era cruel demais para a minha ressaca. Tentei me mexer, mas até o menor movimento trazia uma onda de desconforto. Minha cabeça martelava, minha garganta estava seca, e meu coração… bem, ele doía de uma forma que nenhum analgésico poderia aliviar.Virei o rosto devagar e foi então que vi minha mão, ainda enrolada na toalha manchada de sangue. Meu estômago revirou. O que eu tinha feito? Uma sensação de pavor percorreu minha espinha, e precisei reunir coragem para encarar o estrago. Engoli em seco, tentando lembrar dos detalhes da noite anterior, mas tudo era um borrão confuso de lágrimas, bebida e raiva.— Acho que vou precisar ir ao médico… tem muito sangue aqui. — murmurei para mim mesma, a voz rouca e fraca.Levantei da cama com dificuldade, sentindo cada parte do meu corpo protestar. No banheiro, evitei olhar diretamente no espelho de
[Patricia]O olhar de Lucas encontrou o meu e rapidamente desviou para minha mão enfaixada que estava no meu peito, e por um momento, senti como se o ar ao meu redor ficasse mais pesado. A preocupação em seu rosto era evidente, mas eu não queria lidar com isso agora.— Patrícia… — Miguel chamou, mas eu apenas engoli em seco, preparando-me para fingir que estava tudo bem.— Patrícia? O que aconteceu com a sua mão? — Miguel perguntou assim que me aproximei. Seu olhar preocupado percorreu minha figura rapidamente, parando na faixa branca que envolvia minha mão.— Ah, não foi nada… — murmurei, tentando parecer despreocupada, mas o desconforto era evidente na minha voz. Apertei os dedos enfaixados contra o corpo, como se isso pudesse esconder a dor que insistia em pulsar.Lucas, que até então permanecia em silêncio, estreitou os olhos e cruzou os braços.— E o corte no seu rosto? — perguntou, sua voz grave carregada de preocupação genuína.Instintivamente, levei a mão ao rosto, sentindo a