Capítulo 4

ANA

Em casa me desfaço da minha roupa e jogo-me na cama, permaneço com minha lingerie. Penso no casal e como me senti os observando. Minha memória me leva aos meus pais, ao Bruno e ao homem de pele escura que vi a um mês quando fui trocar o terno. Desde aquele dia a cena de nosso ‘encontro’ na porta do elevador se repete em câmera lenta em meus pensamentos.

Minha mão desliza por dentro da minha calcinha, meus dedos envolvem meu nervo, movimentando levemente. As imagens se misturam, meu corpo se arrepia. Me vejo no lugar da mulher no bar, o homem não é mais o dela, é o Bruno, em poucos segundos, não é mais o Bruno, é ele, o homem que vi por um pouco mais de um minuto. Sua pele negra se destaca nas luzes brilhantes da pista de dança. Suas mãos alcançam minha bunda. Sua boca encosta na minha, eu a abro para recebê-lo. Sua língua dita os movimentos e eu o sigo. Esfrego com rapidez meu nervo latejante, quando ele aperta minha bunda, gozo. Meu orgasmo é uma mistura de desejo, tesão e ficção.

Alguns minutos depois, levanto-me preguiçosamente e me jogo debaixo da ducha de água fria, sinto-me estranha e culpada por ter gozado pensando em outro homem. Ao mesmo tempo, penso que o Bruno pode estar nesse momento nos braços daquela ruiva. É a primeira vez que vejo uma mulher se engraçar para ele e não marco terreno, praticamente joguei ele nos braços dela o deixando lá. Sinceramente não foi meu intuito, aquele casal e a intensidade entre eles, mexeu muito comigo. Ana isso não é desculpa, você traiu seu namorido. Tem razão, o que fiz foi traição, quando Bruno chegar, contarei para ele e pedirei perdão.

Saio do banheiro vou até à cozinha e bebo água. Desligo as luzes, deixo apenas a da luminária da sala acesa e volto para o quarto. Escovo os dentes e deito-me, o sono, pôs orgasmo chega violentamente. Não sei quanto tempo depois acordo com o peso do Bruno sobre mim.

⸻ Acorda Ana, quero foder sua chibiu gostosa.

⸻ Bruno saí de cima de mim, você está me sufocando, digo com dificuldade, seu peso está esmagando meus seios. O cheiro acentuado do álcool invade minhas narinas.

⸻ Porra Ana, me dá logo sua bocetinha, com muita dificuldade consigo o empurrar para o lado, saio da cama antes que ele se deite novamente em cima de mim.

⸻ Amor você comeu água demais, não está com condições de fazer ozadia. Vem que eu te ajudo a tomar banho.

⸻ Nada de banho, quero te comer.

⸻ Já te disse que não sou comida. Vem, eu te ajudo, estico meu braço para ele. Tento o levantar, mas ele me puxa, caio sobre ele que joga meu corpo com as costas na cama. Prende minhas pernas com as suas e segura firme meus braços.

⸻ Você sempre me disse que queria que eu tomasse iniciativa, que eu fosse, como é mesmo o termo? Ah, lembrei! Dominante. Então Ana, quero te foder agora.

⸻ Não é desse jeito Bruno, você está cheio do pau, não quero assim.

⸻ Todos esses anos que estamos juntos você diz a mesma coisa, quando tomo a iniciativa você não quer. Abre a porra das pernas Ana.

⸻ Na cama você sempre toma a iniciativa, você sabe muito bem que não é sobre isso. Por favor Bruno não faz, ele não me deixa concluir.

⸻ Deixei de foder uma chibiu ruiva por sua causa e você está me negando?

⸻ Não desconte em mim você não ter tido coragem de ter fodido aquela mulher. Ele gargalha.

⸻ Acha mesmo que foi falta de coragem? Não fiz porque te amo porra. Ele tenta me beijar, viro meu rosto.

⸻ Se você me amasse, mostraria para ela que sou sua mulher, não me desprezaria a noite toda e me beijaria na testa como fosse meu pai. Se me amasse, quando todos saíram da mesa, teria ido atrás de mim, e não ficaria sozinho com uma mulher que desde a hora que chegamos, ficou se insinuando para você. Eu poderia ter fodido com qualquer homem e você nem saberia, sabe por quê? Pauso. O assunto com sua amiga era mais interessante do que eu.

⸻ Está com ciúmes, amor? Você pensa que só você atrai olhares, é desejada, eu também sou e não só por ela. Agora chega de assunto. Bruno levanta minha camisola, não me debato, ele é bem mais forte do que eu, de nada adiantaria. Abre o zíper de sua calça jeans e coloca sua taca que está ereta para fora.

⸻ Bruno, se você fizer isso, nunca vou te perdoar, digo com a voz embargada. Ele me olha sem dizer nada, sua taca roça entre minhas pernas. Tento evitar, mas não consigo, as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

⸻ Foda-se Ana. Ele se levanta, e sai do quarto batendo com força a porta atrás dele. Permito-me chorar, choro até ser vencida pelo sono.

Me olho no espelho do banheiro, meu rosto está inchado, sinto dor no meu tórax e em meus braços, percebo que estão ficando roxo, exatamente no local que Bruno apertou. Essa dor não é nada comparada à que sinto no meu peito. Termino meu banho e visto uma camisa branca de algodão de manga comprida para disfarçar meu hematoma.

Desde que levantei não saí do quarto, não sei se o Bruno dormiu em casa ou não, só não quero começar uma discussão logo pela manhã. O que ele fez foi muito grave, faltou pouco para me estuprar, não posso em hipótese nenhuma aceitar isso. Ao contrário do que eu pensava, estupro também pode acontecer em um relacionamento, a nomenclatura dada pela justiça é estupro marital ou conjugal. Li um artigo em um site na internet que dizia que isso acontece há muitos anos, por causa da cultura machista que diz que o homem pode usar bem como quiser o corpo da mulher. Infelizmente muitos ainda agem assim atualmente. Ninguém é obrigado a fazer aquilo que não queira, infligir sexualmente o parceiro(a), seja através da violência, ameaça, ou quando a parceira esteja inconsciente, seja dormindo, sob efeito de remédios ou embriagada, é crime. Nesse artigo dizia que muitas mulheres não percebem que estão sendo vítimas desse mal. A bebida, o tesão, seja o que for, não é desculpa para obrigar seu parceiro ou parceira, a fazer o que não queira. Sei que ele pensou e não seguiu adiante, mas com esse comportamento Bruno me decepcionou, e muito.

Pego algumas peças de roupa e coloco na bolsa que uso para ir à academia. Vou para casa dos meus pais, pretendo ficar lá até segunda, depois converso com ele, senão podemos dizer coisas que nos pode ferir, pois, estou irritada e ele de ressaca.

Na sala vejo Bruno com as calças abertas dormindo no sofá, sinto nojo ao lembrar porque ele está assim. Saio com pressa, sem fazer barulho. 

Ao chegar na Velha Boipeba meu telefone toca, no visor está escrito amor, atendo. 

⸻ Ana onde você está?

⸻ Moreré.

⸻ Porque você não me chamou, eu te levaria. Fico muda. ⸻ Ana, amor. O que está acontecendo? Respiro fundo e expiro audivelmente.

⸻ Bruno, você não pode estar lembrando, mas ontem você foi um escroto comigo, coloca sua cabeça no lugar, toma uma, ducha fria, um remédio para ressaca e depois me diz se eu não tenho motivos para me afastar de você, ao menos por enquanto. Ele fica mudo, por alguns segundos, deve estar tentando lembrar o que aconteceu.

⸻ O que fiz?

⸻ Segunda quando eu voltar do trabalho a gente conversa.

⸻ Vou ficar esse tempo todo longe de você?

⸻ Segunda Bruno, segunda. Desligo o telefone e respiro fundo, absorvo o ar puro da ilha.  Em vez de atravessar de barco decido ir a pé, um pouco mais de uma hora de caminhada vão fazer bem para minha mente. Durante o caminho não penso em nada, apenas recebo de bom grado o que a natureza tem a me oferecer. Minha pele agradece o sol que desliza sobre ela, abandonando toda escuridão. A cada passo que dou minhas forças se renovam, a beleza estonteante da ilha aos poucos resgata o meu eu, a Ana que foi gerada e criada nessa perfeição feita por Deus, no meu paraíso.

Tão logo meus pais me veem perguntam o que aconteceu, ambos me conhecem muito bem. Digo que me desentendi com o Bruno sem entrar em detalhes, a reação do meu pai não seria nada boa se ele soubesse o que o Bruno tentou fazer. A surpresa refletida, em seus rostos não são, diferente da minha. Nas minhas maiores possíveis situações de briga entre mim e ele, nunca, imaginei algo parecido. Porém, eles não fazem ideia, estão surpresos pelo fato de eu ter vindo para casa.  Antes que comece o interrogatório, digo que a distância é necessária, fará bem para nós dois. Digo não só para eles, mas para mim mesmo.

Comer água ⸻  beber / taca ⸻ pau, pênis, cacete / fazer ozadia ⸻ transar / cheio do pau ⸻ bêbado

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